Tempo de Renovação – por Sosígenes Bittencourt.

Se hoje é dia de renovação e esperança, é dia de filosofar. Renovar é bom para nutrir esperança quando a renovação é inteligente, refletida sobre a experiência.

Existe uma lenda oriental que resume uma inteligente lição: Escreve o mal que te fizeram na areia, e o bem que recebeste na pedra.

Em resumo, hoje é dia de relembrar os bons momentos e drenar o lixo da memória.

Há, em Mateus – 6:22, um sapientíssimo conselho: São os olhos a lâmpada do corpo. Se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo será luminoso.

Sosígenes Bittencourt

CARMINHA COMETE “HYBRIS”- por Sosígenes Bittencourt.

Em termos de artes cênicas, dramaturgia, nós não assistimos ao filme, à novela, ao teatro, mas participamos, amamos e odiamos por identificação com os personagens. Na novela Avenida Brasil, a megera Carminha encarna um animal muito encontradiço, que é quem comete o que os gregos chamavam de hybris, ou seja, descomedimento, excesso, arrogância, indo de encontro aos deuses. Ora, na visão da mitologia, os deuses, ultrajados, não punem quem comete hybris, porque não precisa, a própria hybris volta-se contra quem a praticou. Seria uma espécie de “o ruim por si se destrói.”

Carminha comete hybris quando o seu erro é consequência de uma paixão descontrolada, não querendo avaliar, com prudência, a relação de causa e efeito sobre o que pratica. Carminha não pede perdão por querer o perdão, mas por querer continuar enganando Tufão para manter seu namoro com Max.

Em Rei Édipo, de Sófocles, a hybris cometida por Édipo foi desafiar Tirésias, um cego que enxergava a verdade, teimando em não reconhecer que, mediante evidências, ele havia matado o próprio pai e desposado a própria mãe, terminando por furar os olhos com um alfinete.A novela é extremamente bem confeccionada, levando o telespectador a se mexer na cadeira de tanto que identifica o personagem ou se identifica com o personagem.

Sosígenes Bittencourt

FRAGMENTOS – por Sosígenes Bittencourt.


*Quem exige amor, nunca é correspondido. Ninguém ama na marra.
*O aposentado anda com medo de que o aposentem do recebimento.
*No Brasil, a Esquerda e a Direita já não se matam pelo poder, entram em conchavo no poder.
*O controle remoto é recente, mas a sabedoria é remota.
*A galinha é uma inflação, inflada pela ração irracional que lhe dão.
*Uma vidente me disse que eu enricaria na velhice. Então, ainda estou muito jovem.
*Um dia, minha mãe descobriu que eu não mentia, fazia poesia.
*Quer saber o que são fragmentos? Estilhace um copo no chão.
Fragmentado abraço!
Sosígenes Bittencourt

EU E MEU MENINO NO TEMPO DELE MENINO – por Sosígenes Bittencourt.

Filhos são relógios que temos.
Quanto mais jovens, mais envelhecemos.

O menino: – Pai, estou com medo.
Eu: – Começaste a sentir a dor da alma.
O menino: – O que é alma?
Eu: Para ter alma, não precisa explicação.

O menino: – Pai, eu penso que quando o senhor era menino, o mundo era preto e branco.
Eu: – Cometeste o teu primeiro poema.

O menino: – Pai, eu estava com saudade.
Eu: – Saudade é um sentimento que não morre quando se mata. É a gente matando saudade e morrendo de saudade.

O menino: – Pai, uma menina me beijou.
Eu: – Cuidado, meu filho, eu ainda não estou na idade de ser avô.

Sosígenes Bittencourt

MINHA FANTASIA – por Sosigenes Bittencourt.

A minha fantasia é original e não me custa um tostão. Estou fantasiado de coroa, e o alfaiate é o tempo. A música que canto, nos ambientes por onde passo, é a modinha de finado Capiba:

MODELOS DE VERÃO

Quanta mulher bonita
tem aqui neste salão
parece até desfile
de modelos de verão
até as viuvinhas
do artista James Dean
vieram incorporadas
hoje a noite está pra mim!
Eu daqui não saio,
eu não vou embora,
tanta mulher bonita
e minha mãe sem nora.

Sosigenes Bittencourt

Castanha, Caju e Reminiscência – por Sosígenes Bittencourt.

A castanha é um mimo da natureza que mais se acumplicia com a nossa infância, o seu sumo, o seu aroma, o seu formato, o seu sabor, sua fumaça quando explode no fogaréu.

O caju também. Caju vermelhinho, amarelinho, rechonchudo e de delicada protuberância, que nem peito de moça, desabrochando.

Sosígenes Bittencourt

SERES INTERDEPENDENTES – por Sosígenes Bittencourt

O ser humano é mesmo um animal INTERdependente. Vivemos um pendurado no outro. Ninguém, no mundo, nasceu para ser INdependente nem DEpendente, mas INTERdependente. É ilusório pensar que podemos nos amar a tal ponto que possamos dispensar o amor do outro. Não há amor que se baste a si mesmo. Porque o amor não é um sentimento para dentro de si, mas para fora de si, é uma busca do outro.

 

Falecimento de JOSÉ FRANCISCO RAMOS (Zuca do Escritório) – por Sosígenes Bittencourt.

Comecei a divulgar minhas literaturas: poemas, sátiras, crônicas, imprimindo-as, a partir de 1987, na Xerox de Zuca. Ninguém, aqui, sequer sonhava com a internet. Ainda preservo as cópias que imprimi, durante longa jornada, naquele escritório.

Há duas coisas incompreensíveis na vida: nascer sem pedir e morrer sem querer.
A vida é feita de tempo e daquilo que fazemos com o tempo que temos. Ademais, morreremos.
Contudo, uma vez vivos no mundo, não tem mais jeito, o jeito que tem é viver.

Agora, amigo Zuca, és conhecedor de um segredo só a ti revelado.
Um dia, fostes como nós somos; um dia, seremos como tu és.
E segue-se um mistério profundo, nunca mais retornaremos a este mundo.

Até mais, Zuca!
Requiescat in pace!

Sosígenes Bittencourt

CASTANHA NO TEMPO DE EU MENINO – por Sosígenes Bittencourt.

A castanha é um mimo da natureza que mais se acumplicia com a nossa infância, o seu sumo, o seu aroma, o seu formato, o seu sabor, sua fumaça quando explode no fogaréu. O caju também. Caju vermelhinho, amarelinho, rechonchudo e de delicada protuberância, que nem peito de moça desabrochando.

Em meus devaneios poético-sofístico-dramáticos, quando mastigo castanha assada, é como se mastigasse quintais ou inalasse a década de 60. Assim como sinto uma sensação de funeral quando polvilho orégano e associo quiabo a seis horas da noite. Sou um fuxiqueiro de minhas sinestesias poéticas.

Fundo de quintal foi tudo na minha infância. Era o meu paraíso. A ventania, o alvoroço das árvores, o cricrilar dos grilos em sintonia com o tremeluzir das estrelas. O cheiro de perfume e cigarro que escalava a ladeira do cabaré lá embaixo. Reunião de gatos, o desfile das galinhas… Fundo de quintal foi a minha primeira aula de leitura do mundo.

Sosígenes Bittencourt

E por falar em tristeza – por Sosígenes Bittencourt.

Eu sou meio ruim de tristeza. Pelo contrário, carrego uma certa alegria n’alma que, muitas vezes, confundem com falta de seriedade. Porque o importante não é a tristeza que você sente, mas o que você pode fazer com a tristeza que sente. Tristeza longa, duradoura é depressão. É caso clínico. Eu prefiro a tristeza que é caso cínico. Dizia, o dramaturgo Nelson Rodrigues, que “não se faz literatura, política e futebol com bons sentimentos.”

Por exemplo, a tristeza, para mim, é motivo de literatura. Eu recebi um grande conselho do poeta alemão Wolfgang Goethe: Faz da tua dor um poema, e ela será suavizada.

Sosígenes Bittencourt

MULHER BEIJA RÉU QUE LHE DESFECHOU 5 TIROS EM JULGAMENTO – por Sosígenes Bittencour.

A mulher que tomou 5 balaços do namorado, em Venâncio Aires, RS, foi ao julgamento do réu, rogando ao juiz permissão para beijá-lo. Totalmente empinada e morta de saudade, anestesiada pela paixão, taca-lhe um salivado beijo na sessão. Até, aqui, não se sabe se tomou um tiro de raspão na cabeça, comprometendo-lhe a razão. A policial que aparece na fotografia, tomando conta do casal, mostra-se prostrada e sisuda de indignação.

Segundo Micheli, Lisandro sempre foi muito bom para ela e só resolveu matá-la, porque ela arengou, mostrando-se arrependida pelo transtornou que lhe causou, garantindo que ele já pagou pelo que fez, embora não haja pago um tostão por penitência. O réu, que não é besta, pediu mais uma chance ao corpo de jurados, e o “Equivocado de Defesa” disse que o maior interesse deve prevalecer, que é o da vítima, atrás de nova chance de amar e ser amada (não de ser assassinada). Aí, Lisandro, muito aperreado, disse que nunca mais voltaria para aquele inferno, desconhecendo ser, ele próprio, o Cão em figura de gente.

Um comentarista, na internet, diagnosticou como mais um caso de Síndrome de Estocolmo, um transtorno sentimental que faz a vítima, que tomou tabefe na fisionomia, ficar paquerando o seu agressor. Outro internauta, obviamente, baseado em José Luiz Datena e Cardinot, redigiu que Michele estaria “flertando com a morte”.
Talvez, Micheli se baseie no fato de Lisandro ser péssimo de pontaria, com uma arma na mão – o que não evita de mirar em sua cabeça e acertar no seu coração.  Melhor seria, serem condenados a morar no presídio, em celas separadas, com direito a visita de casal, assistida por carcereiro, de plantão, e policial.  Muitos leitores que acompanharam a publicação no Jornal Folha do Mato, já o atiraram no lixo.

Sosígenes Bittencourt

OS RISCOS DA BELEZA – por Sosígenes Bittencourt.

Gatinhos mimosos também largam pelos e podem provocar alergia. As flores mais aromáticas podem abrigar minúsculos insetos entre suas pétalas.

Lúcifer era tão vaidoso que preferiu ser Rei no Inferno do que servo no Céu.Segundo a lógica, Lúcifer é deslumbrantemente lindo. Senão não conseguiria iludir suas vítimas, seduzi-las, arrebanhar operários para suas oficinas.

Lúcifer comete o pecado da Vaidade, aquele que despreza a obra do Criador. Vaidade é Pecado Capital, porque considera a beleza, a riqueza e a inteligência como bens próprios e, sem Deus, convertidos em instrumentos para humilhar o seu semelhante.

Pecado Capital é aquele que gera pecado. Num exemplo, o homicídio é um pecado, mas a Ira é Pecado Capital porque gera o homicídio.

Sosígenes Bittencourt