A Guerra do Paraguai – por Pedro Ferrer.

A Guerra do Paraguai era assunto dominante nas rodas políticas e sociais, na segunda metade do século XIX. Girava no país a campanha “Voluntários da Pátria” que visava arregimentar soldados para combater o inimigo. Vitória de Santo Antão não esteve ausente desta campanha. Vários jovens alistaram-se para partir para o campo de batalha com destaque para uma jovem, Mariana Amália do Rego Barreto. Segue a mensagem por ela proferida aos antonenses.

     -É esta a alocução a que ontem nos referimos na notícia que nos foi transmitida da Vitória; a qual alocução foi recitada pela Jovem Heroína Pernambucana D. Mariana Amália do Rego Barreto, no dia 16 de setembro ao povo daquela cidade:

    “Caros patrícios! briosa mocidade vitoriense !

     Aqui tendes a vossa frente a vossa patrícia, em cujo coração predominou tanto o amor da pátria ultrajada, que a obrigou a preferir aos gozos de uma vida tranquila, ao amor paterno, às carícias dos parentes, os rigores, os trabalhos e as fadigas da batalha, ou perseguindo o inimigo com as armas empunhadas, ou cuidando dos feridos nos hospitais de sangue.

            E vós, caros patrícios, a quem adornam as vestes do homem, deixareis de acompanhar, como voluntários da pátria, a vossa jovem patrícia que varonilmente vos vem convidar como voluntaria da pátria? Não certamente: não devo supor em vós tanto desânimo, tanta falta de patriotismo! Eia! vamos, vamos para o Paraguai: vamos unir-nos aos nossos compatriotas que ali nos esperam; vamos unir as nossas vozes, e com eles cantar os hinos em louvor da vitória, que acabam de alcançar contra estes selvagens, que tantos insultos e roubos tem praticado, que tanto tem injuriado a pátria comum!

    O nosso e excelso monarca o Sr. D. Pedro II, despregando-se das delícias da corte, seguindo para o campo da honra, não fez um apelo a todos os brasileiros?

    Certamente que sim.

    Ele Disse: eu cá vou ir vós deveis seguir-me.

     E o que fazemos, meus caros patrícios ?

     Reuni-vos, vinde alistar-vos; marchemos !

     O amor da pátria está acima de tudo: ela exige de nós esse dever.

     A nossa honra está empenhada, é preciso que a resgatemos!

     Mocidade briosa, herdeira de heróis pernambucanos, segui o exemplo desta jovem, vossa patrícia, que ora vos fala; não hesiteis um só momento. Segui-me, vamos acabar para sempre o poder do bárbaro déspota do Paraguai, Inimigo da religião, da honra, da humanidade ; vamos levar a civilização e a liberdade ao mísero povo que jaz mergulhado nas trevas do mais hediondo fanatismo !

      Cumprido, pois este dever, dever sagrado e reclamado, voltaremos triunfantes ao seio da pátria natal, onde cheios da gloria, abraçaremos a nosso pais, parentes e amigos.

       Vitorienses, avante, não vos demoreis; estou a vossa frente, marchemos!

Viva a religião católica romana! Viva o sr D. Pedro II!

Viva a Constituição do Império!,

Viva o Exmo. Presidente  da Província!

Vivam os voluntários da pátria”!

Diário de Pernambuco – ed. 217 – 22 de set. de 1865

Professor Pedro Ferrer – presidente do IHGVSA. 

A história da fundação da “Girafa”- por Dryton Bandeira.

Ávidos por algo diferenciado e motivador para brincar o carnaval de 1950, um grupo de “corrioleiros” (amigos), teve a inusitada ideia de “roubar” a girafa alegórica usada como símbolo do Armazém Nordeste – A Girafa Tecidos (casa comercial situada na Praça da Bandeira). Discretamente a missão foi cumprida com sucesso, e o produto do ilícito sorrateiramente recolhido à Oficina Atômica, de propriedade de Zé Palito.

Reunião marcada, corriola reunida, bebidas servidas, discursos proferidos: estava fundada a Troça Carnavalesca Mista A Girafa. Oficialmente a data da fundação é 16/01/1950, como consta em Ata lavrada à época.

A primeira Diretoria ficou assim constituída:

– Presidente: José Mesquita de Freitas (Zezinho Mesquita);
– Vice-Presidente: José Augusto Férrer;
– Secretário: José Jacinto;
– Diretor Geral: José Celestino de Andrade (Zé Palito);
– Orador: Mauro Paes Barreto;
– Tesoureiro: Aluízio Férrer;
– Diretor Musical: Paulo Férrer;
– Fiscais: João Carneiro (Doido) e Hugo Costa;
– Diretor Artístico: Nivaldo Varela;
– Porta-Estandarte: Wilson Coelho (O Bruto);
– Comissão de Recepção: Donato Carneiro, José Pedro Gomes, Eliel Tavares, José Vieira (Zequinha), Rubens Costa e João Peixe.

Após o carnaval, sanadas as arestas geradas por conta de “roubo” do animal símbolo de Armazém Nordeste, ficou devidamente acordado entre as partes que a alegoria em questão, seria emprestada anualmente pela referida loja e posteriormente devolvida em perfeito estado de conservação. Anos após, a diretoria mandou confeccionar sua própria Girafa, símbolo maior e marca-registrada dos girafistas até os dias atuais. Vale enfatizar que a Girafa é a única agremiação da cidade a participar de todos os carnavais desde sua fundação.

Durante anos e já na condição de Clube, abnegados foliões conduziram os destinos da folia girafista e suas alegorias foram montadas em diversos locais da cidade, até que me 1986 foi concluída a construção do um moderno e amplo barracão, localizado à Rua Eurico Valois (Estrada Nova). O citado barracão não foi festivamente inaugurado, em face do falecimento de Dona Jura. Tão girafista quanto seu marido,  Mané Mizura.

As apresentações ocorriam nas manhãs de domingo e terça-feira de carnaval, saindo da Praça Félix Barreto, no Bairro do Livramento. Acordes do famoso hino e gigantesca queima de fogos sinalizavam o início de mais um desfile. Clarins anunciavam a presença do Clube na ruas da cidade e o abre-alas era composto do animal símbolo e de foliões devidamente caracterizados de Girafa. Belas e criativas fantasias compunham as alegorias, geralmente inspiradas em temas infantis. Transcorridas alguma horas, o percurso era alegremente cumprido. Novo show pirotécnico, frevo e muita confraternização, fechavam com risos e lágrimas mais um dia de exaltação à Girafa.

Três estandartes saíram às ruas da cidade durante mais de cinco décadas de existência. Inúmeras orquestras animaram os girafistas. Dentre elas: A Venenosa, 3 de Agosto e a do Maestro Seminha de Limoeiro. O hino oficial é: Exaltação à Girafa, composto por Guga Férrer (letra) e Sérgio Patury (música), gravado na voz de Babuska Valença.

Um “Dia de Finados” diferente de todos da nossa história!!!

Instituído  pela Igreja  Católica desde o século XIII, o dia 02 de novembro passou a ser o dia dedicado aos mortos. O famoso “Dia de Finados” ou mesmo “Dia dos Fiéis Defuntos”. Na nossa “aldeia” – Vitória de Santo Antão – o Cemitério São Sebastião é o palco principal dessa devoção católica.

Antes, porém, do dia 09 de maio de 1875 –  data da inauguração do Cemitério São Sebastião na nossa cidade – os nossos defuntos, por assim dizer, foram distribuídos em vários “cemitérios”: na Bairro da Matriz, no entorno da Igreja Matriz, nos vários “mini” cemitérios dos engenhos, nos “clandestinos” e até nos dos “coléricos”, local em que hoje configura a via conhecida como “Estrada Nova”.

Nesse contexto, nesses quase 400 anos de história do nosso lugar, hoje, 02 de novembro de 2020, em particular do Cemitério São Sebastião, nunca antes vivenciamos um dia “oficial” dedica aos mortos em que, para ter acesso ao local, se fez necessário  medir a temperatura corporal,  higienizar as mãos com álcool e ser obrigado a usar a máscara.

Alguém, então, poderia alertar: Pilako, o cemitério foi inaugurado no ano de  1875, mas em 1918 também ocorreu  um momento pandêmico, “A Gripe Espanhola”,  em que o uso da máscara foi recomendado. Nesse sentido, segue a resposta:  Sim, é verdade, mas, salvo pesquisa mais aprofundada, nunca encontrei nos arquivos locais nenhuma referência sobre esse assunto. Assim sendo, podemos afirmar que hoje, 02 de novembro de 2020, nesse particular,  é um dia que devemos cataloga-lo como “histórico” para os antonenses.

Com efeito, para marcar essa passagem, de maneira “IN LOCO”, estive logo cedo no nosso cemitério – São Sebastião. Por lá, tudo tranquilo e sem o costumeiro alvoroço dos fiéis e dos sempre eufóricos  ambulantes que comercializam os “produtos do dia”, ou seja: flores e velas.

Portanto, na qualidade de estudioso da história local, esse é mais um registro,  a título de contribuição às próximas gerações que postamos no nosso jornal eletrônico, intitulado Blog do Pilako.  A história é dinâmica e viva!!

Cônego Luiz: poderá ser o primeiro Santo Antonense.

por Fernando Antonio Bezerra [ Sócio do IHGRN ], em artigo publicado no Tribuna do Rio Grande do Norte.

Muitos não sabem, mas existe um movimento pedindo que o Cônego Luiz
Gonzaga do Monte se torne beato e, adiante, santo da Igreja Católica  Apostólica Romana. E, de fato, todos apontam que ele era um homem diferenciado em sabedoria e santidade.

Cônego Monte nasceu no território pernambucano, na cidade de Vitória de Santo Antão, no dia 03 de janeiro de 1905, filho de Pedro e Belarmina Monte, pais materialmente pobres, família honrada e de numerosa prole. Em 1913, depois de um período na Paraíba, a família do Cônego Monte veio residir no Rio Grande do Norte, no lugarejo Recanto, Município de Currais Novos, segundo pesquisa do Cônego Jorge O’Grady de Paiva, um dos primeiros a escrever sobre o sábio sacerdote. O pai (Pedro Monte) instalou um barracão comercial no dito lugar que, de tão simples, sequer tinha ensino para os filhos em idade escolar.

Conta o Cônego O’Grady que Luiz Monte trabalhava o dia todo com o pai e, sempre que possível, dedicava-se a estudar sozinho, lendo “livros de leitura ou de histórias, almanaques, periódicos”. Naquele tempo, como diz o citado biógrafo, “a casinha onde moram, o barracão onde trabalham, a capelinha onde rezam, eis todo o seu mundo”. Aliás, falando em reza, desde criança Luiz Monte já demonstrava pendor para o sacerdócio.

Em 1917 a família se transferiu para Natal, já tendo Luiz Monte a decisão de
estudar para se tornar um sacerdote. No dia 15 de fevereiro de 1919 foi fundado o Seminário de São Pedro na Arquidiocese de Natal. A família de Luiz Monte não tinha recursos financeiros suficientes para mantê-lo na instituição. A mãe, Dona Belarmina, “tomou a seu cargo, então, a lavagem de roupa do Seminário de S. Pedro. Costurava, além disso, batinas para os seminaristas. Até à ordenação do filho ela lutara arduamente”. Em tudo, no Colégio Santo Antônio e no Seminário, Luiz Monte se destacou como um brilhante e aplicado aluno.

Aos 22 anos e alguns meses ele foi ordenado padre, precisamente no dia 18 de setembro de 1927, pelas mãos de Dom José Pereira Alves. Adiante, sobre Luiz Monte, o Bispo, já em terras cariocas para onde foi transferido, sintetizou as virtudes que mais o impressionavam no então jovem sacerdote: “a modéstia, a obediência, a piedade e a pureza”.

Padre ordenado, Luiz Monte foi o grande destaque de sua geração. Sábio, como diz Cônego O´Grady, “chegou a dominar toda a ciência de seu tempo”. Dominou teses de filosofia, teologia, mas, com profundidade, também andou pela matemática, física, biologia, química, geologia e psicologia, sem descuidar da história, literatura, direito, língua portuguesa e idiomas, sendo um dos maiores latinistas de seu tempo. Jurandyr Navarro, o maior estudioso sobre a vida do Cônego Monte, resume tudo: “foi professor, escritor, orador, polemista. Estudava em nove idiomas. Dominava a matemática e ciências afins. Sabia física, química, biologia. Conhecia a psiquiatria, psicologia, psicanálise. Versava o direito criminal, a literatura universal, a sexologia, mitologia e outros ramos do conhecimento humano”.

É muito para um normal, mas razoável para um gênio.

Caso presente do Cônego Monte que, com ares de santidade, partiu para o horizonte que a fé nos faz enxergar no dia 28 de fevereiro de 1944.

Matéria transcrita do Blog A Voz da Vitória. 

Covid 19 – como isso vai ficar?

(Vitória de Santo Antão, 23 de março de 2020 – 16:10h) A partir de hoje estou mudando a rotina do blog. O momento exige. Na medida do possível, a porque as coisas estão mudando com a velocidade dos acontecimentos,  estaremos contribuindo com a informação segura. Por voltas 10 horas da manhã de hoje, registramos um panorama do movimento no comercio a partir da Praça Duque de Caxias.

Na tarde de ontem, domingo, dia 22, registramos um panorama do Pátio da Matriz, por volta das 17:40h. Sempre bem movimentado e concorrido nas tardes de domingos, o referido local estava deserto. Algo também ocorrido na noite anterior (sábado), conforme registros do jornalista Márcio Souza.

Também na noite do sábado, dia 21, vídeos circularam na internet dando conta da interferência policial no sentido de “recomendar” os poucos moradores que teimavam permanecer no “Parque da Bela Vista”.

Decretos estaduais e municipais em vigor proíbem o funcionamento de várias atividades – escolas, comércios e etc – excetuando atividades consideradas essenciais. Notas oficiais – que circulam na rádio, carro de som e internet – estimulam as pessoas a não saírem das suas casas.

Em novo pronunciamento, no final da manhã de hoje, o governador Paulo Câmara determinou contratação de novos profissionais de saúde, à proibição de reuniões (aglomeração)  com dez pessoas e à proibição do serviço de mototaxis, algo que contrapõe frontalmente à regra básica de distância regulamentar mínima entre as pessoas.

Nossa cidade, Vitória de Santo Antão, segue, assim como o Brasil e o resto mundo, agonizando e ansiosa em busca de respostas. Até o presente momento a pergunta que mais se escuta é: como  isso vai ficar?

Tempo Voa Documento – PERCALÇOS E IDEALISMO – Luis Nascimento.

Revirando meus arquivos encontrei um “desabafo” de senhor Luis Nascimento,  em artigo escrito para a Revista do Instituto Histórico,  por ocasião das comemorações do Centenário da Imprensa local (1866 – 1966),  que bem reflete o sentimento daqueles que fizeram e faz imprensa na nossa Vitória de Santo Antão. Vale a apena ler:

PERCALÇOS E IDEALISMO

A imprensa vitoriense sofreu, desde 1866, todos os percalços, dificuldades e inglórias inerentes à espécie. Viveram seus periodistas, por outro lado, os momentos culminantes da criação do jornal e da enunciação de ideias e programas, junto ao desejo de ser útil a comunidade, de consertar os erros do mundo e apontar os caminhos certos.

Continuaram eles, neste século, a amar e a sofrer, teimosamente, jungidos a um ideal, à missão de informar, de aparecer, de transmitir um pensamento, um verso, uma página literária.

Ultrapassou a casa dos trinta o número de publicações da grande família da imprensa dadas à circulação, de 1866 a 1899, na Vitória de Santo Antão. No cômputo geral dos cem anos hoje completados, subiram a mais de 170, de todos os gêneros, de vida intensa ou efêmera, fazendo surgir jornalista a granel, muitos deles perdendo o título rapidamente, outros altanando-se no conceito da imprensa regional ou nacional.

Esta terra de tantas tradições históricas tem, indubitavelmente, a primazia da imprensa no interior do Estado, uma primazia que honra Pernambuco, do mesmo modo que a imprensa de Pernambuco honra o Brasil.

Luis Nascimento
Originalmente publicado na REVISTA DO INSTITUTO HISTÓRICO DA VITÓRIA DE SANTO ANTÃO – 1968.

o amigo Severino Araujo foi condecorado pela APAMI pelos 10 anos de evangelização!!!

Hoje é mais uma quarta-feira que será realizada, pelo grupo do “Terço dos Homens” da Paróquia de Santo Antão, o encontro com os enfermos, vítimas da droga do Alcoolismo   que estão em pleno tratamento na  unidade hospitalar da APAMI.

Assim ocorreram, todas as quartas, nos últimos dez anos, nas dependências da APAMI, completado no dia 29 de maio próximo passado.   Na qualidade de abnegado e vibrante coordenador dessa verdadeira missão evangelizadora, encontra-se o nosso amigo e cristão de verdade, Severino Araujo, mais conhecido por “Capitão Biu”. Diz a placa:

Homenagem de Reconhecimento

Severino Araujo 

Agradecemos sua Dedicação e Carinho, seu exemplo de Fé, Perseverança e Amor ao próximo, durante os 10 anos de Evangelização e Celebração do Terço dos Homens.

Desejamos Paz, Saúde e Sabedoria para continuar sua missão.

Um forte abraço.

APAMI – VITÓRIA – 29/05/2019

Disse Jesus: “vai aos enfermos, cuida deles, que cuido de vocês”. “É um trabalho de amor ao próximo”. Disse-me o Capitão Biu, realçando à unidade do grupo. “Das 19h às 20:30h, nas noites da quarta, dedicamos nossas orações ao terço e pregamos a palavra,professando a fé,  através de cantos religiosos”. “Esse é o trabalho para resgatar os irmãos que foram vítimas dessa chaga social que é o alcoolismo”, complementou ele  com o total conhecimento do papel religioso e social que cumpre nessa verdadeira missão divina.

Eis, portanto, um trabalho digno dos aplausos de toda a sociedade antonense. Resgatar o sujeito do vício do álcool não é tarefa das mais fáceis, sobretudo quando a maioria dos  enfermos não se acham doentes. Assim sendo, daqui, emito meus parabéns a todos integrantes do grupo do “Terço dos Homens” da Paróquia da Matriz, em especial para o amigo Severino Araujo extensivo também, naturalmente, ao Monsenhor Maurício Diniz pelo apoio,  pelo seu dinamismo e, ao mesmo tempo, pela sua simplicidade, marcando assim sua passagem pela ‘Terra de Diogo de Braga” como edificante e profícua. Viva Santo Antão!!!

São João e a cidade de Pombos: sintonia perfeita!!!

Na Vitória de Santo Antão de antigamente, segundo os livros que contam nossa história, a então “Rua da Lagoa do Barro” – hoje Praça Duque de Caxias – tinha muita lama e camaleão. Os cavalos dos matutos,  carregados com mercadorias, vindo das diversas partes da Zona Rural, não raro, trafegavam enfiando as patas  (até o meio) nas vias lamacentas. Nessa época o comércio da Vitória funcionava aos domingos,  até às 9h.

Costumava-se,  nas folgas dominicais, os homens de negócio e pessoas financeiramente  confortável,  “matar” o tempo nas matas,  se divertindo com suas espingardas. Carregadas nos ombros em busca dos alvos em movimentos os “caçadores”, por assim dizer, se deslocavam para o lado poente da cidade,  no qual,  havia grande quantidade pombos bravos (asa branca).

Na segunda-feira, nos momentos em que os fregueses no comércio rareavam,  e com tempo de sobra, nas calçadas dos estabelecimentos, as aventuras e as peripécias eram contadas como vitorias aos amigos comerciantes  que não puderam comparecer na empreitada prazerosa. Ao serem questionados, falavam com galhardia: “foi um verdadeiro são joão nos pombos”.

Eis ai, portanto, o motivo pelo qual a nossa vizinha cidade, que um dia foi distrito da Vitória de Santo Antão, recebeu o nome de  POMBOS. Hoje, porém, certamente poucas pessoas de lá sabem,  exatamente,  o motivo pelo qual são pombenses de nascimento.

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Vamos Comemorar: “MAIO ANTONENSE – O MÊS AZUL E BRANCO”

Hoje, 06 de maio, Vitória de Santo Antão comemora a passagem de mais um aniversário da sua elevação à categoria de cidade. Para “sintonizar” o internauta no tempo e no espaço,  por assim dizer, realcemos que o Recife recebera esse título (cidade) apenas duas décadas antes,   exatamente em 1823, demonstrando assim que o nosso torrão, já na primeira metade do século XIX,  despontava como um circunscrição territorial/política  considerável.

Do ponto de vista prático, no que se refere ao contexto administrativo local, o titulo de “Cidade” em nada modificou a relação dos governantes com os nativos,  pois a verdadeira transformação local, no que se refere à “vida orgânica municipal”,  já havia nos ocorrido décadas antes, ou seja: elevação de Freguesia à Vila, em 1812. Já à autonomia jurídica correu  1833 – Vitória deixou de pertencer à Comarca do Recife e passou a ter Juiz togado.

Na qualidade de estudioso da vida pretérita  da nossa aldeia e sócio efetivo –  há mais de quinze anos  do Instituto Histórico –    na próxima oportunidade em que estiver em reunião ordinária na “Casa do Imperador”, que penso ser o embrião natural dessas questões, irei abrir discussão no sentido de promovermos no mês de maio um conjunto de ações  comemorativas –  haja vista todos esses relevantes acontecimentos terem ocorridos num  mês de maio,  evidentemente que em dias e anos diferentes.  A história é dinâmica! Releituras serão sempre bem vindas e necessárias à boa historiografia.

ESSA SERÁ UMA DAS MINHAS PROPOSTAS: “MAIO ANTONENSE – O MÊS AZUL E BRANCO”

Acredito,  se bem trabalhado em conjunto com toda sociedade e os poderes constituídos, poderemos despertar nos nativos, sobretudo nos mais jovens, um incremento substancial no que se refere ao chamado SENTIMENTO DE PERTENCIMENTO, algo que nos parece em processo de desidratação na terra desbrava pelo português Diogo de Braga.

 Portanto, desde já, aproveitemos o mês que acaba de começar para introduzirmos  e alardeáramos  essas informações, principalmente  com os  nossos conterrâneos menos atentos,  no que refere às  questões da aldeia………Viva “O MAIO ANTONENSE – O MÊS AZUL E BRANCO”…

Professora Odorina Gonçalves de Moura: breve relato do doutor Fernando Moura…

Recentemente fui procurado pelo professor e amigo Leandro, no sentido de  colher informações sobre o histórico da pessoa que empresta o seu nome à escola em que ele leciona, uma vez, que,   segundo ele, por lá, as informações são elementares.

Não obstante ser conhecedor de algumas informações sobre a professora Odorina Gonçalves de Moura, até porque a sua família era próxima da família do meu pai, para contemplar a carência e à necessidade do amigo Leandro,  fui obrigado a recorrer ao doutor Fernando Moura –  sobrinho da referida professora.

 De pronto e com toda boa vontade do mundo o doutor enviou-me informações que certamente irá suprir as necessidades. Segue:

Tia Dorita, a mais nova das irmãs Moura, foi professora atuante em nosso município por quase 30 anos, contribuindo para a formação educacional de várias gerações  de vitorienses. Formou-se em pedagogia em uma das primeiras turmas do Colégio Nossa Senhora da Graça  (Damas) e logo em seguida passou a lecionar. Inicialmente, durante 08 anos, na zona rural, na Fazenda “Miringabas”, pertencente ao Sr. Figueiredo (sogro de Sr. Joel de Cândido e avô de Sr. Elmo). Posteriormente, ainda na mesma propriedade, mas na parte pertencente ao ex-vereador, Elias Gomes de Freitas (“Elias de Miringaba”).

E seguida, foi transferida para a área urbana, onde exerceu, por vários anos,  o seu mister em uma escola localizada no Borges. Finalmente, concluiu as suas atividades de magistério na escola mínima “São João Batista”, localizada na “Capelinha São João Batista”, por ela construída com recursos próprios  (seu pai (Zito Mariano) fez a doação de uma bela imagem de Nossa Senhora para a Capelinha, inaugurada em 1960), onde exercia também a função  de Diretora. Dentre alguns dos seus alunos,  na Capelinha, no momento, lembro de alguns:  Carlos Peres, Etiene, Alemão…….Faleceu em setembro de 1994, aos 65 anos de idade.

Em razão dos relevantes serviços por ela,  efetivamente prestados à educação do nosso município,  após o seu falecimento, o Prefeito do Município  (na época,  Sr. Elias Lira), por indicação da sua Secretária de Educação,  Profa. Lourdinha Álvares,  resolveu homenageá-la com a aposição do seu nome em um Grupo Rural, localizado no Lagoa Queimada, próximo ao  Distrito de Pirituba. Espero ter contribuído para os esclarecimentos do histórico pretendido. Abraços!”

Jose Fernando Moura – advogado e sobrinho da professora Odorina Gonçalves de Moura.

Guilherme Pajé: uma referência para os apaixonados pelo frevo!!

Nesse novo mundo mágico e plural das redes sócias, recebei com alivio à possibilidade da notícia do falecimento do amigo e contemporâneo, Guilherme Pajé, entre tantas, ser mais uma “pegadinha”,  relacionada à popular data em que se “comemora” o dia da mentira que aliás, foi objeto de postagem nossa, na pauta de ontem (01). Infelizmente, foi verdade verdadeira!!!

Conheço Pajé desde os tempos da banca escolar do Colégio Municipal 3 de Agosto. Estudamos vários anos juntos. Desde sempre ele foi um sujeito formal. Em sala de aula, não gostava de brincadeiras. Comportava-se  como um sujeito adulto. Aliás, praticamente da mesma maneira que, até a noite de ontem (01), dia do seu fulminante falecimento, se mantinha.

Em entrevista ao nosso blog, por várias vezes, revelou o amigo Guilherme que a sua paixão e, posteriormente, identificação  e amor pelo  frevo – ritmo genuíno do nosso Estado – teve como origem na admiração que nutria pelo Maestro Nunes. Em alguma medida, por assim dizer, Pajé “renunciou” muita coisa na vida para se dedicar ao seu propósito – elevar e preservar um dos maiores  patrimônios  pernambucano – O FREVO.

Na qualidade de compositor, juntos com tantos outros anotonenses, tornou-se imortal. Grafou nas páginas do livro da Vitória de Santo Antão suas digitais musicais. Não posso afirmar, mas acho que a música que ele compôs para festejar o Centenário do Clube Abanadores “O Leão”, em 2002, seja uma das suas obras mais significativas.

Nos últimos anos, andou me confidenciando e até revelou em entrevista – gravada em 2017 – que já não mais acalentava à esperança no ressurgimento e posterior fortalecimento do nossos carros alegóricos, não obstante manter-se entusiasmado com o grande número de pessoas jovens que estavam participando da diretoria de vários novos clubes que continuavam desfilando ao som das  orquestras de frevo.

Em duas ocasiões distintas, mas em momentos parecidos já que se tratava de funerais de pessoas ligadas ao nosso carnaval –  José Marques de Senna e Maestro Aderaldo –  gravai vídeos  com o Guilherme Pajé. Em todas duas, ele reconheceu à importância do trabalho dos dois para o fortalecimento da nossa festa maior – Carnaval – se colocando, também, como uma pessoa que tinha obrigação de manter o legado dos referidos mestres.

Um fato curioso sobre a vida do amigo Pajé diz repeito ao seu nome. Sendo ele um “homem do frevo”, o mesmo nasceu no dia 24 de junho, dia do nosso tradicional São João. Seus pais, pessoas ligadas às tradições católicas, para não batiza-lo pelo nome do santo do dia (João) resolveram dar-lhe o nome do santo do dia seguinte (25),  isto é: SÃO GUILHERME.

Por fim, resta-nos, agora,  apenas lamentar. Sua dedicação e seu trabalho não foram sem sentido. Pelo seu empenho e devoção à sua causa – o frevo – se dez vida tivesse, dez vida daria pra fazer tudo novamente. Em vida, Guilherme recebeu inúmeras homenagens carnavalescas. Foi o carnavalescos vitoriense que mais recebeu homenagem.

Hoje tem festa no céu,  em ritmo de frevo. Ele deverá juntar-se aos carnavalescos do passado, como o próprio relembrava no seu programa – “Sua Excelência O Frevo” – e certamente, daqui pra frente,  estará aposto para receber os carnavalescos do presente que, em um futuro incerto, também sucumbirão às cinzas, tal qual o reinado de momo chega à sua hora  derradeira,  na odiada e sempre temida quarta-feira ingrata. Ao som dos saudosos e  melancólicos frevos de bloco, descanse em paz, amigo Pajé!!

Nestor de Holanda Cavalcanti Neto – por Pedro Ferrer

Nasceu na Vitória de Santo Antão, no ano de 1921. Desde cedo mostrou pendores para as letras. Era neto do Nestor de Holanda Cavalcanti, farmacêutico, estabelecido na atual João Cleofas. Ficou órfão ainda criança. Sua genitora ficou residindo algum tempo na casa dos sogros. Logo partiu para o Recife, levando em sua companhia o casal de filhos. Foram residir na rua do Sossego, bairro da Boa Vista. Mais tarde ele escreveria um romance cognominado: “Sossego, rua da revolução”.

Na capital trabalhou na imprensa, escreveu peças, poesias e compôs inúmeras músicas em parceria com Nelson Ferreira, Levino Ferreira, Luís Gonzaga. Aos 19 anos partiu para o Rio de Janeiro. Sua veia de escritor abriu-lhe as portas de revistas, jornais, rádios, teatros e finalmente TV.

Trabalhou em inúmeros jornais. Foi redator de rádios e TV. Escreveu muitas peças para teatro de revistas e compôs centenas de músicas. Entre seus parceiros citaria: Ary Barroso, Dolores Duran, Lamartine Babo, Ismael Neto, Haroldo Lobo. Suas crônicas prendiam-se muito a fatos ocorridos no Rio de Janeiro e na sua terra natal. Merecidamente ganhou o título de Cidadão do Estado da Guanabara. Nessa época seu livro, “A ignorância ao alcance de todos”, vendeu 120 mil exemplares, valendo-lhe o título de  escritor de maior venda no Brasil, na década de 1960. Nestor morreu jovem, no dia 30 de novembro de 1970, com apenas 49 anos. Jorge Amado, o famoso escritor baiano, resumiu em três linhas a importância, o valor e a originalidade de Nestor de Holanda: “Com Nestor de Holanda estamos longe de todo formalismo sem sentido com que certos escritores buscam esconder a inutilidade de sua voz. Nestor é um homem do seu tempo e do seu povo”.

Recomendo ao leitor seu livro “O decúbito da mulher morta”. História ocorrida na nossa cidade.

Finalizo transcrevendo algumas palavras escritas por Rachel de Queiroz, escritora cearense, primeira mulher a ingressar na Academia Brasileira de Letras, por ocasião da sua morte: ““Contista e, acima de tudo, cronista, esse pernambucano de Vitória de Santo Antão assimilou melhor do que ninguém a alma e a graça do carioca, sua irreverência, seu humor desabusado, sua mordente sátira, entremeada de momentos de enternecimento e romantismo. Curioso é que conseguiu figurar assim entre os mais “cariocas” dos cronistas desta cidade do Rio, sem por um instante imolar sua condição de homem vindo do Norte, parte daquela frente migratória anunciada por Manuel Bandeira em “São os do Norte que vêm”. O carioquíssimo “Sargento Iolando” jamais esqueceu ou sonegou o menino de Vitória, suas lembranças, saudades, e pontos de vista. A simbiose de ambos foi o milagre do talento – talento era coisa que não faltava a esse que nós choramos tão cedo, partido muito antes do seu tempo natural, quando ainda teria tanto para dar ao jornalismo, nas letras, na vida.”

Quase Dois Centenários – por Aluísio Xavier

Em 2018, meus queridíssimos genitores, Aloísio de Melo Xavier e Eunice de Vasconcelos Xavier, se vivos fossem, teriam completado, respectivamente, cem e noventa e cinco anos de idade. Ambos filhos da Vitória de Santo Antão, a Terra das Tabocas, por eles amada como quem mais a ame ou tenha amado. Dela somente saíram pela necessidade educacional da numerosa descendência, sem nunca terem deixado de comparecer ao seu torrão natal. Por questão de absoluta justiça, é imperioso dizer-se que o amor, por ambos dedicado à sua terra e à sua gente, foi inteiramente correspondido, em vida e após a morte, sendo-lhes prestadas diversas homenagens, que sempre mereceram a maior gratidão dos familiares. Mas é necessário um reconhecimento público, ora feito, com as escusas aos não expressamente citados, o que ocorre apenas em razão da limitação deste espaço.

De início, os agradecimentos aos vereadores Mano Holanda e André Saulo dos Santos Alves. O primeiro, por ter sido o autor do projeto de lei, apresentado logo após o falecimento do meu genitor, através do qual passou a denominar-se Rua Dr. Aloísio de Melo Xavier o logradouro onde se localiza a sua residência de muitos anos. O segundo, em razão da autoria do projeto de lei que denominou Rua Professora Eunice de Vasconcelos Xavier uma via urbana, merecendo destacar que o mesmo projeto homenageia quatorze mulheres, dentre elas, madre Tereza de Calcutá, Clarice Lispector e Marie Curie, tendo o edil a distinção de iniciar a nominação das ruas pela minha genitora. Os agradecimentos se estendem ao ex-prefeito Carlos José Breckenfeld Lopes da Costa e ao atual, José Aglailson Querálvares Júnior, por haverem, respectivamente, sancionado os projetos de lei.

Também os agradecimentos ao professor Pedro Humberto Ferrer de Moraes, presidente do Instituto Histórico e Geográfico da Vitória de Santo Antão (IHGVSA), pela sua iniciativa de realizar, ano passado, sessão solene alusiva ao centenário de nascimento do meu genitor, na qual falaram, destacando qualidades do homenageado, João Álvares, orador oficial, Gustavo Krause, Luciene Freitas e José Edalvo. Após a sessão, o Instituto afixou placa, com os dados biográficos do homenageado, na fachada da sua antiga residência. Os agradecimentos são extensivos aos oradores e a todos os que compareceram ao evento. Ainda os agradecimentos ao mesmo professor, e aos que integram o IHGVSA, pela criação da Medalha Eunice Xavier, que presidiu a instituição por aproximadamente vinte anos ininterruptos. A comenda é entregue anualmente em março, no Dia Internacional da Mulher, às vitorienses ou amigas da Terra das Tabocas, que se destacam em gestos e ou trabalhos em prol da cidade.

Do mesmo modo, os agradecimentos ao professor Paulo Roberto Leite de Arruda, fundador da Faculdade Osman Lins (FACOL), Clínica Universitária de Reabilitação, Educação e Saúde (CURES) e Cidade Universitária Governador Marco Maciel (CDUGMMA), por haver denominado de Dr. Aloísio Xavier e Professora Eunice Xavier, respectivamente, as bibliotecas da FACOL e da CDUGMMA, sendo a primeira delas a unidade central do complexo educacional de nível superior.

Igualmente, os agradecimentos a Cristiano Pilako, por haver a Associação dos Blocos de Trio da Vitória, com mais de duas décadas de existência, homenageado a minha genitora, em 2016, pelos relevantes serviços prestados ao carnaval da Vitória, entre

outras coisas, participando da administração do Clube Carnavalesco Misto Taboquinhas, último clube de fados do Brasil. Também a Pilako, os agradecimentos pela homenagem prestada à minha genitora no carnaval de 2017, no desfile da agremiação A Saudade, dedicando-lhe a canção original A Saudade da Eunice, de autoria de Aldenisio Tavares e sua. Costumava ela acompanhar a sua agremiação do coração até quando a idade não mais permitiu, mas ficava aguardando a sua passagem na janela de casa.

Ainda os agradecimentos a Rogoberto Rangel Neto, ex-presidente do Círculo dos Amigos da Vitória de Santo Antão, entidade informal fundada por meus genitores e outros vitorienses, atualmente com trinta e oito anos ininterruptos de funcionamento, por haver instituído a Medalha Aloísio de Melo Xavier, em 2014, ao ensejo dos trinta e três anos de atividade da agremiação.

Identicamente, os agradecimentos ao ex-prefeito Elias Lira e à ex-secretária Yara Acácia de Alencar Lopes, pela inauguração do Centro Especializado de Atendimento à Mulher Eunice de Vasconcelos Xavier.

Da mesma maneira, os agradecimentos a Rubem de Deus e Melo e a João Álvares, pela homenagem prestada, em 2018, na edição especial de O Lidador, ao centenário de nascimento do meu genitor.

Por fim, um agradecimento tardio, in memoriam, pela beleza do gesto: em 29.11.1976, menos de dois anos antes da sua morte, o grande escritor Osman Lins, vitoriense, de renome nacional e internacional, ofereceu aos meus genitores o livro de sua autoria A Rainha dos Cárceres da Grécia, lançado no mesmo ano, com a seguinte dedicatória: “Para o Aloísio Xavier, ídolo da minha adolescência, e também para Eunice, com amizade, abraços os mais afetuosos do conterrâneo Osman Lins.”

A todos, a gratidão que não perece.

Aluísio Xavier – Advogado e ex-presidente da OAB/PE. 

 

A história da fundação da “Girafa”- por Dryton Bandeira.

Ávidos por algo diferenciado e motivador para brincar o carnaval de 1950, um grupo de “corrioleiros” (amigos), teve a inusitada ideia de “roubar” a girafa alegórica usada como símbolo do Armazém Nordeste – A Girafa Tecidos (casa comercial situada na Praça da Bandeira). Discretamente a missão foi cumprida com sucesso, e o produto do ilícito sorrateiramente recolhido à Oficina Atômica, de propriedade de Zé Palito.

Reunião marcada, corriola reunida, bebidas servidas, discursos proferidos: estava fundada a Troça Carnavalesca Mista A Girafa. Oficialmente a data da fundação é 16/01/1950, como consta em Ata lavrada à época.

A primeira Diretoria ficou assim constituída:

– Presidente: José Mesquita de Freitas (Zezinho Mesquita);
– Vice-Presidente: José Augusto Férrer;
– Secretário: José Jacinto;
– Diretor Geral: José Celestino de Andrade (Zé Palito);
– Orador: Mauro Paes Barreto;
– Tesoureiro: Aluízio Férrer;
– Diretor Musical: Paulo Férrer;
– Fiscais: João Carneiro (Doido) e Hugo Costa;
– Diretor Artístico: Nivaldo Varela;
– Porta-Estandarte: Wilson Coelho (O Bruto);
– Comissão de Recepção: Donato Carneiro, José Pedro Gomes, Eliel Tavares, José Vieira (Zequinha), Rubens Costa e João Peixe.

Após o carnaval, sanadas as arestas geradas por conta de “roubo” do animal símbolo de Armazém Nordeste, ficou devidamente acordado entre as partes que a alegoria em questão, seria emprestada anualmente pela referida loja e posteriormente devolvida em perfeito estado de conservação. Anos após, a diretoria mandou confeccionar sua própria Girafa, símbolo maior e marca-registrada dos girafistas até os dias atuais. Vale enfatizar que a Girafa é a única agremiação da cidade a participar de todos os carnavais desde sua fundação.

Durante anos e já na condição de Clube, abnegados foliões conduziram os destinos da folia girafista e suas alegorias foram montadas em diversos locais da cidade, até que me 1986 foi concluída a construção do um moderno e amplo barracão, localizado à Rua Eurico Valois (Estrada Nova). O citado barracão não foi festivamente inaugurado, em face do falecimento de Dona Jura. Tão girafista quanto seu marido,  Mané Mizura.

As apresentações ocorriam nas manhãs de domingo e terça-feira de carnaval, saindo da Praça Félix Barreto, no Bairro do Livramento. Acordes do famoso hino e gigantesca queima de fogos sinalizavam o início de mais um desfile. Clarins anunciavam a presença do Clube na ruas da cidade e o abre-alas era composto do animal símbolo e de foliões devidamente caracterizados de Girafa. Belas e criativas fantasias compunham as alegorias, geralmente inspiradas em temas infantis. Transcorridas alguma horas, o percurso era alegremente cumprido. Novo show pirotécnico, frevo e muita confraternização, fechavam com risos e lágrimas mais um dia de exaltação à Girafa.

Três estandartes saíram às ruas da cidade durante mais de cinco décadas de existência. Inúmeras orquestras animaram os girafistas. Dentre elas: A Venenosa, 3 de Agosto e a do Maestro Seminha de Limoeiro. O hino oficial é: Exaltação à Girafa, composto por Guga Férrer (letra) e Sérgio Patury (música), gravado na voz de Babuska Valença.

Pesquisa e Texto – Dryton Bandeira

Revivendo o Carnaval: O Reisado e a Igreja. (1910)

Quase todos os Clubes e, notadamente os maracatus, começavam a sua função na calçada da Matriz. Em 1910, pouco antes de falecer, o Monsenhor Laurino Justiniano Ferreira Douetts, Vigário da Freguesia, (que todos os sábados pagava a meu pai, seu redator, um ano de assinatura do velho “O Lidador”), mandou colocar, na adro da Igreja, duas cadeiras para os Reis dos dois Maracatus se sentarem. E quando soube que, por isso, fora criticado, teve esta expressão luminosa: “É assim que se atrai o povo à Igreja”.

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Extraído da REVISTA DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO, Volume 6º – 1976. Páginas 102.

Revivendo o Carnaval: Célio Meira se irrita com chacota.

Certa vez, uma irreverente toada fez o nosso querido e saudoso Célio Meira se retirar do tablado. Estávamos na fase aguda da primeira grande guerra e Célio era um francófilo capaz de brigar com quem tentasse, nesse particular, combater as suas ideias. Era nosso Ministro do Exterior o dr. Nilo Peçanha. Acontece que a Cambinda para, diante do tablado e ataca:

“O Doutor Nilo Peçanha
Pela Pátria brasileira,
– Mandou chamar Célio Meira
P’ra acabar com a Alemanha”.

Ceciliano não gostou da graça. Essa quadrinha foi atribuída a Samuel Campelo que, no entanto, sempre negou, Teria sido de meu pai, Joaquim de Holanda Cavalcanti. Muitas pessoas o davam como sendo o autor. Não sei…

O que sei é que a “Lagoa do Barro” lembra o Carnaval. Era lá o quartel general da folia, transformada em bosque e, à noite, com sua profusão de luzes, num vasto salão iluminado.

Até 1929, o nosso Carnaval, embora descaracterizando-se a cada ano, guardou esse aspecto.

Extraído da REVISTA DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO – Volume 6º – 1976 – Páginas 102 e 103.

Uma fantasia que marcou época – por Joel Neto.

Meu caro Pilako,

No ano de 1991 o Clube Vassouras o Camelo desfilou nas ruas da Vitória de Santo Antão com uma das mais lindas alegorias de todos os tempos. Um trabalho extraordinário do grande artista vitoriense Valdir Maciel, tendo como tema o  “Diário de Pernambuco – Centenário –,  meio de comunicação pernambucano. Sua personagem de destaque ficou por conta da lindíssima Marcela Sotero,  com uma fantasia toda bordada de paetê francês e acrescida de plumas do acervo do carnaval do Rio de Janeiro, uma confecção perfeição  de  Lourdinha e Creusa Fischer…….Saudades deste tempo maravilhoso do nosso carnaval.

Abraços,

Joel Neto