

Esta é minha prima Semíramis por volta dos 10 anos de idade. Era o tempo em fase de lapidação, o tempo artesão. A mim, não me parecia uma beleza brasileira; antes, uma escandinava, uma beleza setentrional, nórdica, talvez.
O meu tio Sócrates, familiarmente conhecido como Tuxa, tinha crises, justificadas, de ciúme. Daqui, pareço vislumbrar o seu sorriso de afirmação no limbo do horizonte eterno.
A beleza não é uma invenção humana, a beleza existe.
Sosígenes Bittencourt
Abra as cortinas de Setembro, com esta colher de chá musical, para o tik tok do seu coração, dedilhado por Bia Villa-Chan, este mulheraço pernambucano instrumental, se amostrando na execução de uma lambadinha, para você ficar se lambendo de desejo.
Palmas e muito obrigado!
Sosígenes Bittencourt
Hoje, eu devo facilitar nossas vidas e estreitar nossos laços de amizade.
Quero experimentar a sua Galinha à Cabidela.
Sei que, de tão saborosa, ao término da ingestão, irei responder à indagação: – O senhor está satisfeito, ou ainda quer mais um pouquinho?
E eu, meio tímido e invocado: – É, madame, aceito. Ainda cabe dela – imitando o magistrado e cronista vitoriense, Dr. Aloísio de Melo Xavier.
Mande uma de 13 reais e umas ondas de macarrão com uma ilhota de purê sobrenadando. Quero navegar na gostosura do seu quitute.
Sosígenes Bittencourt
Professora Inês era amiga, das antigas, de minha geratriz, professora Damariz.
Assim como o seu filho, Dryton Bandeira, é meu amigo desde nossa mocidade.
Eis os motivos de minha manifestação pública de condolências pelo passamento de sua genitora.
A perda da mãe é uma dor insolidarizável, resumiu o escritor Carlos Heitor Cony. Não há multidão que nos console.
A vida é feita de tempo e daquilo que fazemos com o tempo que temos. Ademais, morreremos. Contudo, uma vez vivos no mundo, não tem mais jeito, o jeito que tem é viver.
Agora, Dona Inês, és detentora de um segredo só a ti revelado. Um dia, fostes como nós somos; um dia, seremos como tu és.
Até breve! Requiescat in pace!
Sosígenes Bittencourt
O Casamento cartorário é humano, o Casamento de amor recíproco é de Deus. É referente ao homem identificar o divino. Se você não consegue identificar o amor divino, cultive-o, arrimado à instrução do vate mineiro Carlos Drummond de Andrade: Amar se aprende amando. O amor não é um friozinho na barriga, uma flechada de Cupido, é reciprocidade, cotidiano. Outrossim, procure saber por que você não está sendo amado, consernente ao quanto não está amando.
Sosígenes Bittencourt
(A Cascatinha da Matriz e Manoelzinho de Horácio)
Papai me contava e mamãe assevera que quem construiu essa praça, chamada Dom Luís de Brito, foi Horácio de Barros, pai de Manoelzinho Rangel. Depois, diz que Horácio de Barros não foi à inauguração da obra, porque estava acometido de Tifo. Assistiu ao evento, debruçado na janela de sua casa, na Rua Imperial, popularmente conhecida como Rua do Meio.
Era nessa Cascatinha que Manoelzinho de Horácio tomava cachaça com caramelo de menta, contava piada, soltava lorota e empulhava o mundo. Manoelzinho de Horácio partiu para a Eternidade aos 73 anos, já faz algum tempo. Ele contava que o médico que lhe tirou o baço e garantiu-lhe um ano de existência morreu primeiro.
Certa vez, Manoelzinho de Horácio me contou que fez um frio tão grande em Vitória de Santo Antão que o Leão Coroado, na frente da Estação Ferroviária, saiu do monumento e foi se esconder dentro de uma barbearia do outro lado da Praça. Manoelzinho de Horácio era jogador de futebol. Diz que, um dia, ele foi bater um pênalti, quando o adversário Tenente Índio o ameaçou: – Se fizer o gol, me apanha! Manoelzinho não teve dúvida, furou o gol e saiu correndo do estádio José da Costa, solto na buraqueira, pelo Dique afora.
Sosígenes Bittencourt
Aos 96 anos de idade, morre Delfim Netto, um professor de Frases Icônicas. Exemplo: O Brasil é o país do futuro e sempre será.
Eu sou um professor de Frases Irônicas. Exemplo: O Brasil é o país do futuro distante, morreremos antes. Exemplo: Delfim Netto.
Sosígenes Bittencourt
Escrever é um ato que se pratica sozinho, porém, jamais solitário.
Todo ato intelectual é povoado daquilo que povoa a vida, do mito mistério que povoa o mundo.
O escritor vive escrevendo.
O escritor morre escrevendo.
Até quando dorme, sonha escrevendo.
Um olho aberto e outro fechado,
uma folha de papel e uma caneta ao lado.
Assim, anda vivendo,
Assim, vive andando,
meio acordado, meio sonhando.
Sosigenes Bittencourt
Descobri que sou um clássico. Assisti a Geraldine Chaplin em Cinemascope Colorido. Insuportavelmente, linda, um belo exemplar do gênero feminino, a elegância como figurino. Sugestiva, sedutora, nela cabiam todos os desejos, um presente de Eros para o mundo.
Sosígenes Bittencourt
Há 11 anos
09/07/2013
Vitória de Santo Antão, PE
Trocar ideias é o melhor quitute para uma boa bebida. Tudo estava saboroso, mas nada mais prazeroso do que permutar conhecimentos. Ensinar, para mim, é uma forma e conviver. Estudar, para mim, é uma forma de conviver. Minha escola é o mundo. O saber não é nada, o saber não é tudo, imenso é o não-saber, misterioso é o desconhecido.
Sosígenes Bittencourt
Dorival justificou a derrota, dizendo que a Seleção Brasileira não conseguiu entrar pelos lados. Ué… e por que não entrou pelo meio? Talvez, a Seleção tenha sido treinada para jogar voleibol com a plateia.
Desentrosado abraço!
Sosígenes Bittencourt
Eu, agora, acredito em reencarnação. Nero trocou Roma por Vitória de Santo Antão. O Nero, imperador romano, era doido varrido, mas não precisou ser castigado pelos humanos, ele próprio enfiou uma faca no pescoço e se matou. Já Roberval, não parece tão anormal; já transitou, a bordo de Camburão, rogando desculpas pela incineração, alegando amnésia transitória e garantindo que vai dar tudo certo. Como está tudo errado e ninguém acredita no incendiário, é mais fácil uma vítima querer incendiá-lo. Resta saber o que dirá o réu nos autos sobre o incêndio dos autos.
Sosígenes Bittencourt
De Vinicius de Moraes: Tenho os olhos cansados de olhar para o além.
De Luiz Caldas: Toda menina que enjoa da boneca é sinal que o amor já chegou no coração.
De Guillaume Guizot: Quando a Política penetra no recinto dos Tribunais, a Justiça retira-se por outra porta.
De Inácio de Loyola: Ora, como se tudo dependesse de Deus, e trabalha, como se tudo dependesse de ti.
De Pitigrilli: Nasce-se incendiário e acaba-se bombeiro.
Reflexivo abraço!
Sosígenes Bittencourt
Lembro-me do São João das ruas sem calçamento. O mundo parecia um terreiro só. As mulheres cruzavam as pernas, enfiavam as saias entre as coxas, para ralar o milho e o coco, enquanto os homens plantavam o machado nos toros de madeira para fazer as fogueiras. À tardinha, a panela virava uma lagoa de caldo amarelo onde fervia o maná das comezainas juninas. A meninada ensaiava o jeito de ser homem e mulher. De chapéu de palha, bigode a carvão e camisa quadriculada, era quando podíamos chegar mais perto das meninas sem levar carão nem experimentar a sensação de pecado. O coração se alegrava quando sonhávamos com a liberdade de adultos que teríamos um dia. Batia uma gostosíssima impressão de que estávamos bem próximos de fazer o que não podíamos fazer. Os ensaios de quadrilha relembravam a tristeza do último dia. Pois um ano durava uma eternidade, as horas eram calmas, podíamos acompanhar a réstia do sol e contar estrelas. Pamonha, canjica e pé de moleque eram tarefas de dona de casa prendada, de quem o marido se gabava. Tudo era simples e barato, ninguém enricava com a festa. A novidade era a radiola portátil, e os conjuntos eram pobres de tecnologia, mas os instrumentos ricos de som e harmonia, manuseados com habilidade e gosto, na execução do repertório da festa do milho. Quando São Pedro se ia, ficava um aroma de saudade na fumaça das derradeiras fogueiras e no espocar dos últimos fogos.
Sosígenes Bittencourt
(Há 11 anos – 16 de junho de 2013)
Quando terminou o jogo entre Brasil e Japão, minha genitora, que era enjicada com futebol, saiu-se com essa: – O Brasil joga amanhã com quem?
Aí, papai: – Com ninguém, menina, nenhum time joga dois dias em seguida.
Aí, mainha: – Então, amanhã, eu não vou para o fogão. Está tudo errado. Esses caras trabalham um dia na semana para ganhar uma fortuna, e eu trabalho todo dia sem remuneração?
Fotografia: Simônides Bittencourt, profa. Damariz e titia Ricardina
Sosígenes Bittencourt
A poesia está na natureza, o poeta é que fuxica a beleza.
A poesia é o que o poema conta. Certa vez, andando pela varanda, eu vi duas meninas bonitinhas passando. Não eram meras meninas, era a poesia passando, o que me fez fuxicar, varandando.
VARANDANDO
Da varanda, vejo duas meninas bonitinhas passando. De tão bonitinhas, nem parecem passar, fica sempre alguma coisa bonitinha no ar.
Sosígenes Bittencourt