Gueixa, a sedução pela arte – por Sosígenes Bittencourt.

Engana-se, redondamente, quem acha que a gueixa é uma versão oriental de nossa prostituta. A gueixa lá no Japão, e a prostituta aqui na esquina. Primeiro, porque para ser gueixa é preciso muitos anos de estudo, enquanto para ser prostituta não é preciso nenhum estudo, o que até facilita.

A gueixa é uma profissional que aprende, desde cedo, a milenar arte de seduzir, dançar e cantar, com ritos e indumentária tradicionais. A prostituta é uma profissional do sexo, desregrada, que negocia o corpo, não tendo, por isso, que aprender coisíssima nenhuma.

A gueixa não pode ser desfrutada por um Zé Ninguém, só servindo a políticos, grandes empresários e artistas, porque podem contratar os seus conhecimentos.

A gueixa sabe como desestressar um cidadão, tem de estar ciente da política internacional e não tem que fazer sexo com o seu cliente. A prostituta sabe como estressar um cidadão, não tem obrigação de entender nem de fundo de cozinha e tem de fazer sexo, mesmo que não saiba nem queira absolutamente nada com a vítima.

Enfim, a gueixa é um cicerone da cultura japonesa, tendo obrigação de conhecer o Japão milenar e contemporâneo, enquanto a prostituta é uma representante de nossa cultura mercadológica, segundo a qual tudo na vida tem preço e nenhum valor.

Sosígenes Bittencourt

CONVERSANDO LOROTA – por Sosígenes Bittencourt.

Um dia, eu estava conversando lorota numa roda de mulheres faladeiras quando uma delas se saiu com uma conversa meio fútil, mas interessante ao mesmo tempo. É que eu perguntei por uma menina que conheci, meio namoradeira, moradora do bairro, e a língua de trapo pegou um ar desgraçado. A mulher virou-se numa chibata moral.

Disse que morou vizinha à família da escrachada; que o pai dela tinha uma venda de esquina, dessas de balcão de madeira, que vendia, de caramelo a candeeiro, de aguardente de cabeça a remédio pra dor de barriga, e falava mais do que o homem da cobra.

O defeito do pai da camarada é que batia com o nó dos dedos no balcão da venda e dizia que o dinheiro que tinha, nem Deus acabava. Ora, pelo que a linguaruda sabia, Deus tira a vida do homem, que dirá sua mercadoria. E largava o pau no condenado.

A gente se afastava da faladeira, porque, de tão entusiasmada, saltando de um pé só, uma veia pulada no pescoço, gritava e cuspia que nem uma doida.

Bem… para encurtar a conversa, contou que, de “repentemente”, foram surgindo mercadinhos por todo canto, como se fosse uma praga divina.

Os mercadinhos tinham preço, sortimento na moda, o cliente pegava nas compras com a mão, revirava, cheirava, apalpava e levava numa cestinha para pagar no caixa. Ninguém perdia tempo nem tinha conversa mole: – Muito obrigado, tenha um bom dia!
Quando se perguntava na rua: – Tu ainda estás comprando na venda de seu Fulano? – o interrogado respondia: – Deus me defenda!

Daí, o dono da venda quebrou, a filharada se dispersou, e me sobrou a menina que a faladeira só não a chamou de santa, porque Deus é Pai. Eu namorei com ela, comprei leite de vaca para o menino dela, mas nunca a vi tão avacalhada nem tanto adjetivo ruim como os que aquela marocas lhe imputou. Tem jeito?

Linguarudo abraço!

Sosígenes Bittencourt

Sede ao pote – por Sosígenes Bittencourt.

Eu sei que chocolate faz bem à saúde, sei que contém polifenóis, flavonóides;
que combate os radicais livres, é antioxidante, previne inflamações;
que escavaca as coronárias, descolando-lhes a borra, desentupindo a hidráulica sanguínea;
que enxágua nosso sangue, deixando-o limpinho, fininho, cheirosinho;
sei que auxilia a peristalse intestinal, fazendo a tripa colear que nem uma cobra;
sei até que funciona como antidepressivo, libera feniletilamina, ocitocina, serotonina e dopamina, promovendo alegria e calmaria;
eu sei de tudo da chocolatria, da chocofilia, mas não precisa ir com tanta SEDE AO POTE.

Sosígenes Bittencourt

 

O lado bom da vida – por Sosigenes Bittencourt

Esta é uma das rosas que recebi por e-mail, remetido por dona Conceição Azevedo, leitora do meu blog. Chamada de Rosa da Sinceridade, escolhi como a mais bela. Sincero era Jesus, que agia como pregava. Dona Conceição é apaixonada pelo lado bom da vida. Prova de que podemos ser felizes, sentindo prazer sem culpa e suportando os sofrimentos da existência sem desespero.

Estético abraço!

Sosigenes Bittencourt

Se Deus é por nós, quem pode ser contra nós?

Mas, para tanto, é preciso saber fazer bom uso da VONTADE PERMISSIVA de Deus. Ou seja, Deus nos permite fazer escolhas e arcar com consequências. Por isso, não nos abandonou, dando-nos DISCERNIMENTO para avaliar o BEM e o MAL. Não há controle remoto monitorando nosso destino, o que você é faz a sua história.

Sosígenes Bittencourt

A QUENTURA QUE ESTÁ FAZENDO – por Sosígenes Bittencourt

A quentura que está fazendo não está no termômetro. No meu tempo, dir-se-ia que era a canícula abrasadora; que, no sertão, galinha estava botando ovo cozido, e vaca dando leite em pó. E seria só. Hoje, tem explicação. É o Buraco da Camada de Ozônio, que estão afolozando. Até as crianças já ouviram falar em Gás Carbônico e Efeito Estufa. Rendilharam a peneira do sol. Os raios vêm diretinho na pele, no calçamento, no juízo dos moradores da terra. Isso porque ninguém quer saber de conselho de ecologista, ambientalista, e outros tenebrosos profetas do final dos tempos. Nem querem saber das gerações futuras, embora venham a ser os próprios filhos, seus netos, pessoas que dizem amar. Parecem comungar a frase “Depois de mim, o dilúvio”. Desprezam a natureza em nome de riquezas passageiras, pois o tempo corre célere, e a morte é desprovida de matéria. Sequer se amam, pois poluir o meio ambiente é uma forma de lambuzar-se.
Outro dia, deu uma ventania aqui na cidade tão forte que quase altera a posição do município. Um matuto me contou que suas galinhas foram parar no terreiro do vizinho.

Já deu enchente por aqui de geladeira boiar e aventureiro abrir latinha de cerveja no roldão das águas, entre cobras e lagartos.

O falecido barbeiro Moisés recitava uma quadrinha mesmo assim:

O sertanejo, ao nascer,
Tem seu destino traçado,
Se de sede não morrer,
Por certo morre afogado.

Só relembrando Drummond: Êta vida besta, meu Deus!

Sosígenes Bittencourt

HORA DE PENSAR – por Sosígenes Bittencourt.

Eu sempre tenho a impressão de que alegria é bênção e tristeza é padecimento. Por isso, quando estou alegre, penso em Deus, e, quando estou triste, penso em mim. Acho que tudo é resultado da ação do homem, o bem à bondade, e o mal à maldade. Ninguém quer acreditar que tem uma parcela de culpa e, como consequência, um saldo de padecimento. O pecado humano é VONTADE PERMISSIVA DE DEUS. No entanto, Deus não nos abandona, concedendo-nos o DISCERNIMENTO, a perfeita noção do BEM e doMAL.

Sosígenes Bittencourt

ESTUDANDO PORTUGUÊS – por Sosígenes Bittencourt.

Pérfuro-cortante ou Perfurocortante?

Eu preferiria estar falando de faca peixeira para os vendedores de peixe, mas, infelizmente, estou falando para os estudantes de Direito e os profissionais da área médico-legista.

Quando forem escrever a palavra “perfurocortante”, lembrem-se de que deverão se reger pelo Vocabulário da Língua Portuguesa em vigor a partir de 2009.

Segundo o VOLP (Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa), a palavra “perfurocortante” é um adjetivo que serve aos dois gêneros, masculino e feminino, ou seja: a lâmina perfurocortante e o instrumento perfurocortante. Depois, a sílaba tônica é “tan”, fazendo com que, por JUSTAPOSIÇÃO das palavras, o acento da palavra “pérfuro” obviamente desapareça.

Escreva-se, portanto, PERFUROCORTANTE e, pela mesma explicação, PERFUROINCISO e PERFUROCONTUSO.

Por exemplo: A vítima foi abatida por instrumento PERFUROCORTANTE.

Já no caso de usar PERFUROINCISO e PERFUROCONTUSO, você terá de flexioná-las quanto ao gênero.

Por exemplo: A vítima foi abatida por arma PERFUROINCISA ou PERFUROCONTUSA.

Ortográfico abraço!

Sosígenes Bittencourt

O ENEM, nem… nem… – por Sosígenes Bittencourt.

(Aconteceu em 2010)

Erro na organização e em quesitos da prova do ENEM parece brincadeira. É mesmo que fraude no concurso da polícia. Candidatos que fraudaram o concurso da polícia eram caso de polícia. Coisas brasileiras. Se há erro na confecção da prova do Exame Nacional do Ensino Médio, como os seus examinadores terão credibilidade para atribuir nota aos concorrentes? Um item é evidente: falta de atenção. Como conceber desorganização na organização do ENEM? Por exemplo, colocaram, no domingo, Linguagens e Códigos com Matemática. Todo mundo sabe que Português e Matemática sempre foram intrigados, gato com rato nos hemisférios cerebrais do aluno. Tanto que, antigamente, se perguntava ao estudante: “Você gosta de Português, ou de Matemática?” Imagine erro na formulação das questões. É piada. Penso que o ensino está se transformando numa salada indigesta, dificultando o aprendizado. O que mais importa no ensino é o aprendizado. Se o aluno não aprendeu, de que valeram as aulas? Há queixa de que as provas foram longas, as perguntas complexas, etc, etc. Se o objetivo é a comunhão entre as matérias, a desorganização só promoverá desunião. É melhor estudar menos e aprender alguma coisa, do que estudar tudo e não aprender nada. Afinal, o aluno precisa conhecer as matérias, ou precisa estar preparado para matar a charada das questões?
Paradoxal abraço!

Sosígenes Bittencourt

Droga e contradições – por Sosígenes Bittencourt.

Adolescente não tem juízo para usar droga. Droga é para usuário, não para dependente. O usuário usa, o dependente não consegue viver sem usar. Droga não pode ser usada em público, por causa do direito do outro. O direito de não conviver com o imprevisível, ao lado de quem está fora da realidade. Em casa, a responsabilidade é da família. Na via pública, a responsabilidade é do estado. O cigarro mata, mas não desmoraliza. O álcool desmoraliza, mas depende da quantidade. A droga faz efeito instantâneo. No Brasil, ninguém jamais proibiu droga. Não há nenhum programa efetivo de combate às drogas. Cidadão de toda escala social a usa: políticos, empresários, vagabundos, cristãos, anjos e demônios. A Polícia não tem o poder de combatê-la sem amparo da Justiça. Na condição dúbia, a própria polícia termina por se envolver com o tráfico. Filosoficamente, ninguém pode ser preso por uso de droga, porque ninguém pode ser condenado por tentativa de SUICÍDIO. Não obstante, todo usuário deveria ser condenado pelos ATOS decorrentes do uso de drogas. E, finalmente, o procedimento deveria ser igual para todos. Não se pode baixar o cacete num drogado esmolambado e alisar um drogado engravatado. O resultado é o que aconteceu no show de Rita Lee. A polícia se irrita e mete o pau no povo, Rita se irrita e mete o pau na Polícia.

Sosígenes Bittencourt

MÃE, MISSA E BIRIBIRI – por Sosígenes Bittencourt.

Mãe é uma invenção de Deus. Até quem não acredita num Ser Superior, fica desconfiado. Pode-se até analisar o caráter de um ser humano, pela maneira como trata sua mãe.

Apesar de minha genitora ser evangélica desde que veio ao mundo, fui convidado por dois católicos, no Dia das Mães, para assistir a uma missa em latim, ali no Recife. Igreja antiga, cheirando ao tempo, padre entoando latim, discurso sobre a intermediação da palavra no encontro do homem com Deus. Muito bonito. Uma hora inesquecível, um evento memorável. Principalmente, para mim, uma ovelha desacostumada a visitar a Domus Dei e ajoelhar-se para agradecer. Geralmente, nesses êxtases, o homem chora.

A viagem foi um Café Filosófico. Danei-me a falar, citando a mitologia grega, contando histórias de divindades pagãs, entusiasmado com a sabedoria dos pensadores clássicos. Discorri até sobre o Destino, oAcaso e a Ação do Homem. Talvez, um antropocentrismo meio descabido para o momento, mas um exercício mental louvabilíssimo num universo de tanta asneira e falta de reflexão em que vivemos.

Depois, demos um saltinho lá no Bairro da Torre para visitar um padre, mas não o encontramos. Conhecemos, no entanto, um cidadão que mora pertinho da Igreja, que atende pelo nome de Luiz Anselmo. Aos 65 anos, dizendo-se filho de uma senhora com 100 de idade, anda mais ligeiro do que um menino treloso. Bom de conversa e vaidoso pela longevidade de seus familiares, nos apresentou uma frutinha cítrica, de uns 5 a 8 centrímetros, creditando à mesma benefícios fitoterápicos. Diz que é biribiri. Curioso e enxerido, botei pra falar o que pensava. Quando soube que o mimo da natureza tirava ferrugem de roupa, fui logo dizendo que era antioxidante, continha vitamina C e combatia os Radicais Livres, responsáveis pelo envelhecimento precoce e doenças degenerativas. Tem jeito?

Dominus Vobiscum!

Bendito abraço!

Sosígenes Bittencourt

NÃO RIA SE PUDER – por Sosígenes Bittencourt

(Na fila do banco)

Falar a verdade sempre foi minha salvação e minha danação. Outro dia, eu estava numa agência bancária, e uma funcionária me orientou: – Cidadão, a fila de idosos é aqui.

Aí, eu: – Minha filha, eu não devo ficar no lugar de um idoso. Eu ainda danço forró até 4 horas da madrugada.

Sosígenes Bittencourt

NOSTALGIA E MELANCOLIA – Sosígenes Bittencourt.

Os gregos designavam NOSTALGIA como a dor dos que viajam, a dor dos navegantes, de “nostós” e “algós” – viagem e dor. Ora, a nostalgia é a saudade que dói, mas a recordação de um prazer, a lembrança daquilo que se distanciou. Diferente da MELANCOLIA, que é a saudade que dói, mas uma recordação daquilo que poderia ter sido e não foi. Melancolia significa “tristeza”, “melané” “kholé” – “bile” “negra”, da qual originava-se a “dor”, produzida pelo baço. É uma imaginação e uma desilusão.

Ora, um encontro, em setembro, reunirá amigos da geração dos anos 60. Nosso encontro pode gerar NOSTALGIA, uma saudade de algo que efetivamente aconteceu, e uma MELANCOLIA, algo que deixou de acontecer.

Contudo, essas dores poderão ser suavizadas pela poesia que as envolverá. E da dor, brotará a beleza. O poeta alemão Wolghang Goethe dizia: Faz da tua dor um poema, e ela será suavizada.

Sosígenes Bittencourt

O Tal do Dinheiro – por Sosígenes Bittencourt.

Dinheiro é faca de dois gumes. Há quem use o dinheiro para destruir a própria vida. E ninguém é rico pelo que tem nem pobre pelo que não tem, mas pela noção que tem do que tem. Senão, não haveria milionários se suicidando e lavadeiras sorrindo.

Dinheiro só serve quando soma. Porque há dinheiro que subtrai, tira a esposa, os filhos, dissolve a família, expulsa os amigos do convívio. Geralmente, as pessoas que são infelizes porque não têm dinheiro, não têm noção do que é ter dinheiro. E as pessoas que invejam quem tem dinheiro, deveriam procurar saber se quem o tem, é feliz. O mundo melhorou por causa da injeção de dinheiro e progresso advindo, mas essa é uma mensuração objetiva. É preciso encarar que, numa mensuração subjetiva, o homem não tornou-se mais feliz.

Sosígenes Bittencourt

DEMOCRACIA E VOCÊ – por Sosígenes Bittencourt.

No dia da eleição, preste atenção. Não vá com ânsia ao período de vacância. Das 8 às 17h, ninguém manda no poder, ninguém governa, quem ocupa o poder é você. Não espere que a Justiça julgue os políticos, julgue-o, você.

O poder de absolver ou condenar um político foi concedido a você. O seu voto será martelo, será juiz. O seu voto fará justiça sem que ninguém possa julgar você. Quem educa político e postulante a cargo eletivo é você.

Democrático abraço!

Sosígenes Bittencourt

Filho indesejado – por Sosígenes Bittencourt.

Em cima de filho indesejado, nada mais inútil do que chibata moral e desespero. Justamente porque filho não programado é geralmente fruto de emoção desenfreada, apetite incontido. O procedimento deve ser sempre a preservação da serenidade em busca da razão, embora tardia, para solucionar questões do passado. A vida ensina que no passado nem Deus põe a mão. O passado construído pelo homem é “vontade permissiva de Deus”.

Se filho indesejado é resultado de liberdade desenfreada, por que desespero para consertar loucura? Antigamente, quando um menino trelava excessivamente e fugia ao controle era chamado de “desesperado”. No dia em que “desespero” pagar compromisso, eu o aconselharei para sanar dívidas.

Logo, a primeira atitude racional deve ser identificar o pai da “arte”, uma vez que a mãe está à nossa frente com o fruto no ventre. Não adianta arrumar pai para menino e adiar uma questão que será um dramalhão no futuro. Essa questão de dizer que pai é quem cria é deslavada mentira. Pai é quem fecunda óvulo, quem cria é mantenedor. Agora, se o mantenedor é zeloso e ama o enteado, merece ser amado, é outro detalhe. Se o pai é um sem-vergonha de marca maior, e a mãe engravidou por distração carnal, não assumindo os seus atos, não merecem ser amados, o que nem sempre acontece. Merecer não é sinônimo de recebimento, gratidão. Às vezes, o sujeito cria o alheio e recebe pontapé no focinho. Em suma, a vida estará sempre acima de tudo. Todo expediente em favor da vida será bem-vindo, e todo expediente contrário à vida será pecado.

Ainda em relação à paternidade, em caso de dúvida, a ciência entrará com o DNA, ninguém merece não saber quem é o seu pai, mesmo que o reprodutor não seja um anjo. Mentira tem pernas curtas e as más-línguas irão fuxicar. Portanto, é momento de buscar a razão, que não foi convidada no instante do desespero. Razão é reflexão, e reflexão é mais lenta que emoção, precisa de serenidade. Desespero é emoção, que, por associação, deve ser evitado. E, para não resvalar para o discurso moralista, a chibata moral, que de nada serve nesse instante, o conselho é o seguinte: Sexo é a coisa mais gostosa do mundo, mas fazer menino não tem nada a ver com isso. Haja vista que masturbação não gera coisa alguma e a macacada pratica desde a grande descoberta. Filho é vida, é universo, é criação, tem de ser programado, fruto do amor, que é racional. Quando for fazer sexo para sentir prazer, faça a munganga, não faça menino, ninguém é mais ingênuo como antigamente, não estamos mais na era da cegonha. Use a liberdade, preservando a devida segurança. Afinal, segurança sem liberdade é escravidão, mas liberdade sem segurança é loucura.

Sosígenes Bittencourt

O DESEJO E A DOR – por Sosígenes Bittencourt

Passamos a vida, submetidos a duas experiências básicas: o desejo, que busca a satisfação, e o afeto que busca evitar a dor. Mas, como evitar a dor, se desejo é vida, e a vida impõe limite aos desejos?

A dor física é uma ruptura, algo que rompe, dói. Uma faca que nos corta a pele, um órgão doente que precisa ser extirpado. Esta dor, nós sabemos teoricamente como resolver. A dor psíquica é uma dor de amor, ou seja, algo que nos desorganiza psiquicamente. É um rompimento com algo que tínhamos ou desejamos e nos falta. É uma dor interior, que nos encarcera, e o mundo desaparece.

Sosígenes Bittencourt