NÃO RIA SE PUDER – Sosígenes Bittencourt.

Um dia, eu estava na Praça Leão Coroado, à Hora do Ângelus, numa roda de cervejeiros a filosofar, quando me apareceu um ex-aluno potencialmente embriagado: – Professor, o senhor fala difícil, é metido a sabido, mas os tapurus irão comer todos nós. Não tive dúvida: – Menos a verdade. Os tapurus poderão comer você; a mim, comerão os “miodários cuterebrídeos calipterados”.

Sosígenes Bittencourt

Gostaríamos de falar de amor – por Sosígenes Bittencourt.

O amor sempre na berlinda. E como ninguém ousa discordar, quem fica famosa é Laura Kipnis, que põe em xeque-mate essa história de que o amor é um sentimento maravilhoso, que dá felicidade e ninguém pode passar sem tamanha dádiva. Todos ficam embasbacados com seus argumentos, mas ao mesmo tempo claudicantes na altercação, porque as reflexões da professora e escritora norte-americana têm a limpidez de um cristal. Laura, inclusive, é corajosa quando denuncia que alguém tira proveito da negociação do amor. Acusa os vendilhões do amor de reduzirem-no a mercadoria barata. E, conseqüentemente, nos acusa de, infantilmente, comprá-la sem observar-lhe a posologia e as contra-indicações, sem debruçar-se sobre sua bula. Sim, gostaríamos de falar sobre o amor, mas o que mais nos chama a atenção é exatamente o ódio.

O amor parece uma coisa intocável e resolvida, ou seja, o grande sentimento, o mais importante, o caminho para a felicidade, a própria felicidade. Mas o ódio não, todos pregam o seu exorcismo, todos querem aboli-lo de suas vidas na mais variada gama de manifestações. Atribuem a Érico Veríssimo haver dito que “o contrário do amor não é o ódio, mas a indiferença”.

Então, na busca de uma explicação para tanto ódio, quando o lema é amar, esbarramos no entrelaçamento das emoções. Gostaríamos de falar de amor, mas impossível abordá-lo sem pensar no ódio, o lado do amor que nos incomoda tanto. Talvez, Laura tenha razão quando nos acusa de buscar no outro a satisfação de todos os nossos desejos, todos os caprichos e, ao defrontarmos com a óbvia limitação do objeto amado, esperneamos de insatisfação, passando ao sentimento limítrofe do amor, que é exatamente o ódio. Sim, como gostaríamos de falar de amor, em meio a tanto sofrimento, no sentido que sonhamos, como bálsamo para a dor, passaporte para a salvação, sinônimo de felicidade.

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Racismo e Imaturidade – por Sosígenes Bittencourt.

O homem é o único animal que sabe que vai morrer. A pomba não sabe, a galinha não sabe. Portanto, o racismo não é uma consequência da diferença entre o branco e o preto. Racismo é falta de maturidade, deficiência no lidar com o ÓDIO. Tanto que, quando alguém é branco e você odeia, chama-o de AMARELO SAFADO, o que dá no mesmo ÓDIO e no mesmo “RACISMO”, se assim quer-se chamar.

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Beijo pra Cinema – por Sosígenes Bittencourt.

O beijo mais ensaiado de todos os tempos foi aquele dado pela atrizGrace Kelly em James Stewart no filme “Janela Indiscreta”, de Alfred Hitchcock. Foram necessárias 87 repetições da cena para satisfazer o diretor, cuja exigência por perfeição era quase tão célebre quanto seus filmes. Foi tanto glamour e tanto desejo exibidos, que não nasceu menino porque estavam vestidos.

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MINIBIOGRAFIA – por Sosígenes Bittencourt.


Ensinar, para mim, é uma forma de conviver.
Minha escola é o mundo.
Estudar, para mim, é uma forma de conviver,
Minha escola é o mundo.
Sou professor no que ensino;
no que estudo, sou aluno.
Sou filho de professora Damariz,
meio gente, meio pó de giz.
Fazer poesia é destino,
sou poeta desde menino.
Porém, sou poeta trabalhado,
o meu dom é divino,
mas o estudo é sagrado.


Sosígenes Bittencourt

APOSENTADO E IMPOSTO DE RENDA – por Sosígenes Bittencourt.

Na realidade, quem vive de renda é quem negocia. Aposentado vive de provento de aposentadoria.Por isso, não dá para entender aposentado pagando Imposto de Renda. Afinal, o que os governos têm para oferecer aos aposentados, no ocaso de sua existência? Ao menos, assistência médica digna, segurança, depois de toda uma vida driblando obstáculos para sobreviver? Sequer facilita a prestação de contas do Imposto de Renda da velharada, abrigando-a a perambular numa verdadeira “parada federal”.

Aliás, no Brasil, quem menos tem condições, paga Imposto, porque não pode sonegar, e quem mais tem condições, sonega Imposto, porque pode sonegar. O Brasil tem dois problemas gravíssimos: não fiscaliza a cobrança de impostos nem fiscaliza o destino dos impostos.

Fiscalizar não é apenas obrigar a pagar, é punir quem sonega. Fiscalizar o destino da arrecadação é punir apropriação de dinheiro público, que significa CORRUPÇÃO, a maior inimiga da República (de “res” + “publica”, que quer dizer “coisa” “pública”).

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CIÊNCIA, DEMÊNCIA E PUM – Sosígenes Bittencourt.

Dois cientistas britânicos muito atentos à ciência acabaram de revelar ao mundo que cheirar pum é bom para prevenir câncer, ataques cardíacos e demência. Os desatentos somos nós.

Deve ser por semelhante ignorância que morre tanta gente de câncer e demente no mundo, pelo horror que tem a pum. Aliás, tem gente capaz de morrer do coração ao inalar um pum. Bom salientar que, até então, acreditávamos que só um demente ficaria tranquilo ao fedor de um pum.

Agora, os cientistas Mark Wood e Matt Whiteman estão preocupados em produzir um composto químico que promova os benefícios dos gases produzidos pelo pum. Talvez, sugiram um tipo de pastilha sanitária que exale um odor semelhante ao pum. E, a partir desse momento, soltar pum na presença do semelhante não será mais falta de educação ou puro egoísmo, mas um gesto de consideração e amor ao próximo, e todos queiram ser responsabilizados por um amável pum.

Fedorento abraço!

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O lidar com a AGRESSIVIDADE – por Sosígenes Bittencourt.

Na realidade, o que está existindo é uma desorganização nas manifestações de protesto. As pessoas estão movidas pela emoção, cujo resultado pode ser bom ou ruim. Não existe emoção boa ou ruim, mas o resultado daquilo que fazemos com a emoção que sentimos.

Todos sabemos que a AGRESSIVIDADE é o combustível da AÇÃO. O que tememos é o resultado daquilo que cada um pode fazer com a sua AGRESSIVIDADE. É o medo, por exemplo, do que possa fazer um meliante, com o ódio que sente, no centro de São Paulo.

Essas passeatas não descartam a presença de DESORDEIROS que se infiltram e convertem sua AGRESSIVIDADE em perigosas ações de VANDALISMO, pondo em risco a vida dos próprios manifestantes.

Ora, vejamos o que pode a AGRESSIVIDADE, como combustível da AÇÃO, realizar. Eu tenho diante de mim um balde de gasolina. Se eu jogo em alguém, eu o queimo; se eu ponho numa ambulância, posso salvar uma vida.

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Istambul, Napoleão e Eu – por Sosígenes Bittencourt.

Este é o Palácio Dolmabace em Istambul. Se a Terra fosse um só estado, Istambul seria sua capital – dizia Napoleão Bonaparte (1769-1821). Compatibilizar RIQUEZA com EXTINÇÃO DA MISÉRIA é o grande desafio da humanidade. Lembra-me o renomado escritor e pensador francês Anatole France (1844-1924):

“A pobreza é indispensável à riqueza, a riqueza é necessária à pobreza. Esses dois males engendram-se um ao outro e sustentam-se um ao outro. O que é preciso não é melhorar a condição dos pobres, mas acabar com ela.”

Eu diria: Ninguém nasceu para ser tão rico que chegue a pensar que é um deus, nem tão pobre que chegue a desconfiar da existência de Deus.

Sosígenes Bittencourt

Sobre a Eternidade – por Sosígenes Bittencourt.

Há quem pense em ir para a Eternidade. Ora, se a eternidade é eterna, nós estamos na eternidade. Não há vida fora da eternidade nem morte na eternidade, posto que a eternidade é feita de “agoras”. Portanto, não adianta se apegar tanto às coisas deste mundo, um mundo temporal, que se desfaz com a morte do mortal.

Só há duas coisas incompreensíveis na vida: nascer sem pedir e morrer sem querer.

Arthur Schopenhaeur, conhecido como o mais pessimista dos filósofos, dizia que o homem é um eterno insatisfeito. Dizia que “o homem pode fazer o que quer, mas não pode querer o que quer.”

E aconselhava uma saída para esse eterno sofrimento: o desapego e a arte.

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Detrás de minha casa – por Sosígenes Bittencourt.

Detrás de minha casa, de um alpendre, eu vejo os telhados das casas vizinhas, a rua lá embaixo, a serra lá longe, o céu escampo.

À tarde, quando é verão, as nuvens relembram minha infância. Eu ficava vendo as nuvens formar carneirinhos, às vezes um monstro. Um dia, eu vi um bule direitinho.

Detrás de minha casa, eu ouço o palavreado de minha cidade, o cheiro de pão francês, ruído de caminhão, latido de cachorro. Agora, deu pra passar helicóptero, besourando, com aquela cauda de gafanhoto. Quando é amarelo e preto, eu só penso que é a polícia catando vendedor de marijuana.

Havia uma fábrica que passava a vida funcionando. Faziam biscoito. O cheiro de morango, de chocolate e frutas cítricas era tão forte que a gente acordava, de madrugada, para beber água de quartinha. Hoje, só escombros, as lagartixas se despencam dos muros, frágeis de inanição.

Detrás de minha casa, vemos homens que jogam dominó para esquecer o tempo, passar as horas. Como se fosse perigoso pensar na vida. Quem bota pra pensar na vida, geralmente pensa na morte. Melhor ser um gato, um peixe, um passarinho.

Sosígenes Bittencourt

MENTIRAS ESPETACULARES – Sosígenes Bittencourt.

A minha geração sempre foi alvo de duas mentiras espetaculares: O Brasil é o país do futuro, e o mundo vai se acabar. O “futuro” seria a “prosperidade”, e o mundo iria ser engolido por uma coivara de fogo, ou inundado por um gigantesco maremoto. O futuro não chegou, o mundo não se acabou, e a gente se acabando.

Sosígenes Bittencourt 

Verdades e Mentiras – por Sosígenes Bittencourt.

 

Às vezes, é melhor ouvir uma mentira que faça rir, do que uma verdade que faça chorar. Já nos basta A MORTE como incontestável verdade. Todos nós nascemos sem pedir e morremos sem querer. Há pessoas que escolhem a verdade exatamente porque magoa. Escolhem-na a dizer uma mentira que servisse de bálsamo para uma dor. É mentira?

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Celeuma em torno do Ciúme – por Sosígenes Bittencourt.

LIVRE é quem sente ciúme de quem lhe faz bem e respeita. Quem sente ciúme de quem lhe faz mal e desrespeita é ESCRAVO da maldade.

Há 4 tipos de ciumentos clássicos a saber: o Zeloso, o Enciumado, o Ciumento e o Paranóico.

O Zeloso é aquele que quer o bem, é o altruísta. Ele fecha a janela do quarto para o seu amor não pegar um resfriado. Ele ajusta o horário para pegar o amor no trabalho.

O Enciumado é o ciumento eventual, o constrangimento passa. Ele sempre está questionando gestos, relações de amizade, horários, meio desconfiado, mas tudo passa à menor explicação.

O Ciumento ciumento é o que quer restringir a liberdade do outro, ele dita normas. Dá grito, chama palavrão, bate a porta, irrita-se com facilidade.

O Paranóico é o que tem convicção de que é traído, mesmo sem prova. Ele delira. Vê chifre em cabeça de cachorro. Acorda assustado, todo semelhante é seu competidor.

Ora, o ciúme é natural em quem gosta de alguém, o contrário seria a INDIFERENÇA. É que nos acostumamos a confundir ciúme com espalhafato. Porque ciúme pode ser desejo de POSSE e CONTROLE, o que não se identifica com amor, ou medo de perder o objeto amado, o que pode caracterizar baixa AUTOESTIMA.

Sosígenes Bittencourt

CELESTIAL E TERRENAL – por Sosígenes Bittencourt.

Os israelitas passaram 40 anos caminhando pelo deserto. O seu alimento vinha do céu, era o maná. No entanto, quando tentaram armazenar o maná, ele apodreceu. O alimento celestial era para ser consumido num dia. Isto significa dizer que quem guarda para o futuro, vê a vida apodrecer na palma da mão.

Todavia, referimo-nos a um alimento enviado por Deus. Ele nunca faltou. Nosso pão de cada dia anda produzido e vendido pelo homem. Portanto, há de se ter cautela.

O poeta romano Horácio, agoniado com a brevidade da vida, recitava:CARPE DIEM, QUAM MINIMUM CREDULA POSTERO. (Aproveite o dia, não acreditando minimamente no futuro). Contudo, o mesmo Horácio admoestava sobre o desperdício, aconselhando a moderação: EST MODUS IN REBUS (Há um limite nas coisas).

Sosígenes Bittencourt

HALLO RUIM – por Sosígenes Bittencourt.

Penso que o halloween daria muito bem para ser uma festa para adultos, uma sátira, com bom humor e sensualidade. Fantasias vampirescas, risadas abracadabrantes e chupada no pescoço. Não vejo nada que sirva para criança.

– Painho, deixa eu ir para a festa do Halloween!
– Para ver o quê, meu filho?
– Para ver as bruxas, painho!
– Não precisa, meu filho.
– Por quê, painho?
– Você já dorme com a sua mãe todas as noites, meu filho.

Isto não é uma piada, mas um fato que passei a denominar de “Hello ruim”. Não sei o que seria pior, o fato, ou você fantasiar o seu menininho de vampiro, colocar-lhe duas presas e explicar que é para chupar o sangue de sua coleguinha.
No Brasil, não há nenhuma lei que proíba opinião, mas há preconceito quanto a opinião. As pessoas gostam de ser iguais, se amoldam, temem ser diferentes. Acham confortável concordar e temem discordar ou ter opinião própria. Ora, se você discorda de toda novidade, você envelheceu, porém se você concorda com toda novidade, você estará sendo volúvel.

O nosso Saci-Pererê é um ente traquinas que surgiu, inicialmente, no folclore nacional, entre indígenas, na região sul do país. Depois, sofreu influência e foi sendo remodelado, ganhou uma carapuça, um cachimbo, perdeu uma perna, supostamente numa luta de capoeira, e por aí vai. Agora, no lugar de ensinar essa historinha às nossas crianças, nós vamos buscar uma bruxaria lá dos Celtas, nos confins da Europa, e fantasiar nossos meninos de vampiro, simbolizando um Drácula que se alimentava de sangue humano para sobreviver. Enfim, que brincadeira é essa? Será por que seria difícil sair pinotando numa perna só?

Espantoso abraço!

Sosígenes Bittencourt

FRAGMENTOS (TÚNEL DO TEMPO) – por Sosígenes Bittencourt.

Março de 1988
*De vírus em vírus, aids do Brasil! De aids em aids, vírus o Brasil!
*Em tempo de Controle da Natalidade, disse o espermatozóide ao óvulo: – Amigos, amigos, fecundação à parte!
*O aposentado anda com medo de que o aposentem do recebimento.
*Parte do funcionalismo ameaça não funcionar,
que será o funcio(não)lismo.
*O pastor negro Jesse Jackson é o mais novo herdeiro espiritual de Martin Luther King. Sua cabeça deve ser à prova de conselho e pedrada.

 Março de 1989
*Os Estados Unidos querem saber quantos hectares tem a Amazônia. Devem estar querendo se apossar de algum terreno aqui no Brasil.
*Na votação de Aluísio Alves para o Superior Tribunal Militar, foi encontrada uma bolinha a mais, ao final da contagem dos votos. Fizeram “bolinha” na nomeação do ex-ministro.
*A diferença entre Moisés, da Bíblia, e Moisés, candidato a vereador, é que o profeta subiu o Monte Sinai, e o candidato subiu a Vila da Cohab.

Sosígenes Bittencourt

HORA DE PENSAR – por Sosígenes Bittencourt.

Eu sempre tenho a impressão de que alegria é bênção e tristeza é padecimento. Por isso, quando estou alegre, penso em Deus, e, quando estou triste, penso em mim. Acho que tudo é resultado da ação do homem, o bem à bondade, e o mal à maldade. Ninguém quer acreditar que tem uma parcela de culpa e, como consequência, um saldo de padecimento. O pecado humano é VONTADE PERMISSIVA DE DEUS. No entanto, Deus não nos abandona, concedendo-nos o DISCERNIMENTO, a perfeita noção do BEM e do MAL.

Sosígenes Bittencourt

“O mundo é movido pela mentira” – por Sosígenes Bittencourt.

O filósofo e jornalista francês Jean-François Revel (1924-2006) denunciou: “O mundo é movido pela mentira.” E acrescentava: “O que tomamos como justiça é, muitas vezes, uma injustiça cometida em nosso favor.” Segue, portanto, uma foto do desconfiadíssimo Jean-François Revel.

Eu diria que, se todos pudessem ler o pensamento um do outro, não haveria amigos no mundo.

Sosígenes Bittencourt