A MÚSICA E MINHAS EMOÇÕES – por Sosígenes Bittencourt.

O filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900) deduzira: Sem a música, a vida seria um erro.

Depois, chamam-me de hiperbólico quando descrevo minhas emoções musicais. Quando a dosagem é exagerada, é natural que o efeito seja um exagero.

O filósofo francês Voltaire (1694-1778) já apregoava: Tudo que entra pelo ouvido vai direto ao coração.

Não foi, em vão, que a mitologia personificou a música na deusa Euterpe, cuja etimologia resume-se em “a doadora de prazer”. E eu não quero me curar de nada que me dá prazer.

Sosígenes Bittencourt

Dia Nacional do Livro – 29 de outubro – você já leu hoje?

Num país onde as pessoas são “alérgicas” aos livros comorar o Dia Nacional do Livro é um desafio, sobretudo pelo decrescente número de livrarias disponíveis. Adquirir livros pela internet é prático e  até mais barato, mas nunca terá o charme e o glamour do “desfile” que o leitor faz por entre outros sem números de títulos. Aliás, o apaixonado por livros normalmente não vive apressado.

Pois bem, foi só com a chegada do Rei D. João VI ao Brasil, em 1808, que começamos editar os primeiros exemplares. O primeiro livro a ser lançado aqui, foi “Marília de Dirceu”, do escritor Tomás Antônio Gonzaga. Foi com parte do acervo da Real Biblioteca Portuguesa que,  em 29 de outubro de 1810, fundamos a Biblioteca Nacional do Brasil, motivo pelo qual o “Dia do Livro” é comemorado no data de hoje.

O desafio é gigantesco…….Como transforma a realidade nacional, no que se refere ao interesse pela leitura, se ostentamos uma das maiores taxas de desigualdade social do planeta? Eis a questão: nossos problemas possuem raízes profundas que precisamos entender para transformar, algo, convenhamos,  muito complexo!!

Para tanto, nesse sentido, lembremos que todo dia tem que ser “dia de livro”…….

A poesia “MAIS” de Andrea Campos – por Marcus Prado.

O que aconteceu com Marcel Proust e seu velho amigo há muito não visto e dele há décadas não tendo notícia, numa rua não muito movimentada de Paris, também aconteceu comigo, várias vezes, uma delas numa exposição, em Biobao, no Museu Guggenheim, quando dei de cara com um amigo de infância na antonense cidade, minha e de Osman Lins.

 O amigo de Proust e por certo o meu, queriam saber se tinham mudado ao longo do tempo de vasta distância, nessas distâncias que nem o tempo explica, se for verdade que o tempo não passa ou flui, sua representação, tanto imaginária, real, quanto simbólica. O autor de “Em busca do tempo perdido” e eu dissemos a mesma coisa, ambos de forma intencionalmente enigmática: “Menos”. “Menos o quê”? Foram as duas indagações.

 Lembrei-me, por analogia, do que Proust havia respondido: “Nada disso. Você está o mesmo. Apenas menos”. Não sei da parte de Proust, mas eu deveria ter dito, não fosse a surpresa do momento, sobre esse acaso, que, desde a aurora da civilização, as pessoas não se dão por satisfeitas com a noção de que os eventos são desconectados e inexplicáveis. O tempo, suas invariantes e essências, seu contínuo processo de vir-a-ser, que haveria de marcar a figuração do amigo de Proust, e deixaria marcas na alma e no rosto daquele caro amigo vitoriense, num reencontro inimaginável. Mas aconteceu. Esse mesmo tempo, fluxo perene da vida, que foi visto por Ricoeur à margem do “Em busca do tempo perdido” como sendo uma fábula – o tempo – que se apoia no poder que tem a ficção. O tempo, seja retilíneo ou não.

Há poucos dias o mesmo episódio aconteceu, de uma forma, para mim, gratificante. Tive um reencontro com Andrea Campos e sua poesia. A sua poesia foi, no passado não distante, uma poesia auspiciosa, reunida num livro do qual também fui prefaciador. Leio, agora, uma nova coletânea de poemas dessa autora pernambucana, do Recife, neste novo livro “A CARNE DO TEMPO”. Um reencontro, para mim, cheio de surpresas, enigmas, abismos, desafios, sentimentos, emoções, não só com vertente criadora, inventiva. Com esse livro ela está, superlativamente, “mais”, (insisto em dizer) alcançando uma nitidez realista de certo modo sacudida de turbações, inclusive vocabulares.

Em Andrea e na sua poesia o tempo é uma relação kantiana, dela com ela própria e com o mundo, não quantificável. Uma poesia “mais”, com a experiência do sublime, quando nos fala de Eros, um dos mais difíceis temas da poesia de todas as épocas. Aliás, nunca um tema primordial como esse esteve tão ameaçado como hoje. Andrea consegue retira-lo do ostracismo, sem as formas da imitação. Não vulgariza. O erotismo, (tema tão complexo como o próprio viver), seu fazer-emergir numa linguagem sóbria, é o seu ponto alto, sua revelação poética, seu caminho, sua rota percorrida, seu ponto de chegada, desde o seu primeiro livro. Certos versos na descrição do êxtase e seus fluxos sonoros, talvez sejam influenciados por Hilda Hilst, quando a autora de “A Fadinha Lésbica” abandonou a poesia velada e a desvelou inteiramente para o público leitor. O fogo que se faz metáfora de muitos instintos, como na expressão de Umberto Eco no seu admirável “Nos ombros dos Gigantes”, está na poesia dessa autora, esse “Fogo que arde sem se ver,” (que) é ferida que dói, e não se sente; (que) é um

contentamento descontente, (e que) é dor que desatina sem doer”, cito o velho e divino Camões, o calor do fogo e da paixão, como se existisse dentro da autora o calor de um Sol que ilumina outro Sol, esse milagre generoso da Poesia. Nela, a rima não é uma simples repetição de sons. Aliás, isso é o que há de mais abominável na poesia. E por falar do Sol e seu calor, o sangue rubro que alimenta a poesia de Andrea, teria ela conhecido a Casa do Sol, da grande Hilda, em Campinas, no interior de São Paulo? Comparando as duas experiências poéticas de Andrea, a do passado e a deste novo “A CARNE DO TEMPO”, (um belo título) vejo uma poesia “mais”. É inquestionável a validade de seu olhar sobre o amor não meramente epidérmico, quando os neurônios estão fora da área de cobertura ou desligados.

A sua poesia é totalmente livre na composição das estrofes e no jogo das rimas. Tanto faz o uso das rimas com inteira convicção do seu formato, como não. Há versos tão longos que podem ser denominados de poesia em prosa. Neles, ela aproveita para “brincar” com as palavras. Existem figuras de linguagem, metáforas ricas. Correndo o risco de contrariar os defensores da classificação tradicional nos aspectos da estilística e seus receituários retóricos, eu diria que a metalinguagem, palavras que dialogam com outras palavras, se faz presente neste livro, por exemplo, nos poemas em que busca definir o amor e seus deslocamentos narrativos. A linguagem e seus elementos sonoros, a identidade dos sons terminais estão visíveis, intencionais, sua linguagem adquire um sentido expressivo, algo essencial na poesia de qualquer época.

O acaso, desde o começo, está envolvido nesta minha declaração de simpatia e admiração pelo livro de Andrea Campos. Fayga Ostrower, a mulher que mais admiro no campo da teoria da Arte, (uma artista plástica e ensaísta brasileira nascida na Polônia) me inspira, com a leitura do seu clássico “Acasos e Criação Artística”, quando ela diz que “não existe criação artística sem acasos”. O acaso, pseudônimo de Deus quando Ele não quer assinar o seu sagrado Nome, tão marcante nos episódios citados nas primeiras palavras deste Prefácio, que inspire novos “acasos” na obra dessa autora, e que tragam sempre a marca do “mais”, tão solene no uso dos matemáticos gregos.

No final, Andrea nos diz: “A poesia não paga a vida. Mas dá o troco à morte”. A obra poética também nos convida a uma reflexão, tem uma destinação, certas correlações que se estabelecem, principalmente sobre o existir, de maneira a dar o que pensar. Isto é, a poesia jamais “pagará” a quem se arriscar a seguir por suas trilhas, o preço da realização dos seus sonhos, desejos, voos de forma plena, satisfatória, inclusive pela espreita da morte para passar o troco, até pelo que não recebeu. Pode amenizar a inquietação humana a respeito da morte, apesar da multiplicidade de sentidos particulares em que se pode crer.

Macus Prado – jornalista

Momento Cultural: Martha de Holanda.

Espasmo… Vertigem do sétimo sentido do sol,
nos braços da terra…
Espasmo… O silêncio desvirginizando o tempo
no leito das horas…
Espasmo… A orgia da vida, na bacanal da morte…

Meu amor! Espasmo…
O meu beijo na tua boca…
Meu amor! Espasmo…
O teu beijo na minha boca…

Espasmo… A noite estava, com as estrelas,
arrumando o céu, para receber o dia.
O luar veraneava, longe, levando a sua bagagem de luz
E as ventanias passavam, correndo, para assistir ao
parto prematuro da primeira aurora.
E eu me desfiz dentro de mim…

Espasmo… A natureza parecia enxugar o seu vestido
cor de ouro debruado de azul, hemoptise do poente.
As nuvens voltavam, cansadas do trabalho das trajectórias,
a tomavam a rua das trevas.
Os pássaros acabavam de dar o seu último concerto do dia
na ribalta dos espaços, e recolhiam-se felizes nos bastidores
das folhas.
E eu me procurei em ti…
Espasmo… As raízes entregavam-se à terra,
para a eterna renovação dela mesma.
Os elementos tocavam-se na confusão das origens,
O éter, na elasticidade, dobrava-se
volatizando-se por todo o universo.
E, eu, te senti em mim.

Martha de Holanda, vitoriense, filha de Nestor de Holanda Cavalcanti e de Matilde de Holanda Cavalcanti, nasceu a 20.III.1909 e faleceu no Recife a 24.VI.1950. Casou-se com o poeta Teixeira de Albuquerque aos 8.XII.1928.

Mistérios de Bordéu – por Sosígenes Bittencourt.

De coisas bizarras que já vi, as experimentadas pelo repórter da Record, em Bordéu, foram campeãs. E olha que eu já vi índio comer formiga viva e papa de carne de macaco.

Bordéu é uma ilha asiática que fica dividida entre a Indonésia e a Malásia. Coincidentemente, ao chegar em Bordéu, o chefe da tribo havia falecido. Segue-se, portanto, um período de festividades pelo seu falecimento. O defunto fica sendo velado, enquanto apodrece, e é proibido filmar o seu sepultamento. Ninguém pode vê-los chorando nessa hora.
Se você não acredita, o repórter bebeu água de embrião de bicho e vinho de arroz no fundo de um crânio humano. Na água de embrião havia até um morcego mergulhado. O odor era insuportável, tendo o visitante que bebê-la, com os dedos em forma de pegador no nariz.

O que de melhor havia na ilha eram os Orangotangos. Dóceis e familiares, o repórter revelou que os animais mantêm uma relação sexual por ano. Tendo 12 vezes mais força do que o homem, vivem em média 35 anos, chegando a pesar 140 quilos. Millôr Fernandes disse que “Quando Deus criou o homem, os animais não caíram na gargalhada por questão de respeito.
Misterioso abraço!

Sosígenes Bittencourt

Epopeia: um registro importante na terra das “Tabocas” e da “Pitú”…

Sob os cuidados e proteção da “Casa do Imperador” – Instituto Histórico e Geográfico da Vitória – repousam incalculáveis informações sobre a nossa Vitória de Santo Antão. Muitas delas já devidamente expostas no seu rico museu. Transitar na chamada “linha do tempo” do labirinto histórico da casa, através das peças e do material impresso –  sem sombra de dúvida –  é vivenciar o cotidiano dos nossos antepassados num eterno diálogo de interpretações. Essa é minha impressão!!

Recentemente, através de um exemplar da “Revista Comemorativa Epopeia”, que teve como objetivo marcar, em 1945, o tricentenário da Batalha das Tabocas, ocorrida em nosso solo em 3 de agosto de 1645, pude “mergulhar” numa Vitória de Santo Antão bem diferente dos dias atuais. Com efeito, interpretar os costumes e entender o contexto social, econômico e político da metade do século XX, sobretudo de uma cidade localizada no interior da Região Nordeste, inevitavelmente, nos coloca diante de tantas outras novas indagações no que se refere ao   “novo mundo” globalizado que está posto.

No conteúdo do exemplar constam artigos, homenagens, fotografias e muita propaganda comercial. A quase totalidade dos anunciantes nem existem mais. Dentre eles,  pelo menos  um chamou  minha atenção: se hoje estamos acostumados a ver o nome da internacional “Pitú” estampado, com destaque,  em tudo que diz repeito ao nosso torrão, na época da publicação da revista, onde a marca ainda não havia chegado à sua primeira década de existência, observamos que a mesma já investia  forte nas boas causas antonenses. Isso revela um alinha de atuação! Afinal,  são décadas e décadas na mesma direção e linha (sintonia)   com o seu nescedouro – o que serve de um bom exemplo para as “novas” e grandes industrias que chegaram nos últimos anos à nossa cidade.

Nas entrelinhas da revista, por assim dizer,  exala uma boa pitada de saudosismos – perfil na escrita de quem, em tese,  já ultrapassou  os três quartos da vida. Além da exaltação ao feito de Tabocas, realce evidente por se tratar de uma revista comemorativa,  também encontramos poesias,   músicas e fotos da época. Escrever e registrar os fatos importantes, acredito, é algo que nunca será démodé. Parabéns aos que empreenderam e investiram,  no passado,  seu precioso tempo nessa épica revista.

Momento Cultural: Elegia – por Albertina Maciel de Lagos.

À memória do inesquecível, Manuel de Holanda Cavalcanti, dedicado a sua esposa, filhos e netos:

– Ah!… a sua verve,
o seu estilho primoroso
tão jocoso!…
Ele sabia, com alegria,
como se fora um presente,
transmitir a gente!

Enfim… a lira silenciou
Porque o grande Vate expirou!
E agora?…
Qual estrela a cintilar nos Céus
ele cantará, eternamente, a Deus!
Sobre a sua sepultura
com uma Prece,
de sua Vitória, a gratidão:
– as flores da Saudade
de lágrimas orvalhadas,
desfolhadas
em grande profusão!

(SILENTE QUIETUDE – Albertina Maciel de Lagos – pág. 27).

Momento FAMAM – Faculdade Macêdo de Amorim

Gerir uma equipe de profissionais não é tarefa para qualquer um. Comprovadamente, a autoridade vazia costuma gerar apenas conflitos e falta de confiança. Para garantir a harmonia e o desempenho do conjunto, mais do que autoridade, o responsável pelo grupo deve emanar verdadeira liderança. ⠀

Nesse caso, o fator fundamental para a gestão espetacular de uma equipe é a AUTOGESTÃO. Afinal, a capacidade de lidar com os desafios humanos começa pela compreensão de um ser humano pelo lado de dentro. ⠀

Esse é o primeiro e mais importante passo para que qualquer liderado possa encontrar segurança em considerar as orientações de seu superior.

Crise financeira e ilusões – por Sosígenes Bittencourt.

Quando eu ouço falar em crise financeira, só penso numa série de palestras que tratam de 3 ilusões extremamente eufóricas, mas que exigem limites: a paixão, o dinheiro e o poder. Observe o ensaio sobre as palestras, resumido por Renato Janine Ribeiro:

Vamos falar de pelo menos três ilusões: uma foi a dos valores vazios, que a crise depreciou, ao preço de inúmeras falências; outra é a do amor-paixão, que nos faz atribuir todas as perfeições a uma pessoa que, obviamente, não pode ser tanta coisa assim; e a ilusão do poder, que nos engana sobre os outros: quem manda sente vaidade, quem o cerca o bajula. Ora, nosso mundo não consegue um entusiasmo que não seja eufórico. Mas um entusiasmo assim é ilusório. É possível viver sem ilusões? Penso que não é mais esta a questão, e sim: É necessário viver com menos ilusões.

Mas, sobre a questão financeira, em rápidas pinceladas, Renato fala sobre “como que menos é mais e como que mais é menos”. E vira-se para a plateia, assegurando que muitos dos que ali estão, estariam gastando muito mais do que o necessário para sobreviver. Depois, que era preciso certas perdas, certos prejuízos, para uma retomada de vida mais consistente, onde o menos seria mais, depois que o mais passou a ser menos. Isso não só serve para a Europa, que vive uma crise, considerada por Delfim Neto como antiga, mas para as pessoas de um modo geral.

Econômico abraço!

Sosígenes Bittencourt