Momento Cultural: OS TEUS OLHOS NA VIOLA – por Teixeira de Albuquerque.

Os teus olhos na viola
tem tanta luz e harmonia
que parece uma vitrola
saudando o nascer do dia.

Teus lindos olhos ao ver
penso ver duas graúnas
cantando no alvorecer
numa gaiola de espumas

Teus olhos são dois faróis
mais belos que as cousas belas.
São mais ainda: dois sóis
de muitos milhões de veias.

Quando as cortinas descerras
teus negros olhos mostrando
parece de longes terras
o Espírito Santo chegando.

As minhas rimas queridas
descobriram tudo isto:
teus olhos – gotas caídas
dos olhos de Jesus Cristo.

Dos teus olhos, minha amada.
tanto fulgor se irradia
que eu já vi enciumada
a própria Santa Luzia.

Dizer deles mais não posso
ceguei de vê-los luzir!
teus olhos – meu Padre-Nosso
minhas pedras de ofir.

Os olhos fez Jesus Cristo
(eu creio que com razão)
para que fossem bem isto:
as pontas do coração.

“O LIDADOR” 17.VII.1926

José Teixeira de Albuquerque, nasceu na fazenda Porteiras, Vitória de Santo Antão aos 23 de agosto de 1892. Seus pais: Luiz Antonio de Albuquerque e Dontila Teixeira de Albuquerque. Estudou medicina na Faculdade da Bahia, porém desistiu do estudo no 3º ano. Casou em segundas núpcias com a conterrânea Marta de Holanda, também poetisa e escritora. Publicou o livro de versos MINHA CASTÁLIA e colaborou em várias revistas e jornais; tanto da Vitória como do Recife. Foi funcionário do Arquivo da Diretoria das Obras Públicas do Estado,com competência e zelo. Faleceu no Recife, no dia 2 de outubro de 1948. Não deixou filhos. Sua morte foi muito sentida entre os intelectuais, que não se cansaram de elogiar sua prosa e seus versos.

Momento Cultural: Augusta Ladainha (poesia) – Por Darlan Delarge

Cantou ao tamarindo de sua vida,
sonetos da putrefação do homem
no âmago intestinal que o consolida
dizia coisas que por dentro consomem.

Me vi junto a vermes, corvos, carneiros…
seguindo um fantástico caixão,
Celebrando a chegada do poeta coveiro
que cavava dos sepulcros a bela Canção:

“Foi assim como na sua profecia:
morreu aos trinta de pneumonia.
Enfermo, então veio a perecer.

Mas o contrario de teu corpo, poeta,

aquém dedico minha Litania,

os teus versos hão de nunca apodrecer.”

Darlan Delage – Poeta “Os Confundidos”.

 

Momento Cultural: Martha de Holhanda.

Espasmo… Vertigem do sétimo sentido do sol,
nos braços da terra…
Espasmo… O silêncio desvirginizando o tempo
no leito das horas…
Espasmo… A orgia da vida, na bacanal da morte…

Meu amor! Espasmo…
O meu beijo na tua boca…
Meu amor! Espasmo…
O teu beijo na minha boca…

Espasmo… A noite estava, com as estrelas,
arrumando o céu, para receber o dia.
O luar veraneava, longe, levando a sua bagagem de luz
E as ventanias passavam, correndo, para assistir ao
parto prematuro da primeira aurora.
E eu me desfiz dentro de mim…

Espasmo… A natureza parecia enxugar o seu vestido
cor de ouro debruado de azul, hemoptise do poente.
As nuvens voltavam, cansadas do trabalho das trajectórias,
a tomavam a rua das trevas.
Os pássaros acabavam de dar o seu último concerto do dia
na ribalta dos espaços, e recolhiam-se felizes nos bastidores
das folhas.
E eu me procurei em ti…
Espasmo… As raízes entregavam-se à terra,
para a eterna renovação dela mesma.
Os elementos tocavam-se na confusão das origens,
O éter, na elasticidade, dobrava-se
volatizando-se por todo o universo.
E, eu, te senti em mim.

Martha de Holanda, vitoriense, filha de Nestor de Holanda Cavalcanti e de Matilde de Holanda Cavalcanti, nasceu a 20.III.1909 e faleceu no Recife a 24.VI.1950. Casou-se com o poeta Teixeira de Albuquerque aos 8.XII.1928.

Momento Cultural: EU+EU – por ADJANE COSTA DUTRA.

Eu+Eu.

Eu+amigo

Eu não digo.

Eu negando o meu amor,

tão cheio de esplendor.

Eu me tornando sincera e a sinceridade fugindo aos meus olhos.

Eu do passado, presente, futuro.

Eu não eu.

Eu dupla face eu.

Eu matéria, eu esfera.

Eu jovem, eu ser.

Eu claridão na escuridão.

Eu infinita obra do eu.

Eu essência por ser, por proceder.

Eu paralelas linhas do universo.

Eu individual e que nesse astral,

ninguém me leve a mal.

 

(TAPETE CÓSMICO – ADJANE COSTA DUTRA – pág. 61).

Momento Cultural: Poética – Por Marcelo De Marco

Passeio por dentro do sono
provo dos pomos
negaceio sonhos
ando por fora da ala-
meda
e de vez em quando erro
invertendo os elos
das lexias tônicas
dizendo: ala-meta!
Aparo arestas e recomponho
a letra
pulo
e ponho palavras sem
alcance
deliro ao lance
perfume extenso da orquídea.

Oh, por favor me digam
qual foi o anjo-esperma suicida
que agradou tanto um óvulo-olfato
e foi para um mesmo alvéolo
potássio, fosfato, curva e linha;
sobrevoou tipo… abelha-rainha
polinizando lua-de-mel no deserto
e em pleno sol fotossintético
fez vôos léxicos no prosaico ar.

Marcelo de Marco é escritor, poeta e professor.

SINÔNIMO DE SER HUMANO É LIMITE.

Todo homem crê no limite de sua Fé, e descrê no limite de sua descrença. Portanto, ninguém crê tanto quanto crê (acredita) nem descrê tanto quanto descrê (acredita). Sinônimo de ser humano é limite. Deus não criou o homem para saber tudo nem para saber nada.

Um dia, um matuto, no limite do seu entendimento, filosofou: – O homem nasce sem saber nada, vive aprendendo e morre sem saber tudo.

O homem produziu a Penicilina e muitos pensaram que o ser humano era um deus. Imagine se tivesse criado os elementos naturais que compõem a Penicilina? O animal racional, às vezes, é espiritualmente enxerido.

Sosígenes Bittencourt

Momento Cultural: DESIGUALDADE SOCIAL – por Heitor Luiz Carneiro Acioli.

Desigualdade social, ora furacão, ora grande influência para a competitividade no mundo. Por que fazer isso? Por que enfiam a cara em discussões sem fim para provar que são superiores? Para provarem que são invencíveis? Não, fazem para provar que apesar de seus defeitos e de suas dificuldades podem ser iguais
àqueles que possuem saúde e “mentalidade perfeita”.

(Meu Jeito em Versos e Prosas – Heitor Luiz Carneiro Acioli – pág. 04).

Momento Cultural: SÓ DAR AMOR – Por Manoel de Holanda Cavalcanti.

Na restrição, pra mim, de desfavor,
destas quatorze linhas d’um soneto,
Eu nem de leve tocarei no amor;
a falar sobre sonhos não me atrevo.

Eis que se foi embora um bom quarteto!
quero falar do sol, no esplendor,
das estrelas, do mar; não intrometo
o coração, em cousas de valor.

Sei da história do mar apaixonado
por Diana que o fita com dulçor,
na ausência do sol, seu namorado.

Mas, já se viu que cérebro demente?
quero banir deste soneto o amor,
e um soneto fazer de amor somente!…

(Coleção do Prof. José Aragão)

Manoel de Holanda Cavalcanti, vitoriense nascido em 18.XI.1897 e falecido em 22.3.1978. Filho de Joaquim de H. Cavalcanti e de Olindina de H. Cavalcanti. Irmão dos também poetas Henrique e Corina. Exerceu por muitos anos o serviço cartorial, do registro civil. Cultor das letras tinha uma prosa amena e agradável, como também a sua poesia.

Momento Cultural: Amor Platônico – por João do Livramento.

Quem te conhece

Quem já te viu

Cabelo de sol

Vestido de anil

 

Caminhas bem lento

Com muita postura

Que corpo tão belo

De além formosura

 

Tens lindo sorriso

Teu rosto é perfeito

Lá longe te avisto

Me apertas o peito

 

Se olhas pra mim

Eu finjo não ver

Nome não tenho

Mas deves saber

 

Te amando calado

O sonho é só meu

Tu és uma princesa

E eu sou um plebeu

João do Livramento.

Momento Cultural: Assunção da Virgem – por Corina de Holanda.

Deve ter sido pela madrugada:
– Em torno da modesta sepultura,
Daquela dentre as puras a mais pura,
Anjos, em graciosa revoada,

Como a medir, de céu, a imensa altura,
Vão de estrelas formando a linda escada
Por onde subiria a Imaculada…
– Jamais se viu tão régia iluminada.

(Se Deus é o Autor de tão custosa tela…).
Rasga a morte seus véus! Eis que esplendente,
Surge Maria, a quem Gabriel conduz.

Astros se apagam diante da mais bela…
E todo o Céu saúda alegremente,
A que trouxe em seu seio a própria Luz.

1969

(Entre o céu e a Terra – 1972 – Corina de Holanda – pág. 33).

REENCARNAÇÃO (poesia) – Por Marcone Melo.

 

Nascida numa velha primitiva mina
Corre milênios rolando pelas pedras
Na descida de uma cachoeira emoção e evolução
Em busca da perfeição

Percorrendo toda terra
Germinando esse solo sagrado
Do homem para o nascimento
Os vegetais e árvores crescendo

Indo desaguar no mar
O sol aquecendo evaporação e precipitação
A terra chuva trazendo
Faz lembrar reencarnação

Pois tudo é transformação
De moléculas e paixão vivida
Revividas em todo coração
Do homem em evolução

É princípio origem da criação
Água que vem do céu
Que corre pelo chão pro céu voltar
Na chuva retornar

E a terra voltar é como reencarnar
A mesma essência
Em corpo matéria renovada
Pra nova vida experimentar

Sete vezes setenta vezes
Que precisar o homem receber
O perdão pra renascer
Oportunidade à esclarecer

O caminho da iluminação
Justiça divina é reeencarnação
Lei da natureza
Que espera do tempo à salvação

Quem não tem pressa em aprender à lição
Sofre nas reencarnações
Aprende pela dor
O que não viveu com amor

Tem que amar para resgatar
Aquele último centil
E se libertar de reencarnar
Para a felicidade conquistar

Marcone Melo – É poeta vitoriense.

Momento Cultural: ROSEIRA DE MINHA MÃE – Por Célio Meira.

Faz tantos anos… minha mãe velhinha,
no jardim a plantar lindas roseiras:
La France… Paul Meron… rosa amarela…
Rosa alemã… rosa marfim…
Mas, de todas, a mais alta, a mais bela,
era a roseira Amélia do caramanchão,
que lhe enchia de perfume o rosto delicado,
que lhe roubava todo o coração.

Ela ensinou-me a rezar,
e a bendizer as roseiras.
Quando ela morreu, fiz da rosa Amélia,
– Sorriso de Maria da graça de uma flor
– lembrança de um materno coração
A perfumada flor de meu brazão

Roseira Amélia… rosa Amélia,
traçaste minha sina… meu destino.
És meu emblema… és o meu escudo.
As roseiras plantadas pelas mães,
não ferem as mãos dos filhos,
porque os seus espinhos,
são espinhos macios de veludo…

de MIGALHAS DE POESIA

Célio Meira

Momento Cultural: O PODER DA PALAVRA – por MELCHISEDEC.

A palavra no estado pleno de sinceridade e pureza atua com uma força vibratória capaz de mudar o comportamento do homem diante das Leis Cósmicas, removendo toda e qualquer dificuldade, operando uma verdadeira transformação no pensamento humano.

É de bom grado evitar-se pronunciar palavras desagradáveis e ofensivas, mesmo quando se é obrigado afirmar fatos verídicos, visto que, as afirmações devem ser sinceras, sem disfarce, sem sofisma, falando francamente a verdade, procurando não ofender as pessoas. Deve-se proceder de maneira positiva e franca, para que se processe a ajuda da Onipresente Força Cósmica Vibratória desfazendo qualquer dúvida.

Com a Onipresente Força Cósmica Vibratória sobre a terra, a semente da palavra bem pronunciada e repleta de afirmações corretas terá o poder de destruir toda mentira, toda calúnia e todo mal, porque a Verdade prevalecerá sempre como luz diáfana que ninguém poderá ofuscá-la.

É o poder superior da palavra que mudará o mundo.

(VERDADES FUNDAMENTAIS – MELCHISEDEC – pág. 79).

Momento Cultural: Ao som dos Clarins – por GUSTAVO FERRER CARNEIRO.

Uma batalha????

De um lado homens da palha

Rosa na boca

Óculos escuros

Fardão ricamente bordado

Entorpecido de cachaça

Caminhando sob sol escaldante

Repique de chocalhos

Desfilando sua majestada em lanças

Na batida de um baque virado

 

Do outro lado

Um exército de séquitos

Roupa de mescla

Lanço vermelho no pescoço

Sandália de couro

Bacamartes em punho

8 polegadas na cintura

Armados até os dentes

Ao som de oito baixos

Zabumba e triângulo

Repicando ao pé de uma serra

 

Descendo o morro,

Um grupo de caboclinhos

Com seus penachos coloridos

Pés descalços

Estalos de arcos

Num batuque ensurdecedor

 

Negros cantam

As som dos tambores silenciosos (???)

Evocando ancestrais africanos

Afoxés mágicos

Entidades desconhecidas

 

A cavalaria avança

Cavalos marinhos, caluas e ursos

Papangus gritando

Repique de Castanholas?

A La ursa quer dinheiro

Quem não der é pirangueiro

Um galo gigante canta a beira do rio

Acordando menestréis e boêmios

Rebuscando amores perdidos

 

O som dos clarins

Inunda essa magia

Buscando uma energia

Não se sabe de onde

Exaltando toda a paixão e “frevor”

 

Esse “Frevor”

Espora afiada sobre a tristeza

Batuque incansável

Sob um corpo cansado

Entretanto incontrolável

Sem conseguir segurar

Arrastando multidões

Cegas levadas por um instinto

 

É a Síntese da alma

De um povo que acredita

Que a cultura supera barreiras

Vencendo toda e qualquer batalha

 

É Pernambuco no coração

Um Brasil inundado de emoção

Nessa batalha cultural

Oh quarta-feira ingrata,

É carnaval…

 

(MOSAICO DE REFLEXÕES – GUSTAVO FERRER CARNEIRO – pág. 22 e 23).

Momento Cultural: A TEMPORÁRIA – Por Osman Lins.

Pássaro pousado,
és uma estação,
sol sobre as colinas,
cálido verão.
Mesmo que te vás,
não vieste em vão.
Deixarás em mim
teu alvo clarão,
o denso esplendor
da tua canção,
teu sumo, teu fruto,
teu mel, tua mão.
Mesmo que te vás,
não vieste em vão,
ó força do sim,
beleza sem não.
Terei conhecido
a flor e o pão,
e tudo que eu canto
virá do teu chão.

in “Tempo de Espera” – Antologia organizada pela
Soc. Artística e Cultural Vitoriense – 1966.

Osman da Costa Lins, vitoriense, nascido a 5 de julho de 1924, desde jovem começou a escrever, sendo um dos mais férteis escritores nacionais. Tem cera de quinze livros publicados, contos, romances e peças teatrais, além de escritos vários a publicar. Faleceu em S. Paulo 8.7.78. Fazia versos acidentalmente.