Momento Cultural: VELHICE – por Aloísio Xavier.

Desafiei o tempo e triunfei.
Há mais e meio século resisto.
Sofrendo, embora, por aqui fiquei,
da vida não me canso e não desisto.

 

Espectro de gente me tornei.
O padecer me faz quase outro Cristo.
Morreram-me os entes que amei.
Ao meu desmoronar eu mesmo assisto.

 

Doente está meu corpo alquebrado
E esgotada tenho a pobre mente.
É triste, muito triste hoje o meu fado.

 

Meu ser, enfim, se encontra aniquilado.
Porém de todas essas aflições
mais me afligem as recordações.

 

Aloísio de Melo Xavier, vitoriense nascido aos 6 de junho de 1918. Professor da Faculdade de Direito de Caruaru, da Universidade Católica e da Faculdade de Direito da Universidade Federal. Juiz de Direito aposentado. Reside no Recife, porém mantém casa na Vitória, onde passa os fins de semana. Eterno enamorado, ele e a esposa, Profª Eunice de Vasconcelos Xavier, da Vitória de Santo Antão.

Momento Cultural: A Esperança – por Stephem Beltrão.

A esperança nunca morre/
É rosa branca na estrada/
Esperando por um bem-te-vi/
De cabeça prateada./

 

Basta uma pequena lágrima/
Por trás de uma porta entreaberta/
Em uma pequena residência/
E a esperança entra em hora certa/

 

Chega, entra e faz a morada/
Esperança é amor, é fé/
É a crença no último suspiro/
É o um presente de Deus.

Momento Cultural: Visitando o Nosso Colégio.

(confrontando Luís Guimarães Filho no seu soneto: “Visita a casa paterna”. Composto para o Colégio Nossa Senhora da Graça na fundação do dia da “ex-aluna”, em 9 de julho de 1947)

Como ao porto quando voltam as jangadas
após bem forte e cerrado temporal,
rever, quisemos, num elo fraternal,
o nosso Colégio de emoções sagradas!

Chegamos!… Ao nosso encontro maternal,
vem Madre Superiora muito amada
que, sorridente, institue, mui dedicada,
da ex-aluna o áureo dia magistral!

Entramos!… – Era esta a sala de estudo!…
Oh! a Capela!… ali, o açude!… e, de tudo,
sentimos que a Saudade a alma nos invade!

Ei-las, as boas Mestras!… as caras companheiras!…
revemo-los, hoje, alegres, prazenteiras…
e, de Gratidão, quem palpitar, não há-de?…

(SILENTE QUIETUDE – ALBERTINA MACIEL DE LAGOS – pág. 42).

Momento Cultural: Preto e Branco – por Henrique de Holanda.

Cabelo preto, eu sei porque nasceste escuro.

e por saber quem és, recuso o teu frescor.

– Ventania que vem trazendo um aroma puro,

P’ra se tornar, mais tarde, em tempestade e horror.

Cabelo, eu sei… e por saber eu juro:

este sorriso, em ti, é um prenúncio de dor.

O teu canto de agora é a mágua do futuro,

e a mentira nasceu, quando nasceu tua cor.

És bem a tela negra, ó retinta cabeça,

onde o tempo, a cismar, com tinta branca e espessa,

um poema de dor e de saudade escreve…

…uma noite que passou. Amanhecendo, agora,

a cabeleira branca é o orvalho da aurora,

alvorada sem sol… carregada de neve…

(Muitas rosas sobre o chão – Henrique de Holanda – pág. 8).

Momento Cultural: ÁRVORE AMIGA – por José Teixeira de Albuquerque.

Ei-la aqui derrubada! Esta árvore que outrora
era o ponto melhor dos ninhos da floresta,
vivendo a proclamar a beleza da flora
altaneira, copuda e ramalhuda e erecta.

Farfalhando – acordava os pássaros na aurora
protetora – abrigava os pássaros na sesta…
Então eles cantavam uma canção sonora
uma canção de amor, de gratidão, de festa!

Mas um verme a roer-lhe as fibrosas entranhas
deu-lhe dores cruéis, estúpidas, tamanhas
fazendo-a vacilar… esmorecer e cair…

de pássaros deixando a procissão chorosa!
– José de Barros foi como esta árvore frondosa
deixou Vitória toda enlutada a carpir.

“O LIDADOR” 24.VI.1926

José Teixeira de Albuquerque, nasceu na fazenda Porteiras, Vitória de Santo Antão aos 23 de agosto de 1892. Seus pais: Luiz Antonio de Albuquerque e Dontila Teixeira de Albuquerque. Estudou medicina na Faculdade da Bahia, porém desistiu do estudo no 3º ano. Casou em segundas núpcias com a conterrânea Marta de Holanda, também poetisa e escritora. Publicou o livro de versos MINHA CASTÁLIA e colaborou em várias revistas e jornais; tanto da Vitória como do Recife. Foi funcionário do Arquivo da Diretoria das Obras Públicas do Estado,com competência e zelo. Faleceu no Recife, no dia 2 de outubro de 1948. Não deixou filhos. Sua morte foi muito sentida entre os intelectuais, que não se cansaram de elogiar sua prosa e seus versos.

Momento Cultural: Governo do mundo – por Célio Meira.

– Aonde vais, companheiro,

neste barco, pelo mar?

– Vou ao Reino da Ilusão,

para o mundo governar.

– Lastimo, deploro, amigo,

esta arrojada ambição:

o governo deste mundo,

nunca esteve em nossa mão.

* * *

 

Guarda, Amada, esta lição,

ensinada por Jesus:

– Ajuda teu companheiro,

no carrego de uma cruz.

* * *

 

Amada, quando rezares,

sê prudente na oração:

– ajuda teus inimigos,

com palavras de perdão.

(migalhas de poesia – Célio Meira – pág. 26).

Momento Cultural: Lágrimas Fenomenais – por ALBERTINA MACIEL DE LAGOS.

No ofegante caminhar de minha vida,
nesta luta constante
de cair e levantar,
mas… sempre sonhando
ou, mais forte, e meditar…
eis, que, um dia,
de chofre, deparei;
junto a uma cruz carcomida
da deserta estrada,
ao solo exposta, abandonada
coberta de poeira
a sorrir para mim,
macabramente,
– uma caveira!

Como se fora por um raio, então ferida,
fiquei, assaz apavorada,
e, contra o medo reagindo,
resolvi apanhar
aquela carcassa inerte, fria,
assim, exclamando:

– Caveira, és bem um espelho
onde se vê, em cinzas refletida,
a humana vaidade, vã e fementida!
E, elevando o crânio à altura dos meus olhos,
mais estarrecida fiquei
quando notei
algo fenomenal:

– das óbritas enormes, vazias,
corriam a cintilar,
dua lágrimas fugidias
como que irisadas,
a zombar da morte,
da escura
e triste sepultura!

Entre a coragem e o medo, perguntei:
– Que!… uma caveira inda a chorar?!…
E, no recesso do meu peito,
uma voz intensa, aguda
como o trovão, logo ecoou:
– É que ela (coitada)! ainda chora
um Amor sublime, puro,
que o mundo ignora
e que, na terra lhe ficou!

(SILENTE QUIETUDE – ALBERTINA MACIEL DE LAGOS).

Momento Cultural: O PODER DA PALAVRA – por MELCHISEDEC.

A palavra no estado pleno de sinceridade e pureza atua com uma força vibratória capaz de mudar o comportamento do homem diante das Leis Cósmicas, removendo toda e qualquer dificuldade, operando uma verdadeira transformação no pensamento humano.

É de bom grado evitar-se pronunciar palavras desagradáveis e ofensivas, mesmo quando se é obrigado afirmar fatos verídicos, visto que, as afirmações devem ser sinceras, sem disfarce, sem sofisma, falando francamente a verdade, procurando não ofender as pessoas. Deve-se proceder de maneira positiva e franca, para que se processe a ajuda da Onipresente Força Cósmica Vibratória desfazendo qualquer dúvida.

Com a Onipresente Força Cósmica Vibratória sobre a terra, a semente da palavra bem pronunciada e repleta de afirmações corretas terá o poder de destruir toda mentira, toda calúnia e todo mal, porque a Verdade prevalecerá sempre como luz diáfana que ninguém poderá ofuscá-la.

É o poder superior da palavra que mudará o mundo.

(VERDADES FUNDAMENTAIS – MELCHISEDEC – pág. 79).

Momento Cultural – Dilson Lira.

Se tens n’alma recôndita amargura,
que te acorrenta aos grilhões da dor,
incontinente foges do torpor
da tua vida tão vaga e escura.

Se tens do peito amargo sentimento,
de um desejo não realizado,
busca o futuro, esquece o teu passado,
que ameniza mais teu sofrimento.

Mas, se tens n’alma bem viva contigo
uma paixão, um vulto de mulher,
é bem difícil esquecê-la, amigo…

Alguém procura achar a solução,
e enquanto esquecê-la a alma quer,
mais amá-la procura o coração…

Dilson Lira

Momento Cultural: A DANÇA DO VENTO – Por Valdinete Moura.

A dança do vento frenética não pára. E nessa alucinação me envolve o corpo que treme e se arrepia. Me desmancha os cabelos que entram pelos olhos e penetram em minha boca, buscando beijos úmidos de amor. E o vento louco passa levando tudo para longe. Tudo menos essa ânsia imensa, esse desejo Insano de carícias e afeto. O vento passa e leva tudo. Tudo mas deixa em meu corpo a certeza da saudade e a imensidão do desejo.

“Voz Interior”

Maria Valdinete de Moura Lima, filha de Manoel Severino de Lima e de Lindalva de Moura Lima, nasceu em Vitória de Santo Antão. Bacharela e Licenciada em Letras. Professora de Português da Faculdade de Formação de Professores da Vitória de Santo Antão. Poetisa e contista, tem um livro publicado VOZ INTERIOR – 1986. Tem vários prêmios, entre os quais: José Cândido de Carvalho, contos: Jeová Bittencourt, contos, menção honrosa (Araguari, MG). Concursos promovidos pelo “Timbaúba Jornal”, contos e poesia. É membro da Academia Vitoriense de Letras, Artes e Ciência.

Momento Cultural: Seja forte! Desarme-se. – por Stephem Beltrão.

Seja Forte! Dê adeus às armas!
Porte apenas documentos, pistola não atira sozinha.
Bala boa é de chocolate, faca bem usada é na cozinha.

Pancada bem dada é de chuva,
Tanque maneiro lava e enxágua,
Rajada esperta é de vento, bomba potente puxa água.
Quadrilha animada é de São João, armadilha de amor
Só faz ruído.
Partido infantil é o de pastoril, flecha bonita é a do cupido.

Plano divino é o de paz, golpe legal é o de ar
Torpedo demolidor é o que sai do celular
Guilhotina moderna só corta papel.
Cadeia interessante é a cadeia alimentar.

Briga, nem de galo, arma, nem de brinquedo
Combater só nossos erros, guerra nem de nervos.
Lutar só em legítima defesa, atacar a fome.
Bater só o cartão de ponto, matar calmamente o sono.

Seja forte!

Abra o sorriso, ele cura
Use a palavra, ela salva
Estenda a mão, ela ajuda
Dê um abraço, ele acalma.

 Stephem Beltrão  

Momento Cultural: INERTIA – por ADJANE COSTA DUTRA.

Nas imagens dos sons inertes…

Inertia, inactivity, sloth.

Inércia dos sonhos coloridos…

Nas folhas brancas ao léu…

Momentos perdidos,

inércia desse vento nas paragens do tempo

de INTERROGAÇÕES ???????

Pára-tempo, tempo-pára.

Para, pára, o que não paro.

Inércia nos sons, nos sonhos coloridos,

Nas paragens desse tempo inertemente perdido…

(TAPETE CÓSMICO – ADJANE COSTA DUTRA – 1995 – pág. 25).

Momento Cultural: A Alvorada – POR GUSTAVO FERRER CARNEIRO.

O sol se descortinava na praia
Brilhando em meus olhos
Caminho só
Ar imóvel, quente
Vento assobiando ardente
Com o som da minha respiração
Um monte de pensamentos
Um toque agudo sibilante
Suspirando com prazer
O nascer de um novo dia
Uma alvorada arredia
De momentos de introspecção

Um aroma gostoso de terra molhada
Ou maresia,
Um delicada lua ornamentando o amanhecer
Em uma fantasmagórica poesia,
Plenitude
O vento zunindo
Um sentimento de dignidade
Uma visão do encanto
Insondável graça no rosto
No perplexo momento
Da percepção da vida.

O que ele diz
estará dentro do seu peito
Todo tempo
Para sempre…

Seja longe, seja perto
Não sabemos o exato, o correto
Para tudo tem um tempo

Mas quando será esse tempo certo?

(MOSAICO DE REFLEXÕES – GUSTAVO FERRER CARNEIRO – pág. 14).

Momento Cultural: NOTURNO Nº 2 – por Marcus Prado.

a sofrer
este vento este ciclone
dos nervos e da carne e da mentira
a sofrer
esta angústia que delira
a sofrer o vazio de cada cara

a sofrer cada dia que não pára
a sofrer a estéril noite: o dia
a sofrer o limite a face fria
a sofrer tua memória alada

a sofrer o teu beijo impossuído
a sofrer a glória de não ser
a sofrer os teus olhos o teu espaço

a sofrer a distância a gravidade
a sofrer a saudade que mereces
o teu nada o teu tudo o teu cansaço.

in “Literatura a Artes” boletim
da S.A.C.V. – junho/1965

Marcus Antonio do Prado, nascido na Vitória crítico literário dos mais expressivos, responsável pela página literária do “Diário de Pernambuco”.

Momento Cultural: CONHECE-TE A TI MESMO (NOSCE TI IMPSUM) – por MELCHISEDEC.

O nosso Eu é um ato de disciplina, porque contém em si a essência verdadeira. Conhecer o Eu é descobrir a maneira certa de usá-lo. É também o ato de experimentar a liberdade responsável. Talvez seja a responsabilidade que nos leva a livre ação do nosso mental e à natureza do sublime, não revelada pela consciência.

Tudo está no Eu. O simples será revelado pelo Eu. Talvez tudo seja mais simples se houver pensamentos inteligentes e puros. Então cada um achar-se-á a si mesmo, decifrando as palavras conhece-te a ti mesmo.

Mentiras produzem aceleração das ações perniciosas na criatura, com sérios prejuízos para ela.

A verdade está em toda parte. É preciso agir acertadamente. Basta procurar meios de fugir da realidade.

A crendice e o fanatismo são os maiores entraves para o progresso espiritual das pessoas.

Devemos procurar pesquisar a verdade através do estudo comparado das diversas religiões, assimilar ponto por ponto, até que sob a inspiração divina, possamos tirar conclusões verdadeiras.

Não é possível conseguir a evolução de uma só vez. Devemos evoluir calmamente, vencendo os defeitos, um após o outro, até atingirmos a meta.

Os complexos problemas de nossa vida moral espiritual não poderão ser resolvidos de imediato, eles demandam tempo, soluções e vontade firme.

Temos que nos dedicar a essa complexa tarefa com determinação e perseverança, ouvindo sempre a voz que vem do nosso interior, se é que sinceramente queremos alcançar a libertação.

Onde poderemos encontrar a Realidade? No único caminho que nos conduz a sutilidade do nosso Eu interno.

O conhecimento do nosso Eu interno é uma meta sem fim.

A criatura humana não sabe que o movimento positivo e negativo tem por princípio reforçar o Eu interior.

O estado de consciência já liberto da confusão e da desordem é alcançado pela meditação, quando o Eu Superior assume o comando de nossa vida.

O desejo gera o esforço ilusório e nos sentimos menos dignos, prejudicando nossa evolução.

A vontade ferrenha de vencermos o desejo ilusório nos leva a um estado de consciência superior, bem próximo dos Seres Supremos. Nesse estado, descortinamos a tranquilidade, a paz interior e passamos a cultivar a vontade.

O esforço surge em nós, quando queremos vencer alguma coisa. Ele não se corporiza, pelo contrário, paira como algo fluídico.

Os desejos materiais, o apego aos bens transitórios não nos leva até o desconhecido. Só aquele que se isola do mundo profano, é que está capacitado a ouvir a voz interior que aponta o caminho da libertação.

(VERDADES FUNDAMENTAIS – MELCHISEDEC – pág. 81 a 82).

Momento Cultural: Lágrimas Fenomenais – por ALBERTINA MACIEL DE LAGOS.

No ofegante caminhar de minha vida,
nesta luta constante
de cair e levantar,
mas… sempre sonhando
ou, mais forte, e meditar…
eis, que, um dia,
de chofre, deparei;
junto a uma cruz carcomida
da deserta estrada,
ao solo exposta, abandonada
coberta de poeira
a sorrir para mim,
macabramente,
– uma caveira!

Como se fora por um raio, então ferida,
fiquei, assaz apavorada,
e, contra o medo reagindo,
resolvi apanhar
aquela carcassa inerte, fria,
assim, exclamando:
– Caveira, és bem um espelho
onde se vê, em cinzas refletida,
a humana vaidade, vã e fementida!
E, elevando o crânio à altura dos meus olhos,
mais estarrecida fiquei
quando notei
algo fenomenal:
– das óbritas enormes, vazias,
corriam a cintilar,
dua lágrimas fugidias
como que irisadas,
a zombar da morte,
da escura
e triste sepultura!

Entre a coragem e o medo, perguntei:
– Que!… uma caveira inda a chorar?!…
E, no recesso do meu peito,
uma voz intensa, aguda
como o trovão, logo ecoou:
– É que ela (coitada)! ainda chora
um Amor sublime, puro,
que o mundo ignora
e que, na terra lhe ficou!

(SILENTE QUIETUDE – ALBERTINA MACIEL DE LAGOS).