O Templo e o Tempo – por Sosígenes Bittencourt.

Dá a impressão de que é um dia de Domingo. A igreja está sozinha, imponente, erguida para o alto. Impossível contemplar o templo sem sentir o tempo. Foi por trás desta Domus Dei que fiz o meu Curso Primário. Lembro-me até do meu corte de cabelo, camisa engomada e gravatinha pendurada no pescoço. A professora dava aula de tudo, até de boas maneiras. Qualquer erro era denunciado à genitora, qualquer desvio da cartilha moral era um pecado. Era proibido pensar nas tentações da carne por trás da Igreja. Profª. Luzinete Macedo ensinava a verbo amar, com todo amor do fundo da alma. Era o mais regular dos verbos, o verbo dos verbos, o mais conjugado. Prof. Luzinete Macedo era bonita, bem fardada, impecável. Falava explicado, com ênfase, uma lição de ser humano. Saíamos com sua aula na epiderme, na respiração, embalados pelo seu tom, seu gosto. Cheirávamos as páginas do livro, passávamos a mão na pele das páginas.

Impossível contemplar este templo sem pensar no tempo, sem pensar na vida, no vulto iconográfico de Padre Pita. Impossível não pensar no destino, nos meus idos e vindas de menino. Meu corpo era maneiro, meu sangue fino, desengordurado, desintoxicado, a morte estava longe. Minha infância evolou-se por trás deste templo, para além dos coqueiros, na penumbra da Hora do Ângelus. Ah! minha vida, nossas vidas, nossos templos, na correnteza fugaz do tempo. Lembra-me a palavra desesperada de Horácio, angustiado com a brevidade da vida: Eheu! fugaces labuntur anni! (Ai de nós! os anos passam ligeiro!).

Transitório abraço!

Sosígenes Bittencourt

A paz do mundo – por Sosígenes Bittencourt.

Eu tenho mania de pensar que a paz do mundo está no coração. Não há paz no mundo porque procura-se onde não está? Nas coisas mudas, naquilo que está do lado de fora. Nas coisas sem vida, meramente coisas. Por que teima, o homem, em procurar a paz lá onde não está?

Eu penso que a paz não será fundada por algum herói, nem por um regime político, nem pela ciência, a paz só será celebrada quando for extraída do coração.

Se tudo que pensamos repercute no coração, o coração é uma espécie de espelho daquilo que pensamos. Logo, é preciso entender o que faz bem ao coração, explorar o que é saudável ao coração. Isto será bom para o mundo.

Eu tenho mania de pensar que a paz do mundo está no coração.

Sosígenes Bittencourt

“Comendo paima”. Coisa como “engolindo corda”- Sosígenes Bittencourt.

Agora, inventaram essa expressão “comendo paima”. Coisa como “engolindo corda”, cuja vítima é o cacimbão.

Mas, pegando carona na moda, esse é um tempo propício para otário cair em cantada de político sabido, raposa velha em influenciar candidatura. O poderoso passa a mão na cabecinha do inocente, alisa o narcisismo do embevecido, e diz: “Você, hoje, tem voto pra ser vereador na cidade”. Aí, o influenciado vai dormir sadio e acorda candidato a vereador. Filia-se a partido que nem sabe traduzir a sigla. Depois de filiado, até a maneira de andar muda de cadência. Afaga menino, diz que o vizinho está jovem, a vida vai melhorar, o mundo não vai se acabar e que bom mesmo só Jesus. Toma pinga no balcão da venda, mete o pau na inflação, ri para os inimigos de estimação, vai às igrejas, ao estádio de futebol, vela defunto e chora em sepultamento. Sempre pensando que toda pessoa que conhece é um eleitor em potencial. Confunde popularidade com eleitorado. Ora… se o cara vende mangalho e ninguém lhe deve um pimentão, quem fez favor a quem? Ninguém. Depois, tem detalhe. Aquele que tem um dinheirinho, porque trabalhou e amealhou, não tem, necessariamente, gabarito para administrar uma cidade. “Ah! fulano é um homem próspero, enricou do nada. É um homem honesto e trabalhador, daria um bom prefeito.” Conversa mole pra boi dormir. Conhecemos incontáveis casos de políticos imaturos, eleitos por eleitores piores ainda. Portanto, meu vaidoso amigo, cuidado com a vivacidade dos sedutores, dos craques em inventar candidatura, não alimente tanta ilusão. Lembra-me o Eclesiastes: Vaidade das vaidades, tudo é vaidade.

Dr. João Cleofas de Oliveira costumava dizer: O amor na política é mais forte do que no amor.

Prudente abraço!

Sosígenes Bittencourt

Aos piscianos – por Sosígenes Bittencourt.

No primeiro século da Era Cristã, o nascimento de Jesus era comemorado no mês ADAR (fevereiro e março). Portanto, segundo a Astrologia, Jesus era do signo de Peixes. O PEIXE é um dos mais significativos símbolos da Cristandade. Talvez, a conversão de alguns piscianos tenha tudo a ver com a sua data de nascimento. Parabéns, pessoal!

Sosígenes Bittencourt

Mestre Zé Guedes – por Sosígenes Bittencourt.

Hoje, creio que pouquíssimas pessoas sabem que quem construiu os jazigos da primeira entrada do Cemitério São Sebastião foi meu bisavô, José Guedes da Costa. E não só, ele também esculpiu os frontispícios do Cemitério e do Mercado de Farinha.

José Guedes era pai de minha avó materna, Natércia Guedes Pereira. Ele morava em frente ao cemitério, onde hoje deve ser uma Casa Funerária que oferece espaço para velar os mortos. Conta, minha mãe, que levava bolacha com café para ele lanchar no canteiro da construção.

José Guedes não tinha formatura em nada e burilava suas obras com a ponta da colher de pedreiro. No braço, estava o caminho entre a intuição e a arte. Foi assim que cinzelou o brasão do Mercado de Farinha, ainda hoje do mesmo jeitinho, porque ninguém saberia refazer a arquitetura tal e qual o Mestre Zé Guedes, com a mesma desenvoltura, a mesma técnica.

Foi no tempo do fogo-fátuo. Minha mãe ficava pastorando o cemitério, escondidinha, para ver as línguas de fogo que saíam das covas. Eu ainda me lembro dessa história que contavam quando era menino lá na Feira das Panelas. A luz era da Pirapama, as ruas ensombradas, e o medo, de caveira, de assombração.

Monumental abraço!

Sosígenes Bittencourt

Roubo de Celular – por Sosigenes Bittencourt.

O telefone chamado está fora de área ou desligado, seu idiota!

Há quem pense que cultura é o acervo artístico de um povo. Está correto. Contudo, hábitos também são dados culturais. Um hábito que já faz parte de nossa cultura é o furto. Quer ver? Quem foi queescapou de ter um celular furtado? E tanto faz parte de nossa cultura que, mesmo sabendo que o chip e o aparelho podem ser bloqueados, o sujeito pode levar tapa na cara, ir preso, ficar desmoralizado, a safadeza continua. Você não pode dar bobeira. Eu mesmo já tive celular subtraído no cabaré e na Universidade.

A pergunta é a seguinte: – O que é que um professor vai fazer numa Zona de Baixo Meretrício?

A resposta é a seguinte: – E o que é que um ladrão vai fazer numa Universidade?

Também já tive celular encantado na padaria mais chique da cidade. O pior é que, em volta, só havia mulher, um animal que ainda considero melhor do que o homem. O aroma era de perfume francês, e as madames, com as bochechas infladas de guloseimas. E ainda se diz que é menos arriscado ser furtado do que ser roubado. O roubo tem uma historinha de ameaça na base do pau de fogo e da faca peixeira.

Meu Deus me perdoe, mas é uma desgraça! Tóquio tem 35 milhões de habitantes, e a polícia vive de cara pra cima, sem ter o que fazer.

Miserável abraço!

Sosigenes Bittencourt

O que é mais difícil?

Quando pergunto aos alunos: O que é mais difícil, fazer sexo, ou distinguir Sujeito e Predicado numa oração? Ele logo responde: – Distinguir o Sujeito e o Predicado.

Ledo engano. Uma regra gramatical é uma regra e acabou-se. Fazer sexo com outra pessoa requer muito mais inteligência e imaginação. Implica em refletir sobre o pecado, nas consequências do ato, em noções de higiene, prevenção contra DST, gravidez, amor e paixão, empreender sedução, etc etc etc.

A grande questão é que “sexo” dá prazer, e “estudar”, não. Ora, qual a grande função dos pais e mestres, depois da Internet? Mediar esse universo de estímulos ao qual os jovens estão submetidos. Nunca, ser pai foi tão exigido; nunca, ser professor foi tão importante. Eu tenho tentado provar aos alunos que alguém pode ser feliz, sentir prazer nos estudos. Conhecer dá felicidade, estudar dá prazer. O prazer, que é o que se busca, está maquiado pela mídia, a serviço do Capitalismo de Consumo, como associado ao delírio, à ebriedade, embora queira-se combater o uso de drogas. Daí, o vazio e a sensação de inutilidade dos jovens, a perda da esperança. Esse é o quadro. E aproveito para relembrar a célebre reflexão de Einstein: “A alegria de ver e entender é o mais perfeito dom da natureza.

Sosígenes Bittencourt

COITO DE GATO – Sosígenes Bittencourt.

De madrugada, a lamúria de gatos em reprodução

parecia um pranto de enlutados sobre um caixão.

Seres humanos caem no choro quando perdem o objeto amado, ou partem para perpetrar crime, quando são vítimas de violenta paixão. Não há veterinário que me explique tanta choradeira num coito, como fazem os gatos, do Alasca à Terra do fogo.

Sosígenes Bittencourt

Prazer e Pecado – Sosígenes Bittencourt.

Se tudo que der prazer na vida for pecado, aceito toda condenação. Porém, não creio, como o filósofo Nietzsche, que os valores judaico-cristãos sejam de desvalorização da vida. Que tenhamos de ser pobres, fracos e tristes para ingressar no Reino dos Céus. Acredito, como São Tomás de Aquino, que a essência da Felicidade consiste num ato da inteligência. Ou seja, que os olhos do espírito estejam abertos e a alma prevaleça sobre o corpo.

Sosígenes Bittencourt

A paz do mundo – Sosígenes Bittencourt.

Eu tenho mania de pensar que a paz do mundo está no coração. Não há paz no mundo porque procura-se onde não está? Nas coisas mudas, naquilo que está do lado de fora. Nas coisas sem vida, meramente coisas. Por que teima, o homem, em procurar a paz lá onde não está?

Eu penso que a paz não será fundada por algum herói, nem por um regime político, nem pela ciência, a paz só será celebrada quando for extraída do coração.

Se tudo que pensamos repercute no coração, o coração é uma espécie de espelho daquilo que pensamos. Logo, é preciso entender o que faz bem ao coração, explorar o que é saudável ao coração. Isto será bom para o mundo.

Eu tenho mania de pensar que a paz do mundo está no coração.

Sosígenes Bittencourt

HORA DE PENSAR – Sosígenes Bittencourt

Eu sempre tenho a impressão de que alegria é bênção e tristeza é padecimento. Por isso, quando estou alegre, penso em Deus, e, quando estou triste, penso em mim. Acho que tudo é resultado da ação do homem, o bem à bondade, e o mal à maldade. Ninguém quer acreditar que tem uma parcela de culpa e, como consequência, um saldo de padecimento. O pecado humano é VONTADE PERMISSIVA DE DEUS. No entanto, Deus não nos abandona, concedendo-nos o DISCERNIMENTO, a perfeita noção do BEM e do MAL.

Sosígenes Bittencourt

BOA SORTE!

O filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900) deduzira: Sem a música, a vida seria um erro.

Depois, chamam-me de hiperbólico quando descrevo minhas emoções musicais. Quando a dosagem é exagerada, é natural que o efeito seja um exagero.

O filósofo francês Voltaire (1694-1778) já apregoava: Tudo que entra pelo ouvido vai direto ao coração.

Não foi, em vão, que a mitologia personificou a música na deusa Euterpe, cuja etimologia resume-se em “a doadora de prazer”. E eu não quero me curar de nada que me dá prazer.

Sosígenes Bittencourt

Transparência – Sosígenes Bittencourt

Um homem tem todo direito de não querer uma mulher, mas não tem o direito de enganá-la. Não querer não é falta de respeito, enganar é roubar.

Transparência é a palavra. E serve para ambos. É preciso saber o que se quer. Há casais que nasceram para fazer sexo, não nasceram para se casar. Casamento só funciona na base do amor, e amor éAMIZADE. Na relação amorosa, a amizade é o ator principal, o sexo é personagem.

Inteligente seria compatibilizar AMOR com SEXO, ou seja, ser amigo, preservando o fogo carnal.

É assim. Se sexo é BAIXARIA, e amor é ALTARIA, você tem de ser versátil para não estragar a relação conjugal. Na hora de amar, um amparar-se no outro; na hora da safadeza carnal, um esfregar-se no outro.

Sosígenes Bittencourt

NÃO RIA SE PUDER – Sosígenes Bittencourt.

Um dia, eu estava na Praça Leão Coroado, à Hora do Ângelus, numa roda de cervejeiros a filosofar, quando me apareceu um ex-aluno potencialmente embriagado: – Professor, o senhor fala difícil, é metido a sabido, mas os tapurus irão comer todos nós.

Não tive dúvida: – Menos a verdade. Os tapurus poderão comer você; a mim, comerão os “miodários cuterebrídeos calipterados”.

Sosígenes Bittencourt

No primeiro dia útil do ano – Sosígenes Bittencourt

No primeiro dia útil do ano, um casal anoiteceu se beijando. Inútil lembrar-lhes o cotidiano. Esqueceram até que mudaram de ano… Sôfregos, se abraçavam, se beijando. O Brasil deve ser um dos países onde mais se beija no mundo. Falta-se ao trabalho para se beijar. Vai-se ao trabalho para se beijar. Beija-se ao pingo do sol, no deserto, à beira-mar, assim haja quem se preste para beijar. Beija-se até sem beijar, mergulhado em sonho, de tanto desejar.

No primeiro dia do ano, um casal anoiteceu se beijando. A lua ia rápida, atravessando as nuvens, o aroma era de mato, de terra, de rio, como sói acontecer no Brasil. O palco talvez sugerisse uma peça musical à la Villa-Lobos, eivada de tantos arroubos.

No primeiro dia do ano, não cabia desengano, no espaço que estreitava o casal que anoiteceu se beijando.

Amoroso abraço!

Sosígenes Bittencourt