CELESTIAL E TERRENAL – por Sosígenes Bittencourt.

Os israelitas passaram 40 anos caminhando pelo deserto. O seu alimento vinha do céu, era o maná. No entanto, quando tentaram armazenar o maná, ele apodreceu. O alimento celestial era para ser consumido num dia. Isto significa dizer que quem guarda para o futuro, vê a vida apodrecer na palma da mão.

Todavia, referimo-nos a um alimento enviado por Deus. Ele nunca faltou. Nosso pão de cada dia anda produzido e vendido pelo homem. Portanto, há de se ter cautela.

O poeta romano Horácio, agoniado com a brevidade da vida, recitava:CARPE DIEM, QUAM MINIMUM CREDULA POSTERO. (Aproveite o dia, não acreditando minimamente no futuro). Contudo, o mesmo Horácio admoestava sobre o desperdício, aconselhando a moderação: EST MODUS IN REBUS (Há um limite nas coisas).

Sosígenes Bittencourt

HALLO RUIM – por Sosígenes Bittencourt.

Penso que o halloween daria muito bem para ser uma festa para adultos, uma sátira, com bom humor e sensualidade. Fantasias vampirescas, risadas abracadabrantes e chupada no pescoço. Não vejo nada que sirva para criança.

– Painho, deixa eu ir para a festa do Halloween!
– Para ver o quê, meu filho?
– Para ver as bruxas, painho!
– Não precisa, meu filho.
– Por quê, painho?
– Você já dorme com a sua mãe todas as noites, meu filho.

Isto não é uma piada, mas um fato que passei a denominar de “Hello ruim”. Não sei o que seria pior, o fato, ou você fantasiar o seu menininho de vampiro, colocar-lhe duas presas e explicar que é para chupar o sangue de sua coleguinha.
No Brasil, não há nenhuma lei que proíba opinião, mas há preconceito quanto a opinião. As pessoas gostam de ser iguais, se amoldam, temem ser diferentes. Acham confortável concordar e temem discordar ou ter opinião própria. Ora, se você discorda de toda novidade, você envelheceu, porém se você concorda com toda novidade, você estará sendo volúvel.

O nosso Saci-Pererê é um ente traquinas que surgiu, inicialmente, no folclore nacional, entre indígenas, na região sul do país. Depois, sofreu influência e foi sendo remodelado, ganhou uma carapuça, um cachimbo, perdeu uma perna, supostamente numa luta de capoeira, e por aí vai. Agora, no lugar de ensinar essa historinha às nossas crianças, nós vamos buscar uma bruxaria lá dos Celtas, nos confins da Europa, e fantasiar nossos meninos de vampiro, simbolizando um Drácula que se alimentava de sangue humano para sobreviver. Enfim, que brincadeira é essa? Será por que seria difícil sair pinotando numa perna só?

Espantoso abraço!

Sosígenes Bittencourt

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FRAGMENTOS (TÚNEL DO TEMPO) – por Sosígenes Bittencourt.

Março de 1988
*De vírus em vírus, aids do Brasil! De aids em aids, vírus o Brasil!
*Em tempo de Controle da Natalidade, disse o espermatozóide ao óvulo: – Amigos, amigos, fecundação à parte!
*O aposentado anda com medo de que o aposentem do recebimento.
*Parte do funcionalismo ameaça não funcionar,
que será o funcio(não)lismo.
*O pastor negro Jesse Jackson é o mais novo herdeiro espiritual de Martin Luther King. Sua cabeça deve ser à prova de conselho e pedrada.

 Março de 1989
*Os Estados Unidos querem saber quantos hectares tem a Amazônia. Devem estar querendo se apossar de algum terreno aqui no Brasil.
*Na votação de Aluísio Alves para o Superior Tribunal Militar, foi encontrada uma bolinha a mais, ao final da contagem dos votos. Fizeram “bolinha” na nomeação do ex-ministro.
*A diferença entre Moisés, da Bíblia, e Moisés, candidato a vereador, é que o profeta subiu o Monte Sinai, e o candidato subiu a Vila da Cohab.

Sosígenes Bittencourt

HORA DE PENSAR – por Sosígenes Bittencourt.

Eu sempre tenho a impressão de que alegria é bênção e tristeza é padecimento. Por isso, quando estou alegre, penso em Deus, e, quando estou triste, penso em mim. Acho que tudo é resultado da ação do homem, o bem à bondade, e o mal à maldade. Ninguém quer acreditar que tem uma parcela de culpa e, como consequência, um saldo de padecimento. O pecado humano é VONTADE PERMISSIVA DE DEUS. No entanto, Deus não nos abandona, concedendo-nos o DISCERNIMENTO, a perfeita noção do BEM e do MAL.

Sosígenes Bittencourt

“O mundo é movido pela mentira” – por Sosígenes Bittencourt.

O filósofo e jornalista francês Jean-François Revel (1924-2006) denunciou: “O mundo é movido pela mentira.” E acrescentava: “O que tomamos como justiça é, muitas vezes, uma injustiça cometida em nosso favor.” Segue, portanto, uma foto do desconfiadíssimo Jean-François Revel.

Eu diria que, se todos pudessem ler o pensamento um do outro, não haveria amigos no mundo.

Sosígenes Bittencourt

Ofegante afegã – por Sosígenes Bittencourt.

O retrato desta afegã está simplesmente cinematográfico! Flagrante de 1984, o clássico pertence à coleção de fotografias do fotógrafo estadunidense Steve McCurry, que acaba de ganhar um prêmio, exibindo 100 fotos em São Paulo. Chega dá vontade de ver o resto.

A menina parece um animal acuado, cujos olhos devem ressaltar o pânico que conduz n’alma. De tão fotojornalística, tão textual, já foi capa da National Geographic. De tão expectante, parece ofegar.

Ofegante abraço!

Sosígenes Bittencourt

MARIA BETÂNIA VITORIANO PEREIRA – a menina de dona Jucélia – por Sosígenes Bittencourt.

Eu conheci, no curso Ginasial,
as 7 Maravilhas do Mundo Antigo:
A Estátua de Zeus, O Colosso de Rodhes,
o Templo de Ártemis, O Mausoléu de Helicarnasso,
As Pirâmides de Gizé, O Farol de Alexandria
e Os Jardins Suspensos da Babilônia.
A menina de dona Jucélia foi uma das 7 maravilhas
de minha adolescência.
A menina de dona Jucélia não me permite ser um adulto definitivamente maduro; vez por outra me rejuvenesce,
me adultesce, fazendo-me adultescente.
Descongela, em mim, um menino que hibernava,
alargando meu passado e me distanciado da morte
às vésperas do crepúsculo de minha existência.

Sosígenes Bittencourt

Depoimento de um discriminado – por Sosígenes Bittencourt

Mario Balotelli, que jogava no Manchester City e agora está no Milan, dá 50% do seu ordenado às crianças pobres da África.

“Eu sou naturalizado italiano, mas sou de Gana. Fui abandonado pelos meus pais e adotado por dois anjos. Sofro de racismo todos os dias.”  Este é um depoimento pungente de uma vítima de racismo, apesar do status que conseguiu, provavelmente, a duras penas.

Quem discrimina negro, discrimina branco. Quem mata um negro, mata um branco. É defeito de caráter. Quem mais discriminou e matou negro no mundo foram os próprios negros africanos. Porém, discriminavam e matavam brancos também. Mario Balotelli é uma pessoa humana, perturbada por desumanos. Agora, piada é o que os políticos africanos fazem com as doações: desviam e roubam. A África é vítima de FALTA DE EDUCAÇÃO e CORRUPÇÃO, o que não faz inveja ao Brasil.

Sosígenes Bittencourt

UMA DEFINIÇÃO DE MIM – por Sosígenes Bittencourt.

Uma das melhores definições de mim não é minha, é do escritor e pensador inglês Chesterton (1874-1936): O homem SÃO é aquele que tem a tragédia em seu coração e a comédia em sua cabeça.

Mas, explicou: A comédia do homem sobrevive à sua tragédia.

Chesterton também dizia: “O que amargura o mundo não é excesso de crítica, mas a ausência de autocrítica”.

Contudo, é bom salientar que a crítica está presente no coração do homem, mas, quanto a sua autocrítica, olha-se no espelho, sorri e faz piada. O homem é condescendente com os seus erros e atroz com os erros alheios, por isso julga mal.

Comediante abraço!

Sosígenes Bittencourt

INCÊNDIO E MORTE NO HOSPITAL BADIM – por Sosígenes Bittencourt.


Incêndio em hospital pode nos parecer um absurdo, mas enfermo morrendo intoxicado com a fumaça: é fogo!Qual a capacidade hospitalar de evitar que enfermo morra em decorrência de falha no próprio nosocômio? Um circuito, uma fagulha, e a iminência do sacrifício de vidas onde buscavam escapar da morte.

Que competência teria de ter para prevenir, ou combater semelhante evento em tempo de salvar inocentes de tão pavoroso drama? Afinal, não se trata de hospital tão antigo, fora dos aparatos científicos da Era do Chip, da Nanotecnologia e outras microscópicas manipulações da Era Cibernética, posto que fundado em 2.000, o Hospital Badim, às vésperas da aurora do Terceiro Milênio.

Não, o Rio de Janeiro, musa inspiradora de Baden e Vinicius, já não comporta a antonomásia de Cidade Maravilhosa. O que não vislumbrou a pupila da 13ª vítima, dona Áurea Martins, transferida para o Hospital Samaritano, em Botafogo, ao falecer, de madrugada, antes de ir-se deste mundo, do seio-mar, da Guanabara?


Sosígenes Bittencourt

Conselho para menino saindo para a escola – por Sosígenes Bittencourt.

Cuidado com COLEGA. Colega é ao lado, amigo é do lado. Colega é destino, ele aparece ao seu lado sem escolha. Amigo, você identifica.

Cuidado com BURACO. Principalmente, os menores. Buraco dá vontade de futucar, desperta curiosidade. Por causa de buraquinho, muita gente afundou num abismo.

Cuidado com A BOCA. Não bote a boca em nada antes de cheirar. Deus colocou o nariz acima da boca e o cérebro por trás para fiscalizar. E, antes de cheirar, olhe direitinho. Às vezes, a coisa é bem bonitinha, mas está deteriorada ou é veneno.

Cuidado com DINHEIRO, ele compra coisas, mas não compra respeito. Depois, segundo aquele escritor gaúcho bem engraçado, chamado Luís Fernando Veríssimo: Economia é melhor do que dívida.

Cuidado com O QUE VOCÊ NÃO SABE. Seja humilde, faça pergunta. Os filósofos são como as crianças, eles perguntam. Sabedoria é melhor do que conhecimento. Conhecimento é cultura, Sabedoria é inteligência.

Sosígenes Bittencourt

Síndrome da Segunda-feira – por Sosígenes Bittencourt.

Aprendi a gostar da segunda-feira quando comecei a respeitar o domingo. Vê-lo como dia de reflexão e repouso. E dentro do plano de refletir, obviamente, há o de esvaziar a mente, ficar um pouco sem pensar na vida, deixando fluir pelo corpo uma boa música, ver um filme leve, uma história de amor, talvez. Não Saia Rodada, mas ouvir um clássico, tomar um solo de violino, um piano. Conheço amigos que pegam a estrada e vão tomar birinaite na praia para descansar. Funciona? Outros vão ao pagode, remexer o esqueleto para relaxar o quadril.

Mas, o grande pânico da segunda-feira pertence àqueles que TRABALHAM. Quer dizer, os que NÃO GOSTAM DO OFÍCIO, e é a maioria. Não sei se é do conhecimento de todos, mas trabalho vem de “TRIPODIUM”, um artefato de tortura medieval em forma de cruz. Só quem exerce uma atividade por VOCAÇÃO é que não sente que está trabalhando no sentido de estar sendo torturado, pois vocação quer dizer “CHAMAMENTO”, é um chamado interior, ânimo, inspiração.

Contudo, apresentemos uma saída. Baseio-me em minha experiência. Uma das atitudes que sugiro para você fazer o que gosta é APRENDER a gostar do que faz. E uma das tentativas para alcançar este objetivo é procurar fazer BEM FEITO. Uma de minhas práticas mais eficazes é organizar o ambiente de trabalho, tanto do ponto de vista estético quanto do ponto de vista burocrático. Quem chega em meu ambiente de trabalho, sente a impressão de que há vários funcionários trabalhando. No entanto, produzo tudo sozinho, muito embora não saiba até quando.

Bom dia e aquele abraço!

Sosígenes Bittencourt

REINVENTANDO VELHOS DITADOS – por Sosígenes Bittencourt.

Os últimos serão os primeiros. (não)

Os últimos serão desclassificados.

É dando que se recebe. (não)

É dando que se engravida.

Antes tarde do que nunca. (não)

Antes à tarde do que nunca.

Quem espera, sempre alcança. (não)

Quem espera, sempre cansa.

Quem dá aos pobres, empresta a Deus. (não)

Quem dá aos pobres, adeus.

Quem ri por último, ri melhor. (não)

Quem ri por último é retardado.

Quem ama o feio, bonito lhe parece. (não)

Quem ama o feio tem mau gosto.

Quem tem boca, vai a Roma. (não)

Quem tem boca, vaia Roma.

Sosígenes Bittencourt

A QUENTURA, MURIÇOCAS E BARATAS – por Sosígenes Bittencourt.

O tempo esquentou na Primavera. E com a quentura, ou variação de temperatura, ora fresca, ora escaldante, muriçocas e baratas são bem-vindas. Baratas já desfilam pelas calçadas, de sapato alto e antenas ligadas, muriçocas já migram em revoada, executando sua sinfonia macabra.

As fobias renascem. Não raro, os tementes a barata, munem-se de bisnagas de inseticidas, e os apavorados com pernilongos buscam repelentes atmosféricos ou de esfregar na pele. Fobia é uma espécie de medo de leão sem leão. Uma barata ganha a dimensão de um dinossauro. 
E como sofrem as criaturas. Aquele funcionário público que tem de se levantar cedinho para tomar 3 conduções para chegar ao trabalho, amarrotado, sonolento e suado, depois de uma madrugada revirando-se na cama, acendendo a luz para aspergir veneno em muriçoca. Aquela  dona de casa que tem de preparar o café, de madrugadinha, botar feijão no fogo e levar os meninos para a escola, depois de uma noitada de vigia, com os olhos aboticados nas paredes e se envergando para olhar debaixo da cama.

No tempo de eu menino, contavam que havia um comerciante tão pirangueiro, na cidade, que as baratas de sua mercearia morriam desnutridas por não terem acesso às mercadorias.

As muriçocas de hoje são falsas, misturando-se com o aedes aegypti, aquele pernilongo de meião alvinegro, cuja fêmea nutre-se vampirescamente do sangue do indivíduo, ameaçando-o de morte.

Sosígenes Bittencourt

O BRASIL FUNCIONA MAL – por Sosígenes Bittencourt.

Existe cota racial para branco pobre e descendente de negro? Tem descendente de negro, branquinho que nem um fantasma, do cabelo pixaim, pobre que dá dó e sem direito a cota racial. Parece que no Brasil tudo funciona mal. O Eca, por exemplo, tem garantido futuro às crianças e adolescentes? Até o ECA nos cheira mal.

Sosígenes Bittencourt

NOSTALGIA E MELANCOLIA – por Sosígenes Bittencourt.

Os gregos designavam NOSTALGIA como a dor dos que viajam, a dor dos navegantes, de “nostós” e “algós” – viagem e dor. Ora, a nostalgia é a saudade que dói, mas a recordação de um prazer, a lembrança daquilo que se distanciou. Diferente da MELANCOLIA, que é a saudade que dói, mas uma recordação daquilo que poderia ter sido e não foi. Melancolia significa “tristeza”, “melané” “kholé” – “bile” “negra”, da qual originava-se a “dor”, produzida pelo baço. É uma imaginação e uma desilusão.

Ora, um encontro, em setembro, reunirá amigos da geração dos anos 60. Nosso encontro pode gerar NOSTALGIA, uma saudade de algo que efetivamente aconteceu, e uma MELANCOLIA, algo que deixou de acontecer.

Contudo, essas dores poderão ser suavizadas pela poesia que as envolverá. E da dor, brotará a beleza. O poeta alemão Wolghang Goethe dizia: Faz da tua dor um poema, e ela será suavizada.

Sosígenes Bittencourt

MÃE, MISSA E BIRIBIRI – por Sosígenes Bittencourt.

Mãe é uma invenção de Deus. Até quem não acredita num Ser Superior, fica desconfiado. Pode-se até analisar o caráter de um ser humano, pela maneira como trata sua mãe.

Apesar de minha genitora ser evangélica desde que veio ao mundo, fui convidado por dois católicos, no Dia das Mães, para assistir a uma missa em latim, ali no Recife. Igreja antiga, cheirando ao tempo, padre entoando latim, discurso sobre a intermediação da palavra no encontro do homem com Deus. Muito bonito. Uma hora inesquecível, um evento memorável. Principalmente, para mim, uma ovelha desacostumada a visitar a Domus Dei e ajoelhar-se para agradecer. Geralmente, nesses êxtases, o homem chora.

A viagem foi um Café Filosófico. Danei-me a falar, citando a mitologia grega, contando histórias de divindades pagãs, entusiasmado com a sabedoria dos pensadores clássicos. Discorri até sobre o Destino, o Acaso e a Ação do Homem. Talvez, um antropocentrismo meio descabido para o momento, mas um exercício mental louvabilíssimo num universo de tanta asneira e falta de reflexão em que vivemos.

Depois, demos um saltinho lá no Bairro da Torre para visitar um padre, mas não o encontramos. Conhecemos, no entanto, um cidadão que mora pertinho da Igreja, que atende pelo nome de Luiz Anselmo. Aos 65 anos, dizendo-se filho de uma senhora com 100 de idade, anda mais ligeiro do que um menino treloso. Bom de conversa e vaidoso pela longevidade de seus familiares, nos apresentou uma frutinha cítrica, de uns 5 a 8 centímetros, creditando à mesma benefícios fitoterápicos. Diz que é biribiri. Curioso e enxerido, botei pra falar o que pensava. Quando soube que o mimo da natureza tirava ferrugem de roupa, fui logo dizendo que era antioxidante, continha vitamina C e combatia os Radicais Livres, responsáveis pelo envelhecimento precoce e doenças degenerativas. Tem jeito?

Dominus Vobiscum!

Bendito abraço!

Sosígenes Bittencourt

Recordar é Viver: No tempo de eu menino – por Sosígenes Bittencourt.

Dentre as figuras lendárias e bizarras das quais tive notícias e algumas conheci, em Vitória de Santo Antão, espero que alguém relembre MÃO DE ONÇA, CAFINFIM, PAPA-RAMA, DIDI DA BICICLETA, BIU LAXIXA E O CORCUNDA ANÍBAL.

Mané Capão, sem menosprezo ao animal, era todinho um macaco. Haja vista que andava de pernas arqueadas, pendendo para os lados, erguendo a cabeça e fazendo bico com a beiçola. Às vaias e insultos que recebia, respondia na pedrada. Não é preciso dizer que lascou cabeça de gente, estilhaçou vidraças e botou muito sujeito pra correr. Recordemo-lo. Penso que quem o insultava era pior do que ele.

Mão de Onça nunca deu um soco num atrevido para não vê-lo estatelado no chão. Papa-rama brigava com 4, na braçada. Parecia um viking. Didi da Bicicleta tinha o corpo fechado, porque a caixa dos peitos era rendada de tiros sem ter baixado à sepultura. Cafinfim dava óleo queimado para os presos beberem, e Biu Laxixa era tão doido que, quando corria na frente, ninguém corria atrás. E ainda tinha Ferro, um negão que dava beliscão em menino.

Não sei quem se lembra, mas eu conheci a figura cinematográfica do corcunda Aníbal. Andava pelas ruas resmungando e exalando um nauseante aroma de pão e banana, como se fosse um personagem de filme de terror. Aníbal tinha o hábito de apalpar o seio das mulheres, o que o tornava mais apavorante. Não sei do que morreu nem exatamente quando, o que lhe empresta uma feição misteriosa e hugoana, à la O Corcunda de Notre Dame.

Sosígenes Bittencourt

Introjeção de norma e castigo – por Sosígenes Bittencourt.

Antigamente, a juíza da infância e da adolescência era a mãe. Isso foi no tempo da palmatória. Escreveu, não leu, o pau comeu. Embora ninguém questionasse o valor da chinelada na educação doméstica, não me lembro de criança castigada com injeção letal.

A criança precisa entender que está sendo castigada porque descumpriu normas que precisam ser introjetadas, regras que precisam ser aprendidas, não por irritação, autoritarismo ou abuso da força paterna. Ninguém bate em criança por amor à criança, bate com raiva da criança. Ninguém mata um estuprador por amor ao estuprado, mas por ódio do estuprador.

Introjetamos normas com medo do castigo, mas isso não credita a todo castigo a melhor forma de promover a introjeção da norma.

A criança precisa entender o motivo pelo qual está sendo castigada, não pode concluir que está sendo castigada pelo ódio dos pais, pelo capricho dos pais, pela força maior dos pais. Isto seria como treiná-las para odiar.

Sosígenes Bittencourt

SOLIDÃO A DOIS – por Sosígenes Bittencourt.

Sentado na calçada, um homem fuma

um cigarro ao lado se sua mulher.

Sentado na calçada, o homem não

se sente atraído por sua mulher.

Sentada na calçada, a mulher inala

as baforadas de cigarro do homem

que não quer.

Mas, logo próximo, um cão triste

parece entender o vale de solidão

que há entre o homem e a mulher.

Sosígenes Bittencourt