ESTUDANDO PORTUGUÊS – Hipérbato – por Sosígenes Bittencourt

O Hino Nacional Brasileiro utiliza o hipérbato, uma figura de linguagem que inverte a ordem direta das palavras na frase, em diversos trechos.
Ouviram do Ipiranga
as margens plácidas
De um povo heroico
o brado retumbante
(hipérbato)
As margens plácidas
ouviram do Ipiranga
o braço retumbante
de um povo heroico.
(Ordem direta)
Obs: Com o Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, o acento da palavra heroico foi suprimido.

Sosígenes Bittencourt

ALEMANHA 7 x 1 BRASIL – 9 de julho de 2014 – (Há 11 anos).

A esperança alimenta-se de vitórias, não de derrotas. De que nos serve esta derrota, para nutrir a esperança de sermos os melhores do mundo, pelo menos em termos de futebol, o que sempre julgamos ser?
Quão ingênuos somos nós. Os alemães nunca se julgaram os melhores do mundo, mas se consideraram capazes de vencer, pelo bom uso da inteligência, aqueles que apenas se sentiam os melhores, repousados nas glórias do passado.

E o que fizeram os nossos sapientes competidores? Foram buscar na inteligência aplicada, organizada, disciplinada, no estudo, na ciência, o triunfo almejado. O futebol, faz 6 anos, virou, para os alemães, um tabuleiro de xadrez. Foi uma arrumação tática, comparável a uma imbatível estratégia de operacionalidade de guerra. Foram cinco disparos certeiros, concatenados, em curto espaço de tempo, para abater o inocente inimigo.

E nem precisaram ser violentos, usar a força, nenhuma malícia, o que mais nos humilhou. Aliás, o que pode a malícia contra a sabedoria? Eis o que nos ensina o provérbio: sapientiam autem non vincit malicia.

E, agora, só nos resta uma saída: aprender com a lição. Este é o conselho milenar de um tantra indiano: Quando perder, não perca a lição.

O homem nasceu para ser derrotado, não para ser vencido. Portanto, aprendamos com os alemães, vamos estudar, imitemos nossos inimigos, sejamos humildes e alegres na derrota, que é a melhor forma, o melhor caminho para transformar a inteligência em sabedoria.

Sosígenes Bittencourt

MINIBIOGRAFIA – por Sosígenes Bittencourt.


Ensinar, para mim, é uma forma de conviver.
minha escola é o mundo.
Estudar, para mim, é uma forma de conviver,
minha escola é o mundo.
Sou professor no que ensino;
no que estudo, sou aluno.
Sou filho de professora Damariz,
meio gente, meio pó de giz.
Fazer poesia é destino,
sou poeta desde menino.
Porém, sou poeta trabalhado,
o meu dom é divino,
mas o estudo é sagrado.

Sosígenes Bittencourt

Falta de ar – por Sosígenes Bittencourt.

1) Se você sentir falta de ar, peça a sua esposa para entubá-lo de beijo. Pode ser carência de carinho, obstrução do desejo.
2) Todo dia, saem de casa
alguém que quer amar
e alguém que quer ser amado; quando se encontram, é um amor danado.
3) Gravidez dos Sonhos.
Há mulheres que preferem unir o útero ao agradável.

Sosígenes Bittencourt

VAI-SE O SÃO JOÃO – por Sosígenes Bittencourt.

Vai-se o São João. E o amontoamos entre os São Joões que passamos. Fogueirinhas preguiçosas, resto de cinza, camisa quadriculada, retalhos de vidas. Uma boca bordada na pele, cotocos de cigarro, fuxico, ebriedade. Nenhuma santidade em nome do santo. Ninguém quer ir para o céu, por isso mistura história de santo com samba do crioulo doido. George Bernanos dizia: A santidade é uma aventura, ela é mesmo a única aventura.

Sosígenes Bittencourt

A GLAMOUROSA CHUPETA DO SATANÁS – por Sosígenes Bittencourt.


No tempo de eu menino, ninguém sabia que cigarro entupia os alvéolos pulmonares, provocava enfisema, dava câncer. Quanto mais, menino.

Papai comprava cigarro americano importado e colocava no guarda-roupa. Tinha Half and Half, Marlboro e Pall Mall. O cheiro era de chocolate, e papai dava belas baforadas depois do café, sentado numa cadeira de sofá pé de palito, à la Hamphfrei Bogart.

Às vezes, ouvindo o jogo do Sport Club do Recife, abraçado com um rádio transistorizado. Também desconhecia que cigarro servia para aplacar ansiedade, era ansiolítico. E eu ficava ansioso para experimentar sem jamais ter inalado.

Um dia, eu entrei no seu quarto, e a porta do guarda-roupa estava entreaberta. O cheiro de chocolate incensava o cubícu…

Sosígenes Bittencourt

BEL. MÁRIO BEZERRA DA SILVA – por Sosígenes Bittencourt.

 

Isso foi no tempo de Coca-Cola à base de noz de cola, acondicionada em garrafa de vidro. Hoje, toma-se xarope gaseificado em ampola de alumínio. Mário Bezerra da Silva me deu uma aula, no primeiro andar, sobre Análise Sintática, que nunca mais esqueci a diferença entre Sujeito e Predicado. Não imito direitinho, com o livro de Português, de José Brasileiro Vilanova, nas mãos, em respeito à alma do insigne diretor.

Vi, muitas vezes, o povo sair da calçada para o bel. Mário Bezerra desfilar de queixo erguido, meio de bandinha, com os sapatos rigorosamente engraxados. O paletó conhecia o caminho, da Rua Horácio de Barros à Praça Leão Coroado.

Mário era perfeccionista, gostava dos pontos nos “ii”, por isso, chegado a uns histerismos quando desobedeciam suas ordens. Contam que Mário só tinha um pulmão, mas quando dava um grito, as colunas do colégio estremeciam.

Não obstante, foi o sujeito que botou moral em colégio, no município. Depois dele, já soube de aluno que urinou, do primeiro andar para o pátio, que nem um Dionísio desvairado, e menino que deu rasteira e puxavante de cabelo em professora de Moral e Cívica.

Sosígenes Bittencourt

ESTUDANDO PORTUGUÊS – por Sosígenes Bittencourt

O h é mudo, são pronúncias semelhantes, mas indica a distinção entre os verbos ouvir e haver. Já a palavra gente é um substantivo coletivo, significando pessoas, mas está no singular, logo o verbo deve concordar, ficando no singular. Exemplo: A gente foi.
Enfim, nem tudo que a gente escuta, aconteceu.

Sosígenes Bittencourt

COLÉGIO NOSSA SENHORA DA GRAÇA – por Sosígenes Bittencourt.

COLÉGIO NOSSA SENHORA DA GRAÇA – NO TEMPO DE EU MENINO

Vi, debruçado no muro da casa de minha avó Celina, minhas primas Semíramis e Semadar caminharem pela calçada do Colégio das Freiras, de saia plissada, empertigadas, objetivas, impecavelmente asseadas, para a conclusão do Curso Ginasial no tempo de eu menino.

Ali, mais tarde, fui professor de Língua Portuguesa, Literatura e Técnica de Redação, a convite da Madre Superiora Dalka Pitanga de Mesquita (Madre Tarcísia), indicado pelo professor de Português Pedro Moura.

Uma calma vagava pelos corredores do convento, que dava vontade de ficar para dormir.

FRAGMENTOS – por Sosígenes Bittencourt.

(O humor de bom humor)
No meu tempo, menino não pitava “cannabis sativa”, não portava arma de fogo nem namorava nu.

Arengar por causa de político, no Brasil,
é mesmo que ter um ataque de ciúme num cabaré.

Vandalismo é ódio desorganizado, é arengar com o vizinho e chutar a cabeça do cachorrinho.

Agiota até no amor, só negocia um beijo por dois.

Sosígenes Bittencourt

A POESIA QUE FLUÍA – por Sosígenes Bittencourt.


Lembro-me de quando viajava para Recife, manhã cedinho,
e retornava à noitinha.
O cheirinho de mato, o vento assanhando meu cabelo, o rosto pálido, olhando para as serras, bois pastorando a estrada.
As árvores pareciam mulheres recurvadas, acenando para a manada humana.
Eu tinha cabelo naquela época, o sangue desintoxicado, sentia frio. Com a cabeça na janela, dedos enclavinhados sob o queixo, ninguém sabia que eu sentia poesia.

Sosígenes Bittencourt

O mês de maio – por Sosígenes Bittencourt.

O mês de Maio sempre foi um mês dedicado à mulher. Mês de Maria, de se celebrar o namoro e o noivado, místico período entre os prazeres da carne e o sacrifício do espírito, o desregramento e a temperança, a fornicação e a castidade. Mês de se respeitar a mãe e desobedecer-lhe.
Recebido com ovação, o Papa veio condenar tudo que é vontade do corpo e seduz o cérebro. Lembra-me O Êxtase de Santa Teresa D’Ávila, trespassada pela seta de um anjo, magnificamente burilada por Bernini, no século XVI.

Quem danado aguentava, em Vitória de Santo Antão, embora calma, sem os agitos nem a desobediência reinante de hoje, controlar-se, com a popularização da minissaia? De repente, quando não se podia ver um tornozelo, lá estavam os joelhos das meninas do Colégio Municipal e do Colégio das Freiras à mostra. Naquele tempo, o desejo vinha embalado pelas músicas de Roberto Carlos, Renato e seus Blue Caps e The Fevers, o que emoldurava o apetite com uma vaga sensação de amor.

Ninguém sabia exatamente o que estava acontecendo, porque a Medicina ainda não mapeara o cérebro e a endocrinologia cabia em algumas folhas de caderno. Mas, só Deus sabe o quanto a enxurrada de hormônios fustigava a pele da adolescência de tanta emoção. Os namoros eram na calçada, fiscalizados, com hora marcada. Cinema, só com acompanhante, geralmente um irmãozinho bobo, comedor de bombom, mas fuxiqueiro, cujo perigo residia em contrariá-lo. Os cinemas eram o calorento Cine Braga e o inesquecível Cine Iracema, espaçoso, onde se podia procurar um lugar mais reservado para beijar.

Todo mundo ficava tomado, neste mês de maio, de uma expectativa de noivado, casamento e maternidade. Festejava-se a mãe, a namorada e se fazia plano para o futuro. Chegávamos a imaginar como seriam nossos filhos. Se pareceria com a mãe ou seria uma escultórica mistura dos olhos de um com o nariz do outro.
Eita, mundo velho!

Sosígenes Bittencourt

ENCANTAMENTO – por Sosígenes Bittencourt.

O homem se encanta com a beleza da mulher. A mulher se encanta com a inteligência do homem. Nisso, a mulher é mais inteligente. O filósofo francês Jean-Paul Sartre (1905-1980), embora insuportavelmente feio, tendo sido comparado a uma caixa de rapé ou um minúsculo Buda, dizia que “Ninguém dá a menor importância ao fato de que um escritor célebre seja bonito ou feio.” Ei-lo!

Sosígenes Bittencourt