Cascatinha da Matriz – por Sosígenes Bittencourt.

(A Cascatinha da Matriz e Manoelzinho de Horácio)

Papai me contava e mamãe assevera que quem construiu essa praça, chamada Dom Luis de Brito, foi Horácio de Barros, pai de Manoelzinho Rangel. Depois, diz que Horácio de Barros não foi à inauguração da obra, porque estava acometido de Tifo. Assistiu ao evento, debruçado na janela de sua casa, na Rua Imperial, popularmente conhecida como Rua do Meio.

Era nessa Cascatinha que Manoelzinho de Horácio tomava cachaça com caramelo de menta, contava piada, soltava lorota e empulhava o mundo. Manoelzinho de Horácio partiu para a Eternidade aos 73 anos, já faz algum tempo. Ele contava que o médico que lhe tirou o baço e garantiu-lhe um ano de existência morreu primeiro.

Certa vez, Manoelzinho de Horácio me contou que fez um frio tão grande em Vitória de Santo Antão que o Leão Coroado, na frente da Estação Ferroviária, saiu do monumento e foi se esconder dentro de uma barbearia do outro lado da Praça. Manoelzinho de Horácio era jogador de futebol. Diz que, um dia, ele foi bater um pênalti, quando o adversário Tenente Índio o ameaçou: – Se fizer o gol, me apanha! Manoelzinho não teve dúvida, furou o gol e saiu correndo do estádio José da Costa, solto na buraqueira, pelo Dique afora.

Sosígenes Bittencourt

50 anos: da 1ª eucaristia à longevidade autônoma……..

50 anos se passaram. O mesmo desejo, a mesma vontade,  coincidentemente, no mesmo lugar. Na parte inicial da história, vivenciada  no domingo,  09 de novembro de 1975, reinava  o ineditismo, o sagrado,  misterioso e supremo.  Em 2025, meio século depois, uma  realidade nua e crua, o esforço consciente,  apostando na colheita frutificada em forma de  longevidade autônoma. Mas a vontade  foi a mesma: correr, correr e correr., 

Essa foi a vontade soberana que ligou os dois recortes temporais, separados por exatamente 5 décadas, sublinhadas, aqui, em forma de registro histórico. 

Explico:

No longínquo domingo, dia 09 de novembro de 1975, guiado pelo farol da expectativa, aos 8 anos de idade, acordei-me sem  a necessidade de fatores externos. Isto é: ninguém precisou me chamar. Após muitos encontros, aulas  de catecismo e ensaios, finalmente, havia chegado o dia da minha primeira comunhão.

Cabelo devidamente cortado, roupa nova para vestir e nos pés,  sapatos zero quilometro.  O “kit eucaristia” nas mãos,  cuidadosamente guardado para testemunhar,  ratificar e acessar, com fé de ofício,  a universal  fé católica.

Lembro-me como se fosse hoje: papai tomava café na sala e,  ali mesmo, de pé, em cima de um  sofá, após o banho, mamãe penteou  meus cabelos e arrumou-me  todo. Ao final, com voz imperativa,  disse : “agora,  fique sentado no terraço, quieto,  para não amassar a roupa, esperando a hora de ir” – o que prontamente foi realizado com sucesso.

Da minha casa  – Avenida Silva Jardim, número 209 – até a Igreja da Matriz, para chegar logo,  minha vontade era apenas uma: correr, correr e correr….

O tempo seguiu na sua contagem  impiedosa, constante, perene, sem vexame  ou mesmo atrasos, para chegarmos a uma  manhã de domingo, num “mesmo” 09 de novembro, à mesma Avenida Silva Jardim, defronte da imponente e secular Matriz de Santo Antão, há exatamente 50 anos, para participar de um evento esportivo, cujo o desejo reinante era  o mesmo de antes,  ou seja:  correr, correr e correr….

Situações traçadas, alinhavadas e equacionadas pelas mãos daquilo que acostumamos chamar de destino, acontecem todos os dias, cabendo a nós, simples mortais, fagulhas de um  vulcão em erupção ou mesmo um ponto de escuridão situado na imensidão cósmica, termos a sensibilidade para torna-los importantes e únicos, ou seja: silenciosamente, vivenciá-los de maneira  marcante, celebrando-os com um brinde à memória.

Aliás, vale sempre lembrar: ninguém poderá  ser sujeito útil  à coletividade ou mesmo aos mais próximos,  sem antes, saber existir para si mesmo, sem comparações, afinal,  somos uma peça rara e exclusiva,  no sempre misterioso mercado  da existência. 

Alcoólicos Anônimos da Vitória – um breve relato…

 

Recebi, ontem (10), da colega Imortal da AVLAC – Academia Vitoriense de Letras, Artes e Ciência -, Marie Cavalcantti, um “panfleto” realçando um fato curioso, ocorrido na nossa cidade, envolvendo a história do A.A. antonense. Abaixo, portanto, segue as informações recebidas.

“A primeira mulher a fazer parte do AA em Vitória foi Noêmia Barnabé como participante honorífica. Foi entitulado madrinha do AA. Ela não era alcoolista mas pediu para fazer parte dessa associação para ajudar os dependentes químicos e muito o fez . Sua participação dentro do AA foi bastante frutífera com vários depoimentos . Atuando por mais de 25 anos”

Marie Cavalcantti. 

Curiosidades vitorienses: Código de Posturas (1897)

Dando continuidade a coluna de curiosidades antonenses, publicaremos trechos do CODIGO DE POSTURAS do município da Vitória, datado de 1897. Os trechos foram retirados do volume 07 da revista do Instituto Histórico e Geográfico da Vitória, editada em 1977. São muitas curiosidades, que valem a pena serem disponibilizadas.

Os nossos jardins – José Aragão – 1946.

Nada concorre mais para o embelezamento de uma cidade do que os jardins públicos, os parques e a arborização.

Emprestam eles ao aspecto monótono das construções cores variadas, formando contrastes interessantes com a aridez das nossas artérias, constituídas, em grande parte, de prédios de arquitetura rudimentar e pobre, sem maior beleza.

O jardim é um oásis artificial em pleno centro urbano, recanto ameno cuja paisagem alegre e poética satisfaz ao espírito cansado do labor quotidiano, valendo como refrigério e lenitivo.

Por isso é que as praças ajardinadas são o ponto preferido pela população, nos momentos de folga, para descanso e passeio.

Temos, apenas, três praças com jardins e canteirinhos: a do Leão Coroado, Diogo Braga e a Dom Luiz de Brito, mais conhecida como Praça da Matriz. Dessas, apenas o jardim da última apresenta aspecto agradável, muito embora sem flores, que são o mais belo ornamento, não porque não as produza, mas porque são colhidas tão logo desabrocham, o que é para lamentar. O jardim da Praça Leão Coroado, que já oferece aspecto bem interessante, e os canteirinhos da Pracinha do Braga estão em decadência, à míngua de cuidados.

Queremos crer que o ilustre Chefe do Executivo Municipal, tão zeloso do bem público e do progresso da cidade, voltará em breve as suas vistas para esses logradouros e os entregará a mãos zelosas e hábeis, que poderão transformá-los rapidamente.

Não nos falta água para a conservação dos nossos jardins. Faltam jardineiros.

Decerto, não tardarão eles a aparecer por determinação do governo municipal.

 

José Aragão – Editorial do Jornal O Vitoriense de 02 de Fevereiro de 1946.

10 novas UTIs na APAMI – inauguração em breve!

Em constante processo de melhoramento, no que se refere aos serviços prestados, equipamentos hospitalares  e estrutura  física, podemos dizer que, hoje, a APAMI  celebrou de mais um gol de placa.

Referência em atendimento médico assistencial em nossa cidade e na região,  desde a metade do século passado (XX), a APAMI investiu na construção de 10  novas UTIs.

Com as obras  concluídas e já com os devidos equipamentos prontos para serem acionados, na manhã de hoje, sexta-feira, 25 de julho, a instituição recebeu uma vistoria dos  técnicos  dos órgãos competentes,  no sentido da aprovação para a devida ativação do novo espaço.

Vencido as questões burocráticas, naturais para processos dessa envergadura, a direção da APAMI, representada pela gestora Socorrinho da Apami, juntamente com toda equipe funcional, deverão, em breve,  receber a governadora do estado,  Raquel Lyra,  para em ato inaugural,  acionarem o botão do play  dessa marcante e importante operação,  na referida instituição hospitalar. Vale salientar, que o governo do estado jogou papel importante na materialização desse arrojado empreendimento.

Portanto, eis aí, uma notícia que gera uma positiva expectativa na população antonense e nos nativos das cidades circunvizinhas, nas  questões relacionadas ao atendimento da chamada saúde pública. Essa é uma daquelas iniciativas que todos saem ganhando. Parabéns para APAMI Vitória. 

Instituto Histórico e Geográfico de Pombos – a semente foi lançada!

Por uma feliz iniciativa de alguns iluminados munícipes da vizinha cidade de Pombos, outrora distrito da cidade da Vitória de Santo Antão,  até 1963, na noite de ontem, quinta-feira, 10 de julho de 2025, foi constituído, oficialmente, o Instituto Histórico e Geográfico de Pombos.

A Sessão Solene aconteceu na Sede da Banda Padre Galdino e teve início por volta das 19:30h. O evento contou com um bom número de pessoas. Além dos nativos, envolvidos na causa da preservação e educação patrimonial,  o encontro também celebrou  a presença da  senhora Claudia Pinto (RIHPE) e o doutor José Soares (IAHGP), ambos representando o movimento vinculado à consolidação da pauta da preservação histórica,  em nível estadual.

Na qualidade de figura central e emblemática para a historiografia da cidade de Pombos, a ativista e semeadora das boas causas, professora Gasparina, com a autoridade dos seus 84 anos, deu o tom do evento. Empolgou a todos  com o seu entusiasmo, com a sua mente privilegiada e o seu amplo conhecimento sobre os fatos marcantes e o  cotidiano local.

Portanto, a semente foi lançada em campo fértil e certamente irá vingar, crescer e florescer, até porque a cidade de Pombos tem uma rica história, um povo animado e vibrador. Elementos necessários de que precisa um Instituto Histórico e Geográfico, para avançar e se consolidar. Desejamos boa sorte e sucesso para todos os envolvidos nessa verdadeira empreitada  cívica e cultural.

Instituto Histórico e Geográfico de Pombos: agora é oficial!

Boas notícias da nossa vizinha cidade. Com o inicio das atividades, de maneira oficial, a cidade de Pombos contará com um Instituto Histórico e Geográfico, no sentido da preservação e promoção da sua história. Emitido pela diretoria provisória, segue o convite a todos as pessoas que se identificam com essa verdadeira causa cívica!

José de Barros de Andrade Lima – primeiro prefeito da Vitória!

Não nasceu na Vitória de Santo Antão, aquele que foi o primeiro prefeito da cidade, todavia ele adotou a “República das Tabocas” como sua terra natal, dedicando-lhe todo seu potencial como profissional da medicina e como líder político e administrador público.

Membro de conceituada família pernambucana, nasceu José de Barros de Andrade Lima, na cidade de Igarassu, no dia 5 de setembro de 1853. Estudou medicina na Bahia. Ao retornar de Salvador fixou residência na Vitória de Santo Antão. Profissional competente e dedicado granjeou rápido a simpatia e a admiração dos vitorienses. Com a proclamação da República, 1889, derivou para a política, filiando-se ao partido “Autonomista”, liderado em Pernambuco pelo Barão de Lucena. Nos meses que seguiram à proclamação da República, as Câmaras Municipais foram dissolvidas. Suas atribuições passaram a ser executadas pelos “Conselhos de Intendência”. Em 1890, José de Barros, indicado pelo governador provincial, Barão de Lucena, assumiu a presidência do “Conselho de Intendência” da Vitória. Presidente desse Conselho, ele iniciou, na praça 3 de Agosto, a construção do Paço Municipal, prédio até hoje utilizado pela Câmara dos Vereadores. Em setembro de 1892 foi eleito prefeito da Vitória, na primeira eleição válida realizada no município, no regime republicano, cargo que voltou a ocupar no período de 1913/1916, em face da renúncia, em 1912, do dr. Henrique Lins Cavalcanti de Albuquerque. Sempre combatente e dinâmico, ora no governo, ora na oposição, José de Barros de Andrade Lima foi ainda vereador, (presidente da Câmara), deputado e senador estadual. Faleceu no Recife no dia 27 de abril de 1926, com a idade de 72 anos. Em vida foi casado com a senhora Dulce de Andrade Lima.

Pedro Ferrer

…e o São João era assim… – Por Alfredo Sotero (em 1947)

Quando o Brasil era brasileiro e não havia comunistas, nem as moças solteiras sabiam as coisas que sabem hoje, o São João era tão lindo!

De manhã, os bacamartes estrondejavam defronte da igrejinha, nas perigosas viradas do cocho; e os meninos acordavam assustados, querendo saltar da cama de camisola arrastando, para verem como se acordava São João, que a lenda suave dizia que estava dormindo sem parar, no silêncio do céu.

De noite, depois de cear pamonha de côco, canjica, milho verde assado, milho verde cozido, bolos sem conta, a gente ia acender a fogueira votiva que ardia estrelejando o espaço com milhões de trêmulas centelhas. E ia ver no espelho ou na bacia com água, à luz fugaz, às próprias faces, para saber se para o ano ainda estava vivo. E a Maroquinhas, a moça nervosa, espiava e não via, por mais que fizesse, e saía chorando pela casa, a dizer a todos que no ano seguinte já não era deste mundo.

E os “mosquitos” passando pelos pés da gente, as meninas correndo e chorando, para as queixas sem fim às mamãezinhas, contra os meninos desesperados, que só queriam jogar nelas os “diabinhos”…

E o Sebastião, um moleque escanzelado e fedorento, que tinha fé em São João, mas muito em Nosso Senhor Jesus Cristo, e espalhava as brasas da fogueira, que parecia então uma enorme melancia de fogo e madura, aberta, sobre cujas as brasas o moleque danado passava, indo e vindo, como se pisasse flores, mostrando a força da fé…

E os rapazes da vila, depois que as devotas voltavam do terço, para se mostrarem às namoradas, acendiam os buscapés, que abriam na noite as faixas fulgurantes, como línguas de prata líquida, que, soltos no ar negro e calmo, cabriolavam, tombando depois sobre a terra, numa agonia luminosa, estertorante, envoltos num sudário de luz irisada e diáfana, como uma aurora sidérea, nas desoladas regiões polares.

Tudo passou. Calaram-se os bacamartes que os doutores desbrasileirados sepultaram nos báratros do oceano. Tudo se foi. Somente a saudade no coração da gente que ainda vive, vinda daqueles tempos felizes, ainda chorando na estrada do tempo. E quando todos morrerem tudo será silêncio, que é o tumulo branco das recordações extintas.

Alfredo Sotero de Farias, foi natural de Apoti, (Glória do Goitá), diplomado em Farmácia e Química, exerceu sua profissão em Laboratórios. Freqüentando, desde a adolescência, esta cidade e possuindo acentuado pendor para as letras, colaborou na imprensa local e na interiorana, passando a ser assíduo colaborador do Jornal do Commércio, do Recife. Foi um dos fundadores da “Academia de Letras dos Supersticiosos”, com Samuel Campelo, Célio Meira, José Miranda e outros. Em dezembro de 1915, adquiriu e instalou a Rua Barão de Rio Branco nº 22 uma tipografia (Tipografia Gutemberg), que depois vendeu a Célio Meira, na qual foi impresso o bi-semanário “A Coluna” (1916 – 1919), um dos mais bem elaborados jornais do interior. Faleceu em 1981.

Venceu Vitória de Santo Antão – por José Maria Aragão.

Não sei se os vitorienses mais jovens sabem a origem do nome “Vitória de Santo Antão”. No governo discricionário de Getúlio Vargas (1937/1945), foram dissolvidos o Congresso Nacional, as Assembleias Legislativas e as Câmaras Municipais; todos os governadores eleitos foram substituídos por interventores federais que nomeavam os prefeitos dos Municípios.

No início dos anos 40, foi baixado um decreto-lei federal proibindo a existência de municípios com o mesmo nome. Teriam prioridade para manter seus nomes os municípios mais antigos e os que fossem capitais de Estados. Na época, havia três Vitórias: a capital do Espírito Santo, outra na Bahia e a nossa, em Pernambuco. Assim, a  única que poderia manter seu nome seria a capital capixaba.

Meu pai, José Aragão, então prefeito da Vitória (PE), considerou que o tema, por sua importância, deveria ser objeto de uma consulta popular e convocou um plebiscito. Apresentaram-se dois nomes: VITRICE, sugerido por um grupo liderado pelo então Chefe do Posto de Higiene local, o médico vitoriense dr. Holanda Barros e outro, apoiado pelo prefeito, que propunha agregar ao nome Vitória, o do padroeiro da Paróquia de Santo Antão, já homenageado com uma belíssima imagem, em tamanho natural, existente no altar-mor da Igreja Matriz.

A população, por larga maioria, optou pelo segundo nome, com o que o antigo município da Vitória passou a ostentar o seu nome atual. Outro município atingido pelo decreto-lei foi Vitória da Conquista, na Bahia, mas por motivo diferente: um município mineiro – Conquista – era mais antigo que o baiano e teve prioridade para manter seu nome e a atual Vitória da Conquista teve de mudar sua denominação e o fez como homenagem à conquista, pelos portugueses, de território antes dominado por população indígena.

José Maria de Aragão  Melo.