Momento Cultural: EU+EU – por ADJANE COSTA DUTRA

Adjane Costa Dutra (2)

Eu+Eu.

Eu+amigo

Eu não digo.

Eu negando o meu amor,

tão cheio de esplendor.

Eu me tornando sincera e a sinceridade fugindo aos meus olhos.

Eu do passado, presente, futuro.

Eu não eu.

Eu dupla face eu.

Eu matéria, eu esfera.

Eu jovem, eu ser.

Eu claridão na escuridão.

Eu infinita obra do eu.

Eu essência por ser, por proceder.

Eu paralelas linhas do universo.

Eu individual e que nesse astral,

ninguém me leve a mal.

 

(TAPETE CÓSMICO – ADJANE COSTA DUTRA – pág. 61).

Momento Cultural: Amor Platônico – por João do Livramento

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Quem te conhece

Quem já te viu

Cabelo de sol

Vestido de anil

 

Caminhas bem lento

Com muita postura

Que corpo tão belo

De além formosura

 

Tens lindo sorriso

Teu rosto é perfeito

Lá longe te avisto

Me apertas o peito

 

Se olhas pra mim

Eu finjo não ver

Nome não tenho

Mas deves saber

 

Te amando calado

O sonho é só meu

Tu és uma princesa

E eu sou um plebeu

João do Livramento.

Momento Cultural: A Palmeira e o Vento – por Corina de Holanda

Corina de Holanda

Vês? A palmeira entende a voz do vento

Ritmando o requebro de seus ramos,

Se ele canta em surdina, os gaturamos

Repetem para ela em canto lento –

 

Agora se acelera o movimento…

Há qualquer coisa que não divisamos,

E só por intuição, adivinhamos

Quais os motivos do aceleramento –

 

Antes, um agitar de asas mansas

Pareceu – De repente, as verdes franças

Se emaranham num louco frenesi –

 

Faz a gente pensar, sinceramente,

Que o vento é brasileiro e, certamente,

Solfeja, vez por outra, o Guarany.

 

1971

(Entre o céu e a Terra – Corina de Holanda – 1972 – pág. 59).

MOMENTO CULTURAL: CONTRADIÇÃO – por Aluísio José de Vasconcelos Xavier

Aluízio José

Na cidade, a iluminação frenética
do Salvador, a chegada anunciava
e contrastando com tal paisagem estética
na calçada um pobre negro agonizava.

Era a figura doente de uma criança
filha de um erro, fruto de um pecado
e nos olhos tristes de seu corpo nu, gelado
não se via nenhum fio de esperança.

Aproxima-se dele um maltrapilho.
Toma-o nos braços como a um filho
retirando-o daquele leito de cimento.

Meia-noite, então, anuncia o sino.
E nesta hora exata do Nascimento
morreu, à míngua, mais um Jesus-Menino.

Aluísio José de Vasconcelos Xavier, filho de Aloísio de Melo Xavier e de Eunice de Vasconcelos Xavier, nasceu no dia 7 de agosto de 1948. Formado em Direito, exerce sua profissão no Foro do Recife onde reside. Foi Secretário para Assuntos Jurídicos da Prefeitura do Recife. Professor universitário. Poeta de grandes méritos

Momento Cultural: A VIDA – por ADJANE COSTA DUTRA

Adjane Costa Dutra (2)
A vida é um planalto arquitetal.

É um muro alto sem quintal.

A vida é um símbolo da verdade do amor.

Vida daqueles que veem na vida, uma vida envolvida,

na vida de virtudes.

Vida de caminhar na mais longa estrada,

e um dia chegar a um certo lugar.

As vidas nascem de um intensivo passo de amor,

mas há vidas que se apregoam na maldição e vivem só de

desilusões, sim tudo isso é a vida, que caminha com a serena

virtude.

Existem porém pobres vidas que sofrem de compaixões,

são as vidas solitárias, são os laços acorrentados de pobres

vidas na sua solidão.

 

(TAPETE CÓSMICO – ADJANE COSTA DUTRA – pág. 60).

Momento Cultural: Ser Filha de Maria – por Corina de Holanda

Corina de Holanda

Ser “Filha de Maria” é ser na terra,
Quase aquilo que os anjos são no céu;
Viver do amor que só pureza encerra
Contemplando a Jesus quase sem véu…

Ser d’Ele irmã, viver ao lado seu
Na intimidade que o pavor desterra;
Dizer: Meu bom Jesus, sois todo meu!
Ao pecado eu declaro guerra.

É possuir dos títulos o mais belo.
É ter, num traço azul, puro e singelo,
Fonte perene de eternal poesia…

Ser “Filha de Maria”, é tanta cousa
Sublime, tanta, que dizer não ousa,
Por ser bem pobre a minha fantasia.

(Entre o céu e a Terra – 1972 – Corina de Holanda – pág. 37).

Momento Cultural: Encantamento – por Henrique de Holanda

Henrique de Holanda Cavalcanti (3)

Por que não sinto, então,

palpitar no meu Eu

a renúncia de tudo?

Vida,

onde se esconde a perfeição?

Pensamento, que pecado é o meu,

que te conservas mudo?

Responde:

A perfeição onde está escondida?

A razão de viver,

onde se esconde?!

Mundo, por que me mentes tanto?

Ouro, Prazeres, Glórias,

sois tormentos,

transformando o meu riso em dor e pranto…

Amor, Vaidade, Anseio…

fragmentos,

no alicerce do Nada;

poeira da noção

vinda e arrastada

pelos ventos sombrios da Ilusão…

Felicidade, quem já te conheceu?

Tranquilidade por que nunca te vi?

Realidade, onde estás escondidas?

Dá-me os exemplos teus…

CRENÇA

Eu…

Eu…

Eu…

Sim. Como enxergar a Perfeição em ti,

se és a VERDADE e a VIDA,

na ideia de Deus!

 

(Muitas rosas sobre o chão – Henrique de Holanda – pág. 26 e 27).

Momento Cultural: DESIGUALDADE SOCIAL – por Heitor Luiz Carneiro Acioli

MEU JEITO - Em versos e prosas - HEITOR LUIZ CARNEIRO ACIOLI
Desigualdade social, ora furacão, ora grande influência para a competitividade no mundo. Por que fazer isso? Por que enfiam a cara em discussões sem fim para provar que são superiores? Para provarem que são invencíveis? Não, fazem para provar que apesar de seus defeitos e de suas dificuldades podem ser iguais
àqueles que possuem saúde e “mentalidade perfeita”.

(Meu Jeito em Versos e Prosas – Heitor Luiz Carneiro Acioli – pág. 04).

Momento Cultural: Grito da Juventude – por ALBERTINA MACIEL DE LAGOS

Profª Albertina Maciel de Lagos

Ao longo da estrada,

à margem do caminho,

topei numa pedra,

cotovelos apoiados aos joelhos

e mãos o rosto encobrindo.

Cautelosamente,

aproximei-me devagarinho,

daquela criatura

que ali estava

como que concentrada

a meditar…

talvez, quem sabe?…

– uma alma envolta na cerração

Do mais cruciante abatimento,

carpindo bem triste solidão,

presa aos grilhões do sofrimento

E ali, esperando fiquei

té que aquele alguém falasse

e se pronunciasse…

Era preciso esperar, Senhor!

E, enquanto o silêncio perdurava

entre os dois,

pude, extasiada,

contemplar a tarde

num cenário de beleza

no palco da Natureza.

– o Sol, rubro agonizando

no Ocaso, a estrertorar

enquanto

num saudoso pipilar

que se confundia

como o toque da Ave Maria,

o passaredo, o espaço entrecortando,

os ninhos buscavam regressando.

E, ali, estacionada permaneci

Aguardando a sua voz.

De repente…

eis que, o rosto descobrindo,

meio sobressaltado,

pude contemplar

aquele alguém

a quem

eu quisera tanto

a sua dor amenizar

Logo perguntei: – Quem és?…

E ele, enfaticamente, jogando a basta cabeleira:

– Sou a Juventude…

essa juventude (segundo afirmam):

“transviada”… “má”, “fútil”… leviana…

cuja vida – um conflito!…

e, nessa luta insana,

fracassada, desiludida,

mas… gargalhando como o palhaço

sem jamais saciar

a sua sede de Felicidade,

vai em busca das tavernas,

beber, fumar, jogar,

e… numa ânsia incontida

disfarçando os seus fracassos, a sua Dor,

ei-la que se atira

cantando, sacacoteando

a fazer o “passo”

à loucura bacanal

do carnaval.

E por repudiada no seu idealismo,

a juventude sente,

no vazio coração

(todo egoísmo, toda ambição),

que algo lhe está faltando,

algo essencial,

sublime… (sei lá)!

 

– Algo que amenize os dias seus…

(respondi incontinente):

– Está lhe faltando – Deus!

– Não! (refuta o moço)

a Juventude ainda crê…

apesar do abismo que a ameaça

ela exclama, olhando o Infinito:

– Senhor, escuta a nossa prece,

prece de jovens esquecidos,

incompreendidos,

famintos de apoio e proteção,

de tolerância e sobretudo,

de… Amor!

 

Vê, Divino Amigo:

a mor parte dos pais

não nos compreende…

recusam dissipar as nossas dúvidas,

resolver os nossos problemas,

e, jamais querem ser nossos confidentes,

nossos melhores amigos!

 

– Também, na nossa Faculdade,

não Te encontramos, ó Deus!

Porque o ambiente estudantil

sempre hostil,

(pura atmosfera de laicismo)!

nada mais é

que um triste baquear da Fé!

– Eles, os mestres,

eles, os nossos amigos

não nos mostraram a tua Face…

Mas!

E os jovens que já andavam fracos,

quase sucumbiram, Senhor,

sob a influência dos outros,

dos maus,

durante muito tempo!

E, a “uma voz”

Resolveram então,

com os companheiros desajustados,

exigir dos governantes

as suas reivindicações

os seus direitos postergados…

Norteada, erradamente,

pela estrela vermelha

do Comunismo dissolvente,

a Juventude vacilante,

longe da senda do Bem,

assim, exaltada,

desenfreiada,

não soube pedir!…

– Saiu a gritar, a plenos pulmões,

em praça pública,

amotinada,

declarando greves,

depredando, apupando, vaiando…

– Daí, Senhor,

quase tudo perdido

e, pouco ou nada conseguido!

E agora?…

Resta-nos as prisões, duros castigos

em represália!

– Por quem És, ó Deus,

transforma o coração da gente,

– o coração altivo da Juventude

conservando-o intangível

aos ataques do Mal!

e, numa Altitude, bem ao lado Teu,

ela saberá, mais forte, regenerada,

feliz, instruída, varonil

tornar mais glorioso o Brasil!

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

E o jovem quedo, silenciou!…

– Obrigada, Juventude, (disse-lhe eu).

Agora o meu conselho previdente,

amigo, experiente:

para seres sadia e venturosa,

para na vida, feliz, sempre venceres,

continua a pedir, a gritar,

mas… com toda prudência

e veemência

da tua força jovem:

– Queremos Luz, Senhor,

e dos homens compreensão

e, sobretudo – Amor!

 

(SILENTE QUIETUDE – ALBERTINA MACIEL DE LAGOS – pág. 55 a 59).

Momento Cultural: ALMA CÂNDIDA – por ADJANE COSTA DUTRA

Adjane Costa Dutra (2)

Minh’alma cândida é como uma criança que foge de um jardim

de flores brancas.

A noite vagueia, oh! alma por entre as praças.

Minh’alma cândida é como uma criança que procura canto e não se encontra.

Dorme meu corpo e minh’alma cândida visita o templo de

outras almas perdidas.

Na penumbra da noite, oh! minh’alma cândida,

Se tu encontrásseis outra alma e numa íntegra essência

Formásseis e candismo do amor…

(TAPETE CÓSMICO – ADJANE COSTA DUTRA – pág. 59).

Momento Cultural: A Vida e as Fantasias – Stephen Beltrão‏

Stephem Beltrão

A vida é cheia de fantasias, ilusões,

mistérios e realizações!

O plano nosso de cada dia é a receita

da paz,

da felicidade, do amor e do prazer…

As fantasias não sobrevivem sem as ilusões.

O sonho de cada noite é a procura das fantasias,

das miragens

e das realizações diárias,

alimentadas pelos planos e pelas ilusões.

Por fim,

tudo é a vida.

Momento Cultural: O Morrer do Sol – por ALBERTINA MACIEL DE LAGOS

Profª Albertina Maciel de Lagos

– Chega a Tarde!… e o Sol?…

parece um Rei que fora destronado

e, humilhado se exila

da pátria sua… e longe, desprezado,

de Dor se aniquila!

 

– vem o Arrebol…

No seu rubor, o que se faz?!!!

– De Tebo anuncia o instante final

Enquanto, nuvens amarguradas,

afoguedadas,

recitam, silentes, o “descanse em paz”

numa Prece Vesperal!

 

Ouve-se um soluço gemente,

bem triste, lento, plangente…

– E o Sino a dobrar a Ave Maria

anunciando o expirar do Dia!

 

A Lua que é do Sol esposa amada,

Pálida aparece,

da Noite, no véu negro enlutada,

de Dor se esmaece!

 

Assistam-na, as Estrelas, suas Damas

que lhe fazem companhia…

do seu Amor, nas prateadas chamas,

a Terra erma alumia!

 

Quanto Mistério no Crepúsculo,

no instante épico do Sol por!

O homem sente-se um ser minúsculo,

ante a grandeza do Senhor!

 

E, do Poeta, a alma sonhadora,

feliz, crente, extasiada…

de Luz sentindo a Sede abrasadora,

para o Além é transportada!

 

(SILENTE QUIETUDE – ALBERTINA MACIEL DE LAGOS – pág. 54).

Momento Cultural: Cérebro – por Henrique de Holanda

Henrique-de-Holanda-Cavalcanti-3

Na mocidade,

a razão quase sempre se encandeia,

tornando a vida uma mera ingenuidade.

O cérebro da humana criatura

– quem é moço concebe

ser uma taça de ilusões bem cheia

que o coração segura e a alma bebe.

Mas, a velhice vem

fermentando a bebida outrora pura…

e o coração, que forças já não tem,

vendo a alma fugir, derrama a taça,

que ao se precipitar de grande altura

no chão se despedaça…

 

(Muitas rosas sobre o chão – Henrique de Holanda – pág. 25).

Momento Cultural: Cavalo Alado – por GUSTAVO FERRER CARNEIRO

Gustavo Ferrer Carneiro

 

 

Meu rudado mais fino

Passo escanhoado

Aquele cavalgar abafado

Minha prenda mais amada

Montai em meu cavalo

Libertando seu júbilo

Estando só com meus pensamentos

 

Na passada me faz bem

No galope martelado

Chega mais rápido

Sentindo os ventos alísios no rosto

As gotas de chuva no peito

 

Ao passo monógamo

Em busca de pequenas vitórias

Quem sabe…

Grandes fracassos

 

O outro caxito

Deixa saudade

Estrela na testa

Pé esquerdo branco – ajé…

Na carreira desmedida

Pega o rabo do boi

Prega no pescoço

Dois cavalos dois vaqueiros

Tênue como névea

Asas que atem sem ruídos

 

Na poeira, no riacho

Nas barreiras

Na faixa

O chão se abre,

No sucesso do valeu

Engole cavalo, cavaleiro e boi

Reservas transcendentais

Naquele cavalgar abafado

 

Levanta os pés no meio da poeira

Pelo lusidio

Correndo por entre as juremas

Somem-se no meio da noite

O cavalo estropiado

Não se entrega

Como lampejo de relâmpago

Em noite de tempestade

Crava-lhe as esporas

O cavalo risca

O sangue desce

A realidade cobra

 

Tem que aceitá-lo ou rechaçá-lo

Sorridente e carrancudo

Se detendo na raiz do coração

Em busca da mulher amada

Tem gado, tem vaqueiro

Tem corrida de Mourão

O que vale é boi no chão

É a lei da Vaquejada
(MOSAICO DE REFLEXÕES – GUSTAVO FERRER CARNEIRO – pág. 31).

Momento Cultural: Lenda – por Corina de Holanda

Corina de Holanda

 

Contam que a Virgem Maria

Que é Deus a jardineira,

Planejou no céu, um dia,

Uma festa brasileira

 

Na celestial floreira

Já muitas flores havia…

Porém, a Virgem, queria

Por mais uma… E a maneira,

 

Foi dizer para os Arcanjos:

“Mandem à terra dois anjos.

Mas, quero flor sem espinho”.

 

Então dois Anjos desceram,

E entre os jasmins escolheram

E levaram – Socôrrinho.

 

1970

 

(Entre o Céu e a Terra – Corina de Holanda – pág. 44).

Momento Cultural: JÁ QUE TE FIZ SOFRER – por Heitor Luis Carneiro Acioli

MEU JEITO - Em versos e prosas - HEITOR LUIZ CARNEIRO ACIOLI

Que crueldade fiz a ti! É imperdoável o que te fiz. Mas “minha fada”, não me deixe! Prometo os sete mares velejar para pôr um fim naquilo que te faz sofrer. Se te fiz algo errado, perdão e volta pra mim! Vou até o fim do mundo pra me redimir contigo.

Se quiseres que eu extinga minha vida, farei sem problemas, afinal é o mínimo que posso fazer, já que te fiz sofrer.

(Meu jeito em versos e prosas – Heitor Luis Carneiro Acioli – pág. 03).