Momento Cultural: Saudação a Recife – por ALBERTINA MACIEL DE LAGOS

Profª Albertina Maciel de Lagos

Composta, especialmente, num preito de homenagem a nossa querida e decantada “Veneza Brasileira” na passagem dos seus 350 anos de fundação.

Século XVI…

Ano de 1630

Na ilha do Mosteiro de Santo Antonio!

Qual rico é precioso patrimônio

invadida foste, Recife, por Nassau,

quando, havias surgido para a luz da vida,

te escravizaram, nova “Terra Prometida”,

enquanto o nome teu – suave melopeia

trocou, o holandês, pelo o de “Mauricéia”!

Salve, Recife, “Veneza Brasileira”

Nesga do Brasil, Norte Oriental!

em ti, eis que, Duarte Coelho Pereira

concretizou, feliz, o seu Ideal!

            Eu te saúdo, Recife,

no murmurar sonoro dos teus rios:

– O Capibaribe e o Beberibe a cantar,

ou revoltos, em forte assobios,

até que se vão, no Oceano, desaguar!

            Amo e venero, Recife:

de teus filhos, o Valor e o Heroísmo

em lições eloquentes de Civismo

que, ciosos, os Museus sabem arquivar

e à posteridade ser dado consultar!

            Amo-te, Recife, porque

a tua História bonita me fascina

e empolgar, afaz, a minhalma de menina!

            Licença, Recife!…

Transporto-me, agora, a “Marim dos Caetés”,

onde a vaga espumante, vem beijar-lhe os pés!…

dela, enamorado, e, distante, ainda,

Duarte Coelho exclamou: – “Ó linda”!…

antes, fora capital, rica, potentada,

pelos holandeses, depois, incendiada!…

– Que ouço, Recife? – A repercussão de um eco…

Ah! Já sei, muito bem, do que se trata,

– um feito que me enleva e arrebata:

– Bernardo Vieira, dando, no Velho Senado,

da Liberdade, na América, o primeiro brado!

Logo, o teu gênio indomável se reflete

na brava “Revolução de Dezessete”,

surgindo a “Confederação do Equador”

contra a Constituição e o Imperador,

entre outros, com Frei Caneca fuzilado

que, da Pátria, torna o amor mais acendrado!

E, na tela do meu cérebro sonhador,

de Nunes Machado, a figura altaneira,

veio tombar na “Revolução Praeira”!

Em Maria de Souza, Recife, eu te saúdo,

a mãe, que, a Pátria os filhos dando, deu-lhe tudo!

            Amo-te Recife:

na “Insurreição Pernambucana”

que provocar fez, a luta insana

que extinguiu, no Brasil, do ousado invasor,

de vinte e quatro anos, o jugo opressor!

Amo-te, no “Clube do Cupim”, organizado,

para, na escravidão, dar o golpe planejado!

Amo-te, Recife, na Figura imortal

do teu grande Bispo – o heroico, D. Vital!

            Sim, amo-te:

– Filha primogênita do “Leão do Norte”

que, rompante, a rugir, saber enfrentar a morte

se, as suas fronteiras vem transpor

o perigoso e ousado invasor!

            Es bela, Recife,

no areial das tuas praias, contrastando

com os esguios coqueiros farfalhando!

            E, ainda,

co’as velas brancas, ao vento, enfunadas,

dos pescadores, rústicas jangadas!

És bela, quando, em noite de luar,

num abraço, a Lua, se envolve ao mar!

– Amo-te, Recife, na voz altiloquente

dos teus monumentos que, ao coração da gente

desvenda todo um Passado, cuja Glória

foi registrada nos Anais da História!

E agora?… Ouço, um chiar de rodetas…

Ah! já sei!…

Vem do teu primeiro engenho aparelhado,

Pela “Senhora da Ajuda” patrocinado!

Em cada recanto teu, deparo, orgulhosa,

ora com um “marco” ou “fortaleza” gloriosa!

            Eis que, Recife,

de “Massangana”, engenho de Pernambuco,

para a vida, surgiu, Joaquim Nabuco,

que, um dia, do imperial palácio, no gradil,

declarou: – “não há mais escravos no Brasil”!

– Outrora, Recife, (quanto romantismo)!…

dos jovens estudantes, à doce amada,

as “serenatas” ao luar da madrugada!…

– Ouço, Recife, que melodia!

das torres dos teus Tempos, a apontar os Céus

os sinos convidando a bendizer a Deus!

            Admiro, Recife:

os teus palácios suntuosos,

teus edifícios na vertigem das alturas

contrastando com a miséria e as agruras

            dos mocambos infecciosos!

– Admiro as tuas moças tão bonitas,

nos passeios, se expondo tão “catitas”!

– De joelhos, admiro os teus artistas,

sejam poetas, músicos ou pintores

que, da Glória, te levam aos esplendores

em tão sublimes e imortais conquistas!

            Amo, Recife:

As tuas Forças Militares que mourejam

em terra firme ou singrando os mares

ou, mais ainda, devassando as ares

que, para nos defender, bravas pelejam!

            Recife, querido:

És um rubi mimoso

fulgente, esplendoroso

sangue irisado

– sublime Legado

a uma forte raça,

a brilhar sem jaça,

assim, engastado

entre valores mil,

na coroa real

cintilante, imortal

deste caro, Brasil!

Recife, decantada,

            admirada

na estrutura mágica das tuas pontes…

– Recife, toda enfática, a dançar o “charchado”

típico, sertanejo,

Recife, do folclore mais insinuante do Nordeste

Brasileiro e, porque não dizer? do mundo inteiro!

            Recife, de brisas cariciantes,

            de coqueiros farfalhantes

            a enfeitar as praias brancas

                        arenosas,

                           deliciosas!

– Recife exaltada, civicamente, através do ritmo

cadenciado dos passos dos nossos Soldados e colegiais na

Data Magna da Pátria Brasileira.

– Recife, Relicário sagrado de mártires e de heróis, escuta:

            – Aqui, no peito, cessou o meu épico cantar

            porque agora, deve a Lira silenciar!

(SILENTE QUIETUDE – ALBERTINA MACIEL DE LAGOS – pág. 28 a 31)

MOMENTO CULTURAL: CONTRADIÇÃO – por Aluísio José de Vasconcelos Xavier

Aluízio José

Na cidade, a iluminação frenética
do Salvador, a chegada anunciava
e contrastando com tal paisagem estética
na calçada um pobre negro agonizava.

Era a figura doente de uma criança
filha de um erro, fruto de um pecado
e nos olhos tristes de seu corpo nu, gelado
não se via nenhum fio de esperança.

Aproxima-se dele um maltrapilho.
Toma-o nos braços como a um filho
retirando-o daquele leito de cimento.

Meia-noite, então, anuncia o sino.
E nesta hora exata do Nascimento
morreu, à míngua, mais um Jesus-Menino.

Aluísio José de Vasconcelos Xavier, filho de Aloísio de Melo Xavier e de Eunice de Vasconcelos Xavier, nasceu no dia 7 de agosto de 1948. Formado em Direito, exerce sua profissão no Foro do Recife onde reside. Foi Secretário para Assuntos Jurídicos da Prefeitura do Recife. Professor universitário. Poeta de grandes méritos

Momento Cultural: COR – LUZ – SOM – por Melchisedec

Melchisedec
COR – Os corpos celestes do nosso sistema solar irradiam cor, luz e som, que são percebidos por nós, os humanos, filhos do universo e irmãos das estrelas. Através de cada uma das faixas de um espectro de luz, captamos as cores.

As cores estão presentes na moda e no ambiente. Elas são estudadas e aplicadas na indústria de acordo com o rendimento que se pretenda dar.

As cores tem importante papel a desempenhar na nossa vida, porém devem ser usadas adequadamente, visto que elas tem o poder de transmitir grandes benefícios e isso é tão importante que os antigos egípcios, gregos e chineses deixaram para posteridade, como herança a cromoterapia.

O pensamento é forma e imagem. Quando pensamos em determinada cor, criamos uma corrente cuja frequência atinge um determinado objetivo.

De acordo com alguns infectologistas, alguma cores possuem as seguintes propriedades:

  • Vermelho – é revigorante, indicado nos estados de apatia, pressão baixa, depressão, anemia, paralisia, reumatismo, artrite e circulação.
  • Laranja – recomendado nos casos de depressão, batimento cardíacos, asma e bronquite.
  • Azul – tem propriedade relaxante, tumores, membros inchados e vermelhos, tensões nervosas, laringite, faringite, distúrbios da hipófise e da tireoide.
  • Rosa – vitaliza o sistema nervoso e facilita o controle da mente.
  • Anil – é indicado para os problemas nos olhos, ouvido, nariz e garganta.
  • Verde – equilíbrio, metabolismo hepático, restaura o aparelho digestivo, pressão arterial, coração.
  • Amarelo – estimula as células nervosas do cérebro, problemas circulatórios, prisão de ventre, fígado e baço.
  • Violeta – possui propriedades anticépticas, sistema nervoso, diminui as cáries, aumenta o QI das crianças e o magnetismo das pessoas.
  • Branco – reúne todas as cores e o organismo absorverá o que precisa.

Alguns infectologistas já admitem o uso da cromoterapia na cura de certas doenças.

O poder curativo das cores pode se manifestar de forma mais intensa, atuando diretamente sobre os órgãos que se quer curar.

O sucesso está na convicção de que se aplicarmos as cores estamos transferindo para o doente o tipo de onda eletromagnética emitida por cada tonalidade.

Quando a ciência comprovar que o trabalho da cromoterapia pode acarretar alterações profundas na saúde do paciente, então ficará mais fácil
às curas nos hospitais e os pacientes se sentirão mais seguros e mais confortáveis no ambiente hospitalar.

LUZ – é a claridade emitida por certos corpos, que determinam o fenômeno da visão que se manifesta pelas cores. Ela emite 562 trilhões de vibrações por minuto.

A luz solar é formada por uma mistura de radiação, podendo ser decomposta por meio de primas, de acordo com o seu comprimento de onda, decrescendo de maneira imperceptível, do vermelho para o violeta.

Momento Cultural: Nesse café recifence (poesia) – por Rildo de Deus

No tempo que eu era elfo
e não sentia cheiro da morte,
comia flor e semente,
nozes, muitas nozes

Bebia néctar nas flores,
vivia na luz do sol
QUENTE
Topei certa vez com uma vampiro
Que me achou pelo rastro
de meu sangue ardente
Bebeu-me a vida
Depois limpou a boca
como se limpa precedendo a lapada
do quartinho de aguardente

Gula vampiresca,
estupidez de ignorantes
No meu corpo só corria ambrosia
Comida de deuses

Ela caiu envenenada
Melhor que tivesse me engolido,
como fazem com os bois,
as serpentes.
Fomos amaldiçoados,
mesmo assim, eu inocente
Aqueles dente afiado
me tirou o sangue ardente

Já era, eu imortal,
elfo só tem precedente
Vampiro é tipo fino
Pena que come gente

Entre os vampiros
me considerarão pária.
Entre os elfos
eu caminhava pueril.
Era um ser do dia,
beijava girassóis,
Imortal, ser como um rio,
Pincel, pincéis, rouxinóis
Considerado entre eles
não é o que foi transformado
Mas, o que se tornou, por si;
Nobre, bonito, inteligente
A primeira noite que passei acordado,
foi por causa que me cresciam os dentes;
caninos felinos,
Unicúspides, alvo, crescentes

Grito, pro sol quando ele nasce:
Não me mate!
Me salve! Me salve! Me Salve!
Mãe foi quem desceu
logo, seu nome é Aurora
Só olhava e dizia:
Se afaste!, se afaste!, afaste!

Tu eis filho meu,
por Eu eis amado
Você agora é notívago
do escuro faça seu reinado
Nas trevas tem luz,
você precisa encontrar
Espelho não tem, ali não procure
Primário e secundário, reflexo você já perdeu

Seja feliz meu filho,
todo mudou e você cresceu
Agora eis vampiro
Vá embora, vá embora
Já amanheceu.

Rildo de Deus é Escritor e Estudante de Filosofia da UFPE

Momento Cultural: Meu pecado – Henrique de Holanda

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Eu não posso saber qual o pecado
que, irrefletido, cometi; suponho
seja, talvez, porque te fosse dado
meu coração, – a essência do meu sonho..

Se amar é crime, eu vou ser condenado
e toda culpa, em tuas mãos, eu ponho.
– Quem já te pode ver sem ter amado?!…
Quanto é lindo o pecado a que me exponho!

Se tens alma e tens sangue, como eu tenho;
se acreditas em Deus, dizer-te venho,
– Que pecas, tens amor, és sonhadora…

Deus deu a todos coração igual.
Se eu amo, sofres desse mesmo mal.
– O teu pecado é o meu, – és pecadora!

(Muitas rosas sobre o chão – Henrique de Holanda – pág. 22).

Momento Cultural: A ILUSÃO – por José Miranda

Jos+® Tiago de Miranda

Para vivermos nós contentes pela vida
sem essa mágoa que tortura tanto a gente
da culpa de Eva no Édem, um dia nascia.
O Senhor deu-nos a ilusão constantemente.

Quanto seria: a alma por tudo entristecida
e o coração ensimesmado e até doente
se a ilusão fosse deste pélago banida
se não houvesse, não o sonho doce e ingente!

De assalto sem se esperar conta do destino
a ilusão toma para nos dar prazer na dor
para nos fazer o espiamento pequenino.

Da nau de crença a vela enfuna com vigor
e fortifica quando sofre, o coração:
toda beleza está da vida na ilusão.

José Tiago de Miranda, vitoriense, nascido a 9 de junho de 1891 e faleceu a 29 de maio de 1960. Foi professor primário na Vitória, em Moreno e em Limoeiro, exercendo, em todas as cidades, o jornalismo. Foi proprietário e diretor de O LIDADOR a partir de 1932 até sua morte. Cronista, poeta e jornalista de alto valor. Seus filhos (Ceres, Péricles e Lígia) reúnem em volume muitas de suas crônicas e poesias, em livro “Antologia em Prosa e Verso”, comemorando o centenário de seu nascimento, aos 9 de junho de 1991. Do casamento, com D. Herundina Cavalcanti de Miranda, houve ainda um filho, Homero, falecido logo após a morte do Prof. Miranda.

Momento Cultural: Oração – Por Corina de Holanda

corina-de-holanda-cavalcante

(Adaptação)

Ó São João Bosco, “que da juventude
Sóis Pai e Mestre” e tanto trabalhastes,
Para levá-la à trilha da Virtude…
E que com tanto zelo batalhastes

Na luta pelo bem das almas, rude
Foi o labor a que vos entregastes,
Possuído dessa fé que não ilude,
E pela qual, montanhas derrubestes

Erguidos pelo mal… vinde ajudar-nos
A vencer as paixões, a respeitar-nos
Com o desassombro próprio de um cristão.

Ensinai-nos a amar a Eucaristia,
A merecer o auxílio de Maria
E a respeitar do papa a orientação.

1972

(Entre o céu e a Terra – Corina de Holanda – 1972 – pág. 27)

Momento Cultural: A Alvorada – POR GUSTAVO FERRER CARNEIRO

Gustavo Ferrer Carneiro

O sol se descortinava na praia
Brilhando em meus olhos
Caminho só
Ar imóvel, quente
Vento assobiando ardente
Com o som da minha respiração
Um monte de pensamentos
Um toque agudo sibilante
Suspirando com prazer
O nascer de um novo dia
Uma alvorada arredia
De momentos de introspecção

Um aroma gostoso de terra molhada
Ou maresia,
Um delicada lua ornamentando o amanhecer
Em uma fantasmagórica poesia,
Plenitude
O vento zunindo
Um sentimento de dignidade
Uma visão do encanto
Insondável graça no rosto
No perplexo momento
Da percepção da vida.

O que ele diz
estará dentro do seu peito
Todo tempo
Para sempre…

Seja longe, seja perto
Não sabemos o exato, o correto
Para tudo tem um tempo

Mas quando será esse tempo certo?

(MOSAICO DE REFLEXÕES – GUSTAVO FERRER CARNEIRO – pág. 14).

Momento Cultural: O Morrer do Sol – por ALBERTINA MACIEL DE LAGOS

Profª Albertina Maciel de Lagos

– Chega a Tarde!… e o Sol?…

parece um Rei que fora destronado

e, humilhado se exila

da pátria sua… e longe, desprezado,

de Dor se aniquila!

– vem o Arrebol…

No seu rubor, o que se faz?!!!

– De Tebo anuncia o instante final

Enquanto, nuvens amarguradas,

afoguedadas,

recitam, silentes, o “descanse em paz”

numa Prece Vesperal!

Ouve-se um soluço gemente,

bem triste, lento, plangente…

– E o Sino a dobrar a Ave Maria

anunciando o expirar do Dia!

A Lua que é do Sol esposa amada,

Pálida aparece,

da Noite, no véu negro enlutada,

de Dor se esmaece!

Assistam-na, as Estrelas, suas Damas

que lhe fazem companhia…

do seu Amor, nas prateadas chamas,

a Terra erma alumia!

Quanto Mistério no Crepúsculo,

no instante épico do Sol por!

O homem sente-se um ser minúsculo,

ante a grandeza do Senhor!

E, do Poeta, a alma sonhadora,

feliz, crente, extasiada…

de Luz sentindo a Sede abrasadora,

para o Além é transportada!

(SILENTE QUIETUDE – ALBERTINA MACIEL DE LAGOS – pág. 54).

Momento Cultural: NOTURNO DA PRAIA DOS MILAGRES – por José Tavares de Miranda

José Tavares de Miranda

Esses navios, que passam na noite,
são navios perdidos no além
são navios de piratas, marinheiro,
doudas fragatas que vão e que vêm.

São navios a vela
Bergantins, Brigues, Caravelas,
velozes, breves, fugazes,
perdidos para sempre sem roteiro.

Todos passam na amplidão do mar,
nessa noite escura de pressentimentos,
francamente alumiada por velhos candeeiros.

Lá vão os piratas heróicos,
os que mancharam de sangue as águas com seus alfanjes,
os loucos comandantes abandonados, sem remissão,
alucinados no meio das águas,
nessa noite de incrível escuridão,
a procura de marujos naufragados
noutras noites de abandono, sem perdão,
pedindo à Mãe dos Navegantes
o encontro de saudosos irmãos.
Esses navios que passam, marinheiro,
são navios perdidos na além;
são navios de esquecidos guerreiros
que procuram, que buscam alguém.

(em TAMPA DE CANASTRA)

José Tavares de Miranda, vitoriense nascido a 16 de novembro de 1919, filho do Prof. André Tavares de Miranda. Fez os primeiros estudos na Vitória, sob os cuidados do seu genitor, e transferiu-se para o Recife, onde teve grande atuação na imprensa. Mudando-se para São Paulo, ali concluiu o seu curso de Direito (iniciado na Faculdade de Direito do Recife) na Faculdade de Direito do Largo S. Francisco, em 1939. Escritor, jornalista e poeta. Teve vários livros publicados inclusive de poesias, sendo estes últimos reunidos em um só volume: TAMPA DE CANASTRA. Faleceu em São Paulo (Capital) a 20 de agosto de 1992.

Momento Cultural: Cérebro – por Henrique de Holanda

Henrique-de-Holanda-Cavalcanti-3

Na mocidade,

a razão quase sempre se encandeia,

tornando a vida uma mera ingenuidade.

O cérebro da humana criatura

– quem é moço concebe

ser uma taça de ilusões bem cheia

que o coração segura e a alma bebe.

Mas, a velhice vem

fermentando a bebida outrora pura…

e o coração, que forças já não tem,

vendo a alma fugir, derrama a taça,

que ao se precipitar de grande altura

no chão se despedaça…

(Muitas rosas sobre o chão – Henrique de Holanda – pág. 25).

Momento Cultural: A DANÇA DO VENTO – Por Valdinete Moura

A dança do vento frenética não pára. E nessa
alucinação me envolve o corpo que treme e se
arrepia. Me desmancha os cabelos que entram
pelos olhos e penetram em minha boca, buscando
beijos úmidos de amor.

E o vento louco passa levando tudo para longe.
Tudo menos essa ânsia imensa, esse desejo
Insano de carícias e afeto.

O vento passa e leva tudo. Tudo mas deixa em
meu corpo a certeza da saudade e a imensidão
do desejo.

“Voz Interior”

Maria Valdinete de Moura Lima, filha de Manoel Severino de Lima e de Lindalva de Moura Lima, nasceu em Vitória de Santo Antão. Bacharela e Licenciada em Letras. Professora de Português da Faculdade de Formação de Professores da Vitória de Santo Antão. Poetisa e contista, tem um livro publicado VOZ INTERIOR – 1986. Tem vários prêmios, entre os quais: José Cândido de Carvalho, contos: Jeová Bittencourt, contos, menção honrosa (Araguari, MG). Concursos promovidos pelo “Timbaúba Jornal”, contos e poesia. É membro da Academia Vitoriense de Letras, Artes e Ciência.

Momento Cultural: Arrepios – por GUSTAVO FERRER CARNEIRO

Gustavo Ferrer Carneiro

Despercebidos

E inocentes

Lá vem os arrepios

Mexer com a alma da gente

Outra vez as sensações

A vontade de um carinho

Mais profundo

De um beijo guardado

De saudade do mundo

Que vivemos conscientemente

E que fica para sempre em nossas lembranças

Entre sussurros, recordo momentos

E não me arrependo

De atos ou fatos vividos

Mesmo que loucos ou transgredidos

Pois meu corpo em sintonia

Agradece ao teu em constante harmonia

E talvez por pura teimosia

Não paro de te amar

E de sentir tua falta

Não tenho pressa

Tenho calma

Quero conhecer não só teu corpo

Mas tua alma

Para isso, te imploro,

Me beija, teu beijo é um presente

Que adoro

E o teu abraço

Deixa meu corpo ardente

Te amando sem cansaço

Um beijo amado

Que vai subindo e vai descendo

Desliza no meio das nádegas

Sobe pelas costas

Até encontrar tua nuca

Teus cabelos afastando

Tuas orelhas volteando

Arrepiando e buscando

Teus lábios entreabertos

Com essa sede de viver

Aguenta, coração

Experimenta a sedução

Tenta e atenta

Nessa total imensidão

Abusa

Elambuza

Tiro a roupa

Te deixo louca

Sua

Suor salgado

Sal impregnado

Tua pele na minha

Minha carne na tua

Em meus lábios

Me matas a sede

Na fonte dos teus prazeres

Sede de meu tesão

Pura transgressão

Teu sexo

No meu sexo

Infringindo preconceitos

Ou regras

Braços e abraços

Bocas e línguas

Desejos hostis

Deixa correr

Deixa rolar

Na cama ou na lama

Na vontade de te amar

Vamos

Agora a sempre

Amar pensando no mundo

Um você e eu, juntos

Um gozo que seja profundo

No amor em um corpo único…

(MOSAICO DE REFLEXÕES – GUSTAVO FERRER CARNEIRO – pág. 19).

Momento Cultural: PARABÉNS AOS PEDREIROS – por Severina Moura

severina moura

Aos pedreiros construtores do progresso
Que debaixo de sol e chuvas vão
Ao trabalho da obra do universo
Para ganhar cada dia o seu pão
Pão dos filhos, da esposa, da família
Que alegres o recebem em união.

Suas mãos calejadas pela pá
Construindo ângulos e paralelas
Dos esquadros as perpendiculares
Retas, curvas e inclinadas.
Dos transferidores sem mazelas.
Calculando volumes matemáticos
Das portas, áreas e janelas.

Esses homens que nem sabem quanto valem
Seus serviços, se bem feitos valem ouro
Se uma aresta não for bem construída
É um desastre, no final um desadoro
E o dono da obra sai perdendo,
Dinheiro, sossego e decoro.

Parabéns a vocês, caros pedreiros,
Que para o dono fazem essa construção
Se orgulhem de tudo o que fazem
Com dosagem certa, e com paixão
Quem ama o que faz, não se arrepende
Porque Deus lhe dá sempre proteção.

Profª Severina Andrade de Moura, nasceu em Vitória de Santo Antão. Foram seus pais: José Elias dos Santos e Doralice Andrade dos Santos. Viúva de Severino Gonçalves de Moura, com quem se casou em 1962. Fez o curso Pedagógico no Colégio N. S. da Graça. Lecionou em Glória do Goitá e Carpina. Concluiu Licenciatura Plena em Letras em Caruaru (1976). Pós-graduação em Língua Portuguesa na Univ. Católica (1982). Ensinou em várias escolas estaduais e municipais na Vitória e ensina atualmente na Escola Agrotécnica e na Faculdade de Formação da Vitória de Santo Antão. Poetisa por vocação. Colabora na imprensa local.

Momento Cultural‏: Noite e Dia – por João do Livramento

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Dei-te o dia dai-me a noite

Recompensa sem tardia

Espero a noite em lábios teus

Meu labor de todo dia.

 

Dei-te o dia dai-me a noite

Sem labor sem recompensa

Sem sabor dos lábios teus

Cumpriria tal sentença.

 

Dei-te o dia dai-me a noite

Dia longo noite curta

O calor do corpo teu

Faz valer tanta labuta.

 

Dei-te o dia dai-me a noite

Compromisso assumido

Frente a Deus e todos homens

Servirei serei servido.

 

Dei-te o dia dai-me a noite

A noite é minha o dia é teu

Te possuo alguns instantes

E te entrego a Morfeu

Dei-te o dia dai-me a noite!

João do Livramento.

MOMENTO CULTURAL: Os Medos da Paixão (conto) – Por Valdinete Moura

Não era assim que queria. Não assim: estômago embrulhado, boca amargando, cabeça rodando. Não assim. Bêbada. Difícil acreditar. Sempre tão certinha, comportada e agora, bêbada. Bêbada como uma qualquer. Qualquer Fulana dos becos e ruas da lama que existem por aí. Sou bêbada chique, conseqüência do uísque escocês do mais puro, moro em um apartamento luxuoso em Copacabana. Nem por isso menos bêbada, menos enjoada… Enjoada de mim, da vida, do mundo… Esse mundo é uma porra! Pronto, disse. Uma bêbada é o que você é e, além de bêbada, pornográfica. Não se envergonha? Jamais pensei que um dia, minha filha… Meu Deus, só falta me chamar de puta. Não, mamãe, não diga assim… Se soubesse, chamaria, talvez até não quisesse mais me ver. Não fale assim, mamãe, eu estou sofrendo. A verdade é que estou bêbada. Nunca fiquei assim antes… só uma pequena dose, socialmente. Pro diabo com o social, estou bêbada e sozinha, ninguém viu quando roubei a garrafa. Quando meu irmão descobrir… na sua festa. Ora, que se fodam todos: meu irmão, minha mãe, todo mundo, o mundo também. E eu de quebra. Que está acontecendo comigo? Nunca usei essas palavras. Mentirosa! Usar, usou, só não falou. Se peca por pensamentos, palavras e ações. Se pensou, pecou. Porra para vocês também. Todos os que enfiaram essas coisas na minha cabeça. Não quero chorar; não, meu Deus, que papel ridículo estou fazendo: bêbada e toda desalinhada. A roupa nova que custou os olhos da cara naquela butique nova, como é mesmo que se chama? A tal butique? Sei lá, qualquer uma chique da Zona Sul. Que se dana a tal butique junto com todo o bairro. O Rio de Janeiro todo. A maquiagem deve estar toda borrada. Não quero… não quero chorar, ficar horrível: bêbada… chorona… bobona… meu Deus, que coisa feia. Feia, coisa nenhuma, feio é o que fiz. Como fui fazer aquilo? Deve-se fugir da ocasião de pecado. Como, se o pecado é tão atraente. O diabo toma formas atraentes para tentar. Para o inferno com o demônio… não acredito em demônio, nem em inferno… inferno é agora… o meu. Merda, estou chorando, estou horrível, não quero, felizmente ninguém me vê. Como pode ver, se fugi, enganei todo mundo, queria ficar só, roubei o uísque. Mentira, não quero ficar só, quero colo, alguém para me consolar, quero meu irmão, ele pode. Quero esquecer, foi tão bom e durou pouco, tão pouco… parecia tanto, tão bom, divino. Por que digo assim? Não devia. É sacrilégio usar o nome de Deus em vão. Ainda mais se tratando de coisa assim. Foi divino, sim. Divino ser puta?  Assim que me chamava, sua putinha. Que vergonha, meu Deus. Era tão bom, tão bonito, ficava tão feliz! Menos quando me chamava de putinha, mesmo assim, com carinho, fiquei não sei como, humilhada, ofendida, não sei. Não disse nada, sentia vergonha. Igual às mulheres da rua da Lama  que passavam em frente à casa de vovó, lá no interior. Mamãe não falava com elas, nem vovó, nem as senhoras de respeito, se falavam, usavam um tom de superioridade para mostrar o lugar de cada uma. E agora eu me sinto tão mal, tonta. Tonta e chorando, não consigo parar de chorar. Deus, queria gritar, preciso. Queria morrer. Aí, acabava tudo. Mamãe não ia saber de nada e o povo ia dizer coitadinha! Morreu tão nova! Bebeu demais, não tinha costume. Ninguém, ia ficar sabendo de nada. Ninguém sabe; só eu e ele. Ela, será que sabe? Sabe nada! Ele não ia dizer a mulher que ele… que nós… ai, que vergonha! Vergonha, você nesse estado. Não conhece seu lugar? Uma moça de família, mamãe, não mudou nada… quer dizer, quase nada. Ai, meu Deus, não quero pensar, não quero lembrar; ele com ela como se não me conhecesse, tão seguro, como se nós não… Não posso esquecer os dois daquele jeito. Tão apaixonados e eu… pensei que ia morrer, cair ali mesmo e ele tão seguro. Não quero lembrar, não quero. Se ao menos eu dormisse antes que alguém chegasse aqui, era como se morresse. Mamãe ia ficar assustada. Que me importa, só me importa eu agora, o resto que se dane, se foda, se qualquer-coisa-de-horroroso, qualquer coisa. Eu quero dormir, esquecer, passar a ressaca. Não quero morrer, ninguém morre disso, tão bom… apesar… sua putinha. Ninguém ficou sabendo, isso passa. E se souber? Merda pra todo mundo, merda pra elite carioca. Bom falar assim. Pensar. Livre. Vou dormir… respiro fundo, isso passa, amanhã é outro dia, respiro fundo, durmo, não estou mais chorando, só com a cabeça doendo… respiro fundo, passa, durmo, respiro… durmo… passa… merda pra…  ZZZZZZZZzzzzzzzzzz…………….

* Conto integrante do livro “Mulheres na Chuva” pela Ilumine Editorial.
** Ilustração de Jack SoulFly, artista vitoriense.


Valdinete Moura
 é escritora e poetisa,
membro da Academia Vitoriense de Letras, Artes e Ciência.

Momento Cultural: ABANDONO – por ADJANE COSTA DUTRA

Adjane Costa Dutra

Buscam-me em cada encruzilhada.

É meu abandono na carnificina humana.

A lei do uso desuso tornou-me um intruso.

Sou gente, não carnificina humana.

Nesse açougue da espera os instintos animalescos

são atendidos, mas eu gente, NÃO.

Porque o abandono é como aquele bêbado que cai em cada

esquina, a criança órfã que chora no abandono de todas

as coisas.

 

(TAPETE CÓSMICO – ADJANE COSTA DUTRA – pág. 53).