Momento Cultural: Lágrimas Fenomenais – por ALBERTINA MACIEL DE LAGOS

Profª Albertina Maciel de Lagos

No ofegante caminhar de minha vida,
nesta luta constante
de cair e levantar,
mas… sempre sonhando
ou, mais forte, e meditar…
eis, que, um dia,
de chofre, deparei;
junto a uma cruz carcomida
da deserta estrada,
ao solo exposta, abandonada
coberta de poeira
a sorrir para mim,
macabramente,
– uma caveira!

Como se fora por um raio, então ferida,
fiquei, assaz apavorada,
e, contra o medo reagindo,
resolvi apanhar
aquela carcassa inerte, fria,
assim, exclamando:
– Caveira, és bem um espelho
onde se vê, em cinzas refletida,
a humana vaidade, vã e fementida!
E, elevando o crânio à altura dos meus olhos,
mais estarrecida fiquei
quando notei
algo fenomenal:
– das óbritas enormes, vazias,
corriam a cintilar,
dua lágrimas fugidias
como que irisadas,
a zombar da morte,
da escura
e triste sepultura!

Entre a coragem e o medo, perguntei:
– Que!… uma caveira inda a chorar?!…
E, no recesso do meu peito,
uma voz intensa, aguda
como o trovão, logo ecoou:
– É que ela (coitada)! ainda chora
um Amor sublime, puro,
que o mundo ignora
e que, na terra lhe ficou!

(SILENTE QUIETUDE – ALBERTINA MACIEL DE LAGOS).

Momento Cultural: Postal Litúrgico – por Corina de Holanda

corina-de-holanda-cavalcante

Terra:
Parcela das Maravilhas
Que a Deus aprouve criar,
Mais que os outros astros brilhas,
Como eucarístico altar.

Cruz:
Quando em meus dias sombrios,
Enche a taça de amargor,
Corro a teus braços vazios,
Mesmo assim, flor de bonança –
À Dor lanço desafios
E digo com todo amor:
“Ave, única esperança!”

Eucaristia:
…Fora de Vós tudo é tristeza e treva
Por vossa graça, o pecador se eleva
E com os Anjos se põe em harmonia…
Tudo quanto fizeste me enternece,
Mas, ó Jesus, aos olhos me aparece,
Mais sublime que tudo, a Eucaristia!

1970

(Entre o céu e a Terra – Corina de Holanda – 1972 – pág. 26)

Momento Cultural: FORÇA ESTRANHA – por Adjane Costa Dutra

Adjane Costa Dutra (2)

Imagino nas imagens espelhadas no tempo e no vento,

forças estranhas a percorrerem o espaço…

Do ar que eu respiro,

Do mar por onde piso…

Imagino imagens soltas e desconexas ao vento.

Imagino as pessoas, do que possam imaginar:

Dos instantes da vida.

Imagino os pensamentos soltos a evolarem como imagens;

simples imagens.

Imagino forças estranhas…

Estranho nas estranhezas e sutilezas dos amores falsos,

dos falsos amigos.

Imagino nas teias de uma rede feita por aranhas.

Imagino a melodia que estou a ouvir.

Imagino todos os meus sonhos soltos, dispersos como simples

castelos de areias.

Imagino o que eu escrevo e a fonte de inspiração que jaz numa

lápide fria dos meus sonhos.

Morreram sepultadamente:

sentimentos, esperanças, amores, dores,

e até a força estranha do que não imagino.

(TAPETE CÓSMICO – ADJANE COSTA DUTRA – pág. 47).

Momento Cultural: FORÇAS E ELEMENTOS DA NATUREZA

MelchisedecToda manifestação da vida, vibra num mesmo diapasão, tão harmonicamente afinado que faz soar em cada “eon” (período de tempo), uma verdadeira sinfonia das esferas. A maior ou menor quantidade de vibração é a manifestação das Energias Primárias.

A raiz de todas essas Energias Cósmicas que se polarizam no mundo de maneira dupla, chama-se Oceano Universal de Energia Vida. Essas Energias emanam do sol e se manifestam em três formas: Luz Primordial, Poder Ígneo e Base Energética Vital do mundo físico.

Cada uma dessas forças se manifesta em todos os planos do Sistema Solar. Elas permanecem distintas e nenhuma delas, em nosso plano, pode ser transformada na outra.

ELEMENTOS DA NATUREZA – São os princípios básicos de todas as substâncias que constituem os veículos da vida no Reino da Natureza.

Água – Constituída do elemento químico H²O.

Ar – Constituído do elemento químico .

Fogo – Constituído do elemento químico CO².

Terra – Constituído do elemento químico CL e CA.

Todos esses elementos são regidos por forças sutis.

(VERDADES FUNDAMENTAIS – MELCHISEDEC – Pág. 51)

Momento Cultural: Quando – por Stephem Beltrão

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Quando você pensa que estou triste

Estou alegre

Quando você pensa que estou mal

Estou bem

Quando você pensa que estou perdido

Estou no rumo

Quando você pensa que estou dormindo

Estou acordado

Quando você pensa que estou só

Estou acompanhado

Quando você pensa que estou embriagado

Estou sóbrio

Quando você pensa que estou caído

Estou erguido.

 

Enquanto você achar que estou quebrado

Prosseguirei inteiro

Enquanto você achar que sou apagado

Serei acesso

Enquanto você achar que vivo doente

Estarei sadio

Enquanto você achar que fico preso

Serei libertado

Enquanto você achar que ando sofrendo

Permanecerei feliz

Enquanto você achar que ando chorando

Seguirei sorrindo

Enquanto você achar que já morri

Continuarei vivo.

Momento Cultural: Ante o Tabernáculo – Por Corina de Holanda

Corina de Holanda

Contemplando a prisão arquibendita

Onde se oculta o Augusto Sacramento

Pleno de amor meu coração palpita,

Da terra afasto, inteiro, o pensamento.

 

Insondável mistério! A infinita

Majestade de um Deus, no isolamento,

Nas estreitezas dum sacrário habita…

Terno Jesus! Quão grande é o meu tormento,

 

Em pensar que não sou como devêra!

– eu quisera, meu Deus, que, como a cera

Que arde feliz tão perto do hostiário,

 

Meu coração em puro amor ardesse

E à chama desse amor, se derretesse,

Se consumisse à vista do sacrário.

1925.

 

(Entre o Céu e a Terra – Corina de Holanda – pág. 42).

Momento Cultural: Amar – por João do Livramento

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Não afirme o que é o amor

Nada diga e nada fale

Se você ainda vive

É melhor então que cale

 

Se está vivo não sentiu

O perfume da ilusão

Embebido no amor

Exalado na paixão

 

A quem indaga o que é o amor

Não preciso responder

Mostro apenas uma flor

Todas nascem pra morrer

 

Ah, essa morte é enganadora

E de amor tem apelido

Cabelos longos, corpo belo

Escondido num vestido

 

Me enganou o coração

Me enganou o pensamento

Quando achei que estava vivo

Já morrera há muito tempo

 

Mas se nascesse novamente

Ao início eu voltaria

Sem amor não sei viver

E assim amando morreria.

 

João do Livramento.

Momento Cultural: Lei divina – por Célio Meira

Dr.-Célio-Meira-Escritor

Não há morte, Bem-Amada:

– Do corpo termina a lida,

a alma mais tarde regressa

noutra missão, noutra vida.

Na terra, o corpo se acaba,

assim, também, morrerás

mas, de novo, noutra carne,

neste mundo viverás.

* * *

Fuja da inveja, da gula,

da preguiça e do ateísmo,

fuja da ira, da vaidade,

da mentira e do egoísmo.

* * *

Esta somente, Querida,

nesta cova ficará

e depois de certo tempo,

numa planta viverá.

Nos caminhos da jornada,

sob a luz dos olhos teus,

desejo viver em paz

na graça eterna de Deus.

* * *

Não tenhas medo da morte,

nem da vida, no outro lado,

a quem amas, neste mundo,

será sempre o Bem-Amado.

* * *

Se queres viver em paz,

não guardes ressentimentos,

as pedras de teu caminho,

vêm de tristes pensamentos.

(migalhas de poesias – Célio Meira – pág. 38 e 39).

Momento Cultural: Caveira – por Henrique de Holanda

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Da nudez em que vive na demência,
traduzes bem o desmoronamento.
lar que serviu de abrigo à inteligência
e onde hoje reside o esquecimento.

Outrora tu vivias na opulência:
carne, vaidade, amor, deslumbramento,
beijo, pecado, embriaguez, ardência,
e hoje, de tudo isso, o isolamento.

No mundo, tu viveste mascarada.
Hoje, porém, com a face descarnada,
Tens do teu rosto a máscara caída…

Retrato original da humanidade:
Ressaca para toda a eternidade
depois da grande dança desta vida!…

(Muitas rosas sobre o chão – Henrique de Holanda – pág. 12).

Momento Cultural: Bodas de Ouro – por Corina de Holanda

Corina de Holanda

 (De José Bonifácio e Maria José de Holanda).

 

Garimpeiros do amor

Por ti abençoado,

Te ofertamos, Senhor,

O ouro acrisolado

Colhido na jornada…

(A prata já foi dada)

Nós te damos também,

Gemas de excelsos brilhos,

Para nós, – Nossos Filhos!

Abençoa-os, Senhor!

São todo o nosso bem,

Frutos do nosso amor.

 

(Entre o céu e a Terra – 1972 – Corina de Holanda – pág. 60).

Momento Cultural: OLHOS AZUIS – Por Rejane Dutra Santos

Olhos azuis que olham pra mim, com tanta pureza.
Que brilham, como um brilhante,
cheios de alegria e de vida.
Você menina dos meus olhos.
Você vida da minha vida.
Ser do meu ser.

De olhos azuis, tão ternos e tão meigos.
Posso até compará-los com a beleza do céu ou do mar.
Você minha filha, ainda um bebê,
que fala comigo, numa linguagem sem som, apenas com brilho.

O brilho dos seus olhos.
Anjo de pureza, reflexo de amor.
Meu belo bebê, minha pequenina filha,
Meu anjo, minha alegria.

Rejane Dutra Santos

Momento Cultural: ÁRIA – por José Tavares de Miranda

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Numa noite assim
de vento gelado a almas mortas

maus presságios e calafrios
foi-se a donzela.

Numa noite assim
sem esperança de aurora

nem sombra de lua
foi-se a donzela.

Foi a donzela
para nunca mais.

Onde se esconde
sua mantilha de rendas?

Sua grinalda de rosas
onde estará?

Seu coração magoado
de ilusão pulsa ainda?

Em que terra crua
seu cabelo é guardado,

Numa noite assim
de estrelas comidas

em ginete de fogo
seu amado passou

três assovios à porta
e sua amada levou

e em três passos de espera
a sua vida sugou.

Em três passos de espera.

(em TAMPA DE CANASTRA)

José Tavares de Miranda, vitoriense nascido a 16 de novembro de 1919, filho do Prof. André Tavares de Miranda. Fez os primeiros estudos na Vitória, sob os cuidados do seu genitor, e transferiu-se para o Recife, onde teve grande atuação na imprensa. Mudando-se para São Paulo, ali concluiu o seu curso de Direito (iniciado na Faculdade de Direito do Recife) na Faculdade de Direito do Largo S. Francisco, em 1939. Escritor, jornalista e poeta. Teve vários livros publicados inclusive de poesias, sendo estes últimos reunidos em um só volume: TAMPA DE CANASTRA. Faleceu em São Paulo (Capital) a 20 de agosto de 1992.

MOMENTO CULTURAL: Entre a Cruz e a Espada – por Severina Andrade de Moura

severina moura

Eu sofro porque sou balança
equilíbrio entre o cheio e o vazio.
Paredão onde acham confiança
homens de bem, mulheres de brio.

Ouço de lá e de cá os desabafos.
Fico no meio, entre a cruz e a espada.
Não quero destruir jamais, os laços
que se criaram em longas caminhadas.

Às vezes sou mal interpretada.
Que importa! Jesus também o foi
Quero ser útil em toda minha estrada

E quando eu me for, quero que digam
nela eu tive uma grande aliada
e se esquecer de mim jamais consigam.

Profª Severina Andrade de Moura, nasceu em Vitória de Santo Antão. Foram seus pais: José Elias dos Santos e Doralice Andrade dos Santos. Viúva de Severino Gonçalves de Moura, com quem se casou em 1962. Fez o curso Pedagógico no Colégio N. S. da Graça. Lecionou em Glória do Goitá e Carpina. Concluiu Licenciatura Plena em Letras em Caruaru (1976). Pós-graduação em Língua Portuguesa na Univ. Católica (1982). Ensinou em várias escolas estaduais e municipais na Vitória e ensina atualmente na Escola Agrotécnica e na Faculdade de Formação da Vitória de Santo Antão. Poetisa por vocação. Colabora na imprensa loca.

Momento Cultural: Cego de nascença – por Célio Meira

Dr.-Célio-Meira-Escritor

A desdita desse cego,

não há, na terra, quem sonde,

pecados não cometeu,

pelos pais, não responde.

A alma, porém, desse irmão

verá, sempre, a Lei cumprida:

– pagará todos os crimes,

Praticados noutra vida.

Se esta não fosse a verdade,

se esta não fosse a lição,

crime nefando haveria,

nesta injusta punição.

* * *

É bem certa esta notícia,

que nesta quadra, repito:

– minh’alma já tem saudade

das paisagens do Infinito.

Na carta que me escreveste,

naquele estilo tão fino,

não escondeste de mim

o rumo de teu destino.

* * *

Praticando caridade,

não dê, somente, dinheiro,

dê, também, paz, esperança,

ao inditoso companheiro.

* * *

Fui marujo, em outras vidas,

visitei terras geladas,

em cada porto deixei,

três ou quatro namoradas…

* * *

Persegues o Nazareno?

Olhas o mundo, com asco?

Um dia, ouvirás Jesus,

Numa estrada de Damasco.

Estás aflita, intranquila,

com o peso desta cruz?

– Pede, a Jesus, paciência,

E terás sossego e luz.

(migalhas de poesia – Célio Meira – pág. 35 a 37).

 

Momento Cultural: EXCENTRICAMENTEPORÂNEA – por ADJANE COSTA DUTRA

Adjane Costa Dutra

Excentricamenteporânea na minha cosmovisão.
Na linhas retilíneas da minha cosmovisão, amplidão…
Volver, revolver, parar sempre no mesmo caminho…
Excentricamenteporânea…
Não sei, se meu universo é um verso, ou e o verso é
o próprio universo…
Hoje estou assim perdida, mergulhando num universo sem
verso, na minha cosmovisão, execntricamenteporânea…

(TAPETE CÓSMICO – ADJANE COSTA DUTRA – 1995 – pág. 20)

Momento Cultural: Anoiteceres – (crônica) – Por Sosigenes Bittencourt

Anoitece em Vitória. Anoiteço em Vitória. Sou figura noturnal, viajante do ocaso, sonhador como o crepúsculo vespertino, morto de saudade como o final. De olhos vendados, conheço o cheiro dos bairros, dos becos, do meio do mato de minha cidade natal. O cheiro de fumaça, de migau, de chuva. Sou todo olfato e lembrança. Conheço os trejeitos do meu lugar, os cabelos perfumados, os enxerimentos, o flerte e o gozo. Minha cidade é todinha uma mulher. Chamar-se-ia Vitória das Marias, Maria das Vitórias, tal como é.

Anoitece em Vitória. Anoiteço em Vitória. Saio para passear, impregnado dos prazeres noturnos, das eras do meu tempo, que me viciam e me saciam. Minha cidade muda todo dia, mas não muda o meu sentimento, o fascínio elaborado pela memória, como quem ama o que odeia e odeia o que ama, num jogo de perde e ganha.

Anoitece em Vitória. Sobretudo, anoiteço em Vitória. Enlouqueço em Vitória. Porque ninguém entende o que em nós nem conseguimos explicar. Vitória, meu berço e minha tumba. Minha alma noctívaga vai enredando sua história. O acaso me espreita, a surpresa me seduz, sua bruma, sua luz. Alucinações e desejos, rimas em ‘ina’, adrenalina, serotonina, dopamina. Ah! Vitória, dos meus idos e vindas de menino, minha menina!

Sosigenes Bittencourt