FALECIMENTO DE FERNANDO GARÇOM – por Sosígenes Bittencourt.

Ex-jogador de futebol, garçom brincalhão e risonho, de causar inveja a quem cumpre o doloroso dever de viver. Um sujeito simples, um homem do povo, mas uma perda sentida por muitos que se distraíam com o seu bom humor. Enfim, morreu, como pretendia Nelson Gonçalves: depois de 2001, sem inimigo nenhum.
Requiescat in Pace!
Sosígenes Bittencourt

Vida Passada… – Moreira de Vasconcelos – por Célio Meira.

Mocinho, com os exames de preparatórios, não encaminhou seus passos, o carioca Francisco Moreira de Vasconcelos, na direção de uma escola de ensino superior. Não desejou um título cientifico. Não o deslumbrou o brilho das pedras preciosas, nos anéis simbólicos. Foi bater, alegre, à porta de um teatro. Atraia-o a luz forte, e enganadora, das gambiarras e da ribalta.  Ao alvoroço dos estudantes, nos corredores das faculdades, preferiu o cochicho, no pequenino espaço dos bastidores, dos atores e das atrizes. “Matriculou-se”, na Academia do palco. Alcançou o título de “doutor”. E atirou-se ao mundo.

As lições dos mestres o fizeram autor teatral, e a experiência da vida o levou a ser empresário. Fazendo o galã, o centro, o cínico, e por vezes, o cômico, escrevendo dramas, e organizando companhias, começou, Moreira de Vasconcelos, corajosamente, sua peregrinação artística, pelo Brasil, de norte a sul, conquistando aplausos das plateias. Esteve, no Recife, pela primeira vez, escreve Samuel Campelo, em 1885, ao lado de Luiza Leonardo, estreando com o “Tiradentes”, drama histórico, de sua autoria. E, um ano depois, voltou ao Santa Isabel, velho teatro pernambucano, representando “Os Revoltosos”, e encenando, mais tarde, a famosa “Lamarão”, deliciosa revista de costumes recifense.

Quatro anos decorridos, pisou, Moreira de Vasconcelos, pela terceira vez, a terra do Recife. Acolheu-o, o povo, com simpatia, com entusiasmo, e com emoção. “Era, no dizer de um cronista de teatro, escritor de talento, e como empresário, operoso, ativo e inteligente”. Nessa temporada, na companhia, de Luiza e Leonardo, a admirável Leonardo, a “afilhada do Imperador Pedro II”, representava, Moreira de Vasconcelos, no teatro da cidade dos Palmares, quando a morte, em noite de 23 de fevereiro de 1900, malvadamente, o arrebatou. Subia, à cena, “O Calvário”, drama da pena daquela famosa companheira, e em meio à representação, contra-cenando com Luiza Moreira de Vasconcelos cambaleou, levando a mão ao coração.

Era o fim. Era o calvário. “Morreu, no palco. Morreu como um soldado, conta Rêgo Barros, no seu posto de honra”

E assim se extinguiu, dramaticamente, o bom Moreira de Vasconcelos, ator, poeta, e dramaturgo. Quando, no teatro Palmarense, desceu o pano-de-boca, abriram-se mansamente, as cortinas da eternidade. Havia Luz. Era a glória.

Célio Meira – escritor e jornalista. 

LIVRO VIDA PASSADA…, secção diária, de notas biográficas, iniciada no dia 14 de julho de 1938, na “Folha da Manhã”, do Recife, edição das 16 horas. Reúno, neste 1º volume, as notas publicadas, no período de Janeiro a Junho deste ano. Escrevi-as, usando o pseudônimo – Lio – em estilo simples, destinada ao povo. Representam, antes de tudo, trabalho modesto de divulgação histórica. Setembro de 1939 – Célio Meira.

A GLAMOUROSA CHUPETA DO SATANÁS – por Sosígenes Bittencourt.


No tempo de eu menino, ninguém sabia que cigarro entupia os alvéolos pulmonares, provocava enfisema, dava câncer. Quanto mais, menino.

Papai comprava cigarro americano importado e colocava no guarda-roupa. Tinha Half and Half, Marlboro e Pall Mall. O cheiro era de chocolate, e papai dava belas baforadas depois do café, sentado numa cadeira de sofá pé de palito, à la Hamphfrei Bogart.

Às vezes, ouvindo o jogo do Sport Club do Recife, abraçado com um rádio transistorizado. Também desconhecia que cigarro servia para aplacar ansiedade, era ansiolítico. E eu ficava ansioso para experimentar sem jamais ter inalado.

Um dia, eu entrei no seu quarto, e a porta do guarda-roupa estava entreaberta. O cheiro de chocolate incensava o cubícu…

Sosígenes Bittencourt

…e o São João era assim… – Por Alfredo Sotero (em 1947)

Quando o Brasil era brasileiro e não havia comunistas, nem as moças solteiras sabiam as coisas que sabem hoje, o São João era tão lindo!

De manhã, os bacamartes estrondejavam defronte da igrejinha, nas perigosas viradas do cocho; e os meninos acordavam assustados, querendo saltar da cama de camisola arrastando, para verem como se acordava São João, que a lenda suave dizia que estava dormindo sem parar, no silêncio do céu.

De noite, depois de cear pamonha de côco, canjica, milho verde assado, milho verde cozido, bolos sem conta, a gente ia acender a fogueira votiva que ardia estrelejando o espaço com milhões de trêmulas centelhas. E ia ver no espelho ou na bacia com água, à luz fugaz, às próprias faces, para saber se para o ano ainda estava vivo. E a Maroquinhas, a moça nervosa, espiava e não via, por mais que fizesse, e saía chorando pela casa, a dizer a todos que no ano seguinte já não era deste mundo.

E os “mosquitos” passando pelos pés da gente, as meninas correndo e chorando, para as queixas sem fim às mamãezinhas, contra os meninos desesperados, que só queriam jogar nelas os “diabinhos”…

E o Sebastião, um moleque escanzelado e fedorento, que tinha fé em São João, mas muito em Nosso Senhor Jesus Cristo, e espalhava as brasas da fogueira, que parecia então uma enorme melancia de fogo e madura, aberta, sobre cujas as brasas o moleque danado passava, indo e vindo, como se pisasse flores, mostrando a força da fé…

E os rapazes da vila, depois que as devotas voltavam do terço, para se mostrarem às namoradas, acendiam os buscapés, que abriam na noite as faixas fulgurantes, como línguas de prata líquida, que, soltos no ar negro e calmo, cabriolavam, tombando depois sobre a terra, numa agonia luminosa, estertorante, envoltos num sudário de luz irisada e diáfana, como uma aurora sidérea, nas desoladas regiões polares.

Tudo passou. Calaram-se os bacamartes que os doutores desbrasileirados sepultaram nos báratros do oceano. Tudo se foi. Somente a saudade no coração da gente que ainda vive, vinda daqueles tempos felizes, ainda chorando na estrada do tempo. E quando todos morrerem tudo será silêncio, que é o tumulo branco das recordações extintas.

Alfredo Sotero de Farias, foi natural de Apoti, (Glória do Goitá), diplomado em Farmácia e Química, exerceu sua profissão em Laboratórios. Freqüentando, desde a adolescência, esta cidade e possuindo acentuado pendor para as letras, colaborou na imprensa local e na interiorana, passando a ser assíduo colaborador do Jornal do Commércio, do Recife. Foi um dos fundadores da “Academia de Letras dos Supersticiosos”, com Samuel Campelo, Célio Meira, José Miranda e outros. Em dezembro de 1915, adquiriu e instalou a Rua Barão de Rio Branco nº 22 uma tipografia (Tipografia Gutemberg), que depois vendeu a Célio Meira, na qual foi impresso o bi-semanário “A Coluna” (1916 – 1919), um dos mais bem elaborados jornais do interior. Faleceu em 1981.

O Botafogo dobrou o gigante PSG……

Por mais que sejamos bombardeados pela pauta do futebol, nas mais diversas plataformas de comunicação, sobretudo nos noticiários televisivos, não acompanho o “dia dia” do futebol profissional, nem o nacional muito menos o internacional.

Mas a Copa do Mundo de Clubes da FIFA, realizada nos EUA, independente de qualquer coisa, é algo  convidativo. Na medida do possível, venho acompanhando a participação dos 4 times brasileiros.

Pois bem, fazia muito tempo que tinha ficado acordado até meia-noite por conta de futebol. Mas na noite de ontem (19) valeu a pena assistir a partida entre o Botafogo e o PSG – time francês que se configura numa verdadeira constelação do futebol mundial.

Desde os primeiros minutos até o apito final  o Botafogo jogou aquilo que seria o possível e o perfeito para dobrar o gigante (PSG). Venceu-o  por 1X0 e escreveu nas páginas do livro da sua já gloriosa história mais um capitulo memorável.

Vida Passada… – Conselheiro Sá e Albuquerque – por Célio Meira.

Antônio Coelho de Sá Albuquerque, nasceu no engenho “Guararapes”, em terras de Muribeca, na antiga vila de Jaboatão, no último ano do Brasil colônia. Aos 17 anos, concluiu o curso de preparatórios, e aos 21, na velha e famosa Escola de Direito de Olinda, recebeu a láurea de bacharel. Inteligente, culto, atirou-se Sá e Albuquerque, à vida pública, exercendo, na terra nativa, os cargos de procurador fiscal da Tesouraria da Província e de diretor da instrução primária. Traçou, nesse posto, em memorável relatório, endereçado ao governo, conta um biógrafo, o programa de combate ao analfabetismo.

Aos 31 anos, governou a província da Paraíba, desenvolvendo a agricultura, administrando, mais tarde, a de Alagoas, onde combateu, tenazmente, a febre amarela, conquistando os aplausos do povo. Teve, ainda, nas mãos, antes de ser ministro, as rédeas do governo das províncias do Ceará, do Pará e do Maranhão, revelando-se, sempre, um estadista enérgico, justiceiro e honesto. Representava Pernambuco na Câmara Geral, quando, Caxias, chefe do gabinete de 2 de março de 1861, lhe confiou a pasta do Estrangeiro.  Pertenceu, também, à frente da pasta da  Agricultura, em 1862, ao desventurado gabinete, que durou 3 dias, chefiado pelo eminente Zacarias de Góis. Nesse mesmo ano, ocupou a presidência da província da Baia. E no ano de 1865, mereceu a honra de substituir Francisco Xavier Pais Barreto, preclaro pernambucano, nascido em Cimbres, na cadeira vitalícia do Senado.

Voltando ao poder, em 66, com o gabinete de 3 de agosto, Zacarias, chefe liberal, não se esqueceu do ilustrado companheiro do ministério de 62, e lhe entregou a pasta do Estrangeiro. Nesse ministério, referendou, Sá e Albuquerque, o decreto que concedeu a “liberdade dos rios às nações amigas”. Imortalizou, esse decreto, o nome desse eminente jaboatonense, na sua elevada e fulgurante vida pública.

Doente, licenciou-se, esse honrado ministro, viajando com destino à terra natal, onde esperava retemperar o organismo para novas lutas. Era moço e tinha esperanças de realizar grandes obras, servindo ao governo e à pátria. A morte, porém, o seguia de perto. Na viagem que empreendeu, buscando o berço nativo, faleceu, a 22 de fevereiro de 1868, defronte da cidade de Salvador, na província da Baia. Tinha 41 anos. Foi sepultado no cemitério de Santo Amaro, no Recife.

Deputado, senador, presidente de 6 províncias, três vezes ministro, merece a memória do conselheiro Sá e Albuquerque as homenagens de Pernambuco.  E bem louvado será o governo de Jaboatão, se der o nome do respeitável, por todos os títulos, desse pernambucano, a uma escola primária, no distrito de Muribeca.

Célio Meira – escritor e jornalista. 

LIVRO VIDA PASSADA…, secção diária, de notas biográficas, iniciada no dia 14 de julho de 1938, na “Folha da Manhã”, do Recife, edição das 16 horas. Reúno, neste 1º volume, as notas publicadas, no período de Janeiro a Junho deste ano. Escrevi-as, usando o pseudônimo – Lio – em estilo simples, destinada ao povo. Representam, antes de tudo, trabalho modesto de divulgação histórica. Setembro de 1939 – Célio Meira.

Venceu Vitória de Santo Antão – por José Maria Aragão.

Não sei se os vitorienses mais jovens sabem a origem do nome “Vitória de Santo Antão”. No governo discricionário de Getúlio Vargas (1937/1945), foram dissolvidos o Congresso Nacional, as Assembleias Legislativas e as Câmaras Municipais; todos os governadores eleitos foram substituídos por interventores federais que nomeavam os prefeitos dos Municípios.

No início dos anos 40, foi baixado um decreto-lei federal proibindo a existência de municípios com o mesmo nome. Teriam prioridade para manter seus nomes os municípios mais antigos e os que fossem capitais de Estados. Na época, havia três Vitórias: a capital do Espírito Santo, outra na Bahia e a nossa, em Pernambuco. Assim, a  única que poderia manter seu nome seria a capital capixaba.

Meu pai, José Aragão, então prefeito da Vitória (PE), considerou que o tema, por sua importância, deveria ser objeto de uma consulta popular e convocou um plebiscito. Apresentaram-se dois nomes: VITRICE, sugerido por um grupo liderado pelo então Chefe do Posto de Higiene local, o médico vitoriense dr. Holanda Barros e outro, apoiado pelo prefeito, que propunha agregar ao nome Vitória, o do padroeiro da Paróquia de Santo Antão, já homenageado com uma belíssima imagem, em tamanho natural, existente no altar-mor da Igreja Matriz.

A população, por larga maioria, optou pelo segundo nome, com o que o antigo município da Vitória passou a ostentar o seu nome atual. Outro município atingido pelo decreto-lei foi Vitória da Conquista, na Bahia, mas por motivo diferente: um município mineiro – Conquista – era mais antigo que o baiano e teve prioridade para manter seu nome e a atual Vitória da Conquista teve de mudar sua denominação e o fez como homenagem à conquista, pelos portugueses, de território antes dominado por população indígena.

José Maria de Aragão  Melo. 

BEL. MÁRIO BEZERRA DA SILVA – por Sosígenes Bittencourt.

 

Isso foi no tempo de Coca-Cola à base de noz de cola, acondicionada em garrafa de vidro. Hoje, toma-se xarope gaseificado em ampola de alumínio. Mário Bezerra da Silva me deu uma aula, no primeiro andar, sobre Análise Sintática, que nunca mais esqueci a diferença entre Sujeito e Predicado. Não imito direitinho, com o livro de Português, de José Brasileiro Vilanova, nas mãos, em respeito à alma do insigne diretor.

Vi, muitas vezes, o povo sair da calçada para o bel. Mário Bezerra desfilar de queixo erguido, meio de bandinha, com os sapatos rigorosamente engraxados. O paletó conhecia o caminho, da Rua Horácio de Barros à Praça Leão Coroado.

Mário era perfeccionista, gostava dos pontos nos “ii”, por isso, chegado a uns histerismos quando desobedeciam suas ordens. Contam que Mário só tinha um pulmão, mas quando dava um grito, as colunas do colégio estremeciam.

Não obstante, foi o sujeito que botou moral em colégio, no município. Depois dele, já soube de aluno que urinou, do primeiro andar para o pátio, que nem um Dionísio desvairado, e menino que deu rasteira e puxavante de cabelo em professora de Moral e Cívica.

Sosígenes Bittencourt