a Missa dos Quilombos – por @historia_em_retalhos.

22 de novembro de 1981.

Naquele dia, a chamada ala progressista da Igreja Católica promovia no Pátio do Carmo, centro do Recife, um pedido de desculpas em celebração ao povo preto, na chamada Missa dos Quilombos.

Evento de suma importância histórica, mas às vezes esquecido, a Missa dos Quilombos lançou uma luz sobre as raízes do racismo e sobre a resistência do povo negro.

A celebração foi presidida por um dos poucos bispos negros do Brasil, naquele momento, o mineiro Dom José Maria Pires, arcebispo da Paraíba (“Dom Pelé”).

Ao seu lado, o anfitrião Dom Hélder Câmara, arcebispo de Olinda e Recife, que propôs o desafio de realização do ato.

No comando musical, uma das mais elevadas expressões do talento, sensibilidade e criatividade da música brasileira: Milton Nascimento.

Milton estava ao lado de Dom Pedro Casaldáliga e do poeta Pedro Tierra. A escritora Inaldete Pinheiro integrava os grupos de dança de matriz africana.

Em um ambiente ainda opressivo de uma ditadura militar já em declínio e pelas mãos de uma instituição ainda muito conservadora (a Igreja Católica), Dom José Maria Pires afirmou com muita coragem que a igreja historicamente “frequentou mais a Casa Grande do que a Senzala”.

“A igreja não estava com os negros e hoje parece que começa a estar. Começa a nos querer bem, a respeitar a nossa cultura e não tratá-la mais como grosseira superstição”, afirmou.

Do Vaticano, viera a odem de interdição ditada pela Congregação da Doutrina da Fé, dirigida pelo cardeal Joseph Ratzinger, proibindo sumariamente a missa como uma celebração da eucaristia.

No Recife, os jornais estampavam: “Missa Negra, coisa de satanás, profanação do culto sagrado promovida por Hélder Câmara, o bispo dos comunistas”.

Mas chegaram tarde.

Cerca de 8 mil pessoas lotaram o Pátio do Carmo.

“Claro que dirão, Mariama, que é política, que é subversão, que é comunismo. É Evangelho de Cristo, Mariama”, exaltou Dom Helder Câmara.

Apesar de desconhecida da maioria, a Missa dos Quilombos contribuiu decisivamente para consolidar o 20 de Novembro como o Dia Nacional da Consciência Negra, instituído pelo Movimento Negro Unificado, em 1978.
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Solenidade de aniversário dos 74 anos de fundação do Instituto Histórico da Vitória.

Na noite da terça-feira (19), véspera do feriado, o Instituto Histórico e Geográfico da Vitória promoveu Sessão Solene para comemorar os seus 74 anos de fundação. O evento ocorreu no Teatro Silogeu José Aragão.  A recepção aos convidados ocorreu nas dependências da “Casa do Imperador”.

Na programação, além de uma explanação e uma sequência de fotografias expostas no telão, o presidente da entidade, professor Pedro Ferrer, falou sobre o dia da Consciência Negra.

Na sequência, houve tomada de posse de novos sócios e condecorações. Dois sócios, Cristiano Pilako e Jones Pinheiro,  foram agraciados com o Diploma e a  Medalha dos 70 anos do Instituto Histórico.

A referida condecoração –  Diploma e Medalha dos 70 anos do Instituto – foi uma das ações programadas pelo Instituto para o ano de 2020 que foi interrompida pelos efeitos restritivos causados pela pandemia da Covid-19.

O evento contou com a presença de diversas autoridades, convidados e familiares dos homenageados.

MORTONAUTA – por Sosígenes Bittencourt.

Não só saber viver, mas saber morrer também é uma arte. Em Vitória de Santo Antão, tinha um sujeito tão pirangueiro que, ao falecer, a esposa resolveu dar-lhe um sepultamento digno de suas economias, comprando-lhe um suntuoso caixão. Quando o falecido ia, ali, pela antiga Rua da Paz, a bordo de sua urna funerária, resolveu recobrar os sentidos:

– Quanto custou este caixão, fulana? – perguntou a sua inconsolável esposa.
– Custou tantos e quantos, meu querido – respondeu-lhe, temerosa.
Aí, o ressuscitado “remorreu” para século sem fim, amém.

Sosígenes Bittencourt

Dra. ANA VERUSA CUNHA DE SOUSA – por Sosígenes Bittencourt.

(Parabenizando-a pelo transcurso de mais uma data natalícia)
Conheci-a no oitão da Igreja Matriz de Santo Antão, eventualmente, num Domingo, à noite, apropriado teatro para sua vocação religiosa, sua catolicidade teórica e praticante.
Animada, fluente na conversa, dissertava sobre assuntos mais diversos e manifestava o interesse por variedades, como tocar piano, falar duas línguas neolatinas: francês e italiano – e uma anglo-saxônica: inglês. Colecionadora de antiguidades, também versejava, embora não revelasse interesse de editar livro até então.
Na correnteza esperta do tempo, como no dizer do poeta Drummond, fomos consolidando amizade, fundada na preocupação intelectual com o Universo.

Pouco poderia imaginar que, lá adiante, tanto iria precisar de seus saberes científicos, médicos, como especializada em Endocrinologia, não obstante experiente em Clínica Geral, resgatando-me o ombro de uma dolorosa bursite e a vida do acometimento da Covid-19. Diagnóstico e medicação sem pestanejar, lépida, despachada, e combate efetivo das enfermidades. Uma eficiência, acendrada no conhecimento, adquirido com a aplicação da inteligência, ressaltando-lhe a Sabedoria. Como diziam os gregos: A Inteligência é uma faculdade humana, cuja virtude é a Sabedoria (Sofia).

Por tudo exposto, já não era sem tempo, manifestar o meu agradecimento pelas dádivas e fazê-lo em nome de minha cidade, pelo resgate de tantas vidas, ora acorrentadas a doenças, ora no limiar da morte, durante 16 anos e 11 meses de medicina horária, assídua em Vitória de Santo Antão.

Palmas e muito obrigado!
Muito obrigado!

Sosígenes Bittencourt

Uma noite queirosiana no Recife – por Marcus Prado

Durante mais de uma década o escritor português Eça de Queiroz (1845-1900) foi o mais lido no Brasil, rivalizando com Machado de Assis. Eça está entre os deuses do Olimpo da língua portuguesa. Machado é visto como o patrono da literatura brasileira.Neste país, no século 19, a paixão por Eça de Queiroz deu origem a um neologismo criado por Monteiro Lobato: “Ecite”, que designa um sentimento de fascínio e simpatia pela “escrita eciana”.

No Recife, pode ser vista a única Praça, no Brasil, com o nome de Eça de Queiroz (Bairro da Madalena). Nesta capital, o autor do “Crime do Padre Amaro” inspirou os famosos Jantares Ecianos (1988), que se transformariam na Sociedade Eça de Queiroz, marcando época na vida cultural da cidade. Para cada jantar temático era escolhido um cardápio especial inspirado na obra de ficção de Eça. Foram grandes inspiradores do movimento os escritores Paulo Cavalcanti e Dagoberto Carvalho Júnior.

Tornaram-se referências as obras desses autores sobre as relações de Eça de Queiroz com o Brasil. A notícia de que “aquele pobre homem de Póvoa de Varzim”, chegará ao Panteão Nacional de Portugal, em dezembro, instituição que acolhe e homenageia as pessoas mais importantes da história daquele país, motivou a ideia de reunir em jantar eciano, por adesão, os leitores pernambucanos do escritor português. O evento se dará no restaurante Adega (Clube Português), no próximo dia 05 de dezembro, às 20 horas. Na oportunidade, o escritor e fundador da Sociedade Eça de Queiroz, Dagoberto de Carvalho Júnior, conhecido no mundo lusófono por suas pesquisas sobre a vida e a obra de Eça de Queiroz, será homenageado.A culminância da noite lítero-gastronômica se dará com um pronunciamento do poeta, ensaísta e professor José Rodrigues de Paiva (UFPE) sobre o trabalho de Dagoberto no Movimento confrádico queirosiano do Recife e o espírito universalista de Eça de Queiroz.

Dagoberto de Carvalho é autor de “Eça de Queiroz – Retratos de Memória e A Cidadela do Espírito – considerações sobre a Arte Sacra em Eça de Queiroz”, “Da boa mesa com Eça de Queiroz”. Os sabores da mesa de Eça de Queiroz, narrados na sua obra de ficção, ganham nos livros de Dagoberto conhecimento e encantamento. Foi no Diario de Pernambuco que o movimento eciano nesta cidade teve, desde o começo, uma pauta notável de colaboração e parceria.

O tema começou a evidenciar-se na década de oitenta do século passado, em Lisboa. Foram pioneiros da confraria no Recife: Paulo Cavalcanti e Ofélia Cavalcanti, Dagoberto de Carvalho e Cristina Carvalho, José Rodrigues de Paiva e Arlene Paiva, Mauro e Marly Mota, Gladstone Vieira Belo e Ana Lúcia, Zuleide Duarte, Jordão Emerenciano, Fernando Freyre e Cristina, Silvio Neves Baptista, Magnólia Cavalcanti, Alfredo Xavier Pinto Coelho Affonso, Lucila Nogueira, José Quidute, Maria de Lourdes Hortas, Lourdes Sarmento, Ângela Lins, Jorge Peixoto, Lucia Nery da Fonseca, João Bosco, Pelópidas Silveira, Hélio Coutinho, Silvio Pessoa, Esmeralda Camacho, Laura Areias, Joel Pontes, Marco Aurélio de Alcântara.

Marcus Prado – jornalista.

“Ainda Estou Aqui” – vale a penas assistir……

Na noite do sábado (16), conforme havia me programado, sentei em uma das confortáveis poltronas  do cinema do shopping local para assistir a mais recente produção nacional: “Ainda Estou Aqui”.

Nem de longe sou crítico qualificado da sétima arte. Mas posso dizer que, diferente do que já havia escutado,  o referido filme não é um convite à militância política de quem é simpático aos movimentos esquerdistas. Não! O filme é uma espécie de “documentário”,  retratando  vivências  de uma família que foi impactada pelo regime político de época (1970).

No bojo das informações cinematográficas, sobretudo para os que já passaram do meio século de vida, a película também atua no quesito “destravamento” da memória às coisas da vida do cotidiano de quem foi criança daquele recorte temporal.

Portanto, recomendo esse filme. O mesmo não é “propriedade”  de quem é de “direita ou esquerda”.

Precisamos agregar  informações  que possam nos enriquecer e acrescentar, sempre, no sentido do mais amplo conhecimento,  para uma melhor avaliação do tempo pretérito na conjugação do tempo presente, visando as  melhoras  escolhes  para o tão sonhado tempo futuro.

SAUDOSA AMIGA – por Marcus Prado.

MINHA CARA e SAUDOSA AMIGA Bella Karacuchansky Jozef professora e crítica literária brasileira. Ela era considerada uma das maiores especialistas em literatura hispano-americana do Brasil.

Trocamos durante anos vasta correspondência sobre autores espanhóis de nosso interesse.

Na foto, Bella Josef, comigo, o poeta e acadêmico Mauro Mota, ex-diretor do DIÁRIO, escritor Marcos Madeira (ABL) e o romancista e escritor Raimundo Carrero, na época editor da primeira página do DIÁRIO DE PERNAMBUCO. A foto foi batida na redação do DP.

Marcus Prado – jornalista 

Ação extremista: mais um fato ocorrido para lamentarmos…….

Através da ampla divulgação nos principais veículos de imprensa o País, na noite de ontem (13),  tomou conhecimento dos fatos lamentáveis ocorridos  na Praça dos Três Poderes, em Brasília, por volta das 19:30h, em que  um cidadão,  de 59 anos,  protagonizou uma manifestação com  explosivos. O mesmo, que faleceu no local, chamava-se Francisco Wanderley Luiz,  era do Estado de Santa Catarina. As autoridades estão investigando o caso.

Eventos de ordem extremista, nos quatro cantos do mundo,  infelizmente, não é uma novidade. No Brasil, convenhamos, não é algo muito comum. Mas já fomos obrigados a conviver com vários.

Esse tipo de fenômeno – ações extremistas –, no meu modesto entendimento, é algo tão complexo, face ao contexto dos eventos, que não me cabe, aqui, tentar explicar, analisar ou mesmo descrevê-lo.

O fato é que em terras tupiniquins, de uns tempos para cá,  esses fenômenos  (ações extremistas) estão ocorrendo com mais frequências ou mesmo com menos tempo entre um e outro. Enquanto sociedade, precisamos  ficar atentos!!!

Realizado individualmente, como ocorreu ontem (13) e também no caso da “facada em Bolsonaro”, o fato é que movimentos extremistas na direção de quem quer que seja é, também, um duro golpe na sociedade e, sobretudo, à dignidade humana.

Esse é um tipo de fenômeno – ações extremistas –  que desafia não só o equilíbrio da vida coletiva planetária  como também o entendimento do grande mistério,  por trás da vida de cada  individuo.  Eis um desafio perene à vida humana…..

ENCONTRO CASUAL GRAMATICAL – por Sosígenes Bittencourt.

(Há 5 anos)
13 de novembro de 2019.

Encontrei-me, casualmente, com o curioso amigo Cristiano Pilako, na avenida 15 de novembro, em Vitória de Santo Antão, ladeado por minhas mãe, Damariz, e tia Ricardina, quando fui interpelado sobre uma dúvida na área da Língua Portuguesa.

Na realidade, a pergunta era a seguinte: quando se deveria usar “tem de” e “tem que”.
O uso correto, desde antigamente, é “tem de”, porque o “que” refere-se a um termo anterior, é pronome relativo. Como no exemplo: É possível que você tenha que me emprestar o carro hoje. (Observe que “tenha que” refere-se ao termo anterior “você” e indica uma possibilidade.)

Já, na oração, “A Prefeitura teve de indenizar os garis” – observe que “teve de” refere-se a um termo posterior “os garis” e indica obrigatoriedade ou necessidade. Compreende?

Agora, por causa do uso coloquial do “tem que”, praticado como uma anomalia gramatical prepositiva, foi absorvido como normal, não causando demérito a quem usa nem reprovando o incauto usuário.

Sosígenes Bittencourt

 

Cidadão Vitoriense (Antonense) – o meu discurso…..

Por ocasião do recebimento do nosso Título de Cidadão Vitoriense (Antonense), concedido pela Câmara de Vereadores da Vitória, indicado pelo vereador Doutor Saulo Albuquerque, abaixo, segue, na íntegra, nosso discurso. 

Na qualidade de pesquisador, especialmente  pesquisador da história local, faço questão de contextualizar esse momento.

Mas antes, gostaria de agradecer à Câmara de Vereadores pela honraria, em votação unânime do conjunto desta legislatura, e em especial ao vereador e amigo Saulo Albuquerque pela iniciativa da proposta,  hoje, aqui,  materializada em Sessão Solene.

Ao término deste ato cívico, sairei por aquela porta mais forte, para seguir  caminhando na mesma trilha, na mesma direção, só que agora de “papel passado”, devidamente formalizado, tal qual o destemido conterrâneo, Pedro Ribeiro da Silva, quando,  em 1710, marchou  na direção do  litoral para escrever seu nome,  com letras garrafais,   na Guerra dos Mascates.

Esse,  é o sentimento reinante.

Continuar construindo  e edificando o que existe de mais sublime à relação que liga o sujeito ao local que vive, até porque, como está escrito na página principal do meu blog, desde o inicio do seu funcionamento há mais de 13 anos:   “O Centro do Meu Mundo é a Minha Cidade”.

Pois bem, e  o que significa contexto,  esse termo tão importante para a ciência que estuda a história?

Contexto, entre outras definições,  é a inter-relação de circunstâncias que acompanham um fato ou uma situação.

Neste caso em tela, primeiro,  vamos ao fato:

O fato casual que desencadeou esse momento solene,  neste Poder Legislativo,  não tem muita distância temporal. Ocorreu há pouco mais de meia dúzia de meses,  no Pátio da Matriz, em um  encontro ordinário entre membros do grupo que autointitulou-se  “Missão Cultural”.

“Do nada”, como diz os mais jovens,  surgiu um papo, que nem lembro exatamente como começou, quando,  da parte do amigo Paulo Lima, saltou uma frase em minha direção,  que  terminava com um  misto de  exclamação e interrogação: “quer dizer que você não nasceu em Vitória….?”

Sem pestanejar, o mesmo arrematou:  “daria  um bom título de cidadão vitoriense……”

Em rápidas palavras, na ocasião exposta, expliquei as condições e os motivos pelos quais nós –  meus irmãos e eu – não nascemos em terras antonenses.

Eis que,  tempos depois, numa manhã qualquer,  telefonou-me  o amigo e parlamentar desta “Casa do Povo”, Doutor Saulo Albuquerque,  perguntando se eu estava em meu escritório. Com minha afirmativa, em ato contínuo, com toda educação que exala da sua essência, tornou-me a perguntar   se naquele momento ele   poderia ir ao meu encontro. Sem pestanejar, disse sim!

Logo em seguida, em  uma clássica visita de médico cirurgião – objetiva e rápida -,  sem rodeios e delongas, após os cumprimentos protocolares, foi direto ao ponto: você  aceitaria ser condecorado com um título de cidadão vitoriense?

Por dois motivos primários, não poderia eu, de maneira alguma, negar  essa  honrosa condecoração, mesmo achando, em silêncio,  naquele momento,  que a mesma poderia gerar-me  uma espécie de “cidadania ao quadrado”.

Antes do doutor Saulo concluir sua indagação, com relação à minha permissão,  para seguir com os protocolos  necessários  neste parlamento, lembrei da satisfação do nobre doutor, por ocasião do recebimento do seu título de cidadão antonense, quando reuniu, em ato festivo,  realizado no Clube Abanadores “ O Leão”, além de familiares e amigos, os “gregos e troianos” do mundo político contemporâneo,  da terra desbrava pelo português Diogo de Braga.

Como disse, dois motivos primários não davam-me o direito de negar  tal honraria.

O primeiro,  por se tratar do Doutor Saulo,  uma pessoa com a qual sempre tive a melhor das relações.

O segundo,  por ser algo muito importante para qualquer pessoa, sobretudo para os que conhecem a gênese, os efeitos e os desdobramentos  dessa verdadeira celebração,  no sentido da  inclusão cívica.

Pois bem, e aqui estou nesta tribuna,  vivenciando o tempo presente desse  momento único.

Contudo,  não  posso  deixar de lembrar que a minha mãe, Anita Garilbaldi  Melo de Vasconcelos Barros, que também foi condecorada com um título de Cidadã Vitoriense, no início da década de 90.

O referido título para “Dona” Anita, minha mãe, fora uma indicação do então vereador José Luís Ferrer que, com sua esposa, Lêda,  também participavam  do Lions Clube das Tabocas,  juntamente com meus pais. .

Dona Anita não gostava da exposição da vida em sociedade. Nunca gostou de badalações e não carregava em si a chama acesa da fogueira das vaidades.

Aliás, por coincidência, vale lembrar, presenciei o momento em que o portador da Câmara chegou a nossa residência  para entregar a correspondência,  dando conta da aprovação do já mencionado  título.

Detalhe: diferente de mim, ela não havia sido consultada com antecedência. Tudo resolvido e combinado entre o referido parlamentar e o meu pai, “Seu” Zito Mariano.

Ao abrir a correspondência, ela não gostou do conteúdo. Deu brabo: disse que não iria receber coisa alguma.  Que não havia feito nada para merecer  aquele título.

 Semanas se passaram e, como dizia meu pai, ela  amansou.

Agradeceu a Zé Luís, participou da solenidade, leu um bonito discurso e ainda contou com a presença de todas suas irmãs, que vieram do Recife para prestigiar aquele auspicioso  momento,  inclusive, uma delas, Adir,  muito doente, já em fase terminal.

Essas seriam, portanto, as primeiras considerações que gostaria de compartilhar com todos vocês.

Em ato contínuo, doravante,  por conta deste título, terei que responder  a um sem número de pessoas a seguinte pergunta: e tu num nascesse em Vitória não foi?

Não esqueçamos que para uma boa resposta,  sempre que  possível, precisamos contextualizar os acontecimentos.

Nesse caso, faz-se  necessário buscar nossas  origens familiares para um completo esclarecimento sobre a minha relação com Vitória de Santo Antão.

 Aliás, permitam-me:

Não vou perder essa  oportunidades para uma  rápida introdução à história do nosso torrão.

Por ocasião da sua fundação, em 1626,  chamada de  “Cidade de Braga”,  depois “Povoado de Santo Antão da Mata”, mais adiante,  Freguesia de Santo Antão, Vila de Santo Antão, Cidade da Vitória e, só a partir de 1º de janeiro de 1944, Vitória de Santo Antão, ou seja: só há pouco mais de 80 anos é que ostentamos o nome atual – Vitória de Santo Antão.

Explicando, então,  nossas origens familiares:

Por parte de pai, precisamos ir até à localidade do Caricé, atualmente já  bem urbanizada.  Na segunda metade do século XIX, viveu, lá,  o casal José Mariano da Silva e Francisca Isabel de Barros. Que foram os pais do meu avô paterno, José Mariano de Barros, “Seu” Zezé Mariano. Que foi casado com Laura de Lemos Vasconcelos que teve sua  origem familiar nas terras do Engenho São Francisco.

Zezé e Laura,  pai e mãe, respectivamente do meu pai, José de Vasconcelos Barros ( Zito Mariano).

Papai  nasceu no dia 25 de junho de  1928, exatamente numa das casas que circunda a atual Praça Severino Ferrer de Moraes, localizada no bairro da Matriz.

Na nossa ancestralidade  materna, temos origens plantadas  lá no Engenho Arandú, do meu trisavô, Coronel Manuel Carneiro de Freitas, pai e sogro, respectivamente, dos meus bisavós, Maria José e Antônio, que se uniram em um amor proibido numa noite enluarada do mês de abril de 1880.

Desse matrimonio, inicialmente proibido,  entre Antônio e Maria José, nasceram três filhos. O caçula deles, veio ao mundo exatamente  no dia 23 de março de 1895, em um prédio que servia de comércio e moradia para a  família, na Antiga Rua José Leite, número 02, na localidade que hoje conhecemos como Cabanga.

O meu avô materno,  ganhou projeção  na nossa cidade e fora dela, como Doutor Célio Meira.  Ele foi casado  com  a minha avó materna,  Alzira Valois, filha de tradicional família antonense, que contraíram matrimônio em 20 de janeiro de 1919.

Dessa união, 1 filho e 8 filhas (uma de criação). Dentre as  quais, minha mãe, Anita Garibaldi Melo de Oliveira Valois que nasceu na cidade do Recife, em 03 de junho de 1932.

José de Vasconcelos Barros, Zito Mariano e Anita Garibaldi, começaram a namora num baile  de carnaval, no Clube “ O Leão” e após 5 anos de namoro e 5 de noivado, se casaram num sábado, 21 de maio de 1955, na Igreja Matriz da Boa Vista, na cidade do Recife.

Dessa união matrimonial, nasceram 11 filhos:

Pela ordem: José, Josenita, Célio, Geraldo, José Mariano, Lauro,  Eliane, Luciana, Alzira, Laura e Cristiano, esse que vos fala. Dos 11 filhos, 8 estão vivos.

Precisamos, mais uma vez, contextualizar, essa narrativa. Isto é:

Os  motivos  pelos  quais, nossos pais, com raízes familiares profundas na Vitória de Santo Antão, como vimos anteriormente,  tomaram a difícil decisão de não terem seus filhos nascendo no solo mãe.

Por ocasião do nascimento do primogênito, José, que foi o primeiro e único filho a nascer na residência da família, à época, localizada à Rua Horácio de Barros, no 113, exatamente no dia 25 de março de 1956, num sábado que antecedia à celebração católica do  Domingo de Ramos, um fato trágico marcou e  mudaria, definitivamente, a história  da vida familiar, do casal Zito e Anita.

Ele, o nosso irmão, José, fora sepultado no dia seguinte ao seu nascimento. Dois motivos, supostamente,  teriam motivado sua prematura  morte:

O primeiro, teria sido  uma queda, sofrido por minha mãe,  dias antes do parto.

O segundo, a não assistência adequada da parteira que foi obrigada  a se  dividir  entre dois partos,  simultâneos,  em endereços diferentes: O de  Mamãe e o da professora Inês Bandeira.

Traumatizado e assustado, logo no nascimento do primeiro filho, o casal,  Zito e Anita, juntos, decidiram que o nascimento dos próximos filhos aconteceriam  na cidade do Recife.

Esse trágico acontecimento familiar e os seus desdobramentos, portando, foram  os motivos  pelos  quais, meus irmãos e eu, não nascemos em Vitória:  somos todos recifenses de nascimento.

Eu, o mais novo de todos,  assim como a maioria dos meus irmãos, nasci no coração da Cidade do Recife, numa  maternidade, localizada na Avenida Conde da Boa Vista.

Nascido em 26 de dezembro de 1967, desde os tempos da tenra idade, habitei o universo da Vitória de Santo Antão,  de fisionomia cinzenta, com muitas ruas  centrais ainda de chão batido e pouco iluminada, mesmo no entorno da Igreja Matriz de Santo Antão.  Meu universo inicial foi a Avenida Silva Jardim se prolongando, mais adiante, ao Pátio da Matriz.

Meu mundo consumidor de criança se limitava a dois pontos comerciais: a venda de Luizinho e à Lojinha de “Seu” Pedro. Ambos numa circunscrição territorial num raio de 100 metros  de distância da casa de número 209, da Avenida Silva Jardim.

Com minhas irmãs e um conjunto de vizinhos,  de  idade semelhante, escalamos todos os galhos das árvores dos nossos quintais. Sou de um tempo, muitos aqui lembram bem, das brincadeiras coletivas e  presenciais.

Invariavelmente, após o jantar, o nosso playground se materializava na hoje movimentada e frenética,  Avenida Silva Jardim. Detalhe:   sem sermos incomodados pelo vai e vem dos  carros. Motocicleta, naquela época, bem diferente de hoje, era assemelhado a um bicho de 7 cabeças.

Em compensação, naquele tempo, assistíamos com certa frequência,  as “touradas da Espanha” em plena via pública, quando um “boi brabo”, prevendo sua hora derradeira,  teimava em não seguir obedecendo aos seus algozes, no caminho para o matadouro local.

Tive o privilégio de ocupar  a Praça Dom Luiz de Brito, naquele tempo ainda de chão batido,  como espaço  para a hora do recreio, uma vez que os meus primeiros contatos com  as letras ocorreram  na Escola da Professora Regina – prédio vizinho ao Clube Leão.

Após a Primeira Eucaristia, ocorrida na Matriz de Santo Antão, no dia 09 de novembro de 1976, sob a liderança do sempre respeitado Padre Renato da Cunha Cavalcanti, na qualidade de aluno, também ocupei, por mais de uma vez, o palco do auditório do Colégio Nossa Senhora das Graças para as sempre prestigiadas apresentações festivas, principalmente, do dia das mães.

No Colégio Municipal 3 de Agosto, além de estudante por vários anos, fui atleta campeão de handebol,  quando ainda pertencia à categoria dos que possuíam  menos de uma dúzia de anos.

Subir e descer o nosso tradicional trepa bode e remendar, às escondidas,  os trejeitos do sempre temido Doutor Mário Bezerra eram as grandes transgressões comportamentais daquele recorte temporal.

De posse da primeira bicicleta, de marca Caloi, na cor vermelha e de ano 1979, os horizontes territoriais, locais,  para exploração foram demasiadamente  dilatados.

Não irei, evidentemente, revirar os arquivos de criança que estão guardados nas muitas gavetas da memória, para não me alongar,   mas poderia descrever, com riqueza de detalhes, cada palmo que descobri na minha Vitória de Santo Antão, até dos “pecados” celestiais quando, por traquinagem mesmo, apagava as velas,  fixadas  pelos fiéis católicos,  em devoção,  nas caixas das almas espalhadas,  e ainda entupia, com pedras, os espaços dedicados à oferta em moedas.

Desde sempre, gostei  de participar das atividades coletivas:  quermesses  religiosas, Natal, Ano Novo, Carnaval, São João, jogos estudantis, feira de ciência, futebol nos campos de peladas, rachas de bicicleta e tudo mais que se tinha direito de fazer.

 O que dizer,  então, das aventuras com destino ao Monte das Tabocas, nas solenidades cívicas do dia 3 de agosto?

Dos tempos de jovem,  o desejo  de participação seguiu no mesmo ritmo, imbuído do mesmo sentimento. Os exemplos  de casa, dos meus pais e dos meus irmãos mais velhos apenas endossava o nosso envolvimento  com as atividades sociais e coletivas. Como diz o pensador: “ a palavra convence, mas o exemplo arrasta”.

Ao  ingressar no conjunto da vida dos  adultos, à qual, diferente do mundo encantado e lúdico das  crianças, sonhador e aventureiro da juventude,  ninguém mais poderá  agradar a todo mundo, até porque a vida adulta se configura numa espécie de “estrada de conflitos” em que  devemos evitar os trechos em contramão, sempre  respeitar a sinalização vigente, não permanecer por muito tempo nos  caminhos indesejados, quando necessário manobrar,  no limite da segurança,  o comportamento e mudar  rapidamente   na iminência de uma colisão fatal para continuar viajando no transporte coletivo do mundo da  existência, no sentido do  trajeto sinuoso e misterioso, de forma suave, natural, equilibrada e  definitivamente edificante e profícuo, sempre guiado pelo farol do ineditismo, pois, nessa viagem, nunca haverá de ter um caminho que nos leve ou nos coloque no ponto da partida.

E é nesse mundo, dos adultos, que tomo a decisão de casar com Soraya de Melo Breckenfeld,  em 08 de abril de 2000, na Igreja Nossa Senhora de Fátima, localizada no bairro de Água Branca para, juntos,  confeccionarmos  o maior de todos os patrimônios: nosso filho Gabriel, hoje,  com pouco mais de  21 anos.

Com o imperioso amadurecimento,  novas definições são necessárias. Definições profissionais, nova configuração  familiar, novos  ciclos de  amizades,  posições políticas em sintonia com  o que verdadeiramente se pensa  e ainda, dialogar com uma sociedade gigante, vulnerável  a  todos os tipos de questionamentos,  aos  quais,  de uma forma ou de outra,  temos  obrigação de prestar contas , principalmente aos inquisidores, cada vez mais implacáveis que se apresentam de forma remota, através dos algoritmos,  muitas vezes manipulado pela  chamada IA – ou seja: Inteligência Artificial do mundo virtual, irreversivelmente, doravante,   mais real e presente no nosso cotidiano.

Mas se aqui estou, nesta casa que representa a pluralidade do pensamento político democrático da nossa cidade, sendo condecorado com um Título  Honroso, é porque imagino que seja merecedor,  possivelmente pela nossa efetiva  contribuição enquanto cidadão, chefe de família, profissional de várias atividades laborais, pelo sentimento altruísta na direção das  várias entidades sem fins lucrativos e pelo legado que continuamos a  construir,  naquilo que chamamos de Educação Patrimonial.

No nosso jornal eletrônico, intitulado Blog do Pilako, por exemplo, desde o início da sua operação até os dias hoje,  já postamos mais de 29 mil matérias com conteúdo genuinamente antonense.  Esse legado não é promessa, ele já existe e já está disponível na internet,   gratuitamente,  a  todas as pessoas.

Inclusive, permitam-me dizer:  é o espaço  virtual mais indicado pelos professores quando se tratada de conteúdo e  conhecimento  da historiografia local.

No nosso projeto “Corrida Com História”, algo sus generis no planeta terra, é algo que, concretamente,  desperta e transforma   nas pessoas  de todas as idades,  à percepção e o   interesse pelos  fatos locais e pela história dos nossos antepassados.

Com alegria, entusiasmo e verdade adaptamos a linguagem, muita vezes  densa  e enfadonha dos livros de história,  para uma  comunicação rápida, alegre, curiosa e objetiva, justamente para despertar o interesse dos que nutrem pela cidade o sublime sentimento de pertencimento.

Indiscutivelmente, o nosso projeto, num só tempo,  esportivo e educativo é  aprovado pela  cidade inteira e  desejado e cobiçado  alhures.

Pensar coletivamente, na prática,  se configura em  colocar-se  entre todos.  É  um estilo de vida que vai  muito além do interesse das conveniências, das  retóricas rebuscadas e midiáticas. Pensar coletivamente é sempre ter, concretamente, o desejo de contribuir.

E é  nesse sentido contributivo, que gostaria, com a permissão dos parlamentares desta Casa,  de deixar, aqui, enquanto estou recebendo esta importante comenda, que retrata um momento ímpar  da minha existência,  uma sugestão que julgo, pela sua magnitude  histórica,  ser um projeto não apenas de um vereador, mas do conjunto deste parlamento, que hoje se utiliza deste prédio histórico que, diga-se de passagem, possivelmente é a única edificação do nosso torrão  que deu guarida aos  três poderes  constituídos, ou seja:   Poder  Executivo, Poder Judiciário e  Poder Legislativo, em tempos  distintos, valendo salientar.

Com relação à sugestão, refiro-me  ao nosso gentílico. Mas o que vem a ser gentílico?

Gentílico é um termo utilizado para designar o nome dado aos habitantes de uma determinada localidade, seja ela uma cidade, estado, país ou região. É uma palavra que deriva do latim “gentilis”, que significa “relativo a uma mesma família ou povo”. O gentílico é uma forma de identificar e diferenciar as pessoas de acordo com sua origem geográfica, sendo um elemento importante para a construção da identidade cultural de um local.

Pois bem, sermos identificados, apenas por vitorienses, não nos define com precisão, cabendo  perguntar: você é  vitoriense de que estado?

Portanto, este Poder Legislativo, verdadeiro e legítimo espaço de representação da nossa gente, instalado no contexto da elevação à categoria de “Vila” – Vila de Santo Antão, em maio de 1812, poderá  nos presentear, se assim achar conveniente,  por ocasião da passagem dos 400 anos de nossa fundação, que acontecerá em 17 de janeiro de 2026, ao acrescentar, de maneira oficial o nosso segundo gentílico, o  Antonense, este,  sim! Uma representação única e indubitável que expressa, verdadeiramente, as nossas origens.

Portanto, ao final dessas  minhas palavras, espero haver conseguido transmitir, de maneira plena, minha satisfação. Minha alegria e também a história dos meus ancestrais que, como já falei, tem raízes profundas fincadas nessa circunscrição territorial que hoje chamamos de Vitória de Santo Antão –  que também ostenta, com orgulho,  o título de  Capital da Zona da Mata.

Com ou sem “cidadania ao quadrado” ,  o fato é que, agora, através do “papel passado”, sou, indiscutivelmente vitoriense, e/ou antonense.

Certamente, Doutor Saulo, se meu pai, Zito Mariano estive ainda no mundo dos vivos, estaria feliz pela sua indicação e pela aprovação deste reconhecimento,  pela Câmara. Mas não poderia deixar de dividir com minhas irmãs e meus irmãos esse reconhecimento, pois assim como eu, todos nasceram na cidade do Recife, mas foram e são atores importantes, cada qual no seu quadrante,  na construção e engrandecimento do nosso lugar.

Uma sociedade não se constrói apenas com sonhos, projetos e palavras. Aos olhos da história, por compreender, construir e usar essa ferramenta da ciência de maneira tão vibrante e responsável,  espero que o meu esforço , no sentido da construção  e edificação coletiva,  seja  útil  a todos:

Aos mais velhos e aos mais jovens, mas sobretudo aos que ainda irão nascer.  Até porque, permitam confidenciar-lhes: sou uma espécie de obra de mum mesmo!

Concluo esta fala,  lembrando as palavras do ativista social  e jornalista  antonsense,  Gomes Silvério,  que trazia,  sempre no  alto da primeira página do seu jornal, “O Liberal Victoriense”,  de 1869,  a seguinte frase:  “QUANDO A LIBERDADE PERIGA, TODO CIDADÃO DEVE SER UM REVOLUCIONÁRIO”.