Momento Cultural: Um Coração – por Corina de Holanda

Corina de Holanda

De um coração eu sei, agraciado

Desde a primeira pulsação, ditoso,

Não soube a cor da nódoa do pecado,

De virtudes foi ninho esplendoroso

 

E junto ao qual, o coração grandioso

De Jesus, palpitou desassombrado;

Um coração que atende ao desgraçado

Com o mesmo amor que atende ao venturoso.

 

Sacrário augusto onde a pureza habita,

Fonte viva de amor, fonte bendita,

Correndo pressurosa noite e dia,

 

Para extinguir o fogo das paixões

Em que se queimam tantos corações

É o coração Sagrado de Maria.

 

Momento Cultural: Bolso de Menino – por ALBERTINA MACIEL DE LAGOS

Profª Albertina Maciel de Lagos

(Jogralizado para o “Dia da Criança” por uma comissão de professores da Secretaria de Educação e Cultura)

– Olá, meu petiz, peralta vadio
esculte uma cousa, chegue-se a mim…
– Por que está a enumerar
e, cuidadoso a guardar
tanta bugiganga
no seu bolso de “menino levado”,
que só faz diabruras
de ninguém poder mais suportar?
esvazie o seu bolso.
Quero ver
o que, com tanto egoísmo
colecionou
e nele guardou!
– O gente!…
o senhor é fiscal
para me “correr”?
não fiz nenhum mal
para assim proceder.
– Não, meu petiz,
apenas quis
que você mostrasse os brinquedos
que o seu bolso contém,
porque fazendo,
recordo, agora,
o tempo de outrora
quando, como você
era eu menino, também.
– Não se zangue, por isso, amiguinho,
é, com ansiedade
que, movido pela Saudade,
quer ver, se os brinquedos seus
são iguaizinhos aos que foram meus.
– pois bem, velho amigo do papai,
ser feita, agorinha, vai
a sua vontade…
e, aqui, em suas mãos,
o meu bolso de menino
tão traquino,
recheiado de brinquedos
que, só pra você, vou contar
e enumerar

1º) Repare bem: um bonito pinhão
que jogo, sem canseira,
com afiada ponteira, (joga o pinhão)…
e que, de tanto rodar e zunir (apara-o),
fazendo: zum… um… um… um!
parece até dormir,
e, como gente, sonhar, sonhar!

2º) A atiradeira!…
Chi!… com um seixinho
marco o alvo tão certinho
que na escapa
num tremendo: “bateu, morreu! (atira)

3º brinquedo, meu velho
bolinhas de gude!…
ah! nem é bom falar
nas frequentes jogadas
nas calçadas! (joga um instante)

4º) Agora vem o realejo!…
outro brinquedo não vejo,
mais divertido,
que faça sambar
e até rebolar
a meninada
desenfreiada! (toca e samba)

5º) tampinhas de garrafas!…
Com elas faço rodas de carrinhos
que se põem a locomover
em disparada a correr (mostra e movimenta um)
6º) brinquedo: – caixa de fósforos para acender
(acende depressa um fósforo)
– Um perigo!… (grita a mamãe
Com fogo, menino, não se deve brincar
porque um incêndio pode lavrar!

7º) Agora é a vez do apito!…
Lá, em casa, fica tudo taciturno
quando, imitando o Guarda Noturno,
resolvo, então,
sem a devida licença esperar,
apitar, apitar, apitar, assim: (apita forte)
(Continuando a esvaziar o bolso):
– “O restinho nada vale”
filme quebrado
ponta de lápis,
caixa vazia…
– Pronto! Eis, meu amigo,
um bolso recheiadinho
de menino levadinho!
– Então, ficou satisfeito?…
– Mas… que vejo?!… Que é isto?!…
Por que, meu amigo está chorando…
e as lágrimas, assim, enxugando?!…
– E que, também, fui criança,
e, não me sai da lembrança
o tempo que,
como você,
meu petiz,
fui puro, bom,
alegre e feliz!
(SILENTE QUIETUDE – ALBERTINA MACIEL DE LAGOS – pág. 45 a 47).

Momento Cultural: Estranho – João do livramento.

garanhuns 003-1

Hoje olho para ti e não o reconheço

A tua face sempre firme e impávida

Se faz agora como a de tantos outros

Erigido antes em um firme rochedo

Reformaste o que perfeito estava

Hoje assentado em solo pantanoso

Vejo a lama invadindo a tua casa

Sem olfato inalas toda a podridão

Cego não enxergas tanta imundice

Grito teu socorro mas não escutas

Não quero teu horroroso presente

E fujo em direção ao teu passado

Pois é lá que encontro meu futuro

 

João do Livramento.

Momento Cultural: O TEMPO E A ETERNIDADE – por MELCHISEDEC

Melchisedec

O que tem começo, meio e fim, não identifica o Eterno, cujas qualidades anulam o tempo.

O Eterno não está subordinado ao tempo. O que tem começo, meio e fim não exprime o que é Eterno. O que é Eterno não pode estar sujeito ao tempo, porque não tem princípio e nem fim, dura sempre.

O ser humano busca refúgio nas coisas ilusórias, efêmeras, que enganam os sentidos. É fácil verificar que essa coisas têm começo, meio e fim, tanto do ponto de vista físico como psicológico.

O homem preso aos conflitos interiores procura apegar-se a alguma coisa que satisfaça ao ego, que influencie o seu comportamento na sociedade. Esse apego o leva a pensar que esse estado de coisa ajuda livrar-se da angústia, da aflição, da perturbação, embora essa situação que serve de refúgio esteja presa ao tempo, ao instante, porque é ilusória e logo é recambiado para a realidade, a qual é ele mesmo. Essa coisa que por momentos pareceu ser a solução dos seus problemas deixa apenas um gosto amargo de desilusão, de melancolia, de profunda tristeza. Tudo isso são apenas fugas para encobrir as frustrações que ele busca para atingir um resultado antes projetado por sua mente em estado de perturbação, procurando apegar-se a alguma coisa que sirva a sua personalidade.

Percebemos que as ilusões mentais que nos apegamos pensamos ser reais, nada mais é que instantes passageiros, elevados pelo estado mórbido da nossa mente que sofre injunções, limitações do tempo, da continuidade, caracterizadas pela duração, isto é, começo, meio e fim, estão separadas da realidade, porque são criações lúbricas, atos, práticas, atitudes, que ocorrem quando buscamos ajuda no Eterno, como se o Eterno estivesse longe, separados de nós.

Podemos ser contestados por alguém, afirmando que os contatos breves, ainda que numa suposta realidade, preparam a pessoa para uma integração com o Eterno e o que hoje vemos como uma fantasia, amanhã poderá ser uma realidade.

Tudo o que sofre as injunções ou limitações do tempo é falso, visto que só busca o prazer.

(VERDADES FUNDAMENTAIS – MELCHISEDEC – pág. 63 e 64).

Momento Cultural: O Palhaço – por STEPHEN BELTRÃO

Stephem Beltrão

Ao inesquecível Carequinha

 

Ô! Raia o sol, suspende a lua

Olha o palhaço no meio da rua!

Ô! Raia o sol, suspende a lua

Olha o palhaço no meio da rua!

 

Hoje tem espetáculo?

Tem sim senhor.

Às oito horas da noite?

Tem, sim senhor.

E arriba e arriba!

Ariba!!!

 

Olha o palhaço

Nariz de bolota

Cantando modinhas

Dizendo lorota.

 

Olha o palhaço

Pé de pardal

De cara pintada

E pernas de pau.

 

Foi assim

Que descobri que o mundo

Não era só a minha cidade.

 

Momento Cultural: A Adivinhação – por ALBERTINA MACIEL DE LAGOS

Profª Albertina Maciel de Lagos

(Comentário):

 

– Véspera de São João! Uma fogueira a crepitar

e, num coração de jovem, algo algo a vibrar:

– O Balão da Esperança!… ele quer subir

para ao Santo, um recado transmitir

 

– E a moça, a Zefinha, saíra mui faceira,

os oratórios a visitar da vila inteira,

e, na casa de “sea Rita”, perto do altar

alguém lhe dirige um expressivo olhar

 

– Quem?… (indagam):

– O Maneco, fio do Antão Frimino

que dela gosta derna de minino.

 

(Enquanto, lá fora, em torno da fogueira, o povo canta):

 

– “Capelinha de melão

é de São João;

é de cravo, é de rosa,

e de magiricão!

 

(Zefinha deixando o falatório,

bem pertinho, chega do oratório,

e, na singeleza de um pedido

diz, assim, do Santo, no ouvido:

 

– Iscuta, meu Sanjão, do teu artá

eu levo, bem contente, essa fulô,

pru mode, amenhã, la fora, eu jogá,

e o nome sabê do meu amo!

 

– Eu ispero prô ano qui vem (se Deus quizé)

istá nôrva ou (mió ainda), casadinha.

Qui não demore não, meu Santo, tenho fé

mai… eu ti peço, pru tudo, uma precinha! Amém.

 

(E o Maneco que tudo observara,

uma resolução então tomara.

 

Não querendo parte fazer da brincadeira,

sai, pensando na “surpresa” que pretende causar a eleita

do seu coração)

 

(Zefinha, por sua vez, deixa também, o ambiente festivo

e, lá, no seu quarto, entre duvidosa e confiante, aguarda

o desfecho da sua advinhação:

– Pensando na “fulo” Zefinha não dormira!

e, quando, do Batista, o dia então surgira,

eis que, “um moço bunito” então passou

e, vendo a rosa, logo a apanhou.

 

De Zefinha se aproxima acanhado…

tosse, pigarra e, reanimado,

diz a moça que, feliz, enrubeceu:

 

– Dia!… um presente, Sanjão mandou prá eu!…

essa rosa vremeia, arrepara… a mais lindra fulo

pru mode te ofertá, Zefinha, meu amo!

 

(SILENTE QUIETUDE – ALBERTINA MACIEL DE LAGOS – pág. 43 e 44).

Momento Cultural: Ao som dos Clarins – por GUSTAVO FERRER CARNEIRO

Gustavo Ferrer Carneiro

Uma batalha????

De um lado homens da palha

Rosa na boca

Óculos escuros

Fardão ricamente bordado

Entorpecido de cachaça

Caminhando sob sol escaldante

Repique de chocalhos

Desfilando sua majestada em lanças

Na batida de um baque virado

 

Do outro lado

Um exército de séquitos

Roupa de mescla

Lanço vermelho no pescoço

Sandália de couro

Bacamartes em punho

8 polegadas na cintura

Armados até os dentes

Ao som de oito baixos

Zabumba e triângulo

Repicando ao pé de uma serra

 

Descendo o morro,

Um grupo de caboclinhos

Com seus penachos coloridos

Pés descalços

Estalos de arcos

Num batuque ensurdecedor

 

Negros cantam

As som dos tambores silenciosos (???)

Evocando ancestrais africanos

Afoxés mágicos

Entidades desconhecidas

 

A cavalaria avança

Cavalos marinhos, caluas e ursos

Papangus gritando

Repique de Castanholas?

A La ursa quer dinheiro

Quem não der é pirangueiro

Um galo gigante canta a beira do rio

Acordando menestréis e boêmios

Rebuscando amores perdidos

 

O som dos clarins

Inunda essa magia

Buscando uma energia

Não se sabe de onde

Exaltando toda a paixão e “frevor”

 

Esse “Frevor”

Espora afiada sobre a tristeza

Batuque incansável

Sob um corpo cansado

Entretanto incontrolável

Sem conseguir segurar

Arrastando multidões

Cegas levadas por um instinto

 

É a Síntese da alma

De um povo que acredita

Que a cultura supera barreiras

Vencendo toda e qualquer batalha

 

É Pernambuco no coração

Um Brasil inundado de emoção

Nessa batalha cultural

Oh quarta-feira ingrata,

É carnaval…

 

(MOSAICO DE REFLEXÕES – GUSTAVO FERRER CARNEIRO – pág. 22 e 23).

Momento Cultural: Êxtase – Corina de Holanda

Corina de Holanda

Escancaro a janela de meus sonhos

E me debruço sobre o mundo, rindo,

Ao ver que até nos pantanais medonhos

Estrelas se refletem, traduzindo

 

A presença de Deus em tudo… Brindo

Então, com meus cantares mais risonhos,

O esplendor dessa lua que, surgindo

Enche de luz recantos tão tristonhos…

 

E já nem sei onde demore a vista:

Se no infinito azul, em que artista

Faz das estrelas trono da beleza,

 

Ou se na terra, mares e montanhas,

Rios, vales, florestas… Que tamanhas

Maravilhas pôs Deus na Natureza!

 

Agosto de 1972

Momento Cultural: Carnaval – Stephen Beltrão

 Stephem Beltrão

Hoje é carnaval, é alegria, mas estou mal

Não penses que sou insensível ou ruim

Mas nunca vi tristeza cantar samba

Pular frevo, tocar cuíca e bater tamborim.

 

Hoje, se cantasse, se sorrisse, se caísse na folia

Cheio de frustração, amargura e choro

Merecia um diploma de honra ao mérito

E uma medalha de prata ou de ouro.

 

Por outro lado ficando os três dias em casa

Esperando a hora de o carnaval terminar

Corro o risco de pegar um resfriado, uma gripe

Uma pneumonia ou uma infecção domiciliar.

 

Stephen Beltrão

Momento Cultural: FORÇA ESTRANHA – por Adjane Costa Dutra

Adjane Costa Dutra

Imagino nas imagens espelhadas no tempo e no vento,

forças estranhas a percorrerem o espaço…

Do ar que eu respiro,

Do mar por onde piso…

Imagino imagens soltas e desconexas ao vento.

Imagino as pessoas, do que possam imaginar:

Dos instantes da vida.

Imagino os pensamentos soltos a evolarem como imagens;

simples imagens.

Imagino forças estranhas…

Estranho nas estranhezas e sutilezas dos amores falsos,

dos falsos amigos.

Imagino nas teias de uma rede feita por aranhas.

Imagino a melodia que estou a ouvir.

Imagino todos os meus sonhos soltos, dispersos como simples

castelos de areias.

Imagino o que eu escrevo e a fonte de inspiração que jaz numa

lápide fria dos meus sonhos.

Morreram sepultadamente:

sentimentos, esperanças, amores, dores,

e até a força estranha do que não imagino.

 

(TAPETE CÓSMICO – ADJANE COSTA DUTRA – pág. 47).

Memórias de um Pierrô

garanhuns-003-1

Naquele ano meu carnaval

Que maravilha foi tão especial!

Em minha dama

Quanta beleza

Tua nobreza

Em minha mesa

Eu degustei

Teu banquete imperial

Teus sabores

Sem ardores

Tão natural

Naquele ano meu carnaval

Que maravilha teu corpo escultural!

No carnaval

Você tinha a realeza

Mas preferiu

Abraçar minha pobreza

Minha folia Te encantou

E você beijou eu pierrô

Se foi magia minha folia

Tua beleza me contagia

Naquele ano meu carnaval

Que maravilha foi sem igual!

Se esse ano quiser brincar

Tu sabes onde me encontrar!

E mais esse ano meu carnaval

Que maravilha vai ser sensacional!

 

João do Livramento.

Momento Cultural: Maio – por Corina de Holanda

Corina de Holanda

Maio chegou. E toda a Natureza

Feliz, se enfeita para recebê-lo.

Faz gosto ver, com que capricho e zelo

Procura dar as flores mais realeza.

E elas, muito se alegram, na certeza

Do seu destino neste mês tão belo:

Vão adornar da cândida Princesa

O trono, ou vão servi-lhe de escabelo.

O canto que em voz alta a terra entoa,

Não se houve nela só, nos céus ecoa,

Indo unir-se aos acordes de alegria.

Que os Anjos, como sempre, hoje irmanados,

Tangem nas suas harpas, sublimados,

Sincronizando as glórias de Maria.

 

Maio de 1970
(Entre o céu e a Terra – 1972 – Corina de Holanda – pág. 28).

Momento Cultural: NÉVOA – por ADJANE COSTA DUTRA

Adjane Costa Dutra

Em meu corpo paira uma névoa distintamente vazia.

Pensar no não pensado, não criado, me dá forças.

Deus é aprimoramento em meu ser…

No meu agir não ação.

Eu sou força juntamente com essa força.

Em mim existe um distanciamento da realidade para a

realidade maior.

Deus está em mim…

Eu consigo ligar todas as forças do meu ser…

Eu sou plena de realizações.

Eu posso e devo mudar as coisas ao meu alcance.

Eu sou feliz…

Tenho saúde porque Deus em mim se manifesta plenamente.

O amor que me envolve transforma meu ser em alegria.

Eu amo este universo em um só, ou o verso do verbo

maior, que se diz: Deus plenamente em mim.

 

(TAPETE CÓSMICO – ADJANE COSTA DUTRA – PÁG. 46).