Momento Cultural: Seja forte! Desarme-se. – por Stephem Beltrão.

Seja Forte! Dê adeus às armas!
Porte apenas documentos, pistola não atira sozinha.
Bala boa é de chocolate, faca bem usada é na cozinha.

Pancada bem dada é de chuva,
Tanque maneiro lava e enxágua,
Rajada esperta é de vento, bomba potente puxa água.
Quadrilha animada é de São João, armadilha de amor
Só faz ruído.
Partido infantil é o de pastoril, flecha bonita é a do cupido.

Plano divino é o de paz, golpe legal é o de ar
Torpedo demolidor é o que sai do celular
Guilhotina moderna só corta papel.
Cadeia interessante é a cadeia alimentar.

Briga, nem de galo, arma, nem de brinquedo
Combater só nossos erros, guerra nem de nervos.
Lutar só em legítima defesa, atacar a fome.
Bater só o cartão de ponto, matar calmamente o sono.

Seja forte!

Abra o sorriso, ele cura
Use a palavra, ela salva
Estenda a mão, ela ajuda
Dê um abraço, ele acalma.

 Stephem Beltrão  

Momento Cultural: LÁGRIMAS DE ORVALHO – por Adjane Dutra.

Busco-te na amplitude da noite.
Busco-te, e nessa busca orvalhados
são os meus olhos à procura do orvalho da paixão.
Busco-te mais que toda amplidão.
Lágrimas de Orvalho, amo-te como uma pequenina gota,
esquiva e indivisível; mas nessa busca serei indivisível,
como o amor partido de saudade.
Seguirei teus passos lentos e te amarei, mas em silêncio,
para que o amor não passe distante dos meus sentimentos.
Amar-te-ei, lágrimas de Orvalho, com toda amplidão.
Amar-te-ei, em passos lentos, em meu pensamento, com todo o meu amor, finito e indivisível.

Adjane Dutra

Momento Cultural: VATICÍNIO (poesia) – Por Valdinete Moura

Se teu olhar brilhar como as estrelas,
E o coração pulsar desesperado,
Divinamente estás enamorado
E teu olhar terá mais que beleza.

Encontrarás refúgio encantado
Em um mundo de luz e profundeza
Plenificado em paz e sutileza
No aconchegado abraço da amada.

Terás, então, teu canto mais sublime
Mais harmonia e cor em teu sentir,
Alento que te guie e ilumine.

Se falta forças em hora desgarrada
E mesmo se a dor te consumir
Seja porto seguro tua amada.

Valdinete Moura é escritora,
membro da Academia Vitoriense de Letras, Artes e Ciência.

Momento Cultural: TUA PARTIDA – Por Dilson Lira.

À Cléa, adorada esposa.

Ave que parte, gorjeiante e amiga,
por estes céus de lívidos luares,
aonde hei de ouvir os teus cantares?
Aonde tu’alma lírica se abriga?/Aonde ouvirei a rústica cantiga,
que outrora ouvi aos sórdidos pesares,
aonde tu vás, tu queres que eu te siga,
por outras piagas, em estranhos ares?/Não parte, ave, aqui é doce a vida!
A brisa é fresca e é mais quente o ninho,
A mataria é verde e mais florida!/Mas, se partires, aonde quer que fores,
saibas que em mim atravessou-se um espinho,
porque contigo foram os meus amores!

Manoel Dilson Lira da Silva, vitoriense nascido aos 30 de novembro de 1925. Filho de João Manoel da Silva e Maria Lira da Silva. Fez seus estudos no “Ginásio da Vitória”. Poeta nato, tem publicados três livros de poemas. Inteligência lúcida, muito ainda temos de esperar de suas produções poéticas.

MOMENTO CULTURAL: ANTE UM QUADRO FELIZ – por Corina de Holanda.

Eu bem sei que no gozo da ventura,
é difícil lembrar
esse calix tão cheio de amargura,
que uma mãe quando baixa à sepultura
faz o filho esgotar/Eu também, como tu, fui descuidada,
e junto à minha mãe,
vivi sempre feliz, sem pensar nada
do filho que a não tem/Hoje eu não possuo e tenho a mágoa
morando dentro em mim
tenho sempre os olhos rasos d’água
diante d’um quadro assim…/E peço: ó, tu que tens para aquecer-te,
os carinhos de mãe!…
Com ela te oculta onde não chegue a ver-te
o olhar de quem não tem!

Arquivo da Família

Corina de Holanda

Momento Cultural: Os Sinos da Matriz – por Stephem Beltrão.

Os sinos da matriz anunciam milagres
Os pequeninos de Belém
Miraculosos sinos pequeninos
Os sinos de Belém
Já nasceu Deus Menino para o nosso bem

Meus olhos acreditam
Nos milagres que os sinos anunciam
Os milagres prometidos
Os sinos
Despertam o menino
Que se fez poeta
Na esperança de ouvi-los
Proclamarem os milagres                          Os sinos da minha raiz
Os sinos da Matriz

Stephem Beltrão.

Momento Cultural: SÓ DAR AMOR – Por Manoel de Holanda Cavalcanti.

Na restrição, pra mim, de desfavor,
destas quatorze linhas d’um soneto,
Eu nem de leve tocarei no amor;
a falar sobre sonhos não me atrevo/Eis que se foi embora um bom quarteto!
quero falar do sol, no esplendor,
das estrelas, do mar; não intrometo
o coração, em cousas de valor/Sei da história do mar apaixonado
por Diana que o fita com dulçor,
na ausência do sol, seu namorado/Mas, já se viu que cérebro demente?
quero banir deste soneto o amor,
e um soneto fazer de amor somente!…..

(Coleção do Prof. José Aragão)

Manoel de Holanda Cavalcanti, vitoriense nascido em 18.XI.1897 e falecido em 22.3.1978. Filho de Joaquim de H. Cavalcanti e de Olindina de H. Cavalcanti. Irmão dos também poetas Henrique e Corina. Exerceu por muitos anos o serviço cartorial, do registro civil. Cultor das letras tinha uma prosa amena e agradável, como também a sua poesia.

Momento Cultural: QUANDO A VITÓRIA SORRI – por Antonieta Varela.

Caminhei por estradas
de auroras e de ocasos.
Dissipei trevas e fiz
brilhar a luz.Colhi o meu passado
gota a gota, sem travo de amargor.

E agora, se junto o hoje meu
com o meu outrora,e, se há cantos de amor em meu viver
no acontecer de minha octogésima data,
pressinto,
nesse passar dos anos,
a vitória sorri nos dias meus.

Antonieta Varela
(dedicado ao Prof. José Aragão, na celebração dos seus 80 anos).
Livro JOSÉ ARAGÃO – PERFIL DE UM EDUCADOR

Momento Cultural: Minha mãe – nos seus 86 anos (Poema) – Por Júlio Siqueira.

Que feliz eu sou em poder contemplar,
num êxtase de terno amor e de carinho,
o rosto tão querido, todo arminho,
dessa criatura boa, única, sem par!

Amar-te? Amo-te muito. E sou vaidoso
por seres minha mãe… E tanto é assim
que é um gozo, uma alegria sem fim
que proclamo a toda gente, orgulhoso!

Quero beijar-te as mãos que me abençoam,
ouvir-te a voz, cujas palavras ecoam
num doce misto de ternura e de amor.

porque és a mais bela das criaturas,
daquelas que enchem o mundo de venturas
amando e sorrindo em meio a própria dor!

Por Júlio Siqueira

Momento Cultural: Ao odor das Coisas (poesia) – Por Darlan Delarge.

De tudo se sentia um cheiro peculiar
e foi registrado na epigenese à memória
uma combinada coleção “viscosa” de ar
e disso expeli e absorvi, se não, sucumbiria.

Lembro-me de substancias extensas:
um esgoto, um jardim… a oxigenese austral.
A Asmática influencia de tais lembranças
Registradas no hipocampo desse cérebro fetal.

Na vida há um Odor Belial superexcitador
de quem um dia possuiu um olfato de infante.
E sussurro revelando um futuro estimulador:

– Deixo vivo em odores o que causa delírio.
Aos meus filhos, eu podre a feder… assimilando
à tristeza do caixão ao cheiro reconfortante dos Lírios.

Darlan Delage – Poeta “Os Confundidos”.

 

Momento Cultural: Misturas (poema) – Por Egidio T. Correia

Misturamos e trocamos
As salivas em cada beijo.
Comemo-nos e saciamo-nos
No vil desejo.
Somos cúmplices caprichosos
Morrendo e renascendo em cada beijo.
Se é justo, sagrado ou profano,
Impróprio, imoral ou sacrilégio.
Atire a primeira pedra
O puritano.
Entre culpas, remorsos e desatinos,
Não sou homem adulto ou menino.
Julgamentos precisos ou imprecisos
Que se façam.
Se o sabor da vida é criminoso
Sou réu confesso e condenado,
Perante as correntes e amarras do destino
vivo acorrentado.

Egidio T. Correia é poeta.

Momento Cultural: PUNHADO DE TERRA (poesia) – Por Inam Albuquerque

Pequena vila, grande cidade histórica
felizarda em nascer em solo tão gentil
pequeno grão de areia em mapa à retórica
madeira de foto, matas, rios – Brasil.

Com tabocas simples em montes lutamos
três raças unidas nos auxiliando, morrendo
liberdade se formando, nos irmanando
o porvir se fez com lutas, brilhando.

Cidadãos de elite: Aragão, Peixe, Holanda, Xavier
– Taboquinhas, Cana Verde, Boi Carrasco, Camelo e Leão
troças, maracatus tradicionais, e “ferve”
quem não te ama de todo coração?

Tapacurá – recreio de muita gente, infantil
tabocas onde o sangue banhou do Norte o Leão
engenhos, cultura, Diogo Braga, céu de anil
meu punhado de terra, Vitória de Santo Antão.

Inam Albuquerque

Poesia publicada no livro Antologia da Poesia Vitoriense – 1843 – 1992,
editado por Júlio Siqueira

Momento Cultural: Bem-te-vi morre! Vi-viu-tetéu? (poesia) – por Rildo de Deus

Era uma vez um pássaro que nasceu nos tempos vindouros da humanidade
Quando ainda existia bicho desconfiado.

O pássaro cresceu e mostrou-se transformista
Teve cores de canário do império, galo de campina, patativa, craúna, azulão…

ROUXINOU, CABOCULINHO
Sabiá, joão-de-barro, periquita
Chegou a hora

Quis virar papagaio e capitão.

Levou uma pancada no juízo e desandou da evolução.
Bebeu veneno como elixir
O pássaro mítico girou no sol sem razão
Encontrou o mar Pânico
E não se tornou canCÃO

Agora é Bem-te-vi que maravilhas!
Tem a chave de onde mora
Também medo de arpão
Não sabe o caminho ao continente

Abre a janela pra luz entrar;
Fecha de noite
Assim tia coruja jamais chegará

Finalmente estufa o peito
jazigo perfeito
Pra morte murchar

Rildo de Deus é Escritor.

Momento Cultural: Vitória (poesia) – Por Nestor de Holanda.

Vitória!
Você está tão longe de parecer o que é!
Vitória!
você que foi tudo para mim,
que já foi minha
que já foi o meu mundo,
o meu mundo onde fui rei,
rei do bodoque,
sujo,
descalçado,
em correrias pelas ruas calçadas estreitas e tortuosas
em carros de caixão!
Vitória!
você está bem longe de parecer o que é!

Aquela que eu deixei,
deixei para rever nas páginas da História-Pátria.
Para rever,
sim,
para rever
mas outra Vitória que não era a minha.
(a minha que eu deixei sempre atraz daquela montanha!)
Era uma Vitória sem apitos de trem,
sem moleques de ruas,
sem estalos de relhos
sem o gemido dos carros de bois
sem o grito dos matutos

Uma Vitória evocada por um professor carrancudo,
com personalidade de saliência no cenário da História
onde estava sendo representado aquele drama fantástico.

E era Vitória.
Era a Vitória da História.
Da História que m’a mostrou sem tudo quanto nela eu via.

Uma Vitória sem nada,
Uma Vitória sem mim.

Vitória!
Você está bem longe de parecer o que é,
Vitória,
porque lhe tenha na memória!

Nestor de Holanda é poeta e escritor vitoriense.

Momento Cultural: Dois Pássaros (poesia) – Por Rosângela Martins / Foto por Marcus Prado

Ocultos pela escuridão da noite, amantes e amados se encontram.
Num ritual de conquistas, frases bonitas, presentes que compram…

Para distrair o cansaço, uma boa garrafa de vinho.
E assim, detalhe a detalhe, constroem o seu ninho.

Nada ou ninguém para testemunhar.
É hora de sorrir, de sentir, de sonhar…

E tendo a lua como abajur e a brisa como manto,
O amor se faz, rompendo o silêncio, num doce canto.

O dia logo amanhece com seu pudor recomposto.
Na pele, o cheiro; na boca, o gosto.

Livres outra vez, se despedem abraçados.
Prontos para voar por seus caminhos já traçados.

Poesia: Rosângela Martins é Poeta.
Foto: Marcus Prado é Jornalista e Fotógrafo.

Momento Cultural: Uma Poesia – por Rildo de Deus.

Lembro-me daquele dia. Faz tempo.
Antão do Egito tinha ido me visitar.
Contou-me da estória de Dédalo fugindo pelo ar.
Chico. O velho Chico recitava: CHUÁ-CHUÁ!
Na fumaça do cachimbo
Sete vezes um barco pintava lá.

Terra seca, o sol a queimar
Gotas de cera pingavam do alto.
Caiam no rio como se o sol tivesse a chorar.
A água ficou azul cor de mar e
As telhas lá de casa começaram a estralar.

Caiam pedaços de cera, pena e papelão
E depois nunca mais nevou no sertão.
Logo menos era Ícaro caindo com a cabeça no chão.
Antão tinha água do Nilo.
Eu tirei cacimbão.
Jogamos na cara de Ícaro e começou-se a confusão.

Rildo de Deus. 

Momento Cultural: Magistério – por João do Livramento.

Verdadeira é a nação

Que educa suas crianças

Pois nas mãos do professor

É renovada essa esperança

Pra formar um engenheiro

Ou até mesmo aviador

Se quiseres ser dentista

Tens que ter um professor

Só se faz qualquer doutor

Ensinando desde o início

Não importa a profissão

É dependente deste ofício

Das profissões é a maior

Um sacerdócio sem batina

Dedicado a muitas vidas

Sendo a luz que ilumina

Todo dia um ensinamento

A cada aula uma lição

Deus proteja todos eles

Que abraçaram esta missão

O magistério é divino

Se exercido com amor

Obrigado a todos mestres

Obrigado professor!

João do Livramento.