O “CAUSO” EIKE BATISTA

Num país de salário mínimo abaixo de mil reais e 14 milhões de desempregados, seria de estranhar que um empresário que tem 52 milhões para pagar de fiança ficasse acocorado no xadrez.

Aliás, bom salientar, o empresário, depois que quebrou, financeiramente, ainda tem 2,9 bilhões de dólares. Daí, sua nora, Lunara Campos, muito contente, comemorar sua saída, a bordo de uma lancha muito massa.

Porém, a defesa de Eike Batista afirmou que os seus bens estão bloqueados pela Justiça, não podendo, portanto, sacar o valor arbitrado.

Será uma manobra para ficar na mansão sem pagar a fiança? Ou será que irão desbloquear todo o dinheiro para ele pagar a fiança e ficar com uma laminha no bolso? Ou será que estarão confundindo uma coisa séria com uma brincadeira, um “caso” com um “causo”?

Sosígenes Bittencourt

MANIFESTANTES E MANIFESTADOS

Vandalismo é ódio desorganizado. O sujeito que arenga com a esposa e chuta o cocão do cachorrinho não sabe o que faz com o ódio que sente, não está revoltado, está manifestado. Antigamente, dir-se-ia que estaria com o cão no couro.

Nas passeatas de protesto, existem MANIFESTANTES e MANIFESTADOS. O mascarado que revira o automóvel de um desconhecido, mordido de raiva com o fermente amargo da corrupção nossa de cada dia, perdeu o juízo, está drogado pelo ódio.

Os episódios de rua que ora testemunhamos revelam o desrespeito da infiltração de baderneiros nos protestos. Quem pede justiça, não pode cometer injustiça, e desordeiro não quer a ordem, quer a desordem.

Odiar a classe política e atear fogo em ônibus, quebrar vitrine de loja, impedir que uma ambulância socorra um enfermo, que um trabalhador chegue ao emprego, um aluno vá à escola, não é um manifestante reivindicando Justiça, é um manifestado se comprometendo com a Justiça.

Prudente abraço!

EMPULHAÇÃO BANCÁRIA

Ontem, um funcionário de um banco me telefonou, pronunciando o meu nome assustadoramente errado, me intimando a comparecer numa agência bancária para me inteirar do encerramento de minha conta corrente por falta de movimentação e de uma ação judicial que havia contra mim.

O cidadão foi tão lacônico, tão breve, que eu nem pude perguntar se havia alguma ação judicial movida contra algum assaltante de banco.

Obviamente, o banco deve estar com saudade do tempo em que eu movimentava minha conta corrente, e ele podia beliscar, despudoradamente, o meu salário.

A empulhação é tão hilária que dá, direitinho, para relembrar aqui o dramaturgo alemão Bertolt Brecht: O que é um assalto a um banco, comparado com a fundação de um banco?

Sosígenes Bittencourt

E o coração

Eu me lembro dos anos… fico me lembrando…
e o coração tum tum tum tum…
A gente era criança… descobriu o sexo…
foi uma alegria tão grande que a gente ficou desconfiado,
e o coração tum tum tum tum……
2001 2002 2003 2004 2005
Todo ano faz um ano que fazia um ano…
Quando a gente vê, é de noite… Quando a gente vê, é de dia…
Aí, chove; aí, faz sol…
e o coração tum tum tum tum…
A gente fica doido que chegue o fim do ano…
2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
Chega o Carnaval, passa…
Chega o aniversário, passa…
e o coração tum tum tum tum…
Morre gente, a gente fica olhando assim…
O morto calado, frio, duro, parece que nunca viveu…
A gente fica olhando, olhando…
Os dias vão passando um atrás do outro…
O tempo vai empurrando a gente,
consumindo a gente, escaveirando os mortos,
e o coração tum tum tum tum…
Microscopicamente, milimetricamente, quase invisíveis,
mudos, no escuro, uma careta de gozo,
espermatozóides, flagelos bólides, semoventes,
praticam atletismo pela Trompa de Falópio…
e o coração tum tum tum tum…
Eu nem sei que horas são,
se é de tarde, agora, se é de noite…
que horas são?
E o coração tum tum tum tum…

Sosígenes Bittencourt

ASSALTANTES E SOBRESSALTO

Onde moram os assaltantes de banco? Quem são eles? Têm esposa e filhos, vão a aniversário, choram em sepultamento, torcem por time de futebol?

Acaso vão à feira de frutas e verduras, discutem o preço do tomate?

Como conseguem viajar ao Paraguai com tanta facilidade, quando nós pervagamos uma “via crucis” para ir ao trabalho?

Será que pagam Imposto de Renda, ou roubam e camuflam o produto do crime para não terem que, inutilmente, prestar contas ao fisco?

Que nomes têm os assaltantes de banco, os mesmos que nós, receberam ablução na pia batismal, têm CPF, Carteira de Identidade, signo zodiacal?

Terão vizinhos, tomam ônibus para ir a reunião, ou serão extraterrestres, pilotando nave espacial?

Quem são os assaltantes? Os sobressaltados somos nós.

Sosígenes Bittencourt

A MENTE E O CORAÇÃO

Se você sentir uma pontada no coração, preste atenção. Ele deve estar desapontado com o que você está pensando.

Pensar é muito rápido, por isso você deve parar para pensar no que está pensando.

O coração não ama, ele é o termômetro do amor. A mente é que ama.

Ódio e inveja são lixos mentais, seja gari de suas emoções, higienizando sua mente.

O poeta não faz poesia com as estrelas, ele quer que você vá habitar as estrelas. Por isso, ele dá polimento no céu para seduzir o inquilino. Pense nisso e vá ser feliz. Infeliz do homem que trabalha para ser feliz no domingo. Felicidade não tem hora marcada.

Felicidade é agora.

Sosígenes Bittencourt

ÍNDIO E CARA-PÁLIDA

Por que será que os índios não batem em criança? Ora, porque os índios não enganam as crianças. Logo, as crianças não têm como desobedecê-los, pois não há duas atitudes, dois comportamentos incompatíveis a serem seguidos. Também não bate em criança, temendo ser abandonado por ela. Cara-pálida não precisa castigar para ser abandonado.

O índio não lambuza o rio, porque o rio é um deus. Cara-pálida polui o rio porque não crê em Deus.

Sosígenes Bittencourt

RECORDAR É VIVER – LEÃO DEPRIMIDO

Este é Dengo, de 11 anos, que mora no Zoológico de Niterói. Dengo foi separado de sua companheira, Elza, de 10 anos, por decisão judicial. O Ibama levou Elza para Brasília, porque desconfiou que a leoa estivesse com FIV, uma imunodeficiência felina, espécie de HIV de bicho. Segundo exames, Dengo já estaria contaminado. A separação deu-se em fevereiro e, de lá pra cá, é uma tristeza. Dengo não come direito e passa o dia todo como se estivesse pensando na morte da bezerra. Os veterinários mudaram o seu cardápio, mas ele não quer acordo, já perdendo 8 quilos nessa brincadeirinha. A presidente da Fundação Jardim Zoológico de Niterói, Giselda Candiotto, está indignada, dizendo que o casal vinha morando junto há 6 meses, direitinho, direitinho. Pensa que é malvadeza. É que o Ibama andou se metendo nas condições de moradia do casal. Diz que as jaulas são apertadas e tem até gato circulando pelo ambiente. Aconselha que gato é animal doméstico e leão é selvagem, faz mal. Como Dengo não entende de nada disso, fica com saudade de Elza, sem saber o que aconteceu.

26 de maio de 2011

Sosígenes Bittencourt

EU TENHO SÉRIOS POEMAS MENTAIS

Vejo poesia em tudo, por isso ando pelo cantinho da calçada.

A diferença entre os efeitos da poesia e a embriaguez é que o poeta conhece o caminho da volta.

A diferença entre o louco e o que fala sozinho é que o louco repete.

A diferença entre o poeta e quem gosta de poesia é que o poeta fuxica a poesia.

A diferença é que os diferentes são sempre a minoria, e a maioria considera-se normal.

O pintor Salvador Dali dizia: A diferença entre um louco e eu é que eu não sou louco.

Contudo, só há algo igual entre os homens: todos são diferentes.

Sosigenes Bittencourt

LUA E MÃE NINANDO MENINO

Lá fora tem uma lua no céu.
Quem viu a lua?
A mãe pega o bebê, põe no braço e começa a cantarolar: – Cadê a lua, meu filhinho? Cadê a lua?…
E o menininho balançando o cocãozinho, como se procurasse alguma coisa no céu.
– Olha a lua, meu filhinho… Cadê a lua?…
E o menininho levantando o cocãozinho, como se entendesse um pouquinho.
– Luuuuuuuuuuuua… Luuuuuuuuuuuua… Cadê a lua?…
Pão pra lua!… Pão pra lua!… Pão pra lua!…
E a lua lá no céu…
Sosígenes Bittencourt

ENTREVISTADO NA RUA

Andando pela rua, acenderam uma câmera no meu rosto, me fazendo empunhar um microfone para responder a algumas perguntas.

O entrevistador: – Professor, o que o senhor acha dos aluguéis na cidade. O comerciante não pode pagar e aí fica sem poder manter o seu negócio.

Eu: – Vamos começar pela Recessão Técnica de que falam os economistas. A indústria desemprega porque o comércio não está podendo comprar porque não está vendendo. Consequência: desemprego. Aí, a indústria desemprega e o comércio também. Desempregado não compra. Este círculo é concêntrico e difícil de reverter, a tendência é crescer.

O entrevistador: – Mas, é por causa da crise?

Eu: – Olha, crise não é mudança, é desadaptação a mudança. O Brasil sempre foi governado por políticos, quando precisava ser governado por um estadista. Porque o estadista pensa no futuro da nação, e opolítico pensa na próxima eleição. Então, falta prevenção, o Brasil nunca foi governado para receber o futuro, mantendo-se eternamente desadaptado às mudanças. Esse Brasil de hoje teria que ter sido pensado há 50 anos.

Mas, voltemos à pergunta inicial. Aluguel, quem faz o preço é o dono, e quem paga, ou não, é o pretendente ou inquilino. Quem manda na Economia são o capitalista e o consumidor. Se você tem uma montanha de tomate e quer vender pelos olhos da cara, só quem pode fazer você baixar o preço é o consumidor. Como? Não comprando o seu tomate. Economia é a coisa mais volátil do mundo. Ninguém é capaz, de fora, de regular a economia. Ninguém dá ordem. Ela seauto(r)regula. (Olho na Reforma Ortográfica).

Quando o Político namora a Economia, o resultado é Corrupção. O capitalista banca a candidatura para poder sonegar imposto, usufruir de benesses fiscais. Aí, o político pega o apoio financeiro do capitalista e compra o voto do consumidor. Depois, o consumidor fica sem saber por que não tem direito a Saúde, Educação, Segurança, etc… Porque o político não quer servir, quer servir-se, ele só queria o poder, e conseguiu facilmente. Ele é o político self-service. Depois, fica todo mundo chorando, esperneando, sem saber o que fazer. Alguns capitalistas sobrevivem, e o resto quebra, e o consumidor não tem como melhorar de vida, resvalando para a orla da pobreza. Ou eu estou enganado?

Sosígenes Bittencourt

Momento Cultural: A DANÇA DO VENTO – Por Valdinete Moura

A dança do vento frenética não pára. E nessa
alucinação me envolve o corpo que treme e se
arrepia. Me desmancha os cabelos que entram
pelos olhos e penetram em minha boca, buscando
beijos úmidos de amor.

E o vento louco passa levando tudo para longe.
Tudo menos essa ânsia imensa, esse desejo
Insano de carícias e afeto.

O vento passa e leva tudo. Tudo mas deixa em
meu corpo a certeza da saudade e a imensidão
do desejo.

“Voz Interior”

Maria Valdinete de Moura Lima, filha de Manoel Severino de Lima e de Lindalva de Moura Lima, nasceu em Vitória de Santo Antão. Bacharela e Licenciada em Letras. Professora de Português da Faculdade de Formação de Professores da Vitória de Santo Antão. Poetisa e contista, tem um livro publicado VOZ INTERIOR – 1986. Tem vários prêmios, entre os quais: José Cândido de Carvalho, contos: Jeová Bittencourt, contos, menção honrosa (Araguari, MG). Concursos promovidos pelo “Timbaúba Jornal”, contos e poesia. É membro da Academia Vitoriense de Letras, Artes e Ciência.

SOU TORCEDOR BRASILEIRO

Eu não consigo torcer contra o Brasil. Há um país que vive em mim, livre de qualquer influência que o desfaça.

Ademais, a esperança nutre-se de vitórias, não de derrotas. De que nos servem as derrotas, senão como lição.

Uma gestão governamental é muito pouco para eu perder o amor a minha Pátria. Reprovar um político e transformar este ódio em desamor à Pátria é um gigantesco equívoco. Observemos a sapientíssima reflexão do jurisconsulto doutor Rui Barbosa:

“A pátria não é ninguém, são todos; e cada qual tem no seio dela o mesmo direito à ideia, à palavra, à associação. A pátria não é um sistema, nem uma seita, nem um monopólio, nem uma forma de governo; é o céu, o solo, o povo, a tradição, a consciência, o lar, o berço dos filhos e o túmulo dos antepassados, a comunhão da lei, da língua e da liberdade. “

Ora, como poderei odiar minha pátria porque um regime ou um governante não me agrada, porque degrada? O que tem a ver a pátria que vive em mim, o seu céu, o seu solo, suas riquezas naturais, meus antepassados e meus filhos com tudo isso?

Sosígenes Bittencourt