Droga e contradições – por Sosígenes Bittencourt.

Adolescente não tem juízo para usar droga. Droga é para usuário, não para dependente. O usuário usa, o dependente não consegue viver sem usar. Droga não pode ser usada em público, por causa do direito do outro. O direito de não conviver com o imprevisível, ao lado de quem está fora da realidade. Em casa, a responsabilidade é da família. Na via pública, a responsabilidade é do estado. O cigarro mata, mas não desmoraliza. O álcool desmoraliza, mas depende da quantidade. A droga faz efeito instantâneo. No Brasil, ninguém jamais proibiu droga. Não há nenhum programa efetivo de combate às drogas. Cidadão de toda escala social a usa: políticos, empresários, vagabundos, cristãos, anjos e demônios. A Polícia não tem o poder de combatê-la sem amparo da Justiça. Na condição dúbia, a própria polícia termina por se envolver com o tráfico. Filosoficamente, ninguém pode ser preso por uso de droga, porque ninguém pode ser condenado por tentativa de SUICÍDIO. Não obstante, todo usuário deveria ser condenado pelos ATOS decorrentes do uso de drogas. E, finalmente, o procedimento deveria ser igual para todos. Não se pode baixar o cacete num drogado esmolambado e alisar um drogado engravatado. O resultado é o que aconteceu no show de Rita Lee. A polícia se irrita e mete o pau no povo, Rita se irrita e mete o pau na Polícia.

Sosígenes Bittencourt

MÃE, MISSA E BIRIBIRI – por Sosígenes Bittencourt.

Mãe é uma invenção de Deus. Até quem não acredita num Ser Superior, fica desconfiado. Pode-se até analisar o caráter de um ser humano, pela maneira como trata sua mãe.

Apesar de minha genitora ser evangélica desde que veio ao mundo, fui convidado por dois católicos, no Dia das Mães, para assistir a uma missa em latim, ali no Recife. Igreja antiga, cheirando ao tempo, padre entoando latim, discurso sobre a intermediação da palavra no encontro do homem com Deus. Muito bonito. Uma hora inesquecível, um evento memorável. Principalmente, para mim, uma ovelha desacostumada a visitar a Domus Dei e ajoelhar-se para agradecer. Geralmente, nesses êxtases, o homem chora.

A viagem foi um Café Filosófico. Danei-me a falar, citando a mitologia grega, contando histórias de divindades pagãs, entusiasmado com a sabedoria dos pensadores clássicos. Discorri até sobre o Destino, oAcaso e a Ação do Homem. Talvez, um antropocentrismo meio descabido para o momento, mas um exercício mental louvabilíssimo num universo de tanta asneira e falta de reflexão em que vivemos.

Depois, demos um saltinho lá no Bairro da Torre para visitar um padre, mas não o encontramos. Conhecemos, no entanto, um cidadão que mora pertinho da Igreja, que atende pelo nome de Luiz Anselmo. Aos 65 anos, dizendo-se filho de uma senhora com 100 de idade, anda mais ligeiro do que um menino treloso. Bom de conversa e vaidoso pela longevidade de seus familiares, nos apresentou uma frutinha cítrica, de uns 5 a 8 centrímetros, creditando à mesma benefícios fitoterápicos. Diz que é biribiri. Curioso e enxerido, botei pra falar o que pensava. Quando soube que o mimo da natureza tirava ferrugem de roupa, fui logo dizendo que era antioxidante, continha vitamina C e combatia os Radicais Livres, responsáveis pelo envelhecimento precoce e doenças degenerativas. Tem jeito?

Dominus Vobiscum!

Bendito abraço!

Sosígenes Bittencourt

NÃO RIA SE PUDER – por Sosígenes Bittencourt

(Na fila do banco)

Falar a verdade sempre foi minha salvação e minha danação. Outro dia, eu estava numa agência bancária, e uma funcionária me orientou: – Cidadão, a fila de idosos é aqui.

Aí, eu: – Minha filha, eu não devo ficar no lugar de um idoso. Eu ainda danço forró até 4 horas da madrugada.

Sosígenes Bittencourt

NOSTALGIA E MELANCOLIA – Sosígenes Bittencourt.

Os gregos designavam NOSTALGIA como a dor dos que viajam, a dor dos navegantes, de “nostós” e “algós” – viagem e dor. Ora, a nostalgia é a saudade que dói, mas a recordação de um prazer, a lembrança daquilo que se distanciou. Diferente da MELANCOLIA, que é a saudade que dói, mas uma recordação daquilo que poderia ter sido e não foi. Melancolia significa “tristeza”, “melané” “kholé” – “bile” “negra”, da qual originava-se a “dor”, produzida pelo baço. É uma imaginação e uma desilusão.

Ora, um encontro, em setembro, reunirá amigos da geração dos anos 60. Nosso encontro pode gerar NOSTALGIA, uma saudade de algo que efetivamente aconteceu, e uma MELANCOLIA, algo que deixou de acontecer.

Contudo, essas dores poderão ser suavizadas pela poesia que as envolverá. E da dor, brotará a beleza. O poeta alemão Wolghang Goethe dizia: Faz da tua dor um poema, e ela será suavizada.

Sosígenes Bittencourt

O Tal do Dinheiro – por Sosígenes Bittencourt.

Dinheiro é faca de dois gumes. Há quem use o dinheiro para destruir a própria vida. E ninguém é rico pelo que tem nem pobre pelo que não tem, mas pela noção que tem do que tem. Senão, não haveria milionários se suicidando e lavadeiras sorrindo.

Dinheiro só serve quando soma. Porque há dinheiro que subtrai, tira a esposa, os filhos, dissolve a família, expulsa os amigos do convívio. Geralmente, as pessoas que são infelizes porque não têm dinheiro, não têm noção do que é ter dinheiro. E as pessoas que invejam quem tem dinheiro, deveriam procurar saber se quem o tem, é feliz. O mundo melhorou por causa da injeção de dinheiro e progresso advindo, mas essa é uma mensuração objetiva. É preciso encarar que, numa mensuração subjetiva, o homem não tornou-se mais feliz.

Sosígenes Bittencourt

DEMOCRACIA E VOCÊ – por Sosígenes Bittencourt.

No dia da eleição, preste atenção. Não vá com ânsia ao período de vacância. Das 8 às 17h, ninguém manda no poder, ninguém governa, quem ocupa o poder é você. Não espere que a Justiça julgue os políticos, julgue-o, você.

O poder de absolver ou condenar um político foi concedido a você. O seu voto será martelo, será juiz. O seu voto fará justiça sem que ninguém possa julgar você. Quem educa político e postulante a cargo eletivo é você.

Democrático abraço!

Sosígenes Bittencourt

Filho indesejado – por Sosígenes Bittencourt.

Em cima de filho indesejado, nada mais inútil do que chibata moral e desespero. Justamente porque filho não programado é geralmente fruto de emoção desenfreada, apetite incontido. O procedimento deve ser sempre a preservação da serenidade em busca da razão, embora tardia, para solucionar questões do passado. A vida ensina que no passado nem Deus põe a mão. O passado construído pelo homem é “vontade permissiva de Deus”.

Se filho indesejado é resultado de liberdade desenfreada, por que desespero para consertar loucura? Antigamente, quando um menino trelava excessivamente e fugia ao controle era chamado de “desesperado”. No dia em que “desespero” pagar compromisso, eu o aconselharei para sanar dívidas.

Logo, a primeira atitude racional deve ser identificar o pai da “arte”, uma vez que a mãe está à nossa frente com o fruto no ventre. Não adianta arrumar pai para menino e adiar uma questão que será um dramalhão no futuro. Essa questão de dizer que pai é quem cria é deslavada mentira. Pai é quem fecunda óvulo, quem cria é mantenedor. Agora, se o mantenedor é zeloso e ama o enteado, merece ser amado, é outro detalhe. Se o pai é um sem-vergonha de marca maior, e a mãe engravidou por distração carnal, não assumindo os seus atos, não merecem ser amados, o que nem sempre acontece. Merecer não é sinônimo de recebimento, gratidão. Às vezes, o sujeito cria o alheio e recebe pontapé no focinho. Em suma, a vida estará sempre acima de tudo. Todo expediente em favor da vida será bem-vindo, e todo expediente contrário à vida será pecado.

Ainda em relação à paternidade, em caso de dúvida, a ciência entrará com o DNA, ninguém merece não saber quem é o seu pai, mesmo que o reprodutor não seja um anjo. Mentira tem pernas curtas e as más-línguas irão fuxicar. Portanto, é momento de buscar a razão, que não foi convidada no instante do desespero. Razão é reflexão, e reflexão é mais lenta que emoção, precisa de serenidade. Desespero é emoção, que, por associação, deve ser evitado. E, para não resvalar para o discurso moralista, a chibata moral, que de nada serve nesse instante, o conselho é o seguinte: Sexo é a coisa mais gostosa do mundo, mas fazer menino não tem nada a ver com isso. Haja vista que masturbação não gera coisa alguma e a macacada pratica desde a grande descoberta. Filho é vida, é universo, é criação, tem de ser programado, fruto do amor, que é racional. Quando for fazer sexo para sentir prazer, faça a munganga, não faça menino, ninguém é mais ingênuo como antigamente, não estamos mais na era da cegonha. Use a liberdade, preservando a devida segurança. Afinal, segurança sem liberdade é escravidão, mas liberdade sem segurança é loucura.

Sosígenes Bittencourt

O DESEJO E A DOR – por Sosígenes Bittencourt

Passamos a vida, submetidos a duas experiências básicas: o desejo, que busca a satisfação, e o afeto que busca evitar a dor. Mas, como evitar a dor, se desejo é vida, e a vida impõe limite aos desejos?

A dor física é uma ruptura, algo que rompe, dói. Uma faca que nos corta a pele, um órgão doente que precisa ser extirpado. Esta dor, nós sabemos teoricamente como resolver. A dor psíquica é uma dor de amor, ou seja, algo que nos desorganiza psiquicamente. É um rompimento com algo que tínhamos ou desejamos e nos falta. É uma dor interior, que nos encarcera, e o mundo desaparece.

Sosígenes Bittencourt

Quem pode perdoar?

O grande equívoco é que quem pode perdoar é quem pode castigar, é o Juiz, o Carrasco, o Papa. Quem é castigado não pode perdoar, quem está com o pescoço sob a guilhotina não pode perdoar o carrasco, não lhe cabe o perdão. O perdão do torturado, do moribundo não tem cabimento, é subserviência, pura covardia.

Eu só posso perdoar o meu malfeitor, se eu inverter a posição, tomar-lhe a arma e apontá-la para a sua cabeça. Perdoar a quem deseja me matar é filosoficamente fora de sentido.

Sosígenes Bittencourt

REFLEXÕES SOBRE PARTIDOS POLÍTICOS NO BRASIL.

Questões de pobres são de pobres. Os ricos cuidam de suas questões. Nenhum herói ou regime político irá salvar o mundo. O mundo só se salvará pela empatia e solidariedade, e esses pré-requisitos não pertencem aos capitalistas, nem aos heróis nem aos grupos políticos.

O brasileiro que acredita que extinguindo o PT, acabará a corrupção no Brasil é o cidadão mais feliz e esperançoso do mundo. A corrupção no Brasil remonta à idade da chupeta e às orações de padre José de Anchieta, é da descoberta cabralina à Morte e Vida Severina.

É que os partidos políticos gostam do dinheiro dos ricos para comprar votos dos pobres, prometendo preservar a riqueza dos ricos e tirar os pobres da pobreza. Depois, eles vão passear com os ricos e não sabem o que fazer com os pobres. 

Sosígenes Bittencourt

SINÔNIMO DE SER HUMANO É LIMITE – por Sosígenes Bittencourt.

Todo homem crê no limite de sua Fé, e descrê no limite de sua descrença. Portanto, ninguém crê tanto quanto crê (acredita) nem descrê tanto quanto descrê (acredita). Sinônimo de ser humano é limite. Deus não criou o homem para saber tudo nem para saber nada.

Um dia, um matuto, no limite do seu entendimento, filosofou: – O homem nasce sem saber nada, vive aprendendo e morre sem saber tudo.

O homem produziu a Penicilina e muitos pensaram que o ser humano era um deus. Imagine se tivesse criado os elementos naturais que compõem a Penicilina? O animal racional, às vezes, é espiritualmente enxerido.

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ROMEU E JULIETA – PAIXÃO DE CURTA DURAÇÃO.

Romeu e Julieta se apaixonaram no domingo à noite, se casaram na terça-feira, mantiveram uma relação sexual e se mataram na quinta-feira de manhã. Não deu tempo para saber se foi amor. Mas, deu para saber que foi uma paixão. A tragédia foi a comprovação.

Romeu Montecchio foi ver Rosaline, na festa da família Capuleto, inimigos históricos de sua família. Por isso, penetrou disfarçado. Quando viu Julieta Capuleto, parecia nunca ter visto Rosaline. Eis o início da tragédia Shakespeariana.

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Pensar e Sentir – por Sosígenes Bittencourt

Sentimento é pau-mandado, depende do pensamento. O coração é o termômetro da emoção, a mente é que ama.

Pensar é tão rápido que você pensa que SENTIU e NÃO PENSOU. É preciso pensar no que se sente, mas, sobretudo, pensar no que se pensa. Pensar naquilo que se pensa é filosófico, é indagação de relação de causa e efeito.

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Solidões – por Sosígenes Bittencourt.

 

Uma mulher: – Professor, eu estou pensando em passar um tempo sozinha.

Eu: – Posso saber o motivo, madame?

A mulher: – Depois da última decepção que eu tive, eu pretendo passar dois anos sem querer ninguém.

Eu: – Coincidência. Eu também estou pensando em passar uns dois anos na solidão.

A mulher: – Eu sempre me senti solitária.

Eu: – Se você está solitária, eu estou namorando a solidão.

A mulher: – É como se a gente não valesse nada.

Eu: – Façamos o seguinte: vamos passar dois anos na solidão, eu e você? Ninguém bole com ninguém.

A mulher: – Mas, isso não vai dar certo, professor. Eu sou muito fácil de gostar.

Eu: – Talvez, aconteça o que dizia o escritor alemão Rainer Maria Rilke (1875-1926): Amor são duas solidões que se protegem.

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NINGUÉM MELHOR DO QUE OS AMIGOS – por Sosígenes Bittencourt

Ninguém melhor do que os amigos
para relembrar o que nunca esquecemos.
Ninguém melhor do que os amigos
para nos auxiliar a redigir a nossa história.
Ninguém melhor do que os amigos
para rejuvenescer ainda que estejamos envelhecendo.
Porque ninguém melhor do que os amigos
para decodificar nossa linguagem,
entrever nossos sonhos e reacender nossa esperança.

Sosígenes Bittencourt

 

ESTUDADO PORTUGUÊS – por Sosígenes Bittencourt.

(O verbo “SUICIDAR-SE” é um PLEONASMO?)

O verbo “suicidar-se” vem do latim sui (“a si” = pronome reflexivo) + cida (= que mata). Isso significa que “suicidar” já é “matar a si mesmo”. Dispensaria, dessa forma, a repetição causada pelo uso do pronome reflexivo “SE”. Ou seja, “ele suicidou” em vez de “ele SE suicidou”.

É importante lembrar que as palavras terminadas pelo elemento latino “cida” apresentam essa ideia de “matar”:
formicida – que mata formiga;
inseticida – que mata inseto;
homicida – que mata homem.

Voltando ao verbo “suicidar-se”, se observarmos o uso contemporâneo deste verbo, não restará dúvida: ninguém diz “ele suicida” ou “eles suicidaram”. O uso do pronome reflexivo “se” junto ao verbo está mais que consagrado em nosso idioma. É, na verdade, um PLEONASMO IRREVERSÍVEL.

Numa história que é contada pelo grande ator, compositor, escritor e poeta Mário Lago, do seu livro 16 Linhas Gravadas, entre outras histórias, encontra-se a do professor de Português que se mata ao descobrir a traição de sua amada esposa Adélia. Deixou escrito na sua mensagem de despedida: “ADÉLIA SUICIDOU-ME”.

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