SOU TORCEDOR BRASILEIRO – por Sosígenes Bittencourt.

Eu não consigo torcer contra o Brasil. Há um país que vive em mim, livre de qualquer influência que o desfaça.

Ademais, a esperança nutre-se de vitórias, não de derrotas. De que nos servem as derrotas, senão como lição.

Uma gestão governamental é muito pouco para eu perder o amor a minha Pátria. Reprovar um político e transformar este ódio em desamor à Pátria é um gigantesco equívoco. Observemos a sapientíssima reflexão do jurisconsulto doutor Rui Barbosa:

“A pátria não é ninguém, são todos; e cada qual tem no seio dela o mesmo direito à ideia, à palavra, à associação. A pátria não é um sistema, nem uma seita, nem um monopólio, nem uma forma de governo; é o céu, o solo, o povo, a tradição, a consciência, o lar, o berço dos filhos e o túmulo dos antepassados, a comunhão da lei, da língua e da liberdade. “

Ora, como poderei odiar minha pátria porque um regime ou um governante não me agrada, porque degrada? O que tem a ver a pátria que vive em mim, o seu céu, o seu solo, suas riquezas naturais, meus antepassados e meus filhos com tudo isso?

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A BUSCA DA FELICIDADE – por Sosígenes Bittencourt.

O grande obstáculo em ser feliz está na busca da felicidade, é procurá-la onde não está, é buscá-la no mundo, nos seres inanimados. A felicidade está naquilo que depende de você, no abstrato, aquilo que só existe ENQUANTO você produz. Eis o segredo, eis a chave, o caminho. O amor não existe ENQUANTO você não produz. Já o mundo não depende de você para existir, ele é concreto. Portanto, o amor é a essência da felicidade. O cineasta Franco Zefirelli disse que “O homem, desde o Egito até nossos dias, é movido por dois sentimentos: A ânsia de amar e o temor da morte.

Não obstante, em que creem os religiosos? O que se lê em João, 14:27, “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como a dá o mundo. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize”.

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MIMOSA PUDICA- por Sosígenes Bittencourt.

Há mulheres que podem ser comparadas a determinadas flores.
Aliás, toda mulher tem algo de flor, algo de espinho.

Por exemplo, quem não conhece uma mulher ultrassensível ou de sensibilidade muito aflorada? Daquelas que se perfumam, querendo ser uma flor, muito frescas e agradáveis, mas precisam ser mimadas.

Embora brotem em qualquer terreno amorosamente cultivado, ficam amuadas com facilidade. Sendo toda “não me toque”, recolhem-se aos aposentos, afundando-se no travesseiro, seu fiel conselheiro.

Pois bem, por causa de um sonho, nesta terça-feira, nada melhor do que ofertar a mulher tão sensível esta bela Dormideira.

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Da insatisfação humana – por Sosígenes Bittencourt.

O filósofo alemão Arthur Schopenhauer (1788-1860) resumiu o significado do “desapego” como alternativa lógica para os desejos que não podem ser concretizados e causam sofrimento. Como libertar-se da insatisfação, já que somos eternos insatisfeitos. E aponta, principalmente, dois caminhos: O desapego e a arte. Desapegue-se! Sua conclusão filosófica é a seguinte: O homem pode FAZER o que quer, mas não pode QUERER o que quer.

Eu posso dar amor ao meu vizinho, mas não posso querer que ele me ame. Posso matar o meu vizinho, mas não posso querer que a Justiça me absolva. Compreende?

Querer nunca foi poder, senão eu teria tudo que quisesse. “Querer” move ação em busca do objeto desejado. Quem obtém o que quer, mata o desejo. E sai em busca de outro objeto desejado. A obtenção do objeto desejado é consequência, é resultado de ação, nunca resultado de um desejo, nunca resultado de um querer.

Quem ama, não ama com o objetivo de ser amado, ama simplesmente. O amor, como consequência, é resultado. Tanto que há quem odeie sem o objetivo de ser odiado, odeie por odiar. Agora, quem semeia amor, não gera expectativa de colher ódio, e quem semeia ódio, não gera expectativa de colher amor. Quem espera carinho sem dar carinho, corre mais o risco de ficar sozinho.

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SINFONIA INACABADA – por Sosígenes Bittencourt.

A mulher é a única Faculdade que não consigo concluir. É uma sinfonia inacabada. Há sempre um “senão”, uma “vírgula” etecetera. É um doce mistério, uma graça. É como se enlouquecesse sem perder o juízo, um cego cuja proa visionária vislumbrasse a luz. Por isso, me entrego ao que sei, e o resto, entrego a Deus.

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SAPATO CONGA – por Sosígenes Bittencourt

No tempo de eu menino, chic era calçar um Sapato Conga. Isso foi no tempo em que roubar era falta de educação. Hoje, se você desfila com um Tênis de marca, pode perder o pé. Nós éramos felizes e não sabíamos. Tudo que fazia vibrar o nosso coração, nós só pensávamos que era amor. Todo namoro parecia uma história de Romeu e Julieta. Isso foi no tempo do erotismo, quando imaginar era mais sensacional do que fazer. Não era o Conga da menina, era a menina do Conga.

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Quarteto de homossexuais no tempo do ronca.

Avelon, Vavá, Nildo e Brigite (da esquerda para a direita). 

Isso foi no tempo que se podia vaiar homossexual. No entanto, ninguém matava homossexual. O termo homofobia não havia nascido, e a turma que transava de costas vivia mais sossegada.

O mundo era outro mundo, pois o ódio não se traduzia necessariamente em agressão física e homicídio. As pessoas não dispunham de tanta informação quanto hoje, mas eram mais pacatas, mais tementes a Deus. O trabalho era glorificado, os ricos trabalhavam mais do que os pobres. Hoje, o pobre quer ser rico às custas do crime.

Quem mata homossexual, não é homofóbico nem heterossexual, é ASSASSINO. Quem mata homossexual, mata um idoso, mata uma criança, mata um negro, um branco. É preciso focar no aspecto substantivo do crime e não perder tempo com o rito processual, que é “a mais excelente das tragédias”, como concluía Platão (428-348 a. C.)

Brigite era o mais conhecido, o mais saliente e festejado dos homossexuais. Vi-o vaiado, nas ruas, diversas vezes. Contudo, ouvi dizer que quem o deformou, de uma surra, foi o próprio irmão.Brigite me parecia um animal sem maldade e me despertava uma certa misericórdia. Talvez, pela rígida educação que tive, orientado a respeitar as pessoas.

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São Pedro – por Sosígenes Bittencourt

São Pedro, segundo a tradição, teria morrido em cerca de 67 d.C., e foi um dos doze Apóstolos de Jesus.

O seu nome original não era Pedro, mas Simão. Cristo apelidou-o de Petros – Pedro, nome grego, masculino, derivado da palavra “petra”, que significa “pedra” ou “rocha”.

Jesus ter-lhe-ia dito: Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e o poder da morte não poderá mais vencê-la.

Pedro tem uma importância central na teologia católico-romana. É considerado o príncipe dos apóstolos e o fundador, junto com São Paulo, da Igreja de Roma (a Santa Sé), sendo-lhe reconhecido ainda o título de primeiro Papa.

PAPA quer dizer: Pedro Apóstolo, Príncipe dos Apóstolos.

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A vida e o artista – por Sosígenes Bittencourt.

A vida é um espetáculo sem revisão, é acontecendo. É o gerúndio que nos oferece a sensação da vida presente, a sensação de duração: nascendo, vivendo, morrendo.

Estar vivo é como não ter mais jeito, o jeito que tem é viver.

O artista é um sonhador que tem a coragem de fuxicar os seus sonhos. Sobretudo, uma técnica de revelar os seus sonhos. Às vezes, com uma caneta, com um pincel, uma requinta, um cinzel.

Quando a beleza passa na frente do poeta, o resultado é poesia.

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MEDO DE VIAJAR DE AVIÃO E OUTROS MEDOS – por Sosígenes Bittencourt.

Estava folheando revistas, de madrugada, e dei de cara com o termo científico que designa o medo de viajar de avião. Você acredita? Duvido que você soubesse que medo de viajar de avião chamava-se PTESIOFOBIA. Anota e põe na carteira para se amostrar por aí.

Numa das viagens que fiz, vindo de Fortaleza, estava ao lado da asa, minha colega só falava na Eternidade e o avião balançava mais do que um barquinho de papel numa bacia d’água. E quem danado ia à cabine? Como a viagem era curta, entornei duas latinhas de cerveja e guardei a vontade de ir ao WC para o aeroporto dos Guararapes.

Mas, medo é medo. O pior é a fobia, que é o medo patológico. Você vê chifre em cabeça de cachorro e teme o que não lhe faria o menor mal. Eu tinha um tio que tinha um medo irracional de gatos. Tomava todas, adorava “gatinhas”, enfrentava um homem, mas temia um gatinho enroscado no sofá. Depois que descobri o termo que designa este pânico, também nunca mais esqueci: AILUROFOBIA. E o mais pitoresco é o medo de ter medo, a tal da FOBOFOBIA. Quem vive lendo, de madrugada, descobre cada coisa danada.
O meu pai era capaz de arrodear um quarteirão para driblar uma rã. Se minha mãe vir uma barata, é capaz de derrubar o prédio para matá-la. Quer dizer, você não tem medo de arriscar a vida para matar aquilo que não significa nenhum risco de morte.

Toda vez que falo de medo de avião, lembro-me de Ariano Suassuna. Perguntado sobre o que achava quando um avião caía, respondeu: – “Eu não fico impressionado quando um avião cai, eu fico impressionado como é que ele sobe.”
Em suma, a humanidade deveria ter medo da depredação do meio ambiente, do desemprego e da pobreza, que transmitem doença e geram violência, isso sim.

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SÃO JOÃO – NO TEMPO DE EU MENINO – por Sosígenes Bittencourt.

Das três maiores festas anuais, o São João é a mais singela e tradicional. O Ano Novo nos trespassa de tristeza, porque sugere a contagem do tempo e amontoa os mortos. Abrimos álbum de retrato e botamos pra choramingar. O Carnaval é uma festa perigosa, de extravasar frustrações. O pessoal só falta correr nu pela rua. 

O São João é uma festa mais pacata, que relembra nossas tradições mais atávicas, nossas raízes culturais. Lembro-me do São João das ruas sem calçamento. O mundo parecia um terreiro só. As mulheres cruzavam as pernas, enfiavam as saias entre as coxas, para ralar omilho e o coco, enquanto os homens plantavam o machado nos toros de madeira para fazer as fogueiras. À tardinha, a panela virava uma lagoa de caldo amarelo onde fervia o maná das comezainas juninas. A meninada ensaiava o jeito de ser homem e mulher. De chapéu de palha, bigode a carvão e camisa quadriculada, era quando podíamos chegar mais perto das meninas sem levar carão nem experimentar a sensação de pecado. O coração se alegrava quando sonhávamos com a liberdade de adultos que teríamos um dia. Batia uma gostosíssima impressão de que estávamos bem próximos de fazer o que não podíamos fazer. Os ensaios de quadrilha relembravam a tristeza do último dia. Pois um ano durava uma eternidade, as horas eram calmas, podíamos acompanhar a réstia do sol e contar estrelas. Pamonha, canjica e pé de moleque eram tarefas de dona de casa prendada, de quem o marido se gabava. Tudo era simples e barato, ninguém enricava com a festa. A novidade era a radiola portátil, e os conjuntos eram pobres de tecnologia, mas os instrumentos ricos de som e harmonia, manuseados com habilidade e gosto, na execução do repertório da festa do milho. Quando São Pedro se ia, ficava um aroma de saudade na fumaça das derradeiras fogueiras e no espocar dos últimos fogos.

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O JOGO DO BICHO E O FGTS – por Sosígenes Bittencourt.

O Jogo do Bicho parece ser a coisa mais honesta do mundo. Desonestos são nossos sonhos. O Jogo do Bicho é um serviço de mais garantia do que o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço. Desonesto é sonhar com cobra e dá jacaré.

Um dia, eu sonhei com DOIS CAVALOS. Mandei a empregada jogar, ela embromou, perdeu o cambista. De tarde, deu 44 e 43 nos dois primeiros prêmios. Ou seja, os dois CAVALOS que a BURRA deixou de jogar, pois iria ganhar uma gorjeta.

Minha avó dizia que a gente só deveria jogar quando SONHASSE ou VISSE um bicho? Certa vez, eu perguntei a minha avó: – Vovó, sonhar com bicho é possível, mas a senhora já viu um elefante no corredor de sua casa?

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SOBRE A BREVIDADE DA VIDA – por Sosígenes Bittencourt.

O ser humano é um animal sem solução. Ele tem sempre a impressão de que há algo de errado consigo mesmo. Sobretudo quando submetido à angústia de que a morte é o horizonte da vida.

Todo ser humano tem um livro escrito na memória que vai folheando, folheando… Às vezes, desprende um aroma. É o passado intrometendo-se na vida da gente, o passado sempre presente. O passado que se alonga, e o futuro que vai se tornando cada vez mais curto.

A brevidade da vida relembra o poeta romano Horácio (65 – 8 a.C.), agoniado com a fugacidade do tempo: Eheu! fugaces labuntur anni!: Ai de nós! os anos correm céleres.

Tudo que nos mantém vivos, nos mata. Sem o oxigênio, morreríamos; por causa do oxigênio, morreremos. Sem colesterol, morreríamos; por causa do colesterol, morreremos. Se não comêssemos, morreríamos; porque comemos, morreremos. Tudo que nos faz viver corrói a vida. Tudo que auxilia na vida, auxilia na morte.

O filósofo alemão Martin Heidegger (1889-1976) referiu-se ao tempo de vida: Um minuto de vida é idade suficiente para morrer.

Efêmero abraço!

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Conversão e Separação – por Sosígenes Bittencourt.

Nunca me esqueço da conversa que tive com um mototaxista. Ele me contou que não conseguia se libertar de sua mulher. Quanto mais ela pintava miséria com ele, mais o escravizava. Até de faca já havia sido agredido, levou esculhambação na Delegacia, vivia bêbado, teve que tirar o baço, uma verdadeira infelicidade, porém danado de enrabichado por ela. A Carteira Profissional do sujeito era borrada de sangue, de um pega pra capar lá na rua onde a jararaca morava.

Foi, foi, foi, até que, um dia, resolveu se CONVERTER. Engoliu corda de uma amiga e foi parar na Igreja. Chegou todo acanhado, com a mão no bolso, a cabeça baixa, olhando de bandinha, parecendo um matuto. Poucos dias depois, debaixo de oração, ouvindo o nome de Jesus, quando olhou para a mulher, enxergou o DEMÔNIO.

Contou que, apesar de tudo, ainda tentou levá-la para a Igreja, mas a camarada rejeitou o convite:

– Vamos para a Igreja, Fulana, em nome de Jesus! Deixa de tua cachorrada.

Não teve jeito. Estava acabado o casamento. Descobrira, então, que não havia relacionamento, coisa nenhuma, era tudo artimanha do SATANÁS.

Sosígenes Bittencourt

RODOVIÁRIA E POESIA – por Sosígenes Bittencourt.

Rodoviária, para mim, é recanto poético.
Lugar de saudade em tom patético.

Uma menina pequena, um idoso,
Um saquinho de pipoca, um Mané Gostoso.

Um bêbado a chorar,
debruçado numa mesa de bar.

Uma esperança ao amanhecer,
Uma lembrança ao anoitecer.

Bate sempre uma saudade no ar.
Uma saudade da vida vivida que nunca mais será.

Sosígenes Bittencourt

O DESEJO E A DOR – por Sosígenes Bittencourt.

Passamos a vida, submetidos a duas experiências básicas: o desejo, que busca a satisfação, e o afeto que busca evitar a dor. Mas, como evitar a dor, se desejo é vida, e a vida impõe limite aos desejos?

A dor física é uma ruptura, algo que rompe, dói. Uma faca que nos corta a pele, um órgão doente que precisa ser extirpado. Esta dor, nós sabemos teoricamente como resolver. A dor psíquica é uma dor de amor, ou seja, algo que nos desorganiza psiquicamente. É um rompimento com algo que tínhamos ou desejamos e nos falta. É uma dor interior, que nos encarcera, e o mundo desaparece.

Sosígenes Bittencourt

O FURUNFAR DE NAJILA E NEYMAR – por Sosígenes Bittencourt.

 


A questão é que Najila e Neymar queriam manter concurso carnal ou congresso sexual, mas Najila queria ser estuprada com preservativo. Não queria contrair neném nem doença venérea, preservando o assoalho uterino de geração e aparelho geniturinário de infecção.
Como Neymar é muito vexado, deu um drible em Najila e começou a furunfar.

Era o Escudo de Marte perante o Espelho de Vênus em natural confrontamento.
Depois, descobriu que fez um gol contra. Levou tapa de mulher, torceu o tornozelo e foi prestar depoimento, arrimado a muletas e a bordo de cadeira de rodas. Terminou Najila levando fama de prostituta de alto coturno, e Neymar, fama de rico abestalhado, bom de bola, mas sem juízo, ou seja, mau da bola. 


A mídia enche-se de assunto, deitando falação aos ouvidos curiosos e olhares pidões do mundo, dos esquimós da Groenlândia aos pigmeus bayaka da República Centro-Africana, num júri popular universal sobre assunto tão banal.


Sosígenes Bittencourt