AYLAN KURDI, PÁTRIA, LIBERDADE E VERDADE


Aylan Kurdi era um menino como fomos todos nós, que podemos contemplar o náufrago atirado na orla marítima de Bodrum, na Grécia, e apanhado pelo policial turco Mehmet Ciplak, que disse lembrar-se do seu próprio filho e não ter palavras para descrever o que sentiu.

Aylan Kurdi tinha 3 anos, não podia decidir se ficava em seu país de origem, ou se se atirava no mar, na sofreguidão de seus pais pela liberdade. Era muito pequeno e nem tivera tempo de viver para avaliar quem tinha razão na guerra travada entre os homens.

Aylan Kurdi fui eu que sobrevivi, somos nós, serão os herdeiros de nossa incompreensão e falta de paz. O homem acha a paz chata, por isso vive em guerra, que lhe é mais emocionante; gosta mais da paixão do que do amor, por isso vive arengando entre quatro paredes.

Aylan Kurdi não podia se defender. Hipossuficiente, dependia dos homens, estava sob a proteção dos adultos que pensavam por ele, agiam por ele. O menino era dependente, mantido, de “manus tenere”, estava nas mãos dos seus mantenedores.

Aylan Kurdi não buscava “segurança”, seguia a reboque dos que buscavam “liberdade”. O homem arrisca a vida em nome da liberdade. Não busca segurança nem a Verdade. Cumpre a sentença PATRIA CARA, CARIOR LIBERTAS – a pátria é querida, mais a liberdade é mais querida. Esquece-se, dom divino, de que VERITAS CARISSIMA – a Verdade é mais cara. Porque a Verdade é o mais sagrado de todos os valores, pois que a pátria e a liberdade são da terra e do tempo dos homens, e a Verdade vem do que sobrevive a tudo que morre.

Sosígenes Bittencourt

FRAGMENTOS (TÚNEL DO TEMPO)

tunel-do-tempo

(Há 26 anos)
*Deus deu ao homem a água, e o homem deu ao homem a conta d’água.
*No Dia de Finados, choramos por nossos mortos e por nós mesmos um dia.
*Na orla marítima, em tempo de fio-dental, o binóculo procurava um biquíni.
*O que mais aconselharia à polícia era não botar a mão no preso com o ódio do contracheque.
*Agiota até no amor, só dá um beijo por dois.
*Só nas Provas de Recuperação é que se conhece o pai do aluno irrecuperável.
(Novembro – 1987)

(Há 25 anos)
*120 dias de licença-maternidade são mais do que o suficiente para a mulher retornar grávida ao trabalho.
*O preço do tira-gosto tira o gosto de beber.
*No dia das eleições, é proibido vender bebida alcoólica e fugir da cachaça de votar.
*Urge que se crie o Pronto Socorro do tempo, para socorrer as vítimas do Horário de Verão.
*Mais um avião cai na Cordilheira dos Andes. Impõe-se um conselho: não andes pela Cordilheira.
(Novembro – 1988)

Sosígenes Bittencourt

AURORA E EU, EU E AURORA

Numa tarde ensolarada de Domingo,

num fundo de quintal, eu encontrei Aurora.

Aurora veio tão brilhante e jovial

que parecia o dia amanhecendo.

Aurora é de 19 de julho, e eu também,

dois cancerianos doidos pela vida,

dois cancerianos se apaparicando.

As pessoas maltratam demais o destino,

maldizem da sorte,

deixam de viver, pensando na morte.

Aurora tem um cheiro forte, de carnadura festival,

tépida e fresca como uma tarde estival.

Como eu gostaria de me casar com uma menina chamada Aurora, para ficar, o tempo todo, cantarolando: Aurora… Aurora… Aurora…

Depois desse dia, todo dia seria claro,

toda hora seria Aurora.

E Aurora passaria a ser o meu quebra-luz,

um vagalume, alumiando minhas noites primaveris.

Talvez, eu ficasse bestinha

e nunca mais saísse de casa.

Sosígenes Bittencourt

SETE DE SETEMBRO EM VITÓRIA E A ORQUESTRA DE CHÃ GRANDE

(Esta é a apresentação de 2014. Rogaria, encarecidamente, que me enviassem a apresentação de 2015) Mais uma vez, no desfile em comemoração à Independência do Brasil, em Vitória de Santo Antão, a única agremiação que se apresentou sem ser vaiada foi a Banda de Música da cidade de Chã Grande, sob a batuta do maestro Márcio Carneiro de Moura. Primeiro, porque não parece uma banda de música e, sim, uma orquestra. Depois, porque tocou músicas referentes ao evento, dobrados e arranjos musicais em cima de um repertório que a plateia conhecia e reconhecia como de boa qualidade. Não é decente comemorar dada histórica tão relevante de nossos feitos, tocando Bilu Bilu, ou qualquer modinha do repertório da “fuleiragem music”. Por outro lado, as vaias dadas pela gandaia no desfile das Escolas é um sinal demonstrativo da falta de educação do povo. Não se vaia jovem desfilando numa comemoração cívica tão importante, sobretudo crianças, porque crianças não merecem ser vaiadas nem desrespeitas. Mas, uma menina que toca na Banda Musical já me participou que, no próximo ano, ela estará se apresentando em outro município. Portanto, as autoridades da cidade de Chã Grande devem, como incentivo, patrocinar, em parceria com outras cidades, desfiles da Orquestra Pedro Jorge Frassati noutros municípios, para despertar o interesse por trabalho tão brilhante como o que se realiza naquela cidade Salve a Orquestra da cidade de Chã Grande!

Sosígenes Bittencourt

FRAGMENTOS (TÚNEL DO TEMPO)

Há 27 anos – Março de 1988
*De vírus em vírus, aids do Brasil! De aids em aids, vírus o Brasil!
*Em tempo de Controle da Natalidade, disse o espermatozóide ao óvulo: – Amigos, amigos, fecundação à parte!
*O aposentado anda com medo de que o aposentem do recebimento.
*Parte do funcionalismo ameaça não funcionar,
que será o funcio(não)lismo.
*O pastor negro Jesse Jackson é o mais novo herdeiro espiritual de Martin Luther King. Sua cabeça deve ser à prova de conselho e pedrada.

Há 26 anos – Março de 1989
*Os Estados Unidos querem saber quantos hectares tem a Amazônia. Devem estar querendo se apossar de algum terreno aqui no Brasil.
*Na votação de Aluísio Alves para o Superior Tribunal Militar, foi encontrada uma bolinha a mais, ao final da contagem dos votos. Fizeram “bolinha” na nomeação do ex-ministro.
*A diferença entre Moisés, da Bíblia, e Moisés, candidato a vereador, é que o profeta subiu o Monte Sinai, e o candidato subiu a Vila da Cohab.

Sosígenes Bittencourt

PALESTRA NO PRESÍDIO DE VITÓRIA DE SANTO ANTÃO

Módulo: O Nada que é Tudo

Houve pontos importantes que fiz questão de frisar, em minha palestra, para detentos no presídio de Vitória de Santo Antão. Dentre outros, discursei sobre a IRA e sobre a LIBERDADE.

A Ira é um sentimento que deve ser resignificado, ou seja, você deve trabalhar sua ira. Porque a ira tem função. Até Jesus, para disciplinar os mercadores, na orla do templo, baixou-lhes o chicote. Naquele instante, defendia a virtude, condenava o vício e preservava a casa de Deus.

Portanto, ensinava-lhes que a Ira tem de ser pensada. O importante não é a ira que se sente, mas aquilo que fazemos com a ira que sentimos. E a pergunta era a seguinte: O que vocês fizeram com a ira que sentiram?

Em outro momento, discursei sobre a Liberdade, o segundo maior bem da vida. Porque o primeiro maior bem da vida é a própria vida. E provei que os seus corpos estavam presos, mas ninguém jamais poderia aprisionar suas ideias. As ideias não são concretas, não têm substância. As ideias são abstratas. Você pode estar preso, mas suas ideias, fora do presídio. Baseado nesses argumentos, provei-lhes que a ideia de liberdade deve seguir as regras para obtê-la, e o melhor caminho seria seguir as múltiplas alternativas para conquistá-la. Que repensar a Ira e conviver harmoniosamente seriam as melhores opções para amenizar a dor da prisão e ganhar a liberdade.

Ao final, citei o exemplo de Nelson Mandela, que morou 30 anos na prisão e saiu com a ideia de acabar com a discriminação racial na África do Sul, obtendo um êxito sonhado a vida inteira.

Sosígenes Bittencourt

A FLOR DE BOM JARDIM

Nem tudo são flores em Bom Jardim. A prefeita Lidiane Leite tirou a amamentação dos alunos. Sem ternura, surrupiou a merenda escolar. Sem merenda, os alunos se encontram com o estômago sem recreio. O receio é de que ela não saiba mais onde está o lanche da gurizada, pois até ela mesma anda sumida. Cometeu “sumicídio”.
Nada disso estaria acontecendo se Lidiane não fosse tão convencida e amostrada. Além de pintar o sete com o tutu dos matutos, deu festa cara, requebrou-se toda e soltou pilhéria para os invejosos.

Fala-se que Lidiane desviou em torno de 1 milhão de reais. Nenhum agricultor de Bom Jardim sabe o que é um milhão.

Certa vez, um sonhador depositou um milho bem grande sobre um banquinho e colocou na porta da rua. Indagado sobre o presépio, respondeu: – Eu sonhei que tinha um milhão no banco.

Desviado abraço!

Sosígenes Bittencourt

ESTUDADO PORTUGUÊS

(O verbo “SUICIDAR-SE” é um PLEONASMO?)

O verbo “suicidar-se” vem do latim sui (“a si” = pronome reflexivo) + cida (= que mata). Isso significa que “suicidar” já é “matar a si mesmo”. Dispensaria, dessa forma, a repetição causada pelo uso do pronome reflexivo “SE”. Ou seja, “ele suicidou” em vez de “ele SE suicidou”.

É importante lembrar que as palavras terminadas pelo elemento latino “cida” apresentam essa ideia de “matar”:
formicida – que mata formiga;
inseticida – que mata inseto;
homicida – que mata homem.

Voltando ao verbo “suicidar-se”, se observarmos o uso contemporâneo deste verbo, não restará dúvida: ninguém diz “ele suicida” ou “eles suicidaram”. O uso do pronome reflexivo “se” junto ao verbo está mais que consagrado em nosso idioma. É, na verdade, um PLEONASMO IRREVERSÍVEL.

Numa história que é contada pelo grande ator, compositor, escritor e poeta Mário Lago, do seu livro 16 Linhas Gravadas, entre outras histórias, encontra-se a do professor de Português que se mata ao descobrir a traição de sua amada esposa Adélia. Deixou escrito na sua mensagem de despedida: “ADÉLIA SUICIDOU-ME”.

Sosígenes Bittencourt

A DIMENSÃO DA ESTUPIDEZ HUMANA

A palavra BURRO não resume a dimensão da estupidez humana.

Eu nunca vi um GATO fumando nem um MACACO bebendo cachaça, e ainda chamam o homem de BURRO.

Nenhum bicho jamais pensou em ser homem, mas o homem inventa uma forma de fazê-lo gente. Treina o animal, faz tudo para ele parecer humano, mas o bicho não aprende a sorrir nem sabe que vai morrer.Sorrir e saber que vai morrer é coisa de homem.

Achando pouco, o homem quer ser bicho, faz fantasia, faz munganga de toda sorte para parecer bicho, mas não consegue ser como uma baleia, um tigre ou um passarinho. Melhor ficar quieto num canto, filosofar e ir dormir um pouquinho.

Animalesco abraço!

Sosígenes Bittencourt

PALMAS PARA ISAQUE!

Arrumado chegou o meu sobrinho, de 2 anos, aqui em casa, hoje, de manhã.

Pegou na grade, chamou pelo meu apelido doméstico, todo falante: – Sosi, abre! Eu tô, aqui, preso.

Na realidade, ele não estava preso, quem estava preso era eu, ele estava livre. Mas, o fato de não poder penetrar no recinto o colocava numa situação de privação de liberdade. Enfim, ele estava certo.

A pergunta é a seguinte: Como pode a criança ser tão curiosa, e os adultos aprenderem tão pouco com a curiosidade que tinham?

Palmas para Isaque!

Sosígenes Bittencourt

O QUE QUEREM DAS FORÇAS ARMADAS?

Num beco sem saída ou entre a cruz e a espada, alguns brasileiros estão rogando a intervenção das Forças Armadas para dar um jeito na nação. Uma característica desse desespero expressou-se na ausência dos jovens nas manifestações pelo Impeachment da presidente (ou presidenta) Dilma Roussef. Os ausentes sinalizaram que não era a demissão de dona Dilma que modificaria o quadro de degradação da política nacional, uma vez que todos os partidos têm colaborado com a corrupção imperial. É uma espécie de cooperativismo. Ou seja, ninguém luta pelo poder, mas faz conchavo com o poder.

Ora, As Forças Armadas não podem nem devem obedecer a ordens que partam de quem quer que seja quando se trata de intervir em nome da integração territorial e preservação das instituições pela força das armas. Por isso que se chamam Forças Armadas, uma força que pressupõe a maior força, a imbatível, a mais forte. E o mais forte, nessa ótica, não o é pela força, mas pelo direito de usar a força, pelajustiça da força.

Portanto, uma Intervenção das Forças Armadas não depende da vontade popular e nunca dependerá. Ademais, os crimes políticos são, em primeira instância, da alçada da Justiça, que detém o poder de julgar e sabe como lidar.

Então, é prudente interpor o sono da noite bem dormida para não querer o que não se sabe ou fazer o que não adianta. Daqui a pouco, vão dizer a maneira como as Forças Armadas deveriam atuar.

Cauteloso abraço!

Sosígenes Bittencourt

Solidões

Uma mulher: – Professor, eu estou pensando em passar um tempo sozinha.

Eu: – Posso saber o motivo, madame?

A mulher: – Depois da última decepção que eu tive, eu pretendo passar dois anos sem querer ninguém.

Eu: – Coincidência. Eu também estou pensando em passar uns dois anos na solidão.

A mulher: – Eu sempre me senti solitária.

Eu: – Se você está solitária, eu estou namorando a solidão.

A mulher: – É como se a gente não valesse nada.

Eu: – Façamos o seguinte: vamos passar dois anos na solidão, eu e você? Ninguém bole com ninguém.

A mulher: – Mas, isso não vai dar certo, professor. Eu sou muito fácil de gostar.

Eu: – Talvez, aconteça o que dizia o escritor alemão Rainer Maria Rilke (1875-1926): Amor são duas solidões que se protegem.

Sosígenes Bittencourt 

SERES INTERDEPENDENTES

O ser humano é mesmo um animal INTERdependente. Vivemos um pendurado no outro. Ninguém, no mundo, nasceu para ser INdependente nem DEpendente, mas INTERdependente.

É ilusório pensar que podemos nos amar a tal ponto que possamos dispensar o amor do outro. Não há amor que se baste a si mesmo. Porque o amor não é um sentimento para dentro de si, mas para fora de si, é uma busca do outro.

Sosígenes Bittencourt