Momento Cultural: A DANÇA DO VENTO – Por Valdinete Moura

A dança do vento frenética não pára. E nessa
alucinação me envolve o corpo que treme e se
arrepia. Me desmancha os cabelos que entram
pelos olhos e penetram em minha boca, buscando
beijos úmidos de amor.

E o vento louco passa levando tudo para longe.
Tudo menos essa ânsia imensa, esse desejo
Insano de carícias e afeto.

O vento passa e leva tudo. Tudo mas deixa em
meu corpo a certeza da saudade e a imensidão
do desejo.

“Voz Interior”

Maria Valdinete de Moura Lima, filha de Manoel Severino de Lima e de Lindalva de Moura Lima, nasceu em Vitória de Santo Antão. Bacharela e Licenciada em Letras. Professora de Português da Faculdade de Formação de Professores da Vitória de Santo Antão. Poetisa e contista, tem um livro publicado VOZ INTERIOR – 1986. Tem vários prêmios, entre os quais: José Cândido de Carvalho, contos: Jeová Bittencourt, contos, menção honrosa (Araguari, MG). Concursos promovidos pelo “Timbaúba Jornal”, contos e poesia. É membro da Academia Vitoriense de Letras, Artes e Ciência.

SOU TORCEDOR BRASILEIRO

Eu não consigo torcer contra o Brasil. Há um país que vive em mim, livre de qualquer influência que o desfaça.

Ademais, a esperança nutre-se de vitórias, não de derrotas. De que nos servem as derrotas, senão como lição.

Uma gestão governamental é muito pouco para eu perder o amor a minha Pátria. Reprovar um político e transformar este ódio em desamor à Pátria é um gigantesco equívoco. Observemos a sapientíssima reflexão do jurisconsulto doutor Rui Barbosa:

“A pátria não é ninguém, são todos; e cada qual tem no seio dela o mesmo direito à ideia, à palavra, à associação. A pátria não é um sistema, nem uma seita, nem um monopólio, nem uma forma de governo; é o céu, o solo, o povo, a tradição, a consciência, o lar, o berço dos filhos e o túmulo dos antepassados, a comunhão da lei, da língua e da liberdade. “

Ora, como poderei odiar minha pátria porque um regime ou um governante não me agrada, porque degrada? O que tem a ver a pátria que vive em mim, o seu céu, o seu solo, suas riquezas naturais, meus antepassados e meus filhos com tudo isso?

Sosígenes Bittencourt

DO AMOR AOS GATOS OU AILUROFILIA

Tudo na vida tem o seu dia de comemoração, mas os gatos têm dois dias: 17 de fevereiro e 8 de agosto. Apesar de arisco, não se dando com gritaria nem com carinho fora de hora, o bichano é considerado o mais popular do mundo.

Domingo, amanheci com um gatinho miando dentro da casa. De tão novo, não consegui entender como veio parar no jardim. Não conseguiria enguiçar o muro nem penetrar pela brecha do portão. Todavia, não era hora de especular sobre sua invasão. Dei-lhe leite e o coloquei numa caixa, forrada com um pano, para repousar. Ele mordeu o leite e fungou, como se procurasse peito, escorregou, lambuzou-se todo. Depois, deitou-se, espreguiçou-se, suspendeu as patas e começou a se lavar com a língua.

Porém, uma indagação sobrepairava a cena: Quem o ensinou a tomar banho? Quem lhe disse que a “candida albicans” de sua saliva serve de antibiótico para o seu corpo? De uma coisa, já fomos informados: os donos de gatos são mais introspectivos e sensíveis, o que significa dizer que os homens aprendem mais com os gatos do que os gatos com os homens.

Com a palavra, os ailurófilos.

Sosígenes Bittencourt

A PAIXÃO

A paixão é hipnótica,
conteúdo mental invasivo.

A paixão tem vontade própria.
O apaixonado, não.

A paixão é cega e vê,
porque vê o que quer sem entender.

A paixão é sentimento abdominal,
nasce de baixo para cima.

A paixão deve dar um sentido à vida,
não um sentido à morte.

A paixão é o aperitivo do prazer,
não deve virar um porre.

A paixão por coisas é mais serena;
a paixão por pessoas, mais dependente.

A paixão acorda o apaixonado, de madrugada,
para pensar nela.

A paixão é sem explicação,
tendo nada a ver com o seu objeto.

A paixão é suicida, pode matar o apaixonado.
A paixão é homicida, pode matar a coisa desejada.

A paixão termina por ganhar da solidão.
Ai do solitário!

Sosígenes Bittencourt

BOA SORTE!

O filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900) deduzira: Sem a música, a vida seria um erro.

Depois, chamam-me de hiperbólico quando descrevo minhas emoções musicais. Quando a dosagem é exagerada, é natural que o efeito seja um exagero.

O filósofo francês Voltaire (1694-1778) já apregoava: Tudo que entra pelo ouvido vai direto ao coração.

Não foi, em vão, que a mitologia personificou a música na deusa Euterpe, cuja etimologia resume-se em “a doadora de prazer”. E eu não quero me curar de nada que me dá prazer.

Sosígenes Bittencourt

SOU TORCEDOR BRASILEIRO

Eu não consigo torcer contra o Brasil. Há um país que vive em mim, livre de qualquer influência que o desfaça.
Ademais, a esperança nutre-se de vitórias, não de derrotas. De que nos servem as derrotas, senão como lição.
Uma gestão governamental é muito pouco para eu perder o amor a minha Pátria.
Reprovar um político e transformar este ódio em desamor à Pátria é um gigantesco equívoco. Observemos a sapientíssima reflexão do jurisconsulto doutor Rui Barbosa:

“A pátria não é ninguém, são todos; e cada qual tem no seio dela o mesmo direito à ideia, à palavra, à associação. A pátria não é um sistema, nem uma seita, nem um monopólio, nem uma forma de governo; é o céu, o solo, o povo, a tradição, a consciência, o lar, o berço dos filhos e o túmulo dos antepassados, a comunhão da lei, da língua e da liberdade. “

Ora, como poderei odiar minha pátria porque um regime ou um governante não me agrada, porque degrada? O que tem a ver a pátria que vive em mim, o seu céu, o seu solo, suas riquezas naturais, meus antepassados e meus filhos com tudo isso?

Sosígenes Bittencourt

FISCALIZAÇÃO ADULTERINA EM CARNE ADULTERADA


Para quem já ouviu falar sobre esterco de quadrúpede em cigarro, soda cáustica em leite de vaca e deglutiu carne de jumento não deveria ficar de cabelo em pé com papelão em lote de frango.

Mas, como o brasileiro está habituado a engolir corda, acredita piamente que Michel Temer provou a seriedade de nossas carnes ao passar na mandíbula churrasco, com comensais estrangeiros, em laudo banquete. Claro que o presidente não poderia temer uma diarreia internacional e coletiva depois de semelhante papelada fiscal. Deve ter contratado fiscais para fiscalizar a fiscalização oficial.

Na realidade, a operação não deveria se chamar “Carne Fraca”, mas “a carne é fraca”, justificando com humor antigo que, por trás de toda desgraça, há sempre “dinheiro, adulterina e cachaça”.

Sosígenes Bittencourt

NO DIA DA FELICIDADE

O segredo da felicidade é um segredo. Portanto, cada um tem que descobrir o seu. O segredo da minha felicidade não é o segredo da sua felicidade.

O filósofo Sócrates morreu feliz, apesar de ter sido obrigado a beber veneno para se matar.

Quem poderia ser feliz com o segredo da felicidade de Sócrates?

Contudo, ninguém saberia se estaria feliz, se não fossem os momentos sem felicidade, pois não saberia distinguir a felicidade se jamais fosseinfeliz por um instante.

Aliás, querer ser feliz o tempo inteiro tem sido o motivo de muita infelicidade.

Sosígenes Bittencourt

BIG BROTHER BRASÍLIA

Brasília é uma casa sem telhado. A culpa é da internet e da curiosidade dos homens. Você pode até não viver DA Rede, mas, inescapavelmente, viverá EM Rede, ou seja, enredado na teia da Rede. O risco é que você não poderá se policiar 24 horas no ar, porque ninguém é imune a fazer tolices, dizer besteira, cometer despautérios. E se a besteira for estrambótica, estapafúrdia, os homens da lei poderão pedir para quebrar o seu sigilo eletrônico. Aliás, há homens da lei também investigados. São humanos.

Urge que se aprenda a mentir com lógica e a memorizar a mentira. Porque o castigo do mentiroso é ter de se lembrar da mentira para não gaguejar e entrar em contradição.

O Big Brother Brasília dá prejuízo ao Big Brother Brasil, quebrando-lhe índices de audiência. São as audiências da Delação Premiada que transformam o Big Brother Brasil em menor entretenimento e menor piada. Não há personagem mais curioso, ao natural, do que um Dulcídio enfurecido resolvendo falar a verdade. E se todos os delatores estiverem falando a verdade, e se tudo for apurado e comprovado, todos estarão envolvidos por ação, ou omissão, o que redundaria em coletiva condenação.

Por enquanto, aos eleitores a teleaudiência das audiências do Big Brother Brasília, para reconhecer que a culpa não é só dos delatados, porque os delatados foram votados, e os eleitores são os mesmos telespectadores.

Big Abraço Brasil!

Sosígenes Bittencourt