Fragmentos


*Não há nada mais eterno do que o passado, pela impossibilidade de modificá-lo.
*Vejo poesia em tudo. Por isso, ando pela calçada.
*Somos excelência em ciência e tecnologia, mas pobres em sabedoria.
*Há amores acidentais e amizades essenciais.
*Ando à procura de um “talvez”, e talvez você seja o meu “onde”.
*Não há maior distração do que ser humano.
*Ninguém pensa nem age para ter paixão, mas pensa e age porque tem paixão.
*Vivo estudando. Quando não tenho o que fazer, estudo.
*Leio desde quando não sabia ler e escrevo desde quando não sabia escrever.
*Todo homem crê no limite de sua fé e descrê no limite de sua descrença.
*Forte não é quem bate, mas quem defende.
*Rico não é quem tem, mas quem ajuda.
*Inteligente não é quem humilha, mas quem ensina.

Sosígenes Bittencourt

A QUENTURA, MURIÇOCAS E BARATAS

O tempo esquentou na Primavera. E com a quentura, ou variação de temperatura, ora fresca, ora escaldante, muriçocas e baratas são bem-vindas. Baratas já desfilam pelas calçadas, de sapato alto e antenas ligadas, muriçocas já migram em revoada, executando sua sinfonia macabra.

As fobias renascem. Não raro, os tementes a barata, munem-se de bisnagas de inseticidas, e os apavorados com pernilongos buscam repelentes atmosféricos ou de esfregar na pele. Fobia é uma espécie de medo de leão sem leão. Uma barata ganha a dimensão de um dinossauro. 
E como sofrem as criaturas. Aquele funcionário público que tem de se levantar cedinho para tomar 3 conduções para chegar ao trabalho, amarrotado, sonolento e suado, depois de uma madrugada revirando-se na cama, acendendo a luz para aspergir veneno em muriçoca. Aquela  dona de casa que tem de preparar o café, de madrugadinha, botar feijão no fogo e levar os meninos para a escola, depois de uma noitada de vigia, com os olhos aboticados nas paredes e se envergando para olhar debaixo da cama.

No tempo de eu menino, contavam que havia um comerciante tão pirangueiro, na cidade, que as baratas de sua mercearia morriam desnutridas por não terem acesso às mercadorias.

As muriçocas de hoje são falsas, misturando-se com o aedes aegypti, aquele pernilongo de meião alvinegro, cuja fêmea nutre-se vampirescamente do sangue do indivíduo, ameaçando-o de morte.

Sosígenes Bittencourt

ENEM, NEM TANTO

Às vezes, eu sou acusado de meter o bedelho onde não sou convidado. Mas, matutando sobre o ENEM e outras práticas examinadoras e educativas, observo alguns aspectos que preciso desembuchar. Por exemplo, nunca entendi por que tanto assunto no crânio de um aluno de Ensino Médio. Ademais, a profundidade com que são cobradas as matérias, a exigir raciocínio em nível universitário. O adolescente não pode com tanta coisa. Obviamente, não me refiro a gênio nem excepcional, falo sobre o comum dos mortais. Nem mesmo um universitário é pressionado a armazenar tamanha salada de conhecimentos. E para dirimir qualquer dúvida sobre o que denuncio, eu pediria aos fazedores de jornadas vestibulares que se submetessem a essas sabatinas e publicassem suas notas. Já meditaram?

Sosígenes Bittencourt

HALLO RUIM

Penso que o halloween daria muito bem para ser uma festa para adultos, uma sátira, com bom humor e sensualidade. Fantasias vampirescas, risadas abracadabrantes e chupada no pescoço. Não vejo nada que sirva para criança.

– Painho, deixa eu ir para a festa do Halloween!
– Para ver o quê, meu filho?
– Para ver as bruxas, painho!
– Não precisa, meu filho.
– Por quê, painho?
– Você já dorme com a sua mãe todas as noites, meu filho.

Isto não é uma piada, mas um fato que passei a denominar de “Hello ruim”. Não sei o que seria pior, o fato, ou você fantasiar o seu menininho de vampiro, colocar-lhe duas presas e explicar que é para chupar o sangue de sua coleguinha.
No Brasil, não há nenhuma lei que proíba opinião, mas há preconceito quanto a opinião. As pessoas gostam de ser iguais, se amoldam, temem ser diferentes. Acham confortável concordar e temem discordar ou ter opinião própria. Ora, se você discorda de toda novidade, você envelheceu, porém se você concorda com toda novidade, você estará sendo volúvel.

O nosso Saci-Pererê é um ente traquinas que surgiu, inicialmente, no folclore nacional, entre indígenas, na região sul do país. Depois, sofreu influência e foi sendo remodelado, ganhou uma carapuça, um cachimbo, perdeu uma perna, supostamente numa luta de capoeira, e por aí vai. Agora, no lugar de ensinar essa historinha às nossas crianças, nós vamos buscar uma bruxaria lá dos Celtas, nos confins da Europa, e fantasiar nossos meninos de vampiro, simbolizando umDrácula que se alimentava de sangue humano para sobreviver. Enfim, que brincadeira é essa? Será por que seria difícil sair pinotando numa perna só?

Espantoso abraço!

Sosígenes Bittencourt

NO BAR DA COCHEIRA

O Bar da Cocheira fica como quem vai para o Matadouro. É uma casa de família. O barzinho é um fundo de quintal, de dona Léo de Zé Pedreiro. Quando bate a tardinha, sobe aquele aroma adocicado de chiqueiro de porco, relembrando a década de sessenta. Zé Pedreiro não diz nadinha, pai das meninas, de mulheres diferentes, todas contentes. A mais velha deve ser Maria de Nazaré, loirinha, meio sofrida por uma paixão que se acabou. Na televisão, toca até Zezo dos Teclados, com aquela gemedeira romântica que faz a mulherada querer beijar na boca. Tem dobradinha, quiabada, sarapatel, tripinha de “pôico”, tudo no estrinque. Chega dá vontade de tomar uma lapada de cachaça e passar a boca na manga da camisa. Todo ser humano tem um maloqueiro dentro do peito. Sobretudo se nasceu no interior, no tempo que fazer sexo era pecado e urinar na rua era falta de educação. Deus me defenda! No tempo que mulher da vida chamava-se rapariga e tinha mais vergonha na cara do que a geração de Malhação. Morreram quase todas. Outro dia, eu vi Maria Guarda-Roupa.

O Bar de dona Léo fica lá na esquina, como quem vai para o Matadouro. As meninas descem da Faculdade e vão beber cerveja. Tem até estudante de Pedagogia. Umas meninas sabidas, falantes, de batom, cabelo na escova e sadália de dedinho. Se não fosse isso, a vida seria muito chata.

Sosígenes Bittencourt

CONVERSANDO BESTEIRA

Um dia, eu voltava de Caruaru, de manhãzinha, depois de uma noitada com duas amiguinhas e haver adormecido no Hotel Continental, quando percebi que dirigia por outra estrada. Aí, interpelei um matuto:- Aqui, vai pra onde?

Aí, o matuto: – Vai pra Campina Grande!

Aí, eu engrenei uma marcha a ré e fui procurar Encruzilhada, uma cidadezinha do tamanho de uma encruzilhada. Lá, eu comi uma carne de sol com macaxeira tão gostosa que me danei a conversar besteira. Uma delas foi assim: – Você sabe por que a mulher do burro é uma besta?

Aí, as meninas: – Sei não, mestre.

Aí, eu: – Porque, quanto mais burro, mais besta ela fica.

Abestalhado abraço!

Sosígenes Bittencourt

PROGRAMA DE DOMINGO PARA CINQUENTÃO SAUDOSISTA

https://www.youtube.com/watch?v=fml9desBc8s

Se você acha que o seu namoro perdeu a graça, experimente relembrar o que você fazia quando havia graça. Você chegava com o coração pinotando de desejo e começava a cortejar a menina que você amava. Então, faça o movimento inverso, comece a cortejá-la que o desejo irá aflorar. Escolha um lugar que tenha flores e cante uma canção do seu tempo.

Saudoso abraço!

Sosígenes Bittencourt

MINIBIOGRAFIA

sosigenes-1-ano

Ensinar, para mim, é uma forma de conviver.

Minha escola é o mundo.

Estudar, para mim, é uma forma de conviver,

Minha escola é o mundo.

Sou professor no que ensino;

no que estudo, sou aluno.

Sou filho de professora Damariz,

meio gente, meio pó de giz.

Fazer poesia é destino,

sou poeta desde menino.

Porém, sou poeta trabalhado,

o meu dom é divino,

mas o estudo é sagrado.

 

Sosígenes Bittencourt

ÍNDIO E CARA-PÁLIDA

Por que será que os índios não batem em criança? Ora, porque os índios não enganam as crianças. Logo, as crianças não têm como desobedecê-los, pois não há duas atitudes, dois comportamentos incompatíveis a serem seguidos. Também não bate em criança, temendo ser abandonado por ela. Cara-pálida não precisa castigar para ser abandonado.

O índio não lambuza o rio, porque o rio é um deus. Cara-pálida polui o rio porque não crê em Deus.

Sosígenes Bittencourt