NÃO RIA SE PUDER

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LAPADA DE CANA OU A GALINHA DOS OVOS DE OURO

Estava, certo dia, em frente a um mercadinho, no meu bairro, quando um bêbado se aproxima e, com aquele tradicional bafo de múmia, pergunta: – Professor, vende-se lapada de cana?

Aí, eu: – Não, meu senhor, vende-se cana e dá-se lapada.

Neste mesmo Mercadinho, meu pai foi vítima de um assalto. Foi comprar uma galinha, com 170 reais no fundo das calças, e lhe roubaram a mufunfa. Eu perguntei se ele queria comprar a Galinha dos Ovos de Ouro.

ASSALTO E SOBRESSALTO

Um dia, 3 assaltantes empunharam os revólveres perante minha fisionomia e um deles me admoestou:

– Se se mexer, eu atiro.

Aí, eu: Como posso tirar minha carteira sem me mexer?

Aí, o ladrão: – Bora, bora, bora!

Aí, eu: Isto é um assalto?

Aí, o ladrão: – Bora, bora bora!

Aí, eu mostrei-lhes a carteira e expliquei: – Isto é um sobressalto.

Não havia um centavo na minha carteira.

BAIANADA EM SÃO PAULO

Um dia, um casal baiano chegou em São Paulo e viu a Polícia lascando o cassetete num cara, porque ele estava com cocaína no cós da calça. Aí, a esposa do baiano aconselhou: – Ih! Raimundo, vamos voltar para a Bahia, esse cara está apanhando porque foi pego com cocaína, imagine quando souberem que a gente cheira.

Sosígenes Bittencourt

DECÁLOGO PARA PREFEITOS ELEITOS

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1)     Não dê o dinheiro público ao povo, isto é crime grave e traz enormes prejuízos aos cofres do município, inviabilizando a administração da cidade.

2)   Não dê emprego indiscriminadamente, selecionando os melhores, empregando pela competência para melhor poder governar.

3)   Preste conta da arrecadação do município, porque este dinheiro emana do povo e ao povo pertence.

4)  Enumere prioridades, educando e convidando a população a colaborar, em parceria, com a melhoria da qualidade de vida da cidade. Ninguém governa sem o governado.

5)    Não insulte inimigos políticos, comemore sua vitória, mostrando serenidade e eficiência na administração pública, para justificar o seu triunfo.

6)   Não exiba riqueza, combata veementemente a ostentação, portando-se com respeito aos mais humildes, comprovando  o fito nobre de representá-los.

7)  Não pergunte o que quer o povo, antes de privilegiar a educação, pois a educação pode não significar tudo para o povo, mas, sem educação, não há nada.

8)  Cuide das extremidades da vida, porque as crianças cuidarão de nós, e os idosos já cuidaram de nós – é a eles que devemos tudo.

9)  Não use o poder para dominar, pois a melhor forma de dominar é sem dominar, é consultando e convencendo as pessoas. Jamais alguém dominou pela força para não ser condenado.

10)  Enfim, visite as Igrejas, sem discriminação de Fé, baseado na revelação de Samuel: O Senhor não vê como o homem: o homem vê a aparência, mas o Senhor vê o coração”.

Sosígenes Bittencourt

DEMOCRACIA E VOCÊ

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No dia da eleição, preste atenção. Não vá com ânsia ao período de vacância. Das 8 às 17h, ninguém manda no poder, ninguém governa, quem ocupa o poder é você. Não espere que a Justiça julgue os políticos, julgue-o, você.

O poder de absolver ou condenar um político foi concedido a você. O seu voto será martelo, será juiz. O seu voto fará justiça sem que ninguém possa julgar você. Quem educa político e postulante a cargo eletivo é você.

Democrático abraço!

Sosígenes Bittencourt

ESTUPRO E MULHER COM A NÁDEGA DE FORA

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Eu costumo dizer que julgo ser mais prazeroso beijar uma mulher com o seu consentimento do que manter congresso sexual com uma mulher sem sua permissão. Contudo, no primeiro caso, o cidadão deve ser considerado um sujeito normal; no segundo, um psicopata. Um homem pode desejar uma mulher e mudar de tática para conquistá-la, mas não pode usá-la sem sua aprovação, é caso de Justiça.

Cada estuprador ataca sua vítima por questão singular. Há estuprador que enguiça o muro do cemitério para copular com uma falecida, confundindo estupro com profanação de cadáver. Outro não pode ver uma mulher com a nádega de fora – o que não significa dizer que a vítima seja “cúmplice” – o seu azar será apenas a coincidência de cruzar com um “bundomaníaco”.

Oportuno salientar que o psicopata sabe exatamente o que está praticando, que está cometendo crime, que poderá ser linchado na via pública ou estuprado no cárcere, porém não consegue conter o seu apetite criminoso. Contrário ao doido, que não sabe lidar com suas emoções e fica abestalhado, olhando para o objeto do desejo.

Portanto, descartemos a ideia de que homem pega mulher a pulso porque ela está com as fronteiras proibidas de fora. Um cidadão normal lança um galanteio, oferece-lhe uma rodada de chopp, ou a convida para dançar. O estuprador pega uma faca e fica por trás de uma parede, como num filme de terror. Às vezes, fica tão descontrolado que não escolhe o lugar e acaba nas mãos da população – doida por um tarado para descarregar o seu desejo de matar. Azar do estuprador.

Enfim, lugar de estuprador é preso, e mulher brasileira, se tivesse cautela, não andaria nua. O brasileiro, em geral, é enxerido, quando o namorado vai urinar, ele tira sua namorada para dançar.
Cauteloso abraço!

Sosígenes Bittencourt

A PRIMAVERA

A primavera representa o nascimento, a infância, é hora matutina.

A primavera é álacre como as flores que brotam à garoa fina.

A primavera é aérea, esvoaçante, bela como cachos de menina.

A primavera dá vontade de abraçar, libera ocitocina.

A primavera é refrigerante, como se as flores espalhassem neblina.

Sosígenes Bittencourt

EU TIVE UMA NAMORADA EM CARUARU

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Isso foi na década de 70. Eu era adolescente e achei de me engraçar de uma menina lá em Caruaru. Todo domingo, eu ia passear na pátria de Vitalino. Pulava da cama cedo, me enfatiotava todinho e ia pra BR, pegar ônibus. Os ônibus apostavam carreira. Tinha da São Geraldo, Progresso – parece que da Jotude – e Caruaruense.

Eu viajava com a cabeça na janela para ver a paisagem. A ventania ficava fazendo uma zoadinha no ouvido. Seguia pensando na vida, imaginando o futuro, no horário da esperança. Não sei por que, mas associo a aurora ao porvir. Já minha avó Celina dizia que a noite era a hora da saudade. Sei lá…

A princípio, eu ia assistir a filmes no Cine Santa Rosa e Irmãos Maciel. O Cine Santa Rosa ficava na pracinha, como quem ia para o Bairro do Salgado. Um dia, passou Dr. Jivago, com Omar Sharif e Julie Christie, um filme americano de 1965. O pessoal do meu tempo deve se lembrar. Eu comprava uma carteira de Continental, sentava na avenida e pedia uma cerveja Antártica Paulista. Pedia Brahma Chopp também. Parecia um hominho.

Foi quando, passeando pela Feira de Caruaru, conheci uma vendedora de sandálias, alpercatas, um bocado de coisa de couro. Olhos pretos em moldura amendoada, pele morena afogueada, feito um cavalo alazão. Era todinha um chocolate. Nem parecia gente, parecia uma figura de livro, de romance, de literatura. Ou qualquer coisa que só aparece em sonho. Os cabelos batiam na cintura, e a boca tinha um eterno frescor de chiclete Ping-Pong. Eu ficava o dia todo peruando pra namorar com ela. Um dia, a gente namorou numa esquina lá na Caruá. E eu terminei dormindo na Princesa do Agreste, inalando aquele cheirinho de travesseiro de marcela que tem pr’aquelas bandas. Chega dava sono. A morena era boazinha que era danada, toda silenciosa, andava devagar e ria baixinho. Os olhos é que eram tagarelas. Dava vontade de comer um pedaço, embora, naquele tempo, a gente namorasse de roupa, era proibido namorar nu. Eu ficava tão contente que botava pra contar história. Dava um pigarro e enfeitava a conversa. Meus colegas diziam que eu estava mentindo. Minha mãe também pensava que eu mentia. Um dia, descobriu que era poesia.

Adolescente abraço!

Sosígenes Bittencourt

MORTE DE DOMINGOS MONTAGNE

Não sabia, ao almoçar no Canindé, ou mergulhar no Velho Chico, que aquele seria o seu derradeiro capítulo. Não suspeitava do desfecho da novela sem ensaio, o ator de Velho Chico.

Mas, Domingos Montagner desapareceu, como se encarnasse num ato, um personagem escalado para a morte. Gesticulou como se contracenasse, perdeu as forças como se imitasse a morte, emudeceu como se morresse.
Perpetua-se o silêncio profundo, Nunca mais retornará ao palco deste mundo.
Requiescat in Pace!

Sosígenes Bittencourt

O DEVER DE ESCREVER

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Tudo que se faz por absoluta obrigação termina ficando absolutamente chato. Até a inspiração ameaça fugir, quando somos obrigados a nos inspirar. E a pressa de nosso mundo fast nos aniquila. Como aquele menino sonolento, detido na sala de aula, mirando o papel sobre o qual tem de escrever uma redação sobre o futuro do mundo. Como é tão jovem que não tem passado, e o futuro é cada vez mais incerto, o texto não passa de uma letra maiúscula, oscilando no início da folha, em busca da primeira oração e sonhando com um ponto final. O que escrever, e ainda rápido, nesta manhã fria de setembro, para chamar a atenção, prender o leitor, gerar comentários e ibope, captar aplausos e patrocinadores? Política, por exemplo, em tempo de Campanha? Não, isso reiniciaria a discussão, já enfadonha, sobre mensalão e propina, insultos, desculpas, amnésias, e nisso há pouca inspiração. Dá uma sensação de vazio, de que estamos perdendo tempo. Falar da poluição, da ganância rapace do progresso, dos universos étnicos, sem ética e sem paz, da arenga das religiões, de aviões trespassando edifícios, da aids e do medo, não resolve, já se foram rumas de papel. Até escrever sobre essa falta de vontade de realizar tão sublime ofício, talvez aborreça. Jorge Luis Borges sugeria que “talvez, seja uma imprudência escrever”. Ficamos à mercê dos olhares e pensamentos alheios. Não estamos juntos de nossos leitores, não nos telefonam – como podemos nos defender? Ademais, digitar para um mundo audiovisual, orientado para ouvir e ver, é arriscar-se a nos petrificar em indecifrável incógnita. Contudo, devo ter cumprido minha tarefa, defendido minha classe. Mesmo sem inspiração, a página já termina e – que pena! – ainda teria tanto o que dizer.

Sosígenes Bittencourt

BAIXARIAS ELEITORAIS

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No Brasil, nenhum humorista tem tão fértil imaginação para disputar baixaria com a eleição.

Seu Pedro, candidato a vereador, em Leopoldina, Minas Gerais, pode não ser eleito, mas slogan para tanto tem demais:
COM XOXOTA NO PODER, O PAU VAI COMER.
XOXOTA NÃO PROMETE, XOXOTA DÁ.

Na época da eleição, a prefeita de uma pequena cidade resolve se reeleger. Como o seu apelido era Nem, ela pôs uma faixa com a seguinte oração:
“NEM FEZ, NEM FAZ, NEM FARÁ.”

Em Recife, um candidato, conhecido popularmente como João Doido, criou a seguinte propaganda:
TENHA JUÍZO, VOTE EM JOÃO DOIDO.

Eleitoreiro abraço!

Sosígenes Bittencourt

Fragmentos

Os norte-americanos estão querendo saber quantos hectares tem a Amazônia. Devem estar querendo se apossar de algum terreno aqui no Brasil.

Tudo que o norte-americano considera Patrimônio da Humanidade manifesta interesse em proteger. Por que não considera as crianças africanas um Patrimônio da Humanidade?

Sosígenes Bittencourt