SOLIDÃO A DOIS – por Sosígenes Bittencourt.

Sentado na calçada, um homem fuma

um cigarro ao lado se sua mulher.

Sentado na calçada, o homem não

se sente atraído por sua mulher.

Sentada na calçada, a mulher inala

as baforadas de cigarro do homem

que não quer.

Mas, logo próximo, um cão triste

parece entender o vale de solidão

que há entre o homem e a mulher.

Sosígenes Bittencourt

NÃO RIA SE PUDER – por Sosígenes Bittencourt.

 

Um dia, eu estava na Praça Leão Coroado, à Hora do Ângelus, numa roda de cervejeiros a filosofar, quando me apareceu um ex-aluno potencialmente embriagado: – Professor, o senhor fala difícil, é metido a sabido, mas os tapurus irão comer todos nós.

Não tive dúvida: – Menos a verdade. Os tapurus poderão comer você; a mim, comerão os “miodários cuterebrídeos calipterados”.

Sosígenes Bittencourt

NO DIA DA FELICIDADE – por Sosígenes Bittencourt.

O segredo da felicidade é um segredo. Portanto, cada um tem que descobrir o seu. O segredo da minha felicidade não é o segredo da sua felicidade.

O filósofo Sócrates morreu feliz, apesar de ter sido obrigado a beber veneno para se matar.

Quem poderia ser feliz com o segredo da felicidade de Sócrates?

Contudo, ninguém saberia se estaria feliz, se não fossem os momentos sem felicidade, pois não saberia distinguir a felicidade se jamais fosse infeliz por um instante.

Aliás, querer ser feliz o tempo inteiro tem sido o motivo de muita infelicidade.

Sosígenes Bittencourt

Beijo pra Cinema – por Sosígenes Bittencourt.

O beijo mais ensaiado de todos os tempos foi aquele dado pela atrizGrace Kelly em James Stewart no filme “Janela Indiscreta”, de Alfred Hitchcock. Foram necessárias 87 repetições da cena para satisfazer o diretor, cuja exigência por perfeição era quase tão célebre quanto seus filmes.

Foi tanto glamour e tanto desejo exibidos,
que não nasceu menino porque estavam vestidos.

Sosígenes Bittencourt

Para refletir – por Sosígenes Bittencourt.

Caso nossa maior necessidade fosse informação,
Deus nos teria enviado um educador.
Se nossa maior necessidade fosse tecnologia,
Deus teria nos enviado um cientista.
Se nossa necessidade fosse dinheiro,
Deus teria nos enviado um economista.
Mas, uma vez que nossa maior necessidade era o perdão,
Deus nos enviou o Salvador.

Max Lucado

Sosígenes Bittencourt. 

A MÚSICA E MINHAS EMOÇÕES – por Sosígenes Bittencourt.

O filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900) deduzira: Sem a música, a vida seria um erro. Depois, chamam-me de hiperbólico quando descrevo minhas emoções musicais. Quando a dosagem é exagerada, é natural que o efeito seja um exagero. O filósofo francês Voltaire (1694-1778) já apregoava: Tudo que entra pelo ouvido vai direto ao coração. Não foi, em vão, que a mitologia personificou a música na deusa Euterpe, cuja etimologia resume-se em “a doadora de prazer”. E eu não quero me curar de nada que me dá prazer.

Sosígenes Bittencourt

Mistérios de Bordéu – por Sosígenes Bittencourt.

De coisas bizarras que já vi, as experimentadas pelo repórter da Record, em Bordéu, foram campeãs. E olha que eu já vi índio comer formiga viva e papa de carne de macaco.

Bordéu é uma ilha asiática que fica dividida entre a Indonésia e a Malásia. Coincidentemente, ao chegar em Bordéu, o chefe da tribo havia falecido. Segue-se, portanto, um período de festividades pelo seu falecimento. O defunto fica sendo velado, enquanto apodrece, e é proibido filmar o seu sepultamento. Ninguém pode vê-los chorando nessa hora.
Se você não acredita, o repórter bebeu água de embrião de bicho e vinho de arroz no fundo de um crânio humano. Na água de embrião havia até um morcego mergulhado. O odor era insuportável, tendo o visitante que bebê-la, com os dedos em forma de pegador no nariz.

O que de melhor havia na ilha eram os Orangotangos. Dóceis e familiares, o repórter revelou que os animais mantêm uma relação sexual por ano. Tendo 12 vezes mais força do que o homem, vivem em média 35 anos, chegando a pesar 140 quilos. Millôr Fernandes disse que “Quando Deus criou o homem, os animais não caíram na gargalhada por questão de respeito.
Misterioso abraço!

Sosígenes Bittencourt

O REAL IMAGINÁRIO E O DESVIRTUADO VIRTUAL – por Sosígenes Bittencourt.

Young men and women holding mobile phones

Outro dia, um cidadão me perguntou por que a menina dele não falava com ele. Como eu não a conhecia, perguntei: – O senhor conhece algum motivo?

Aí, ele, laconicamente, me respondeu: – Não.

– Ela usa a internet? – perguntei-lhe.

– Eu penso que ela mora lá. – respondeu o cidadão.

Aí, eu dei a sugestão: Compre um computador e peça para ela adicioná-lo como amigo no Facebook. Aí, você conhecerá sua filha virtual. Ela mora lá. Sua filha virtual não é sua filha real. Sua filha real é uma menina imaginária, fruto de sua fantasia. Sua filha virtual é uma menina que você não conhece. E, para você parecer virtuoso, não a procure para fazer nenhuma crítica às suas amizades e seus gostos. Porque estará se intrometendo na vida dos outros, pois sua filha é uma ilustre des(virtuada) da antiquada educação doméstica de seus antepassados.

Des(virtuado) abraço!

Sosígenes Bittencourt

PROFESSORA AMANDA TEM RAZÃO – por Sosígenes Bittencourt.

A professora potiguar Amanda Gurgel tem razão. Dão-lhe um cotoco de giz e querem que ela salve a nação. Ainda lhe pedem paciência. Num momento de microfone e impaciência, abre o badalo e vira paladina de sua classe. Amanda toma 3 ônibus para chegar à escola e não pode filar a merenda, porque é professora. Contudo, é chamada a amar seus alunos, educá-los com disposição e bom humor, por 930 reais. Esquecem, os seus algozes, que AMOR SÓ ESPERANÇA: AMORREDUZ; AMOR SÓ FRUSTRAÇÃO: AMOR ACABA. Não pode se encolerizar, nem ser melancólica, tem de ser fleumática, calma. O resto fica para os que mandam ter paciência. Os que se locupletam dos cargos que servem para mandar ter paciência.

Mas, se tudo não mudar, conforme sói acontecer, Amanda terá outros desgostos. Minha mãe, por exemplo, aos 80 anos, paga imposto de renda. Que renda, se ela está aposentada? Minha mãe paga juro sobre fatura, por atraso na entrega dos Correios. (Melhor voltar à era dagoma arábica e do telégrafo.) Quando tem festa, na rua, minha mãe dorme sentada numa cadeira, porque o som é ensurdecedor e os meninos pitam marijuana, imitam a cópula na vertical e vomitam birita com sarapatel nas calçadas. Vive enclausurada, porque sobra meliante e falta Segurança Pública.

Amanda tem razão, mas ter razão não basta, seria preciso gerar algum efeito, redundar em mudança. Senão, a exposição de seus motivos vira mero direito de espernear. Não vá servir para promover algum herói de última hora. Os heróis de antigamente lutavam por uma causa, os de hoje usufruem a causa.

Indignado abraço!

Sosígenes Bittencourt

O CATADOR DE LIXO – por Sosígenes Bittencourt.

Na frente de minha casa, um catador de lixo, degradado, cata comida entre sacos de plástico biodegradável.

Porém, nada ensaca sem cheirar, amolegar ou chupar o dedo. Muito cuidadoso, vai separando o que julga comestível entre os detritos orgânicos em putrefação.

Olha para um lado, para o outro, como se temesse ser expulso de sua refeição por algum burguês metido a brabo.

De repente, todo espantado, é convidado por uma vizinha ao lado, que, generosamente, oferece-lhe pão limpinho em saquinhodegradável. Ele sorri, atravessa a rua e o recebe. Mas, devido à situação, retorna à degradante catação.

Depois, se cata e some em meio à poluição.

Degradado abraço!

Sosígenes Bittencourt

O DESEJO E A DOR – por Sosígenes Bittencourt.

Passamos a vida, submetidos a duas experiências básicas: o desejo, que busca a satisfação, e o afeto que busca evitar a dor. Mas, como evitar a dor, se desejo é vida, e a vida impõe limite aos desejos?

A dor física é uma ruptura, algo que rompe, dói. Uma faca que nos corta a pele, um órgão doente que precisa ser extirpado. Esta dor, nós sabemos teoricamente como resolver. A dor psíquica é uma dor de amor, ou seja, algo que nos desorganiza psiquicamente. É um rompimento com algo que tínhamos ou desejamos e nos falta. É uma dor interior, que nos encarcera, e o mundo desaparece.

Sosígenes Bittencourt

ENSAIO PARA OPINIÃO SOBRE VIOLÊNCIA NO BRASIL – por Sosígenes Bittencourt.

Se o problema nuclear do Brasil é a violência, pois todos os demais gravitam em volta, como resolvê-los? Eis o grande desafio. Comecemos pelas perguntas?

A Lei Maria da Penha reduziu a violência contra mulheres no Brasil?

A Lei do Desarmamento reduziu o índice de criminalidade no Brasil?

E terminemos pelas perguntas, baseados nas respostas às perguntas iniciais.

A Operação Lava Jato conterá a corrupção no Brasil?

A Redução da Maioridade Penal reduzirá a criminalidade juvenil?

Dê seu palpite, mesmo que também julgue ser um mero palpite. Apresente solução, se quiser. Não se trata de Redação do Enem.

E boa sorte!

Sosígenes Bittencourt

O coração que ri – por Sosígenes Bittencourt.

O sofrimento é um prolongamento da dor, ele sobrevive à dor. Sofrimento é deixar de agradecer pelo amor recebido e resmungar pelo amor que deixou de receber.

Pessoas que amam a vida são pessoas que agradecem e, por isso, são pessoas calmas. A calma promove harmonia, porque a calma organiza a vida. E um dos benefícios dessa postura diante da vida é fundar no convívio a esperança.

O coração que ri não dá asas ao sofrimento porque palpita deesperança.

Sosígenes Bittencourt