
Na terra paraibana de Bananeiras, onde o barão de Araruama e o ilustrado desembargador Santos Estanislau viram a luz do dia, nasceu, em 1814, Antônio Manuel de Aragão e Melo. Estudou preparatórios, em Olinda, e vestiu, naquela cidade, a batina humilde de seminarista. Abandonou, porém, no quarto ano, o curso eclesiástico. Restituído à vida mundana, mas habituado à solidão, aceitou, em dezembro de 1839, na vaga de Lourenço Trigo de Loureiro, o cargo de bibliotecário do Curso Jurídico, son o teto arruinado do famoso mosteiro de São Bento. E era, já, terceiro anista de direito, quando deixou, em 42, os livros da biblioteca.
Obteve, em 1844, a carta de bacharel, e ingressou na magistratura, aceitando uma promotoria de justiça, na sua província, e o juizado de direito na comarca de Limoeiro, na terra pernambucana. Exerceu o cargo de chefe de polícia na Baía e no Maranhão, e governou, pouco tempo, a província de Goiàz. Durante 20 anos, informa um biógrafo, representou na Câmara, o povo de sua terra. Homem culto, orador eloquente, advogado, jornalista, e conservador delicioso, Aragão e Melo, no julgamento de Liberato Bittencourt, preclaro historiador, “foi grande na advocacia, no latim, no jornalismo, e na cultura jurídica.”.
Pertenceu esse ilustre paraibano, celibatário, impenitente, aos rol dos homens feios. E essa fealdade do licurgo da Paraíba foi, humoristicamente, proclamada, na Câmara, por Martinho de Campos, o “demolidor de governo”, orador fulgurante e um dos mais notáveis parlamentares de Minas, no 2º Império. Deu-lhe, Martinho, um ramo verde da vitória. Leiamos, nesse particular, o erudito escritor do “Paraibanos Ilustres”: “ E ao entrar na Câmara, Martinho de Campos, então havido o mais feio dos representantes da nação, tomou um ramo de folhas e dirigiu-se, prazenteiro, a Aragão e Melo: “passo-lhe, satisfeito, o ramo, deixado de ser, de hoje em diante, o homem mais feio desta casa”. Possuia, Martinho de Campos, em grau elevado, o espirito de renúncia. Vê-se como ele se despojou das honrarias…
A República de 89 veio encontrar Aragão e Melo à sombra da árvore da velhice, e não muito distante da planície do túmulo. Não o atraiu. O ancião, por sua vez, não festejou. E tranquilo, relendo, por vezes, páginas do livro da sua vida, esperou que o destino lhe trouxesse, no minuto inadiável, a noiva dos celibatários. E ela chegou, a 17 de março de 1898, velhinha, vestida de branco, sem flores de laranjeiras….A noiva, tinhas séculos. O noivo, 84 anos.
Célio Meira – escritor e jornalista.
LIVRO VIDA PASSADA…, secção diária, de notas biográficas, iniciada no dia 14 de julho de 1938, na “Folha da Manhã”, do Recife, edição das 16 horas. Reúno, neste 1º volume, as notas publicadas, no período de Janeiro a Junho deste ano. Escrevi-as, usando o pseudônimo – Lio – em estilo simples, destinada ao povo. Representam, antes de tudo, trabalho modesto de divulgação histórica.
Setembro de 1939 – Célio Meira.
