Detrás de minha casa – por Sosígenes Bittencourt.

Detrás de minha casa, de um alpendre, eu vejo os telhados das casas vizinhas, a rua lá embaixo, a serra lá longe, o céu escampo.

À tarde, quando é verão, as nuvens relembram minha infância. Eu ficava vendo as nuvens formar carneirinhos, às vezes um monstro. Um dia, eu vi um bule direitinho.

Detrás de minha casa, eu ouço o palavreado de minha cidade, o cheiro de pão francês, ruído de caminhão, latido de cachorro. Agora, deu pra passar helicóptero, besourando, com aquela cauda de gafanhoto. Quando é amarelo e preto, eu só penso que é a polícia catando vendedor de marijuana.

Havia uma fábrica que passava a vida funcionando. Faziam biscoito. O cheiro de morango, de chocolate e frutas cítricas era tão forte que a gente acordava, de madrugada, para beber água de quartinha. Hoje, só escombros, as lagartixas se despencam dos muros, frágeis de inanição.

Detrás de minha casa, vemos homens que jogam dominó para esquecer o tempo, passar as horas. Como se fosse perigoso pensar na vida. Quem bota pra pensar na vida, geralmente pensa na morte. Melhor ser um gato, um peixe, um passarinho.

Sosígenes Bittencourt

Conselho Tutelar: dos meus cinco votos, me sinto seguro para declarar três – Tia Lú, Joselito e Albertino!!

No próximo domingo (06) acontece a eleição para os membros do Conselho Tutelar da nossa cidade. Costumeiramente, na qualidade de sociedade, estamos sempre a reclamar das decisões verticalizadas. Eis aí, portanto, uma boa oportunidade para exercermos nossa cidadania.

Na qualidade de membro da comunidade de antonense,  irei votar. Assim como todos os eleitores, tenho direito a sufragar cinco nomes. Uma prova escrita ratificou os postulantes , no que se refere à capacidade intelectual, mas é o seu voto que definirá a nova composição.

Em mente, os cinco já foram escolhidos. Dois por indicação.  Já com relação às outras três escolhas, de certa forma, tenho ou já tive algum tipo de relacionamento pessoal/profissional com eles,  o  que nos proporciona um certo grau de conhecimento, quanto à sua conduta social – sem nenhum demérito aos demais.

Assim sendo, me sinto seguro para declarar intenção do voto nos seguintes postulantes:  Albertino Corrêa, Joselito Elias e Tia Lú. Aproveito para desejar sucesso a todos!!!

Sérgio Moro: até quando?

Desde os primeiros movimentos públicos de grande repercussão do então juiz federal Sérgio Moro  que passei,  através da imprensa, a observa-lo. Suas ações, dentro de um conjunto de iniciativas,  despertou admiração e ódio ao mesmo tempo. Pavor dos que estavam acostumados com o “sistema”. Esperança para um sem número de brasileiros que estavam cansados de tanta impunidade.

Foi apenas com a sua pena que o magistrado chegou aos pícaros da fama. Seu nome ultrapassou as fronteiras em todas as direções. Diz um adágio popular: “em guerra de sapo, de cócoras com ele”. Aqui e acolá, o mesmo cometeu alguns excessos e  ultrapassou a linha que lhe cabia, mas também não se pode achar que no submundo da pilantragem exista algum tipo de regra que não seja o de se dá bem e continuar livre, leve e solto.

No meu modestíssimo entendimento, até porque existe muita coisa que não temos ideia de como foi processada, acho que o seu primeiro grande passo errado foi abrir mão do seu espaço, construído com “sangue, suor e lágrimas”, em troca de um salto no pantanoso oceano político.  Aliás, aos amigos mais próximos, na ocasião da sua ida para o ministério da justiça, confessei meu descontentamento, até porque,  até então,  não imaginava que o mesmo poderia ser seduzido pelo enigmático canto da sereia política.

Passados nove meses no cargo, o ex todo poderoso juiz federal de primeiro grau, já deve ter entendido que o “buraco é mais em baixo”. Não são os atos de oficio que mudam os movimentos da classe  política  nem os das suas excelências da corte suprema. Quem muda a sociedade são os exemplos.  Quem muda comportamento coletivo é a devida  aplicação  da lei, sobretudo na direção dos que se acham intocáveis.

No que se refere às questões de combate à  corrupção e lavagem de dinheiro, desde de que o então e incontestável juiz Moro transferiu-se para a  cadeira de ministro, até o presente momento, as mesmas tem caminhado no sentido contrario daquilo que o levou a unanimidade nacional. Daí a minha pergunta: até quando o Moro vai aguentar tanta humilhação? Nesse ritmo,  nem sua biografia será salva…..Te liga Moro!!!

Momento Cultural: Meu pecado – Henrique de Holanda.

Eu não posso saber qual o pecado
que, irrefletido, cometi; suponho
seja, talvez, porque te fosse dado
meu coração, – a essência do meu sonho..

Se amar é crime, eu vou ser condenado
e toda culpa, em tuas mãos, eu ponho.
– Quem já te pode ver sem ter amado?!…
Quanto é lindo o pecado a que me exponho!

Se tens alma e tens sangue, como eu tenho;
se acreditas em Deus, dizer-te venho,
– Que pecas, tens amor, és sonhadora…

Deus deu a todos coração igual.
Se eu amo, sofres desse mesmo mal.
– O teu pecado é o meu, – és pecadora!

(Muitas rosas sobre o chão – Henrique de Holanda – pág. 22).

MENTIRAS ESPETACULARES – Sosígenes Bittencourt.

A minha geração sempre foi alvo de duas mentiras espetaculares: O Brasil é o país do futuro, e o mundo vai se acabar. O “futuro” seria a “prosperidade”, e o mundo iria ser engolido por uma coivara de fogo, ou inundado por um gigantesco maremoto. O futuro não chegou, o mundo não se acabou, e a gente se acabando.

Sosígenes Bittencourt 

E a sua televisão usada também irá para o lixo?

Já escutei de pessoas mais maduras do que eu, por volta dos sessenta e cinco anos, que em comum vivenciaram os tempos de criança na Rua Horácio de Barros e suas adjacências, que para poder assistir televisão – uma espécie de novidade para época – se acomodavam no terraço e na calçada da casa dos meus pais (“Seu” Zito e “Dona” Anita). Ressaltemos que o primeiro endereço deles, após o matrimônio,  em maio de 1955, foi na Rua Horácio de Barros 113 – Matriz.

Um dos garotos da época, hoje um senhor que já é avô, me disse que a turma já ficava ligada à noite, pois, logo após a hora do jantar papai ligava a televisão. Quando percebia a presença dos garotos,  dizia: “Anita, abre a porta para os meninos ver também”.

Pois bem, relembro isso para encaixar outra observação relacionada ao tão desejado aparelho de televisão. Nos meus tempo de adolescência (década de 80), por exemplo,  quando ainda uma televisão não era algo assim tão acessível, tal qual os dias atuais, escutava-se,  com bastante espanto,  à informação de que nos Estados Unidos e na Europa quando as pessoas comparavam um aparelho novo colocava o usado (em boas condições de uso) na rua, ou seja: literalmente no lixo.

Eis que o tempo passou e essa “tal globalização”, de certa forma, já faz parte dos nossos dias. Não fosse pelas inúmeras facilidades que temos disponíveis na palma da mão, ao acessar o celular e suas ferramentas, em tempo real com pessoas nos cinco continentes, recentemente, ao caminhar pelas ruas centrais da nossa cidade, encontrei com um aparelho de TV, aparentemente em bom estado de uso, no lixo. Ou seja, aquilo que era espantoso para nós, hoje não é mais!!!

O referido fato (tv no lixo), hoje, relativamente comum, inevitavelmente, no transcorrer da minha caminhada, de maneira solitária,  me fez pensar em tudo isso que acabei de escrever. O poeta Patativa do Assaré, com a sua sabedoria popular, diz: “Pra todo canto que eu olho, vejo um verso se bulindo”. Parafraseando o grande mestre digo que se faz necessário reservarmos um espaço na nossa mente para pensarmos em coisas , aparentemente,  frívolas. Isso faz um bem danado!!!

TUDO É HISTÓRIA – LIVRO: UM MUNDO OU NENHUM – Pesquisa: Ronaldo Sotero.

Quem se impressionou com a série Chernobyl, não pode deixar de ler o livro em destaque.Quinze cientistas,  um militar e um analista político,  produziram esse trabalho a respeito do significado da era nuclear. Os textos foram publicados originalmente em 1946, meses depois dos lançamentos das bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki. É um excelente estudo para entender as preocupações do início da  era atômica aos nossos tempos.

A bomba atômica é uma arma de saturação, empregada para aniquilar a capacidade de resistência do inimigo. No primeiro ataque em 6/8/1945, a bomba foi lançada e explodiu a 450 metros do solo numa área de 10km2. Apenas um avião modelo B29 causou danos equivalentes ao de 300 aviões, segundo o general H.H.Arnold, comandante da Força Aérea do Exército americano. Além de milhares de mortos, em um minuto , 250 mil saíram feridos. Dos 33 quartéis de bombeiros dos mais modernos, 27 foram destruídos. O novo ataque viria em 9/8/1945 selando a rendição japonesa.

Somente a leitura do livro, provavelmente esgotado, vai proporcionar  ao leitor interessado nessas pautas a riqueza desses levantamentos, como do físico Oppenheimer, chefe do laboratório de Los Alamos,  no estado do Novo México , onde nasceu a bomba atômica, pode dar uma ideia do apurado  trabalho.

Se o desastre de Chernobil entre 25 e 26/4/1986, na usina nuclear ao norte da Ucrânia , ou o de Fukushima , no Japão, em 2011, chocaram  a Humanidade, a obra sugerida  é ferramenta de reflexão a um invento do qual o homem já não tem mais controle sobre ele e a irracionalidade que o domina pelo poder.

LER É DESCOBRIR

Ronaldo Sotero. 

Verdades e Mentiras – por Sosígenes Bittencourt.

 

Às vezes, é melhor ouvir uma mentira que faça rir, do que uma verdade que faça chorar. Já nos basta A MORTE como incontestável verdade. Todos nós nascemos sem pedir e morremos sem querer. Há pessoas que escolhem a verdade exatamente porque magoa. Escolhem-na a dizer uma mentira que servisse de bálsamo para uma dor. É mentira?

Sosígenes Bittencourt