Um dia, eu conheci uma morena amamentando uma menininha. Era uma moça pobre, com cara de indígena, os olhos amendoados, o cabelo derramando-se em volta do rosto, rolando pelo pescoço. Era todinha uma índia, os seios sacolejando por trás da blusa, desprovidos de corpete. Eu só me lembrava dos irmãos Villas-Boas, dos acessos de malária, cara pintada, milho e mandioca.
Todavia, para conquistar mãe solteira, é preciso um certo talento, um certo jeito e muita paciência. Eu via aquela menininha que parecia uma indiazinha, nos braços daquela morena avermelhada, sugando-lhe as tetas com tanta ternura; ela, calada, olhando para dentro de si mesma. Ficava meio enxerido, querendo participar daquilo que não me pertencia.
Foi, foi, foi, um dia, devagarinho, movido pela ajuda, todo cuidadoso, peguei a menininha nos braços. A menininha pousou o cocãozinho no meu ombro, toda vazia da figura paterna, deu um suspiro e adormeceu. Juro que senti vontade de chorar, mas a alegria conteve minha lamúria. Fiquei todo invocado, parecendo que havia recebido um presente. Os olhos da moça brilharam, as escleróticas se umedeceram.
Aí, eu fui pegando gosto, botando a menininha no meu coração. Quando você bota filho de mãe solteira no coração, ela começa a se aproximar do seu coração. De sorte que, toda vez que a moça via a menininha aconchegada, começava a sentir frio. Estava criada a melhor receita para conquistar mãe solteira.
Sosígenes Bittencourt