SOU TORCEDOR BRASILEIRO – por Sosígenes Bittencourt

Eu não consigo torcer contra o Brasil. Há um país que vive em mim, livre de qualquer influência que o desfaça.

Ademais, a esperança nutre-se de vitórias, não de derrotas. De que nos servem as derrotas, senão como lição.

Uma gestão governamental é muito pouco para eu perder o amor a minha Pátria. Reprovar um político e transformar este ódio em desamor à Pátria é um gigantesco equívoco. Observemos a sapientíssima reflexão do jurisconsulto doutor Rui Barbosa:

“A pátria não é ninguém, são todos; e cada qual tem no seio dela o mesmo direito à ideia, à palavra, à associação. A pátria não é um sistema, nem uma seita, nem um monopólio, nem uma forma de governo; é o céu, o solo, o povo, a tradição, a consciência, o lar, o berço dos filhos e o túmulo dos antepassados, a comunhão da lei, da língua e da liberdade. “

Ora, como poderei odiar minha pátria porque um regime ou um governante não me agrada, porque degrada? O que tem a ver a pátria que vive em mim, o seu céu, o seu solo, suas riquezas naturais, meus antepassados e meus filhos com tudo isso?

Sosígenes Bittencourt

“Cristais Fissurados”: dividido entre realidade, ficção, putaria e coisa séria!!!

Antes mesmo de ser lançado, o mais novo livro do professor Pedro Ferrer – “Cristais Fissurados” – já tá dando o que falar. O autor,  uma “matraca-trica” costumas, principalmente depois que toma uns copos com água que passarinho não bebe, aqui e acolá, vem soltando o conteúdo do livro,  que vai muito além de um romance baseado em fatos reais.

O Pedoca, em boa medida, se utiliza de personagens fictícios – inspirados em pessoas bem conhecidas na Vitória de Santo Antão – para descer o sarrafo. Ilustrando um caso real, ocorrido há mais de meio século, ele reproduz um suposto diálogo entre um doutor daqui que mantinha um caso extraconjugal:

“Luzia era analfabeta. Mas a neguinha era inteligente e esperta. Sabia usar seus predicados. O cara preta eriçava quando se aproximava do Bertoldo. Apertava as cochas. Era um ardor só. Quando servia a mesa debruçava-se sobre o jovem. Respirava mais forte para o mancebo sentir seu hálito quente e sensual sobre a nuca. Sebastiana observava tudo e fica remoendo, puta da vida.”

Mas, é bom que se diga que nem tudo é safadeza e putaria. Em várias passagens  do opúsculo o professor resgata comportamentos sociais dos nosso antepassados. Com relação ao luto, ele relembra um costume muito forte no seio da sociedade antonense:

“Na Vitória, da primeira metade do século XX, o luto, hábito ancestral, era sagrado. Os mais próximos, cônjuge e filhos, usavam roupas pretas pelo período de um ano. Os mais afastados carregavam uma fita preta enrolada no braço por tempo indeterminado. As vestes do dia a dia, por economia, era tingidas de preto. As de estampas vivas e coloridas, que resistiam à tinta, eram guardadas para serem utilizadas após o luto”.

Portanto, entre momentos picantes, históricos, narrativas de fatos reais e ficção caminhou a pena do ilustre escritor antonense,  Pedro Humberto Ferrer de Moraes. Possivelmente, depois de  “identificados”, algum parente dos “personagens” poderão  querer “apertar o pescoço” do professor….

MOMENTO CULTURAL: CONTRADIÇÃO – por Aluísio José de Vasconcelos Xavier.

Na cidade, a iluminação frenética
do Salvador, a chegada anunciava
e contrastando com tal paisagem estética
na calçada um pobre negro agonizava.

Era a figura doente de uma criança
filha de um erro, fruto de um pecado
e nos olhos tristes de seu corpo nu, gelado
não se via nenhum fio de esperança.

Aproxima-se dele um maltrapilho.
Toma-o nos braços como a um filho
retirando-o daquele leito de cimento.

Meia-noite, então, anuncia o sino.
E nesta hora exata do Nascimento
morreu, à míngua, mais um Jesus-Menino.

Aluísio José de Vasconcelos Xavier, filho de Aloísio de Melo Xavier e de Eunice de Vasconcelos Xavier, nasceu no dia 7 de agosto de 1948. Formado em Direito, exerce sua profissão no Foro do Recife onde reside. Foi Secretário para Assuntos Jurídicos da Prefeitura do Recife. Professor universitário e poeta.

HORA DE BRINCAR, BRINCAR – por Sosígenes Bittencourt.

De um padre para um alcoólico dentro de um ônibus: – Você sabia que esse caminho é para o inferno?

Aí, o alcoólico: – Êita, peguei o ônibus errado.

Certo dia, um bêbado pediu a um outro bêbado uma lapada de cachaça: – Êi, fulano, paga uma cachaça pra eu.

E o outro bêbado: – Ôxe, eu tô respirando porque é de graça. Se fosse pago, eu já tinha morrido.

Um dia, aplicando prova sobre sujeito e predicado, perguntei qual o sujeito da seguinte oração:
Fernando Henrique Cardoso é o presidente da República.
Aí, a aluna respondeu: – Sujeito mentiroso.

Sosígenes Bittencourt

A Hecatombe, o Mestre Aragão e o Instituto Histórico!!

Com o título “A Hecatombe do Rosário” o documentário produzido pelo publicitário antonense Djalma Andrade, no seu lançamento, ocorrido na noite da última sexta (17), no Teatro Silogeu,   congregou  pessoas das mais variadas tendências, mostrando assim –  ao contrário do que muita gente pensa – que o tempo preterido local é palpitante e interessante. Certa vez, disse o compositor Capiba: “ muitos pesam que macaco só gosta de banana. Coloca um pedacinho de filé para ver se ele num gosta……”

Antes de qualquer comentário, na qualidade de pessoa sintonizada com o tema (história local),  lembremos do eterno Mestre Aragão. Ele dedicou sua vida à história da nossa cidade. Pesquisou, buscou, colecionou, articulou e escreveu praticamente todo acervo da nossa cidade. Só como presidente do Instituto Histórico e Geográfico da Vitória ele permaneceu por quase quatro décadas.

Disto isto, portanto, reforço o quê praticamente todos os vitorienses já sabem, mas,  vez por outra,  deve sempre ser lembrado: o Instituto histórico e Geográfico da Vitória foi  – e ainda é –  o maior projeto cultural de todos os tempo ocorrido nas terras desbravadas pelo português Diogo de Braga. Hoje,  “A Casa do Imperador” é dirigida,  de maneira profícua,  pelo professor Pedro Ferrer.

Assim sendo, espero que outros projetos dessa magnitude possam brotar das mentes pensantes da nossa cidade, tal qual o produzindo pelo Djalma Andrade e sua equipe. Até porque, na retaguarda de qualquer projeto que se propõe a “mexer” com os mortos se faz necessário um mergulho profundo no oceano das fontes seguras,  que na nossa aldeia atende pelo nome de Instituto Histórico e Geográfico da Vitória de Santo Antão.

Momento Cultural: Jesus Cristo – por João do Livramento

Para falar de Jesus Cristo

Nós precisamos entender

Que ele sofreu todo calvário

Pra nossa alma não perecer

Esta dívida da humanidade

Eu e você é quem produz

A cada dia nós pregamos

Jesus Cristo em nossa cruz

As cusparadas em sua face

São proferidas por rejeição

A filosofia do jesus homem

Que não adentra o coração

Gananciosos o esbofeteiam

E o açoitam todos mesquinhos

Cada aborto é o que terce

Sua coroa de espinhos

É flagelado pelos corruptos

E por mentirosos caluniado

Os violentos com suas lanças

Sempre o atingem abrindo o lado

No indigente as suas sedes

Com amargor são saciadas

Porém se a sede for de justiça

As suas pernas serão quebradas

Só cessará tal sofrimento

Se a humanidade compreender

Que quando fere seu semelhante

A Jesus Cristo faz padecer

João do Livramento.

SÃO JOÃO: NO TEMPO DE EU MENINO – por Sosígenes Bittencourt.

Das três maiores festas anuais, o São João é a mais singela e tradicional. O Ano Novo nos trespassa de tristeza, porque sugere a contagem do tempo e amontoa os mortos. Abrimos álbum de retrato e botamos pra choramingar. O Carnaval é uma festa perigosa, de extravasar frustrações. O pessoal só falta correr nu pela rua. 

O São João é uma festa mais pacata, que relembra nossas tradições mais atávicas, nossas raízes culturais. Lembro-me do São João das ruas sem calçamento. O mundo parecia um terreiro só. As mulheres cruzavam as pernas, enfiavam as saias entre as coxas, para ralar omilho e o coco, enquanto os homens plantavam o machado nos toros de madeira para fazer as fogueiras. À tardinha, a panela virava uma lagoa de caldo amarelo onde fervia o maná das comezainas juninas. A meninada ensaiava o jeito de ser homem e mulher. De chapéu de palha, bigode a carvão e camisa quadriculada, era quando podíamos chegar mais perto das meninas sem levar carão nem experimentar a sensação de pecado. O coração se alegrava quando sonhávamos com a liberdade de adultos que teríamos um dia. Batia uma gostosíssima impressão de que estávamos bem próximos de fazer o que não podíamos fazer. Os ensaios de quadrilha relembravam a tristeza do último dia. Pois um ano durava uma eternidade, as horas eram calmas, podíamos acompanhar a réstia do sol e contar estrelas. Pamonha, canjica e pé de moleque eram tarefas de dona de casa prendada, de quem o marido se gabava. Tudo era simples e barato, ninguém enricava com a festa. A novidade era a radiola portátil, e os conjuntos eram pobres de tecnologia, mas os instrumentos ricos de som e harmonia, manuseados com habilidade e gosto, na execução do repertório da festa do milho. Quando São Pedro se ia, ficava um aroma de saudade na fumaça das derradeiras fogueiras e no espocar dos últimos fogos.

Sosígenes Bittencourt