HOMENAGEM A DILSON LIRA – por Sosígenes Bittencourt.

Essa história de homenagear Dilson Lira é uma invenção arretada. E não custa parabenizar a Academia Vitoriense de Letras que promoveu Recital em sua memória. Se lá onde estiver, puder me ler, estará sorrindo, como sempre sorriu com minhas expressões.

Faz pouco tempo, eu ia atravessando a Avenida Mariana Amália, com o poeta Dilson Lira, quando ele parou no meio do trânsito e disse que havia sonhado com a Constelação de Eridanus, o Rio Celeste. Aí, eu, conduzindo-o pelo braço, relembrei: Nós somos do tempo que havia tempo de acompanhar a réstia do sol e contar estrelas.

Eu dizia a Dilson que não era muito chegado a CASAMENTO nem SEPULTAMENTO, talvez pela semelhança que enxergava entre as cerimônias. E ele botava pra rir.

Geralmente, lá na padaria, onde comia pão com bolo e chupava caramelo de café.

Aí, eu comentava: “Dilson, você vai viver muito porque não come e vai morrer porque não come.” E ele botava pra rir.

Mas, Dilson não deu asas ao Mal de Alzheimer, decorou todas as poesias que confeccionou. E, falando-lhe sobre ser poeta, eu o homenageava com meus versos, a saber:

Essa história de ser poeta é dom.
Um bom dom.
O poeta não faz poesia com as flores,
com o mar,
com o céu,
sem a intenção de que você
habite sua poesia.
Ou seja,
sinta o aroma das flores,
a imensidão do mar,
o mistério do infinito.

Sosígenes Bittencourt

Com a intermediação do Blog do Pilako, famílias se reconectam depois de mais de três décadas!!!

Com mais de 25.000 postagens, ao longo dos mais de oito anos de atuação do nosso jornal eletrônico –  intitulado Blog do Pilako -,  hoje, essa linhas,  tem um sabor especial justamente  porque envolve um turbilhão de sentimentos que extrapola, por assim dizer,  a capacidade avaliativa do editor. Pragmaticamente não irei realçar os nomes dos envolvidos,  mas  confirmo  que se trata de acontecimento marcante,  ocorrido na nossa cidade,  há mais de três décadas,  envolvendo membros de famílias muito conhecidas e, ao mesmo tempo, uma história com final feliz.

Pois bem, semana passada, exatamente na segunda-feira, dia 11 de novembro, através do aplicativo de mensagens WhatsApp (mensagem de áudio)  um cidadão entrou em contato comigo dizendo morar no Estado da Bahia, mas que tinha familiares em Vitória. O mesmo chegou ao meu número guiado pelas informações do blog e do nosso canal no youtube. Disse-me  ele:

“Boa tarde senhor Pilako,  eu sou daqui da Bahia e estou precisando falar com o senhor. Como é que eu faço”.  Noutra mensagem, ele adiantou o assunto:

“ É que eu tenho parentes aí e não tenho nenhuma informação sobre eles………Eu queria ver se encontrava eles…….Eu tava pesquisando e encontrei seu blog. O senhor poderia me ajudar?”.

Após os primeiro contatos ele me repassou algumas das poucas informações que dispunha até o momento. O pai dele,  vitoriense de nascença,  faleceu  quando o mesmo ainda era uma criancinha. Lá atrás (há quase 40 anos), após sair daqui (Vitória),  fugido, conheceu e morou  (casou) com a mãe dele numa cidadezinha do interior da Bahia. Na época,  ela – a mãe do rapaz –  tinha pouco mais de 13 anos e ficou viúva aos 18 anos – com um casal de filhos para criar.

As informações iniciais foram básicas e distorcidas, inclusive até o nome do seu pai foi  fruto de documentação falsificada. Para complicar a busca, falou-me também que existia a possibilidade de haver uma praça na nossa cidade com o nome do seu avô paterno, algo que mais adiante também não se configurou como verdade. De informações concretas e “quentes” apenas o nome da rua que seu pai morou, o nome da sua avó e de duas tias. E foi com essas pistas  que começaram surgir uma luz no fim do túnel,  na direção do êxito das minhas buscas e pesquisas.

Com a intenção apenas e tão somente de ajudar, começamos a trocar informações diariamente. A  mãe  dele  (que reside noutra cidade), através de mensagens de áudio, foi ajudando a montar o quebra-cabeça, até porque ele não lembrava de nada, uma vez que quando tudo aconteceu o mesmo  era apenas uma criança pequenina  – com já falei anteriormente.

Um fato complicador nessa “investigação” foi exatamente o nome “falso” do pai. Até dias atrás, após meus questionamentos,  nem ele nem sua mãe  sabiam o verdadeiro nome do provedor da família (pai/marido). Destravada essa questão, pessoalmente, consegui fazer o primeiro contato com um “suposto” familiar. Expliquei toda situação. Mesmo sem demonstrar qualquer boa vontade, o mesmo (suposto parente) passou-me o número do seu celular e autorizou-me repassa-lo  para o pessoal da Bahia. A conversa entre eles não prosperou. Um banho de água fria nas minhas investigações!! Insisti. Consegui o número de  telefone de outro membro da família para só assim chegar noutra irmã mais velha – que por acaso tem o mesmo  nome da pessoa citada inicialmente como “irmã do pai”.

Após muitas idas e vindas, até porque acabei me sensibilizando com a história desse  rapaz (baiano),  que colocou como “missão de vida” descobrir e conhecer os parentes do seu pai que, diga-se de passagem, nunca havia sido identificado nem por fotografia, tomei como ponto de honra – para mim – colocar um  ponto de “final feliz” nessa história.

Assim sendo, na noite de ontem (18), por volta das 19h, por telefone, conversei com a pessoa que julgava ser a tia do rapaz (baiano). Um tiro certeiro na mosca!! Ela confirmou a informação  das cartas  inclusive com o nome “diferente” que o seu irmão usava. Ela,  na qualidade de pré-adolescente, era quem narrava para sua mãe o conteúdo das cartas ( a matriarca não sabia ler). Até a noite de ontem, ela também não sabia que o irmão havia morrido, até porque há décadas que não recebia qualquer notícia dele. Disse-lhe, então,  a notícia que o seu irmão já estava morto,  mas que, ao mesmo tempo, havia sobrinhos e cunhada querendo estabelecer contato com todos os familiares  daqui.

Emocionada, disse-me ela com a voz trêmula: “ Pilako, ainda bem que eu já tomei meu remédio para pressão. Que história danada. Pode passar meu número e diga que vou avisar a todos os meus irmãos e sobrinhos. Mande o pessoal ligar hoje mesmo”.

E assim eu fiz….

Resumo da ópera: passava das 23h de ontem quando o rapaz da Bahia, chorando,  me ligou para agradecer,  mais uma vez. Disse-me  que desde 19h, ele, a irmã e a mãe estavam grudados ao telefone se comunicando,  em chamada de vídeo,  com os “novos” parentes encontrados na Vitória de Santo Antão. Em apenas uma frase ele resumiu tudo: “ é uma felicidade só”.

Portanto,  encerro essas linhas ciente do papel que desempenhei nessa jornada. Nem sempre entramos em campo pensando apenas na vitória, sobretudo quando somos agraciados com  a nobre missão de mediar o extraordinário “jogo da vida”  em que ambas equipes, ao final da partida,  sagram-se vencedoras. Com toda certeza essas famílias terão mais um motivo positivo para celebrar no próximo Natal…..

NAVEGANDO PELO FACEBOOK – por Sosígenes Bittencourt.

Navegava pelo Facebook, quando vi uma postagem que curti e comentei. A pergunta era a seguinte: Hoje no Brasil, qual a profissão mais promissora?

Responderam de tudo: parlamentar, beneficiário do Bolsa-Família, vereador, traficante, locutor, técnico do Sport Club do Recife, ladrão, coveiro, o diabo a quatro…

Ao que respondi: A profissão mais promissora é toda aquela que lhe conceda o sossego de dormir em paz. É melhor comer pão com manteiga sem tornozeleira eletrônica do que desfilar a bordo de camburão com dinheiro bloqueado nas Ilhas Cayman.

Sosígenes Bittencourt

Terceiro Encontro do Vinil – um brinde ao bom gosto!!

O 3º Encontro do Vinil, ocorrido na tarde do domingo (17), na Loja “Grão de Ouro”, é o tipo de movimento que deveria ocorrer com mais frequência. A nossa cidade, paradoxalmente,  tão rica e tão pobre, aparentemente, encontra dificuldade para reunir pessoas diferentes, mas unidas por gosto mais refinados.

Além da “Expo Beatles”, com peças do particular acervo do roqueiro Raphael Oliveira, vendas,  troca e sorteio de produtos a decoração do ambiente – Loja Grão de Ouro –,  que nos remete aos mais diferentes cenários do tempo pretérito, cria uma atmosfera favorável ao bom lazer.

No palco improvisado, a Banda antonense “Sexto Ato” envolveu e convidou os participantes numa viagem musical das mais saudáveis. Um brinde ao bom gosto!!!!

SEM MUITA SORTE – por Marcus Prado

Não tenho sorte com os apelos femininos de pontualidade. Acabo de perder uma importante amizade virtual,  uma bela e inteligente mulher, residente na Italia, porque não tive como cumprir o prazo de 10 (dez!!!) minutos, dados por ela, para responder se eu aceitaria ou não rezar na igreja dela, os mesmos salmos, a mesma liturgia eucarística, as mesmas ladainhas, o mesmo badalo dos sinos. Eu  estava na aula matinal  de esgrima, concentrado, quando recebi essa sentença. Eu  não podia desviar a minha atenção para o pedido dessa mulher.

 Mais uma vez,  comprovei que minha sorte é limitada para os prazos femininos. Certo dia, por causa de uns breves minutos, perdi um encontro marcado, na Califórnia, com a neta por afinidade da mulher que muito amei: a pintora Geórgia O`Keeff.  (Quando a conheci, por retrato, ela tinha 80 anos). Tornei-me fascinado por sua arte. Francisco Brennand tornou-se igual a mim, nesse fascínio pessoal  por Geórgia.

 Por causa da minha impontualidade (não voluntária), perdi um encontro com outra mulher que sempre amei ( eu e talvez você, caro leitor): a fadista portuguesa Amália Rodrigues, na casa onde ela morava, na Rua lisboeta de São Bento. Já doente, sofrendo de incurável insônia, ela só podia dispor de breves minutos  para receber durante o dia.

Marcus Prado – jornalista

Momento Cultural – BICHO TRELOSO – por Rosângela Martins.

O tesão, Ave Maria, não marca hora pra chegar!
Não escolhe dia, nem lugar e dana a incomodar.
Trazido pelo vento, por um pensamento ou não.
Talvez animado e revivido por certa situação…
Esse bicho não espera: ou ele murcha ou explode.
Ficar parado? Não tolera. Cutuca, puxa, sacode…

Ele vai e vem, entra e sai, sem avisar.
Não vê hora e nem a quem vai provocar.
Oh, bicho treloso, atrevido, inconveniente!
Que só sossega quando fisga a gente.
Quando instiga, espeta, futuca, judia…
Santo Deus, assim é muita covardia!
Sem querer nem saber se o outro pode.
E fica cochichando no juízo: fode, fode!

Vixe, que nem reza nem santo consegue acalmar!
E só mesmo esse encanto a gente vem quebrar,
Quando encontra outro na frente do mesmo mal atacado.
E haja carinho pra acabar com tanto desejo acumulado!

Rosângela Martins – escritora.