Repercussão de um seio

Um dia, eu vi um seio nuzinho pelo buraquinho da fechadura. Eu nunca tinha visto aquilo que só tinha o direito de imaginar.

Às vezes, ficava revirando um corpete, escondido por trás da porta, os olhos encatitados, com medo de levar uma surra, medo de pecado, medo de castigo, medo de deus.

Naquela época, criança não podia ver tudo que queria. Criança era temente a Deus. Havia infância naquela época.

Foi no tempo que menino brincava com caixinha de xarope, colecionava tampinha de garrafa. Imagine um seio, um seio nuzinho. Um seio alaranjado, recebendo uma réstia de sol pela brecha do telhado. Parecia um pudim de carne.

Era uma dessas Marias criadas no meio do mato, matuta acanhada. Eu não sabia se ficava ou se corria, o medo me atrapalhava. Eu ia lá, vinha cá, o seio ali, nuzinho, servindo de vitrine à minha curiosidade.

Um dia, mainha me pegou correndo pelo quintal, ofegante, todo espantado. Gaguejei tanto que levei uns tabefes para dizer o que estava fazendo. Não era nada, não era nada, era eu querendo ver o seio nu, doido para sentir aquela emoção de novo.

Revelava-se o futuro cidadão, morto de curiosidade. Já dizia o poeta inglês William Wordsworth: A criança é pai do homem.

Sosígenes Bittencourt

Declaração de amor só para Kayse Arruda

Que menina bonitinha, meu Pai do Céu. Que belezura! Eu queria ser um Don Juan.

Dá vontade de comprar uma passagem de avião e me danar no meio do mundo. Ir margeando o Oceano Atlântico, enguiçando montanhas e rios, entre acolchoados de nuvens, quer o sol a alumiar, quer a lua prateando, e as estrelas piscando lá no fundo do universo.

Kaise foi morar em Santa Catarina e eu fiquei aqui em Vitória de Santo Antão. O meu consolo é que é tudo santo, tudo milagroso.

Vai morrer bonita, minha princesa. Pena que eu não poderei violar o seu túmulo, sepultar-me ao seu lado, porque já estarei no horizonte eterno. Mas, tem o outro mundo, o mundo das almas. Um mundo alvo, cheiroso, de amor sem ciúme, todo iluminado, para a gente viver em paz. Quem sabe nos encontramos pelos labirintos do infinito? E ela me responde: Quem sabe?

Aí, eu, todo enxerido: Posso postar minha declaração de amor, minha dondoca?

E ela me responde: Você tem carta branca, professor. Eu estou solteira e sem namorado.

Aí, eu, abestalhado de amor, vou revelando minha gostosa dor. Dá até vontade de me amostrar, falando em inglês: While there’s life, there’s hope. (Enquanto há vida, há esperança).

Sosígenes Bittencourt