o clarão desta verdade:
– És peregrino na Terra,
Viajor da Eternidade.
(migalhas de poesia – Célio Meira – pág. 40).
Imagino nas imagens espelhadas no tempo e no vento,
forças estranhas a percorrerem o espaço…
Do ar que eu respiro,
Do mar por onde piso…
Imagino imagens soltas e desconexas ao vento.
Imagino as pessoas, do que possam imaginar:
Dos instantes da vida.
Imagino os pensamentos soltos a evolarem como imagens;
simples imagens.
Imagino forças estranhas…
Estranho nas estranhezas e sutilezas dos amores falsos,
dos falsos amigos.
Imagino nas teias de uma rede feita por aranhas.
Imagino a melodia que estou a ouvir.
Imagino todos os meus sonhos soltos, dispersos como simples
castelos de areias.
Imagino o que eu escrevo e a fonte de inspiração que jaz numa
lápide fria dos meus sonhos.
Morreram sepultadamente:
sentimentos, esperanças, amores, dores,
e até a força estranha do que não imagino.
(TAPETE CÓSMICO – ADJANE COSTA DUTRA – pág. 47).
Quem te conhece
Quem já te viu
Cabelo de sol
Vestido de anil
Caminhas bem lento
Com muita postura
Que corpo tão belo
De além formosura
Tens lindo sorriso
Teu rosto é perfeito
Lá longe te avisto
Me apertas o peito
Se olhas pra mim
Eu finjo não ver
Nome não tenho
Mas deves saber
Te amando calado
O sonho é só meu
Tu és uma princesa
E eu sou um plebeu
João do Livramento.
Para vivermos nós contentes pela vida
sem essa mágoa que tortura tanto a gente
da culpa de Eva no Édem, um dia nascia.
O Senhor deu-nos a ilusão constantemente.
Quanto seria: a alma por tudo entristecida
e o coração ensimesmado e até doente
se a ilusão fosse deste pélago banida
se não houvesse, não o sonho doce e ingente!
De assalto sem se esperar conta do destino
a ilusão toma para nos dar prazer na dor
para nos fazer o espiamento pequenino.
Da nau de crença a vela enfuna com vigor
e fortifica quando sofre, o coração:
toda beleza está da vida na ilusão.
José Tiago de Miranda, vitoriense, nascido a 9 de junho de 1891 e faleceu a 29 de maio de 1960. Foi professor primário na Vitória, em Moreno e em Limoeiro, exercendo, em todas as cidades, o jornalismo. Foi proprietário e diretor de O LIDADOR a partir de 1932 até sua morte. Cronista, poeta e jornalista de alto valor. Seus filhos (Ceres, Péricles e Lígia) reúnem em volume muitas de suas crônicas e poesias, em livro “Antologia em Prosa e Verso”, comemorando o centenário de seu nascimento, aos 9 de junho de 1991. Do casamento, com D. Herundina Cavalcanti de Miranda, houve ainda um filho, Homero, falecido logo após a morte do Prof. Miranda.

Quando você pensa que estou triste
Estou alegre
Quando você pensa que estou mal
Estou bem
Quando você pensa que estou perdido
Estou no rumo
Quando você pensa que estou dormindo
Estou acordado
Quando você pensa que estou só
Estou acompanhado
Quando você pensa que estou embriagado
Estou sóbrio
Quando você pensa que estou caído
Estou erguido.
Enquanto você achar que estou quebrado
Prosseguirei inteiro
Enquanto você achar que sou apagado
Serei acesso
Enquanto você achar que vivo doente
Estarei sadio
Enquanto você achar que fico preso
Serei libertado
Enquanto você achar que ando sofrendo
Permanecerei feliz
Enquanto você achar que ando chorando
Seguirei sorrindo
Enquanto você achar que já morri
Continuarei vivo.
Dei-te o dia dai-me a noite
Recompensa sem tardia
Espero a noite em lábios teus
Meu labor de todo dia.
Dei-te o dia dai-me a noite
Sem labor sem recompensa
Sem sabor dos lábios teus
Cumpriria tal sentença.
Dei-te o dia dai-me a noite
Dia longo noite curta
O calor do corpo teu
Faz valer tanta labuta.
Dei-te o dia dai-me a noite
Compromisso assumido
Frente a Deus e todos homens
Servirei serei servido.
Dei-te o dia dai-me a noite
A noite é minha o dia é teu
Te possuo alguns instantes
E te entrego a Morfeu
Dei-te o dia dai-me a noite!
João do Livramento.
Para nós, seres humanos, o nosso espaço no cosmos, começou a três milhões e quatro centos mil anos, porém, só a trinta mil anos, começamos a entender onde vivíamos e o que éramos.
Conquistamos o fogo, iniciamos plantio das sementes, aprendemos lidar com os animais, aplicamos nosso primitivo talento para criar os instrumentos de trabalho, usando a pedra, depois descobrimos o ferro e o bronze que permitiam um avanço significativo na nossa arte de fazer as coisas.
Com o ajuntamento das pessoas, formamos as tribos, as comunidades agrícolas que foram evoluindo até a formação das cidades.
Nesse vasto espaço cósmico, a nossa memória parece confinada no estreito lugar do planeta em que vivemos. Pouco a pouco vamos aparecendo em forma de escritos históricos para dizer à posteridade o que fomos, o que somos e o que seremos.
Hoje, todas as pessoas de quem ouvimos falar, viveram e lutaram em algum ponto deste planeta.
Todos os reis, sábios, nobres e plebeus, batalhas, guerras, migrações, invenções, tudo que há nos livros, sobre a história do homem, aconteceu aqui.
Dentro desse imenso espaço do universo de onde emergimos, somos um legado de vinte bilhões de anos de evolução cósmica.
Agora vemos nosso planeta à beira da destruição. As máquinas mortíferas inventadas pelo homem para sua própria destruição. É a inversão de valores.
A maldade tomou conta do coração do homem. Agora temos que melhorar a vida na terra e conhecermos o universo que nos criou, sem desperdiçar nossa herança de vinte bilhões de anos numa autodestruição insensata.
O que acontecer no próximo milênio, dependerá do que fazemos aqui a agora, usando a nossa inteligência e a nossa vontade para salvar o planeta.
Lembremos que: “há mais coisas entre o céu e a terra de que supõe vã filosofia”.
(VERDADES FUNDAMENTAIS – MELCHISEDEC – pág. 61).
Da nudez em que vive na demência,
traduzes bem o desmoronamento.
lar que serviu de abrigo à inteligência
e onde hoje reside o esquecimento.
Outrora tu vivias na opulência:
carne, vaidade, amor, deslumbramento,
beijo, pecado, embriaguez, ardência,
e hoje, de tudo isso, o isolamento.
No mundo, tu viveste mascarada.
Hoje, porém, com a face descarnada,
Tens do teu rosto a máscara caída…
Retrato original da humanidade:
Ressaca para toda a eternidade
depois da grande dança desta vida!…
(Muitas rosas sobre o chão – Henrique de Holanda – pág. 12).
Contemplando a prisão arquibendita
Onde se oculta o Augusto Sacramento
Pleno de amor meu coração palpita,
Da terra afasto, inteiro, o pensamento.
Insondável mistério! A infinita
Majestade de um Deus, no isolamento,
Nas estreitezas dum sacrário habita…
Terno Jesus! Quão grande é o meu tormento,
Em pensar que não sou como devêra!
– eu quisera, meu Deus, que, como a cera
Que arde feliz tão perto do hostiário,
Meu coração em puro amor ardesse
E à chama desse amor, se derretesse,
Se consumisse à vista do sacrário.
1925.
(Entre o Céu e a Terra – Corina de Holanda – pág. 42).
Anoitece em Vitória. Anoiteço em Vitória. Sou figura noturnal, viajante do ocaso, sonhador como o crepúsculo vespertino, morto de saudade como o final. De olhos vendados, conheço o cheiro dos bairros, dos becos, do meio do mato de minha cidade natal. O cheiro de fumaça, de migau, de chuva. Sou todo olfato e lembrança. Conheço os trejeitos do meu lugar, os cabelos perfumados, os enxerimentos, o flerte e o gozo. Minha cidade é todinha uma mulher. Chamar-se-ia Vitória das Marias, Maria das Vitórias, tal como é.
Anoitece em Vitória. Anoiteço em Vitória. Saio para passear, impregnado dos prazeres noturnos, das eras do meu tempo, que me viciam e me saciam. Minha cidade muda todo dia, mas não muda o meu sentimento, o fascínio elaborado pela memória, como quem ama o que odeia e odeia o que ama, num jogo de perde e ganha.
Anoitece em Vitória. Sobretudo, anoiteço em Vitória. Enlouqueço em Vitória. Porque ninguém entende o que em nós nem conseguimos explicar. Vitória, meu berço e minha tumba. Minha alma noctívaga vai enredando sua história. O acaso me espreita, a surpresa me seduz, sua bruma, sua luz. Alucinações e desejos, rimas em ‘ina’, adrenalina, serotonina, dopamina. Ah! Vitória, dos meus idos e vindas de menino, minha menina!
Sosigenes Bittencourt
Corria o mês de novembro,
– Era Dia da Bandeira,
fomos ver a lua cheia,
ao lado da ribanceira.
Depois, descemos. Na praia,
ficamos a reparar:
– Havia esteira de prata,
nas águas mansas do mar.
Ali, olhando o mar, a lua,
recebemos a lição:
– Jesus Cristo está presente,
na glória da criação.
(migalhas de poesia – Célio Meira – pág. 25).
Para vivermos nós contentes pela vida
sem essa mágoa que tortura tanto a gente
da culpa de Eva no Édem, um dia nascia.
O Senhor deu-nos a ilusão constantemente.
Quanto seria: a alma por tudo entristecida
e o coração ensimesmado e até doente
se a ilusão fosse deste pélago banida
se não houvesse, não o sonho doce e ingente!
De assalto sem se esperar conta do destino
a ilusão toma para nos dar prazer na dor
para nos fazer o espiamento pequenino.
Da nau de crença a vela enfuna com vigor
e fortifica quando sofre, o coração:
toda beleza está da vida na ilusão.
José Tiago de Miranda, vitoriense, nascido a 9 de junho de 1891 e faleceu a 29 de maio de 1960. Foi professor primário na Vitória, em Moreno e em Limoeiro, exercendo, em todas as cidades, o jornalismo. Foi proprietário e diretor de O LIDADOR a partir de 1932 até sua morte. Cronista, poeta e jornalista de alto valor. Seus filhos (Ceres, Péricles e Lígia) reúnem em volume muitas de suas crônicas e poesias, em livro “Antologia em Prosa e Verso”, comemorando o centenário de seu nascimento, aos 9 de junho de 1991. Do casamento, com D. Herundina Cavalcanti de Miranda, houve ainda um filho, Homero, falecido logo após a morte do Prof. Miranda.

O Amor
É como comida:
Tem que ser
Bem cuidado,
Bem temperado,
Bem servido
E Compartilhado:
Ou é cada um pro seu lado.
José Bezerra de Oliveira
Toda manifestação da vida, vibra num mesmo diapasão, tão harmonicamente afinado que faz soar em cada “eon” (período de tempo), uma verdadeira sinfonia das esferas. A maior ou menor quantidade de vibração é a manifestação das Energias Primárias.
A raiz de todas essas Energias Cósmicas que se polarizam no mundo de maneira dupla, chama-se Oceano Universal de Energia Vida. Essas Energias emanam do sol e se manifestam em três formas: Luz Primordial, Poder Ígneo e Base Energética Vital do mundo físico.
Cada uma dessas forças se manifesta em todos os planos do Sistema Solar. Elas permanecem distintas e nenhuma delas, em nosso plano, pode ser transformada na outra.
ELEMENTOS DA NATUREZA – São os princípios básicos de todas as substâncias que constituem os veículos da vida no Reino da Natureza.
Água – Constituída do elemento químico H²O.
Ar – Constituído do elemento químico O².
Fogo – Constituído do elemento químico CO².
Terra – Constituído do elemento químico CL e CA.
Todos esses elementos são regidos por forças sutis.
(VERDADES FUNDAMENTAIS – MELCHISEDEC – Pág. 51)

Em certa praia do sul,
numa noite enluarada,
trocamos juras e beijos,
sentados numa jangada.
Jangada! Toma cuidado,
de este segredo guardar:
– és também, ás escondidas,
formosa amante do mar…
(migalhas de poesia – Célio Meira – pág. 31).
– Escutem: (mostrando cinco dedos)
Hoje completo cinco aninhos!…
E o meu nome?… todos o conhecem.
Vou pronunciá-lo: – Daciana!…
Lindo!… que melodia dimana!
E quanto a minha pequena – grande personalidade,
Vou (modéstia à parte), descrevê-la:
– Tenho a beleza da flor
e já, de imponente sultana
é o meu todo encantador!
Tenho uma boa mãezinha,
um painho carinhoso,
manos, avós, tiazinhas…
quanto o meu lar é ditoso!
– Duas estrelas, os meus olhos,
dois mundos, dois paraísos…
Da vida, entre os abrolhos,
fulguram os meus sorrisos (olhando o próprio tamanho):
Reparem como estou crescendo!…
No colégio vou entrar
para ir logo aprendendo
a ler, escrever e contar!
Passem bem
Tchau!
(SILENTE QUIETUDE – ALBERTINA MACIEL DE LAGOS – pág. 52).

Ondulada, um Caos de formas, deformada…
Grama de esverdeada secura, porém bela
Terra potente de belas gramíneas aéreas.
Fertilizada por passagens de águas juninas.
Nessa terra onde o massapê é mais extenso,
Nasceu d’um parto genérico outras especies
que hoje dispersa-se de sua mãe, desapropriadas
aqui, a terra é farta, em vegetações bem aproveitada.
(inacabado)
Darlan Delage – Poeta vitoriense.
Inertia, inactivity, sloth.
Inércia dos sonhos coloridos…
Nas folhas brancas ao léu…
Momentos perdidos,
inércia desse vento nas paragens do tempo
de INTERROGAÇÕES ???????
Pára-tempo, tempo-pára.
Para, pára, o que não paro.
Inércia nos sons, nos sonhos coloridos,
Nas paragens desse tempo inertemente perdido…
(TAPETE CÓSMICO – ADJANE COSTA DUTRA – 1995 – pág. 25).
Quem te conhece
Quem já te viu
Cabelo de sol
Vestido de anil
Caminhas bem lento
Com muita postura
Que corpo tão belo
De além formosura
Tens lindo sorriso
Teu rosto é perfeito
Lá longe te avisto
Me apertas o peito
Se olhas pra mim
Eu finjo não ver
Nome não tenho
Mas deves saber
Te amando calado
O sonho é só meu
Tu és uma princesa
E eu sou um plebeu
João do Livramento.
Entre o céu cor de anil
Que de estrelas se enfeita
E a Terra, de que tu, meu Brasil,
És a porção eleita…
O Céu que oculta Deus na Sua Realeza,
E a terra onde palpita, inteira, a Natureza
Nas suas deslumbrantes
Maravilhas
O Céu a que aspiro
Nos meus sonhos gigantes;
E a Terra que admiro
Nos seus mares, montanhas,
Rios, ilhas…
(nestas então, com me encontro e bem!).
Florestas majestosas, tamanhas!
E nas grandiosas flores,
Cujos esplendores
Vão do esplendor além…
Eu me ajoelho,
E o amor
Me ajuda a repetir:
– Obrigada, Senhor!
Num sentir,
Num cantar
Que só eu sei usar,
Que acorda o Riso e impõe silêncio à Dor.
1960
(Entre o céu e a Terra – Corina de Holanda – 1972 – pág. 25)