Bipolar: que comportamento é este?

O transtorno bipolar é hoje considerado uma perturbação no campo da afetividade, ou seja, episódios depressivos e maníacos são apresentados frequentemente ficando alguns comportamentos mais atuantes que outros, por exemplo, podemos encontrar um comportamento bipolar sem fases depressivas. Escutamos bastante frase do tipo: “Sou bipolar, tem horas que fico triste ao mesmo tempo alegre”. Mas não acontece desta forma, esta situação pode ser qualquer outra menos bipolar. De antemão o transtorno bipolar não chega a atingir 1% da população.

Com relação à idade geralmente a media é por volta dos 25 anos em diante, apesar de não descartar a possibilidade de uma criança com cinco anos receber o diagnostico, assim como em idosos pode surgir este transtorno mesmo depois dos 70 anos. Por falar em diagnostico, fica evidente sua complexidade, o bipolar apresenta atitudes sem uniformidades.

Para o reconhecimento do transtorno bipolar é preciso observar o surgimento de comportamentos maníacos, ou seja, atitudes que apresentem comportamentos de um estado deprimido para alegre, ter atitudes egoístas e realizadoras das mais diversas situações. Comportamentos considerados fora do normal, promessas sem possibilidades de serem realizadas, ou realizadas como dito anteriormente: fora do normal.

Na tristeza não deixamos de pensar, de analisar situações, no transtorno bipolar a concentração e atenção são funções impossíveis de serem realizadas como, por exemplo, refletir. Há dificuldades de interesse por coisas que antes eram agradáveis. Relações afetivas são evitadas, o ambiente antes confortável torna-se insuportável  Culpa ações do passado para seu comportamento atual. Dificuldades para dormir ou sono em demasia são alguns dos comportamentos atuantes no transtorno bipolar.

Próxima semana: A relação do Bipolar com a sexualidade, depressão e genética.

 

Cleiton Nascimento
Psicólogo
CRP02.14558

O inconsciente do “40” é 55

Apenas agora, duas semanas depois das eleições me encontro confortável para comentar sobre dois pontos no mínimo interessantes durante a campanha eleitoral do PSD em nossa cidade. Você pode está se perguntando, onde vamos dialogar psicologia neste tema? Propositalmente ou não a equipe de campanha do candidato reeleito delineou inconscientemente ou mesmo cônscia de toda a situação o pleito eleitoral de seu candidato.

O primeiro ponto que destaco é o “inconsciente dos opositores” materializado, ou seja, um personagem que surge do nada e apresenta tudo. Com imagem de um homem de “meia idade”, os cabelos grisalhos, a voz forte, o olhar fixo e a certeza que fala a verdade com provas concretas apresentando a certeza e a perfeição, ele é o inconsciente dos indecisos, opositores e por que não dos “40”. Aquele homem do guia disse isso, aquele homem falou aquilo… Quem é aquele homem que disse? Quem é aquele homem que falou? Ele vota onde? Ele dorme onde? Ele é pai ou padrinho de quem? Ele esteve nas carreatas? “Nenhuma dessas perguntas tem respostas, pois ele é o inconsciente materializado”. Ele diz e sai, ele cobra, fala com você sem você falar com ele, ele tem a idade da sabedoria e as perguntas sem respostas.

Outra pergunta que aparentemente parece não ter resposta é aquela atitude que se deu início na manhã do domingo depois da visita do governador do estado em nossa cidade. Os conhecidos “amarelinhos” deram um bom dia interessantíssimo, quando aos quatro cantos da cidade gritavam: “acabouuu, o vermelho acabouuu…” Mais uma vez surpreendendo nosso inconsciente. Metaforicamente falando seria “alguém”, talvez o homem do guia, confirmando desta vez na rua, mais uma verdade, mais uma certeza. Está sendo dito, aclamado aos quatro cantos, está sendo exposto em voz alta que “acabouuu”, mesmo depois do governador as coisas não andam, acabou. Vou dar um exemplo: Você está para contratar um plano de saúde para sua família, mas em praça publica está sendo dito: “acabou… esse plano de saúde acabouu… acabouuu, acabouu, o representante do plano de saúde argumenta contra, mas alguns contratos são anulados, afinal “alguém” diz que acabou. Você pode estar se programando para tomar banho de mar, mas começa a ser dito que a praia de Boa Viagem “acabouuu, a praia acabouuu, acabouu”, você até vê a praia, mas escuta, água.

Consciente, parabenizo a vitória do prefeito reeleito e dos nossos representantes na Casa Diogo de Braga.

Até próxima semana

 

Cleiton Nascimento
Psicólogo
CRP02.14558

Sobre Esquizofrenia (segunda parte)

A esquizofrenia apresenta no indivíduo características comportamentais distorcidas do pensamento inadequado. Déficit cognitivos podem surgir durante algum tempo não atrapalhando a consciência assim como a capacidade intelectual. Os sentimentos são facilmente partilhados com mais facilidade. Alucinações auditivas é a percepção mais comum, ficando perturbadas quando a cores, formas e sons podendo parecer alteradas, irrelevantes e adicionadas em situações complexas, sem necessariamente parecer tão amplo. Com relação às questões do humor ficam caracteristicamente superficiais, as percepções negativas ficam exacerbadas. A esquizofrenia pode variar em diferentes culturas e populações. Com relação aos sexos são em proporções semelhantes, mas inicialmente é mais tardio no sexo feminino.

Leia também: Um pouco de Esquizofrenia 

 

Cleiton Nascimento
Psicólogo
CRP02.14558

Um pouco de Esquizofrenia

Os sinais da esquizofrenia surgem por diversas maneiras, seja por combinações genéticas assim como ambientais, ou seja, contato social. O indivíduo tem uma predisposição à  doença, e seu contato com o mundo faz com que esta disposição venha à tona. Com o surgimento de alguns sintomas como: pensamentos de alucinações, comportamento de irritabilidade, desordem nos pensamentos, incapacidade de elaborar e efetivar planos, diminuições na capacidade de encontrar prazeres na vida entre outros fatores decorrentes, que na maioria das vezes acometem pessoas entre os vinte e trinta anos, o sujeito que identificar estas ações não esconder nem encobrir afinal cura ainda não temos, mas o tratamento elimina alguns sintomas sanados por medicamentos antipsicóticos e psicoterapias.

Pesquisas medicamentosas estão sendo realizadas na área e com eficiência vão atender as causas da esquizofrenia, ou melhor, das esquizofrenias, que na verdade temos cinco tipos da doença, pensando nisto fiz esta listagem onde procurei resumir os sintomas e comportamentos apresentados pelos portadores de esquizofrenia, espero que clareie.

Esquizofrenia Paranoide

Predominam sintomas positivos como alucinações e enganos, com uma relativa preservação do funcionamento cognitivo e do afeto. O início tende a ser mais tardio que o dos outros tipos. É o tipo mais comum e de tratamento com melhor prognóstico, particularmente com relação ao funcionamento ocupacional e é capacidade para a vida independente.

Esquizofrenia Catatônica

Sintomas motores característicos são proeminentes, sendo os principais a atividade motora excessiva, extremo negativismo. Mutismo, cataplexia (paralisia corporal momentânea), ecopraxia (imitação repetitiva dos movimentos de outra pessoa). Necessita cuidadosa observação, pois existem riscos potenciais de desnutrição, exaustão, hiperpirexia ou ferimentos auto-infligidos. O tratamento, portanto, é bem difícil.

Esquizofrenia Desorganizada

Discurso desorganizado e sintomas negativos como comportamento desorganizado e achatamento emocional predominam neste tipo de esquizofrenia. Os aspectos associados incluem trejeitos faciais, maneirismos e outras estranhezas do comportamento. É o tipo que tem tratamento mais complicado.

Esquizofrenia Indiferenciada

Se encaixa nos sintomas de esquizofrenia, mas não satisfaz nenhum dos tipos citados anteriormente. Esquizofrenia Residual.

As condições para este tipo de esquizofrenia são: Ausência de delírios  alucinações e comportamento amplamente desorganizado ou catatônico proeminentes; Existência de evidências contínuas da perturbação, indicadas pela presença de sintomas negativos ou por dois ou mais sintomas positivos como comportamento excêntrico, discurso levemente desorganizado.

Esquizofrenia Infantil

É um tipo raro de esquizofrenia. Ocorre bem cedo na vida do indivíduo (os primeiros problemas surgem entre os 6 e 7 anos de idade). É bastante severa, tendo sintomas e disfunções mais intensas, além de um tratamento mais difícil.

Próxima semana continuaremos com o tema.

 

Cleiton Nascimento
Psicólogo
CRP02.14558

Uma Revisão de Literatura sobre os Estudos de Transe de Possessão em Psicologia. – Considerações Finais

Nas páginas que antecederam observamos alguns pontos numa vasta literatura psicológica e antropológica pertinente ao entendimento acerca dos estudos realizados em torno dos estados de Transe de Possessão nos Cultos afro-brasileiros. Examinando por este sentido os estudos foram direcionados para um mapeamento nas crenças afro-brasileiras, e suas influências sociais, atravessando fronteiras e gerações fazendo parte da vida de um povo.

A vida social, moral, hierárquica e religiosa polarizada pelos cultos afro-brasileiros, nos apresenta a preservação do homem, a cultura negra africana no Brasil. O Xangô assume a função da memória reveladora dos valores africanos, autor de modelos adaptativos neste processo de aculturação. A religião não se encontra isolada das camadas participativas da sociedade, o sincretismo adotado ligado às tradições religiosas africanas até os dias atuais chama a atenção para o fato de que estes papéis são desempenhados a partir de um código religioso.

Procurou-se instituir uma leitura histórica da origem do Xangô mostrando o sincretismo e alguns aspectos da religião. Foram expostos também os processos psicológicos existentes nos sentimentos atribuídos aos orixás, divindade ancestral que estabelece forças a seus descendentes durante o transe de possessão.

Podemos observar que, com o passar dos anos, o trajeto percorrido pelo Xangô se mantém forte levando em consideração o modelo trazido da África. Um universo sobrevive, mantendo autonomia de uma cultura indígena enfocando manifestações e práticas comportamentais. Abordando a questão dos procedimentos dos adeptos do Xangô, foram mencionados os estados de Transe de Possessão, situação que podemos considerar como um fenômeno complexo pelo estado que coloca o sujeito, modificando a sua consciência.

No entanto, se observou que estes comportamentos eram colocados numa concepção de mentalidades primitivas, as ações emocionais, a imitação, a repetição das músicas fluem no pensamento levando-o aos estados de Transe de Possessão. Viu-se que, o transe aparece como experiência subjetiva, sendo crenças na manifestação de um Deus, os orixás.

Quanto a sua estrutura e ritual, a aculturação trazida tem como finalidade uma organização para vivências de possessões espontâneas, as danças e músicas ritmadas e monótonas exercem grandes influências durante o ritual contextualizado como, comportamento normal ou patológico. Vimos que os estados de transe são considerados como perda transitória da consciência substituindo a identidade pessoal por outra associada a mudanças involuntárias nos comportamentos trazidos por um sincretismo religioso adotado por adeptos a centenas de anos.

Como podemos observar na literatura estudada, o Transe de Possessão nos Cultos afro-brasileiros é classificado como perda temporária do senso de identidade pessoal, ocorrendo em situações religiosas ou aceitas culturalmente. Observando pelo aspecto psicológico, os sentimentos atribuídos no que se referem aos estudos das religiões, neste caso o Xangô, vimos que as cerimônias e rituais aos qual o indivíduo se submete favorece desenvolver comportamentos semelhantes. O Transe de Possessão nos Cultos afro-brasileiros é um fenômeno complexo, ligado a diversos estados onde se verificam os mecanismos motores de ação ancestral e ações dos pensamentos, exercendo grande poder de interferência psicológica modificando a consciência dos adeptos.

Referências
BASTIDE, Roger. O candomblé da Bahia. São Paulo: Nacional, 1978.
CID-10 Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento. Artmed: Porto Alegre, 1992.
DALGALARRONDO, Paulo. Psicopatologia e Semiologia dos Transtornos Mentais. Porto Alegre: Artmed, 2000.
DSM-IV Manual de Diagnósticos e Estatísticas das Perturbações Mentais. Porto Alegre: Artmed, 1994.
GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projeto de pesquisa. 4 ed. São Paulo: Atlas, 2007.
FERNANDES, Gonçalves. Xangôs do Nordeste.Rio de Janeiro: Civilização brasileira, 1937.
LODY, Raul. Candomblé: Religião e resistência cultural. São Paulo: Ática, 1987.
MIRANDA SÁJR, Luiz Salvador de. Compêndio de Psicopatologia & Semiologia Psiquiátrica. Porto Alegre: Artmed, 2001.
PRANDI, Reginaldo. Os candomblés de São Paulo. São Paulo: Hucitec/Edusp, 1991.
RAMOS, Arthur. O negro brasileiro. São Paulo: Nacional, 1940.
RIBEIRO, René. Cultos afro-brasileiros do Recife: um estudo de ajustamento social. Recife: Boletim do Instituto Joaquim Nabuco, 1952.
RODRIGUES, Raimundo Nina. O animismo fetichista dos negros bahianos. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1935.
SILVA, Vagner Gonçalves da. Candomblé e Umbanda: Caminhos da Devoção Brasileira. 2. ed. São Paulo: Selo negro, 2005.
VERGER, Pierre. Orixás. São Paulo: Corrupio, 1981.
________________. Lendas africanas dos Orixás. São Paulo: Corrupio, 1981. 

Espero que tenham gostado, posteriormente estarei postando outros artigos.

Até próxima semana

Leia a PRIMEIRA parte desta série.
Leia a SEGUNDA parte desta série.
Leia a TERCEIRA parte desta série.
Leia a QUARTA parte desta série.
Leia a QUINTA parte desta série.
Leia a SEXTA parte desta série.

 

Cleiton Nascimento
Psicólogo
CRP02.14558

Uma Revisão de Literatura sobre os Estudos de Transe de Possessão em Psicologia.

Nina Rodrigues (1935), afirma que, quando se manifesta um santo com todas as regras e preceitos africanos, a alienação mental e as desordens motoras são violentas independentes de localidades, e não tem os caracteres dos ligeiros desmaios das manifestações da maior parte dos santos preparados pelos pais de terreiro, a diferença é que tem uma explicação natural, excluindo toda a idéia de força ou fingimento.

Para Nina Rodrigues (1935), os transes de possessão, não são mais do que estados de sonambulismo provocado, com desdobramento e substituição da personalidade, sendo conhecidos pelas características psicológicas do sujeito. Na CID – 10 (Classificação internacional de Doenças) F44.3, denominado transtornos de Transe e Possessão são caracterizados como uma perda temporária do senso de identidade pessoal quanto da consciência plena do ambiente, em que alguns casos, o indivíduo age como se tomado por uma outra personalidade, espírito, divindade.

Classificado como transtorno dissociativo pelo DSM-IV (Manual Diagnostico e estatístico de transtornos mentais, 1994) com especificações que incluem transtornos com particularidades isoladas ou episódicas, de identidade cultural ou do estado de consciência. Os comportamentos apresentados em estados de transe, atribuídos ao seu orixá, são influências direta refletida pelas circunstâncias existenciais favorecidas pelos valores afro-brasileiros.

Uma dessas atribuições inconscientes que ocorrem num filho de santo é a música, com ela se envolve danças que no Xangô são acompanhadas de mímicas exuberantes, o que constitui um passo para o ritual. Danças individuais com coreografias alucinantes e participação total do corpo em movimentos e contorções violentas. Nestes rituais religiosos, a mágica das danças produzem certos estados psicológicos. (ARTHUR RAMOS, 1940).

O Xangô oferece um espaço sagrado, onde o indivíduo não se sente constrangido a esconder ou dissimular traços de sua intimidade quando dançam se apresentando em público, no Xangô estão liberados para serem o que são e o que gostariam de ser. Para os que entram em Transe, os que vivem intensamente a experiência religiosa, permitem desfrutar um estado psicológico extraordinário, pessoal e intransferível. (PRANDI, 1991).

Um filho de santo nunca tem consciência do que se passa durante a possessão e, por conseguinte, nunca é responsável pelo ato do orixá. Como a dor e as paixões não religiosas experimentadas, não pode ser mensurado nem descrito, a não ser metaforicamente e indiretamente. Faz parte dos “estados internos”, como a inteligência, os afetos e ódios, os desejos, as emoções mais escondidas. (PRANDI, 1991).

Ao ritmo de danças extremamente longas e fatigantes, a moça que teria sido iniciada no santo, acorda surpreendida e com uma lacuna na sua memória que se iniciou na dança até o momento que despertou molhada, declarava em tom de sinceridade que absolutamente não lembrava nada. (NINA RODRIGUES, 1935. p.118,119). A escola de psicopatologia sociocultural acrescenta que a cultura, nessa perspectiva, é elemento fundamental na própria determinação do que é normal ou patológico na constituição dos transtornos e nos repertórios terapêuticos disponíveis em cada sociedade. (DALGALARRONDO, 2000. p.30).

O mesmo autor quando apresenta o ponto de vista da escola existencial, coloca o sujeito como um ser lançado no mundo, que é apenas natural e biológico na sua dimensão elementar, mas que é fundamentalmente histórico e humano. O ser é construído pela experiência particular, na sua relação com outros sujeitos. Comportamentos apresentados como doenças mentais, nesta perspectiva não são vistas como disfunção biológica ou psicológica, mas, sobretudo, como um modo particular de existência, uma forma de ser no mundo, um modo particularmente doloroso de ser com os outros.

A noção de patologia inclui um juízo de valor atribuído à alteração ou transtorno de uma condição vital, ou a uma perturbação estrutural de um ser vivo, ou de parte de seu organismo, afetando a sua estrutura ou funcionalidade. A amplitude na qual se emprega o conceito da palavra normal é tomada por uma variedade de significados. No âmbito das ciências sociais, a noção de normalidade é adequada a comportamentos consoantes com as normas sociais e às expectativas de determinada cultura. No plano antropológico, destaca-se o caráter relativo das normas culturais, sobretudo das normas prescritivas referentes ao modelo de conduta da relação na convivência social. (DALGALARRONDO, 2000. p.372).

O Xangô tem estrutura comum, ocupando um espaço na construção da personalidade dos adeptos, sendo um templo onde se desenvolve toda uma estrutura religiosa. Segundo Nina Rodrigues (1935), a possessão varia de natureza e intensidade, classificam-se entre espontânea e a provocada, em alguns casos a possessa cobre o corpo de urtiga, ou ingere brasa ardente e mechas de algodão embebecida de óleo e acesa. Na possessão provocada o ritmo primitivo dos atabaques marca o compasso da coreografia nos cânticos fetichistas, preparando o terreno às manifestações dos orixás cultuados. (ARTHUR RAMOS, 1940. p. 216).

Leia a PRIMEIRA parte desta série.
Leia a SEGUNDA parte desta série.
Leia a TERCEIRA parte desta série.
Leia a QUARTA parte desta série.
Leia a QUINTA parte desta série.

 

Cleiton Nascimento
Psicólogo
CRP02.14558

O Normal e o Patológico na literatura acerca dos fenômenos de Transe de Possessão nos Cultos afro-brasileiros

Os estados de transe de possessão são caracterizados como perdas provisórias da consciência apresentando sintomas dissociativo, em psiquiatria são estudados como perturbação isolada não do estado de consciência ou identidade cultural, não sendo categorizado como transtorno específico. O transe dissociativo engloba o contexto no qual o sujeito se encontra com comportamento estereotipado, apontado como estando além do individuo. O transe de possessão substitui a identidade pessoal por outra, associado a alterações de amnésia, e ações involuntárias.

No senso comum, chamamos os comportamentos patológicos de anormais os não patológicos de normais. Este conhecimento impregnou o campo da psiquiatria e psicologia por longo período de tempo, mas especificamente durante o século XIX e início do século XX. Emprega-se o termo normal como sinônimo de condição de saúde ou estado não-patológico. “As diferenças entre normalidade e anormalidade no campo cultural encontram-se nas concepções sobre as enfermidades destes dois mundos”.  (MIRANDA, 2001.p.362).

Nas leituras cientificas, emprega-se o termo normal como sinônimo de saúde ou estado não-patológico. Estudando o tema conhecido como normal, encontramos nesta palavra uma grande amplitude de significados. Sendo que a maior parte deles está distante do principal assunto. Pode considerar como algo desejável, regra de comportamento, ou de funcionamento mais frequente, ou tudo que está próximo de uma média estatística, atual. Nas questões relacionadas ao comportamento anormal inclui-se um juízo de valor que venha promover alteração ou transtornos de uma condição de preservação ou de uma perturbação estrutural, seja ela do ser vivo ou de parte de seu organismo. Levamos em consideração a qualidade atribuída a algum acontecimento que afete outra pessoa sendo considerado danoso para sua funcionalidade estrutural. (DALGALARRONDO, 2000).

Os fenômenos expressos durante as possessões nos estados de transe apoderam-se de invocações especiais manifestando o está ou cair de santo, na prática do Xangô. O sujeito em estado alterado de consciência, não se lembra de seus atos, e não sabe o que diz, se apoderando dele o orixá desenvolvendo suas obras. Por esta razão, o portador, perde sua personalidade terrestre e humana adquirindo honras a que tem direito, do Deus que nele se revela. (RIBEIRO, 1952). As predições são realizadas particularmente, o Pai de santo é quem dirige as cerimônias, interpreta os desejos e ordens dos santos, com quem se comunicou em particular no santuário, trazendo predições que devem ser conduzidas aos crentes.

Até próxima sexta-feira

Leia a PRIMEIRA parte desta série.
Leia a SEGUNDA parte desta série.
Leia a TERCEIRA parte desta série.
Leia a QUARTA parte desta série.

 

Cleiton Nascimento
Psicólogo
CRP02.14558

A Estrutura, os Rituais, Músicas e os Orixás.

Uma das características dos grupos de cultos afro-brasileiros centraliza-se em torno de uma casa chefiada por um babalorixá (pai de santo) ou Ialorixá (mãe de santo). A aculturação introduzida difere entre si de vários agrupamentos religiosos, causando evidentemente as diversidades étnicas introduzidas no paós. As estruturas, denominadas de mocambos, traçados de ripas com barro amassado, suportados por pilares de madeira, piso de terra batida ou cimento, paredes rebocadas, de modo geral a maior parte dessas casas são edifícios adaptados às exigências dos cultos afro-brasileiros, exigências que variam consideravelmente dependendo do seu grupo, mas sabendo que cada casa conta obrigatoriamente: com santuários ou pegi; o aposento destinado ao culto ancestral; salão para as danças cerimoniais; quartos para recolhimentos dos iniciados. (RIBEIRO, 1952).

Os salões são organizados para abrigarem de quarenta a sessenta dançarinos. Nos dias de toques cerimoniais os tocadores sentam-se em bancos reservados, assim como visitantes considerados. Alguns terreiros em dias de festa exibem com orgulho quadros no salão representando a divindade cuja cerimônia é oferecida. Os tocadores têm posições hierárquicas, variando seu grau de prestigio. Para retá-los fiéis ao grupo, os tocadores desfrutam vantagens oferecidas pelos sacerdotes. Demonstram respeito, obediência aos chefes dos grupos, mesmo prestando serviços a outros terreiros. São três tocadores de tambores e um de agogá (instrumento de metal que percute com uma haste de madeira), um assume o grupo como lí­der da orquestra sendo chamado de Ogan-ilu. (RIBEIRO, 1952).

Os adeptos comuns classificam-se em categorias dos rituais de iniciação, e os ainda não iniciados frequentam os cultos e vivenciam possessões de forma espontânea. Uma plataforma é destinada aos tocadores, se destacando dos demais fiéis que dançam em cí­rculos no meio do salão. Nãp muito frequêntes nos rituais do Xangó a separação entre os sexos, pode ser observada quando dançarinos formam círculos, um externo ao outro, habitualmente mais numerosos, o sexo feminino organizam o circulo ao redor do grupo masculino. (RIBEIRO, 1952).

Nas casas dirigidas por Babalorixá¡s (pai-de-santo) as mulheres adotam o título de Yalorixá (mãe de santo), sua posição hierárquica sendo imediata à  dos esposos. Estes dois importantes personagens apesar de que tratados com respeito, não tem funções semelhantes. O babalorixá executa as oferendas aos deuses, a direção geral dos rituais, dos cultos, entre outras efetivações, visto que a yalorixá se preocupa com as cerimônias de iniciação e as disciplinas dos dignatários femininos, inferiores hierarquicamente. (RIBEIRO, 1952).

Quando um grupo é dirigido por uma Yalorixá, ela assume as funções desempenhadas pelos sacerdotes, a única exceção é  a matança dos animais para oferendas. Nesse caso sacerdotes assumem o posto, e gozam do prestigio de serem adeptos de grupos não chefiados por babalorixá. (RIBEIRO, 1952).

As danças e músicas exercem uma grande influência nos adeptos. O som do tambor tem seu efeito psicológico; acreditam que a melodia acalma, e com isto obtêm-se ações místicas próprias. Nas cerimônias religiosas afro-brasileiras, os atabaques são os instrumentos essenciais dos cultos, marcando o ritmo das danças religiosas produzindo o contato com as divindades. (ARTHUR RAMOS, 1940).

As músicas alucinantes, o balanço ao ritmo da dança, no rosto pasmo, se apresentando numa espécie de comunhão estabelecida entre o simbólico e o real consumado durante as sessões de cultos aos orixáis, este sendo um dos fatores favorecedores do Transe de Possessão nos cultos. As músicas são seguidas por coreografias alucinantes, com uma participação total do corpo, em movimentos e contorções violentas, até as manifestações espasmádicas, ou seja, manifestadas convulsivamente pela contração dos músculos, involuntariamente. (ARTHUR RAMOS, 1940).

As danças dos negros africanos exercem também uma extraordinária influência na América Central e do Norte. Na frenética coreografia, parando somente para engolir líquidos, voltando com selvageria aos seus pulos e contorções objetivando atingirem as crises convulsivas. As músicas e danças religiosas do Xangó se originaram diretamente do desejo de manipular os sons e ruídos da natureza. Nesta música primitiva, o som é acompanhado de gestos e por isso, é ela inseparável da dança. (ARTHUR RAMOS, 1940).

O entusiasmo das danças ao ritmo dos repetidos sons musicais se apossa de todos, com essas ações os candidatos submetem-se ao estado de possessão, momento em que o orixá se faz presente, “descendo” ou “caindo” de santo. Quanto maior o tempo de iniciação o do filho-de-santo, maior o grau de autonomia, privilégios e poder que alcançará o orixá. Um pai ou mãe de santo é geralmente o mais antigo no Xangó, visto que ele ou ela foi quem iniciou aos demais. Quando o orixá age, acredita-se que ele o faz independentemente do eu social ou do pai de santo. Este comportamento é aceito como expressão da divindade sob poder religioso. (PRANDI, 1991).

Iemanjá, oxum, xangó são alguns dos orixáis que oferecem poder temporal na religião do Xangó, enquanto modelo social e psicológico. Os deuses cultuados como orixá¡s, têm força controladora nos terreiros e templos da sociedade afro-brasileira. Durante as cerimônias existem caracterí­sticas diferentes de acordo com o orixá festejado. Na cidade do Recife, Xangó designa o conjunto de cultos africanos praticados no estado de Pernambuco, para este orixá nos dias de toque são realizados em épocas afastadas uma das outras, só manifestando-se num dos seus muitos adeptos presentes nos cultos, estando todos suscetáveis de serem possuídos por seu Deus. (VERGER, 1981).

As maneiras de saudar as divindades são apresentadas por um conjunto de ações, os contos, as danças são formas de consagrar um orixá, estas ações alcançam um caráter pessoal, sensibilizando os religiosos. Em estado inconsciente se colocam como o Deus vivo, os orixáis são recebidos com louvores, e saudações particularmente outorgados a cada santo.

Os filhos de santo usam roupas características do seu orixá, adornos pessoais como joias são retiradas, para evitar acidentes durante os momentos de transe. Hoje tambêm o orixá toma um caráter individual durante uma mesma festa, os filhos de santo que cultuam determinado orixá são possuídos pelo seu Deus, satisfazendo a si, e a todos que o seguem. (VERGER, 1981. p. 74). O Xangó é uma religião onde os adeptos precisam cuidar do seu Deus, o filho de santo precisa cultuar seu intelecto, a emoção, a personalidade.

Leia a PRIMEIRA parte desta série.
Leia a SEGUNDA parte desta série.
Leia a TERCEIRA parte desta série.

 

Cleiton Nascimento
Psicólogo
CRP02.14558

Transe E/Ou Possessão: mais uma teoria sobre o tema.

Senhor Cristiano Pilako, a semanas venho acompanhando a divulgação da monografia do respeitável psicólogo. Eu como integrante do CLAP solicito que se divulgue esse trabalho a sobre transe/possessão. Acredito que o mesmo contribuirá para o bom “questionar”. Boa tarde.

Transe E/Ou Possessão: Um Enfoque Clínico

Geralmente as pessoas que se apresentam em transe (estado alterado de consciência) nem sempre serão portadoras de alguma patologia psiquiátrica. Na grande maioria trata-se da influência de elementos socioculturais na representação da realidade.

A influência da cultura nos sentimentos, afetos e comportamentos não devem ser, por si só, tomada como doença mental. Se assim fosse, um cordão de carnaval, aos olhos de outra cultura, por exemplo, poderia ser tomado como um batalhão de dementes.

Vamos então, descrever casos que comportam um diagnóstico médico e psíquico.

Alguns pacientes com Epilepsia do Lóbulo Temporal ou do Sistema Límbico podem sofrer exóticas mudanças de personalidade, tanto sob a forma aguda, durante crises (se houverem) ou, mais curiosamente, entre os ataques. A sintomatologia dessas mudanças de personalidade se dá, comumente, com episódios de êxtase místico, preocupações religiosas, compulsão em falar ou escrever sobre temas metafísicos, orações, estados de êxtase de graça (com sentimentos de bondade extrema).

Se as visões e alterações da personalidade forem muito evidentes nesses pacientes, podemos até falarem Transtorno Psicóticodevido a uma condição médica geral. Esse transtorno é caracterizado por alucinações ou delírios proeminentes, presumivelmente decorrentes dos efeitos fisiológicos diretos de uma condição médica geral sobre o cérebro.

A pessoa que vivencia uma realidade diferente e estimulada por outra pessoa, está sendo sugestionada ou influenciada. Em termos gerais, somos todos sugestionáveis. Isso equivale a dizer que o ser humano é, essencialmente, um imitador.

A força de persuasão da moda, por exemplo, é incontestável, e a própria propaganda e marketing só se viabilizam tomando por base a sugestionabilidade humana.

Mas a sugestão não tem nada a ver com o delírio e com as ideias deliróides. Nessas duas situações, francamente patológicas, a liberdade de deixar de lado o Pensamento Mágico e reassumir o Pensamento Lógico é impossível de ser feito pela força da vontade. Na sugestão, por sua vez, apesar da força do que fora sugerido é possível que a pessoa abandone esse tipo de pensamento de natureza mágica através de seu arbítrio.

Pessoas podem causar sugestões em outras, assim como ambientes também podem influir. Vejamos, por exemplo, as influências sugestivas do ambiente hospitalar, carnavalesco, militar, musical e, evidentemente, religioso.

As forças sugestivas têm vários graus de penetrância, indo da simples propaganda à lavagem cerebral. As pessoas também possuem graus variados de sugestionabilidade, desde o normal até o altamente sugestionável, esse último representado pelas personalidades histéricas.

O sucesso da sugestão está no fato de tratar-se de um apelo dirigido ao sentimento e às emoções, mais do que à razão. E será tão mais forte quanto atender necessidades emocionais. Mas, seja qual for o grau de sugestionabilidade ou de influência, como não se trata de delírio nem de ideia deliróide, será possível reassumir o pensamento realístico através do arbítrio.

Não podemos aceitar, com naturalidade, a afirmativa “não consigo” por parte do paciente. Diante disso temos duas opções: ou, de fato, ele não consegue deixar os pensamentos mágicos voluntariamente, caracterizando o delírio e não uma sugestão e, sendo assim, terá de ter obrigatoriamente outros dados clínicos; ou, certamente, se não tem esses outros dados clínicos necessários ao delírio será, de fato, uma sugestão.
Nesse caso a pessoa consegue sim, desvencilhar-se dos pensamentos mágicos, independente de afirmar que não consegue. A autossugestão é a mesma coisa que a sugestão, porém, tendo como mola propulsora à influência de elementos internos, motivados pelos valores culturais junto com as necessidades emocionais, e não apenas elementos externos, motivados por outras pessoas.

Casos de sugestão e autossugestão podem ser representados por pessoas que perderam o sossego porque viram vultos na casa, que ficam apavoradas com o aparecimento de feitiço na soleira da casa, que sentem calafrios e perturbações depois de visitarem um terreiro de umbanda. Outras vezes, são pessoas que se julgam muito doentes e que melhoraram sensivelmente quando o último exame médico apresentou resultado negativo, pessoas que saram depois de benzimentos e simpatias, e assim por diante.

Por Sílvio Loredo
Coordenador Clínico do CLAP (Centro Latino-americano de Parapsicologia),
instituição presidida pelo Pe. Oscar González-Quevedo (Pe. Quevedo),
com sede em  São Paulo.

Uma Revisão de Literatura sobre os Estudos de Transe de Possessão em Psicologia. (PARTE 03)

A religião africana: um pouco de história

A miscigenação que começou com a colonização portuguesa no Brasil no ano de 1500 deu continuidade às suas caracterí­sticas na população brasileira. Por ser um paí­s rico em etnias, foi idealizada uma ausência de preconceito racial e visto como uma democracia racial. Mas, preconceitos contra a população negra brasileira existiram, através da desafricanização religiosa. Os cultos afro-brasileiros são sistemas de crenças trazidos pelos escravos a partir de século XVI, a costa Oeste da África predominou em parte desta miscigenação. (RODRIGUES, 1935, SILVA, 2005).

Esta religião é apresentada como afro-brasileira por se originar da vivência, e dos motivos convencionalmente enraizados de uma cultura do continente africano, fazendo sincretismo com a cultura brasileira, designando-se assim como religião afro-brasileira. Entre as nações impulsionadas por fragmentação de memória étnica, desenha um modelo social econômico, estético e evidentemente cultural naquele grupo. O modelo religioso afro-brasileiro toma conta dos terreiros no Brasil dando iní­cio na cidade de Salvador com muita resistência. Posteriormente a população de Pernambuco, Maranhão, Rio de Janeiro entre outras acolhem a cultura religiosa africana. (RODRIGUES, 1935, SILVA, 2005).

O sincretismo religioso desenvolveu um papel indispensável, mesmo antes dos negros serem trazidos para o Brasil, a associação entre os deuses das várias etnias já existiam. Orixás, divindades vistas como forças espirituais humanizadas, com características fí­sicas e personalidades próprias com a possibilidade da incorporação nos devotos, característica principal nesta religião.

O culto aos seus Deuses foi de grande relevência nas religiões Afro, e o ponto central dos cultos são as festas aos orixás que são visto como Deuses, em diversos casos envolvendo possessões e sacrifícios de animais. O homem africano é por aquilo que ele testemunha os seus micros sistemas de poder temporal e ritual-religioso. Aspectos ideológicos e sistemas de organização social e cultural inevitavelmente estão manifestos na estrutura do Xangó, e nesta relação possivelmente surgem expressões da personalidade.

Os estados de Transe de Possessão estão classificados na CID-10 (Classificação Internacional de Doenças, capítulo V “Transtornos Mentais e de Comportamento: Diretrizes Clí­nicas e Diagnósticas, 1993) como F44. 3, denominados transtornos de Transe de Possessão, caracterizando-se por uma perda transitória da consciência de sua própria identidade. Na classificação americana DSM-IV (Manual Diagnostico e Estatístico de Transtornos Mentais, 1994) esse quadro aparece como transtorno dissociativo sem outras especificações, que incluem os transtornos nos quais as características predominantes são sintomas dissociativos e que não satisfazem os critérios para qualquer transtorno específico, observados como perturbações isoladas ou episódicas do estado de consciência ou identidades culturais.

A aproximação dos estudos psicológicos, antropológicos e psiquiátricos estabelecendo um paralelo com as manifestações de Transe de Possessão, colocando o sentimento religioso e cultural entre os povos, é uma grande contribuição apresentada num momento da história que marca a ação do homem africano, protagonista de seus caminhos enquanto indiví­duo e civilização. A possessão religiosa dos chamados “estados de santo” nada mais é do que a crença na manifestação de um orixá fetichista. Nos cultos, a possessão é obtida por práticas evocatórias especiais, pelo pai ou mãe de santo, por intermédio de quem o santo fala e dita as suas vontades. (RAMOS, 1940).

Próxima semana: Músicas e ritos

Leia a PRIMEIRA parte desta série.
Leia a SEGUNDA parte desta série.

 

Cleiton Nascimento
Psicólogo
CRP02.14558

Uma Revisão de Literatura sobre os Estudos de Transe de Possessão em Psicologia. (PARTE 02)

Continuando nas postagens que trarão durante este mês um trabalho bibliográfico sobre os Transes de Possessões no candomblé, apresentaremos hoje uma sí­ntese da Introdução do artigo intitulado: Uma Revisão de Literatura sobre os Estudos de Transe de Possessão nos Cultos afro-brasileiros em Psicologia.

Leia a primeira parte desta série.

____________________________________

Introdução

Foi nas primeiras décadas do século XVI até fins do século XIX que teve início a vinda de negros para o Brasil, alimentando o paí­s com mão-de-obra escrava nos vários ciclos econômicos pelos quais passou desde a sua descoberta até a sua transformação em República. (SILVA, 2005). A chegada dos escravos ao Brasil trouxe diferenças linguí­sticas, litúrgicas, mitológicas e religiosas. A Igreja Católica Romana ordenou o batismo e o sacramento dos negros, mas mesmo assim foi possí­vel desenvolver e transmitir suas tradições culturais e religiosas mantendo alguns laços com as suas heranças étnicas. Num processo aculturativo, entre nações impulsionadas por fragmentação de memória étnica, esses escravos desenharam um modelo social econômico, estático e evidentemente cultural daquele grupo. (LODY, 1987).

Vale salientar que o sincretismo religioso já existia nas religiões africanas mesmo antes dos negros serem trazidos para o Brasil, caracterizado pela associação entre os deuses das várias etnias. Os orixás são divindades que presidem aspectos da natureza, vistas como forças espirituais humanizadas, com características fí­sicas e personalidades próprias. (SILVA, 2005). Dentre estas tradições africanas o culto aos orixás foi de grande importância nas religiões Afro. Os deuses africanos se aproximavam dos santos católicos, santificados por suas virtudes, valentia, resistências, ou seja, pela sua função de vida na terra, considerados intermediários entre os homens e Deus. (SILVA, 2005).

Verger (1981), cita que São Jorge é identificado com o orixá Oxóssi, Deus dos caçadores, no Rio de Janeiro, e é ligado a Ogum, deus da guerra, compreensí­vel aos dois Orixá¡s, considerando a relação apresentada nas gravuras de São Jorge como um valente cavaleiro em ferro, armado com lança, matando um dragão enfurecido, caça predileta do Deus dos caçadores. No Brasil temos mais de uma terminologia organizada por alguns estados para a religião do candomblé. Este modelo religioso encontrou no Nordeste campo fértil para a disseminação religiosa e o termo Xangô é empregado em Pernambuco. (LODY, 1987: 12).

O orixá seria, em princípio, um ancestral divinizado, que, em vida, estabelecera ví­nculos sobre certas forças da natureza, como trovão água, vento, assegurando-lhe a possibilidade de exercer atividades como a caça, e trabalhos com metais e plantas. O poder do ancestral orixá após sua morte teria a faculdade de encarnar-se em um de seus descendentes durante o fenômeno do transe de possessão por ele provado. (VERGER, 1981).

Adentrando ao grupo, o adepto se integra numa enriquecedora expansão, passando por um conjunto de rituais que provocam no sujeito um comportamento involuntário nas atividades costumeiras da religião como situações de perdas transitórias da consciência. A crença na manifestação de um orixá, os fenômenos possessivos provocados por meios de práticas evocatórias, nos coloca em um capí­tulo importante para a reflexão antropológica, psiquiátrica, assim como psicológica, visto que os estados de transe de possessão são comportamentos aculturados, em um processo dito primitivo, que envolvem sentimentos religiosos e históricos da evolução do homem entre os povos.

Próxima semana: A religião africana: um pouco de história.

 

Cleiton Nascimento
Psicólogo
CRP02.14558

Uma Revisão de Literatura sobre os Estudos de Transe de Possessão em Psicologia.

A partir desta sexta-feira e estendendo-se para as próximas cinco semanas estarei postando parte de um trabalho realizado há alguns anos, fazendo com isto um diferencial nas postagens, ou seja, dividindo com meus leitores um artigo rico em antropologia, sociologia e psicologia. Durante oito meses estudei e escrevi um artigo que traz como titulo: Uma Revisão de Literatura sobre os Estudos de Transe de Possessão em Psicologia. Este material foi apresentado e Publicado na VIII JONIC, Jornada de Iniciação Cientifica. Mesmo sendo um trabalho bibliográfico tomei a iniciativa e participei de alguns cultos, tardes de visitação em terreiros de candomblé e entrevistas com pai de santo. Para esta primeira semana faço uma apresentação do artigo e a partir da próxima sexta-feira começo a apresentar uma sí­ntese do artigo. Uma boa viagem através desta leitura.

Ao longo dos séculos escravos foram trazidos para o Brasil, transportando sua cultura, seus ritos, deuses e suas crenças. O sincretismo religioso que se estabeleceu nesta pratica sobreviveu percorrendo manifestações do catolicismo com a cultura africana. Estes negros africanos cruzando o oceano trazem consigo na religião, comportamentos considerados curiosos levando em consideração a aculturação instaurada entre as nações, entre estes comportamentos destacaram os estados de transe de Possessão na religião do Candomblé. Através de literatura especializada dos estudos da psiquiatria, antropologia e psicologia vamos apresentar e discutir os comportamentos apresentados nos estados de Transe de Possessão dos cultos afro-brasileiros, ou mais popularmente falando no Candomblé, procurando responder se são considerados normais ou patológicos. É um estudo com embasamento bibliográfico de reflexão qualitativa sobre a visão de alguns autores a respeito dos cultos afro-brasileiros, analisando os comportamentos vividos nos dias festivos.

 

Cleiton Nascimento
Psicólogo
CRP02.14558

Sobre Timidez

O comportamento de timidez é estar sempre em autovigia, o profundo complexo de inferioridade que o tí­mido carrega tem como meta principal disfarçar esta autovigia. Pessoas tí­midas geralmente gostam de ler, acumulam sempre algo considerável do ponto de vista econômico. O tí­mido geralmente adotam atitudes visando seu interesse.

A timidez traz no comportamento diversas situações de atividades egoístas. Não revelar quanto ganha, como ganha, não dividir algumas questões financeira com o companheiro é sempre um mistério. O tímido tem a sensações que casou por acaso, e não fez uma escolha. Tem prazeres que jamais vai compartilhar com o cônjuge, afinal o anonimato deste prazer é um prazer, enorme e irrevelável.

A timidez é uma vergonha de âmbito social, obtendo o tí­mido a sensações de poder até mesmo quando não divide os sentimentos com o outro, ou seja, os sentimentos são seus, é o comportamento egoísta comentado anteriormente. Vantagens nas situações corriqueiras do dia-dia são provas visíveis de um comportamento de timidez. Mais adiante podemos dizer que a timidez é a prova maior de uma ação humana próxima da amargura, o tímido é um péssimo representante da alegria, o tímido sempre tem uma justificativa de sua importância pessoal, e essas justificativas sempre estão apontando para o meio social que não lhe proporcionou potência, não lhe ensinou como deve agir, como se deve fazer. Rejeita o outro por não ter lhe “ensinado” como agir, como fazer, seria dizendo a grosso modo, a resposta de um comportamento de timidez.

Próxima semana nos encontramos.

 

Cleiton Nascimento
Psicólogo
CRP02.14558

O que é Viver?

Vivemos sem a certeza de exatamente saber onde vamos terminar, onde vamos parar o que vamos construir; a certeza que temos na vida é que tudo muda e esta mudança depende de nós. Se for para sorrir, sorria; para chorar, chore; cada pessoa tem uma maneira especial e subjetiva de ver a vida, e esta maneira de ver e viver a vida é construída constantemente, e isto faz parte da estrutura humana.

É medo ou preguiça que coloca muitas pessoas no estágio do apenas existir e não do realmente viver? Muitos reclamam da vida e não adotam novas atitudes para mudar, vivem como se estivesse em um carrossel, sempre repetindo as mesmas coisas. O sentimento de integração precisa está presente entre o individuo e a vida, que é feita para se conquistar, e vencer.

Antes de sair de casa, sorria para você mesmo, convide-se para as emoções, surpresas e aprendizados que a vida tem a oferecer, não fugindo da realidade, mas também não levando a vida tão a serio. Faça o que é para ser feito, viva o que tem para viver, escute aquela música, converse com aquela pessoa, sente-se numa praça, sinta o vento, escute o silêncio, durma mais tarde, acorde mais cedo, prepare um prato diferente, mande uma mensagem para alguém, escreva algo e depois guarde, ou rasgue. Saia durante a noite se costuma sair durante o dia, ou pela manhã se costuma sair à noite. A vida você já tem, o que talvez esteja faltando terá quando realmente começar a viver.

Até próxima sexta

 

Cleiton Nascimento
Psicólogo
CRP02.14558

Diblando uma Paixão

Na maioria das músicas que escuta, na maioria das frases que lê, em quase todos os filmes que vê, lembra alguém. O telefone toca, é a pessoa amada. Com facilidade podemos identificaria este comportamento como de alguém apaixonado, sentimento que nos faz considerar no outro o que ele representa para nós, dominando a imaginação.

O apaixonado fala só, e chora sem razões aparente. Estar apaixonado é como se estivesse “privado de viver”, vejo na paixão um sinal do mal no comportamento do individuo, o apaixonado sente-se livre, acreditando naquele sentimento como eterno. Poderíamos considerar como um comportamento nocivo por levar em consideração o sujeito que passa a maior parte do seu tempo com os pensamentos ocupados em uma única razão; outra pessoa, o único telefonema que realmente agrada e lhe deixa feliz é o da pessoa a qual foi projetada todas as suas fantasias e sonhos.

A paixão é uma ação, faz o sujeito agir diferente de seu comportamento habitual, é a expressão da “liberdade” no homem. Para o filósofo Platão, a paixão visa explicar que o homem não se preocupa com a razão nele oculta; ignorar a razão é o sentimento da paixão.
A razão é uma arte, pouco comum, da paixão para a razão é uma atitude impossível, a presença da paixão pode ser amenizada, controlada, sublimada, mas “alguma coisa” fica no pensamento, a ação da razão durante o sentimento de paixão é pouco comum.

A representação do outro na nossa vida, o que nós construímos do outro, a dependência, a conivência; “deixar” o sentimento da paixão eliminar a razão implica na desconstrução de um saber de um conhecimento, colocando o apaixonado na pior, mesmo ele não querendo este mal para si.

Pode ser possível evitar a paixão? A resposta imediata é não; afinal sentimentos não se fiscalizam, é um afeto sem o domínio do próprio impulso; quando se percebe já aconteceu, o outro já domina seus pensamentos, suas ideias, seus sonhos.

Como evitar este mal? Não considerando o plano da razão, mas em um trabalho pessoal de auto-reflexão o sujeito consigo mesmo pode conseguir respostas, caminhos, terrenos para suas dúvidas, sofrimentos, e muitas vezes lágrimas indesejáveis, e observar no outro, outra pessoa, e não a formação constituída de você mesmo. Na ação persuasiva onde você conversa com você mesmo, a paixão escapa, e torna-se “transparente” apesar de que vai exigir certo amadurecimento, mas se estamos vivos o risco de se apaixonar não fica difícil acontecer.

Até próxima semana

 

Cleiton Nascimento
Psicólogo
CRP02.14558

Sobre o Transtorno de Personalidade com Disfunção Cerebral

Para essa semana trago um tema pouco comentado, mas bastante presente em nosso cotidiano, vamos dialogar sobre algumas alterações comportamentais aos transtornos de personalidade, sendo estes transtornos relacionado a doenças cerebrais.

As atitudes de uma pessoa são observadas por diversas esferas, e a personalidade é o eixo primordial na estrutura dessas atitudes, e quando encontramos transtornos comportamentais, é na personalidade, possivelmente alterada, que encontramos o principal fator para a desorganização. No próximo parágrafo serão expostos alguns sinais comportamentais que possivelmente apresentam transtornos de personalidade, mais especificamente relacionada a lesões e disfunção cerebral.

Mudança fácil no comportamento como irritabilidade ou expressões de raiva e agressão assim como apatia, necessidades e impulsos que são reprovados pela sociedade como, por exemplo, de uma hora para outra roubar, comer muito e vorazmente, ter desconfiança e preocupações excessivas com determinado tema, a religião é o mais frequente, o individuo está excessivamente expressando o que seria certo e errado no seu comportamento como religioso.

Outro sinal bastante comum nesse tipo de transtorno são as alterações da velocidade da produção de linguagem e prolixidade. Neste caso a pessoa passa a ter na fala uma repetição viscosa para uma determinada situação, posso colocar como exemplo o comportamento de uma pessoa que repetidamente está prometendo vingança pela traição conjugal, é um ponto delicado na escuta clínica em situações de transtornos de personalidade com disfunção cerebral.

Estes comportamentos são significativos e caracterizados por ações pré-mórbitas, são alterações no comportamento causadoras de emoções, afetando os pensamentos, os impulsos e a necessidade pela morte. Esta necessidade pela morte é justificada pelas cobranças e conflitos do dia a dia, com isso alterando o significado das coisas, tornando-se distorcido da realidade. Estes comportamentos muitas vezes são interpretando pela sociedade como atitudes de pessoas estressadas. O mais viável em situações semelhante às descritas nesse texto é procurar um profissional, irá ajudar bastante.

Próxima sexta-feira nos encontramos

 

Cleiton Nascimento
Psicólogo
CRP02.14558

Educação… sem limites

Uma das coisas mais complexa na vida é a educação de uma criança, pois demanda da atenção do responsável por um tempo considerável, não estarei comentando aqui sobre a educação como um todo, afinal recebemos educação até os últimos dias de nossas vidas, vou expor apenas alguns comentários sobre as questões relacionadas é educação infantil.

Diversos elementos apontam para a falta de limites na educação contemporânea das nossas crianças dentre estes destaco os valores éticos e morais que estão sumindo de nosso contexto social e familiar. Outro ponto que precisa ser pensado e vem acontecendo com frequência é a ausência dos pais na vida da criança, por razões como, carga horária dedicada ao trabalho, por vezes seus filhos passando horas em creches, babas e avós.

Por estas razões alguns pais vivem com sentimentos de culpa muitas vezes adotando um comportamento vazio em relação é educação e afeto, visando compensar esta falta adotando atitudes comportamentais sem limites e abrindo espaço para as crianças fazer e dizer o que quiser, quase sempre sem serem questionadas.

Afinal constituem um pensamento justificável para o ponto de vista do educador visto como: “Quase não participo da vida deles e ficar impondo atrapalha ainda mais minha relação com meus filhos”. Mas é visível que estas atitudes são apenas para justificar a falta, mas o que se precisa mesmo é realmente adotar novos hábitos na educação familiar e deixar de pensar exageradamente que tudo pode causar traumas quando precisamos mesmo é estabelecer limites, usando o bom senso e boas regras, tropeços podem ocorrer pelo caminho, mas persistir nos valores éticos e na boa convivência é o mí­nimo e o ideal numa educação infantil.

Até a próxima sexta-feira.

 

Cleiton Nascimento
Psicólogo
CRP02.14558

Um relato contra o preconceito Homossexual

Estamos de volta com este assunto que instiga bastante, durante a semana ouvi e li pontos de vistas dos mais variados e alguns podemos dizer que irrealistas, mas muitos destes discursos embasados no contexto social. Dando continuidade ao tema trago uma discussão sobre o homossexualismo, procurando clarear, por pouco que seja este comportamento, que ainda é um tabu coletivo.

No texto da semana passada a Homofobia aparecia para explicar o comportamento de pessoas com dificuldades de aceitação do homossexualismo. E muito próximo àquela ideia encontramos também quem tema ao comportamento homossexual pela ameaça a família tradicional, mais ainda, ao futuro da humanidade. A cada ideia apresentada é como surgisse uma justificativa para o preconceito, é sabido tomarmos conhecimento que a homossexualidade é apenas mais um comportamento existente na natureza.

Qualquer espécie animal têm hábitos homossexuais, desde os insetos aos mamíferos, e não é de hoje que uma abelha fêmea apenas queira sexo com outra abelha fêmea, assim como um gato faça sexo com outro gato e a espécie humana não fica de fora. Para fundamentar o comportamento homossexual dos animais encontramos relatos de que os bichos se confundem, ou seja, um cão não reconheceria uma cadela, uma borboleta macho não reconheceria uma borboleta fêmea.

Uma coisa é certa, a “origem” da homossexualidade é incerta, cientistas em todo o mundo seja na área da biologia, psiquiatria, genética e psicologia procuram e continuam nesta áurea de mistério, a psicologia tem sua contribuição encontrando grande respaldo para este sentimento, que possivelmente estaremos dialogando neste espaço em outro momento, de antemão podemos ver a homossexualidade por um olhar mais amplo, quem procura parceiros do mesmo sexo, é porque aprecia, ele ou ela não poderia sofrer por isto, afinal “somos tão evoluídos”

Até a próxima sexta-feira

 

Cleiton Nascimento
Psicólogo
CRP02.14558

O que é Homofobia?

No último dia 17 de maio foi comemorado o Dia Internacional Contra a Homofobia, uma razão a mais para discutirmos este assunto hoje. Vou tentar esmiuçar ao máximo este mal social que sempre existiu, mas a cada dia parece tomar mais espaço. Lá no início dos anos setenta o comportamento preconceituoso com pessoas que sentem desejos por parceiros do mesmo sexo ganhou nome e designação caracterizada como fobia, ou seja, quem tem preconceitos com gays pode considerar como uma doença, e mais do que isso, hoje nos Estados Unidos este tipo de comportamento adquire nova nomenclatura a homoignorância, mas afinal o que é a Homofobia? Por qual razão alguns aceitam e outros não?

Qualquer sentimento de preconceito, ódio e repugnâncias, costuma instalasse mesmo que de maneira inconsciente na mente do individuo que se encontra com alguma indefinição sobre determinado caso, para a Homofobia, é a identidade sexual do homofóbico que está indefinida, gerando dúvidas, revolta e angustias e com isso transferindo seu ódio para quem conseguiu assumir a sexualidade.

Podemos a grosso modo expor da seguinte maneira: para reafirmar a heterossexualidade o mecanismo de defesa que encontra é machucar, odiar e até matar o que está causando sentimentos e sensações satisfatórias mas que não pode viver, afinal é reprovado pelos grupos dos quais convive culturalmente (amigos e parentes), religiosamente (crenças) e ideologicamente (a maneira como pensa e age diante da sociedade). Outra questão que muitas vezes surge na clínica são os casos de depressão no homofóbico, estes casos surgem dos conflitos internos que estão em guerra consigo mesmo sem externar estas angustias que vive. Em tratamento psicológico é possível organizar esta formação de identidade insatisfatória, buscando uma organização sexual e consequentemente psí­quica. Pela riqueza do tema volto com este assunto na próxima sexta-feira.

 

Cleiton Nascimento
Psicólogo
CRP02.14558