
No ano de 1845, em fevereiro, no bairro do Recife, na capital da Província de Pernambuco, nasceu Antônio Estevão de Oliveira. Matriculou-se na Faculdade de Direito do berço natal, aos 18 anos de idade, e no ano de 1867, figurando ao lado de José Higino, Generino dos Santos, Maciel Pinheiro, Augusto Guimarães, o cunhado de Castro Alves, Gonsalves Ferreira e do sirinhaense João Barbalho Uchôa Cavalcanti, o futuro constitucionalista brasileiro, recebeu Antônio Estevão, a carta de bacharel. Iniciou a vida pública na promotoria de justiça de Quixeramobim, na província do Ceará. Moço, inteligente, altivo, não entregou os pulsos às algemas da política, e abandonando, airosamente, a cadeira de promotor, regressou à terra onde nasceu.
E ao lado de José Bernardo Alcoforado, advogado de nota, escreve um cronista, Antônio Estevão, começou a pelejar, no fôro, alcançando, rapidamente, porque Deus lhe havia concedido a graça da eloquência, grandes e retumbantes vitórias, nas tribunas do júri. Conquistou renome, também, no cível e no comercio. Foi, no seu tempo, figura de prôa, na família dos advogados do Recife.
Político na monarquia, servindo à Corôa porque servia à pátria, ouviu, sempre, a voz de comando das fortalezas liberais. E sustentando, bravamente, as ideias de seu partido, ingressou, aos 34 anos de idade na Assembleia de sua província, honrando, pelo caráter, pela coragem e pelo patriotismo, o mandato livre do povo.
E quando deixou, em 1885, a cadeira de deputado, em que fora grande, foi para tornar-se maior, na praça pública, defendendo a liberdade dos escravos. Nessa abençoada e memorável campanha da abolição da escravatura negra, a mais nobre das que se processaram na monarquia, e a mais cristã, em toda a terra brasileira, pertenceu, Antônio Estevão, pelo espirito fulgurante e pelo coração amável, à geração dos batalhadores românticos. Não combateu, porque lhe adviesse, da refrega, fama e glória; bateu-se, porque lhe era doce o sacrifício, na libertação de uma raça.
Proclamada a República, voltou, em 1890, à Assembleia provincial, para defender, como outrora, o direito e a justiça. O regime político havia sido mudado, o deputado, porém, era o mesmo que ali estivera, em 79, sereno nos debates, e independente nas atitudes.
E em 1895, aos 50 anos de idade, obteve, na Faculdade de Direito de sua terra natal, em concurso brilhante, a cadeira de prática do processo. Mestre, foi um dos ídolos da mocidade acadêmica. Na cátedra, era eloquente, elegante, e por vezes, irônico. E daí a admiração comovedora dos discípulos.
Morreu, na cidade de Olinda, em 25 de fevereiro de 1904, nove anos depois da última vitória, no mundo largo da ciência jurídica. Adormeceu, nesse dia, um varão pernambucano.
Antônio Estevão de Oliveira, advogado, jornalista, orador, parlamentar e professor de direito, merece as homenagens da geração de hoje. Foi um homem de bem.
Célio Meira – escritor e jornalista.
LIVRO VIDA PASSADA…, secção diária, de notas biográficas, iniciada no dia 14 de julho de 1938, na “Folha da Manhã”, do Recife, edição das 16 horas. Reúno, neste 1º volume, as notas publicadas, no período de Janeiro a Junho deste ano. Escrevi-as, usando o pseudônimo – Lio – em estilo simples, destinada ao povo. Representam, antes de tudo, trabalho modesto de divulgação histórica. Setembro de 1939 – Célio Meira.
