EU VI O MAR

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Embora estivesse a negócio, eu vi o mar. O automóvel contornava a orla marítima de Boa Viagem, e senti a vibração coronariana e pulmonar e renal de estar a passear. Tudo mudava. Os negócios a resolver submetidos à vontade de nadar, uma espécie de ovação aos versos de Fernando Pessoa: Navegar é preciso, viver não é preciso.

E aí, eu me lembrei de que o mar me faz pensar em Deus, o que me encoraja a viver e, talvez, me encoraje a morrer. E me acorreram duas outras orações de espetacular inspiração: As árvores são os braços que sustentam o céu, e o mar é o espelho líquido do infinito.

Passavam as árvores, como criaturas acenando, e o sol derramava sua luz aloirada sobre o ondear do oceano.

Boa tarde, Recife, o meu coração ia cantando e relembrando velhos carnavais, clarins, velhos são joões, rojões e arraias, monumentos antigos, sargaço e quintais.

Veio o vento e suspendeu o vestido da banhista displicente que nunca saberá o quanto fiquei contente.

A vida é assim mesmo, uma vez vivos no mundo, não tem mais jeito, o jeito que tem é viver.

Oceânico abraço!

Sosígenes Bittencourt

FALTA DE EDUCAÇÃO PODE LEVAR À MORTE

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A proposital degradação da família e a falta de instrução escolar de qualidade podem levar à morte.

No meu tempo, menino não usava arma de fogo, não fumava maconha nem namorava nu. Aos 10 anos, eu não podia manusear uma gilete para fazer ponta de lápis, porque poderia levar um talho no dedo; não podia chegar em casa com um limão sem dar explicação.

O que mais nos assusta: um policial atirar num menino de 10 anos, ou um menino de 10 anos roubar um automóvel e atirar num policial?

Bom salientar que bala de revólver, disparada de mão de menino, também mata. E a pergunta é a seguinte: Você daria sua vida para não matar um menino armado, que houvesse atirado em sua direção?

Ademais, como avaliar um tempo em que você tema, ao mesmo instante, um policial ou um menino de 10 anos circulando por entre a gente.

Investigativo abraço!

Sosígenes Bittencourt

NASCIMENTO DE AGOSTO

Eu ontem, eu vi agosto nascendo. Agosto frio, brandamente açoitado pelo vento. Mês da procura de alguém para nos esquentar, pois não há melhor agasalho do que o abraço da pessoa amada. 
Um agosto, eu namorei uma mulher morena, que me promovia a sensação de me aquecer no tição de sua pele. 
Ninguém é capaz de viver tão sozinho, temos de ter alguém para nos fazer carinho. 
Um dia, o poeta Alfred de Vigny ressaltou:

Que me importa o dia,
Que me importa o mundo,
Eu direi que eles são belos
Quando os teus olhos o disserem.
Caloroso abraço!

Sosígenes Bittencourt

Fragmentos

Os norte-americanos estão querendo saber quantos hectares tem a Amazônia. Devem estar querendo se apossar de algum terreno aqui no Brasil.

Tudo que o norte-americano considera Patrimônio da Humanidade manifesta interesse em proteger. Por que não considera as crianças africanas um Patrimônio da Humanidade?

Sosígenes Bittencourt

SÃO PEDRO

São Pedro, segundo a tradição, teria morrido em cerca de 67 d.C., e foi um dos doze Apóstolos de Jesus.

O seu nome original não era Pedro, mas Simão. Cristo apelidou-o de Petros – Pedro, nome grego, masculino, derivado da palavra “petra”, que significa “pedra” ou “rocha”.

Jesus ter-lhe-ia dito: Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e o poder da morte não poderá mais vencê-la.

Pedro tem uma importância central na teologia católico-romana. É considerado o príncipe dos apóstolos e o fundador, junto com São Paulo, da Igreja de Roma (a Santa Sé), sendo-lhe reconhecido ainda o título de primeiro Papa.

PAPA quer dizer: Pedro Apóstolo, Príncipe dos Apóstolos.

Sosígenes Bittencourt

WESLEY DOAÇÃO

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Nem todo Wesley é Safadão como se imagina. Depois de tanta arenga político-econômica por causa da bagatela de 575 mil reais, Wesley resolveu doar a mixaria aos pobres.

Dá até impressão de que Caruaru precisa mais de Safadão do que de safadeza político-eleitoral. Aliás, há quem acredite em mutreta na doação, exatamente por causa de contrato de show para São João em tempo de campanha para eleição.

Tem jeito?

Sosígenes Bittencourt

Paulo Nascimento e a Banda Real

Paulo Nascimento e a BANDA REAL no CD “Me Faz Feliz“, com a composição deJoão Caverna, a música COCO DA CABRA, com a interpretação de Alcir Damião, Nici e Paulo Nascimento.

[wpaudio url=”http://www.blogdopilako.com.br/wp/wp-content/uploads/bandareal.mp3″ text=”Banda Real – Coco da Caba” dl=”http://www.blogdopilako.com.br/wp/wp-content/uploads/bandareal.mp3″]

Aldenisio Tavares

SÃO JOÃO – NO TEMPO DE EU MENINO

Das três maiores festas anuais, o São João é a mais singela e tradicional. O Ano Novo nos trespassa de tristeza, porque sugere a contagem do tempo e amontoa os mortos. Abrimos álbum de retrato e botamos pra choramingar. O Carnaval é uma festa perigosa, de extravasar frustrações. O pessoal só falta correr nu pela rua. 

O São João é uma festa mais pacata, que relembra nossas tradições mais atávicas, nossas raízes culturais. Lembro-me do São João das ruas sem calçamento. O mundo parecia um terreiro só. As mulheres cruzavam as pernas, enfiavam as saias entre as coxas, para ralar omilho e o coco, enquanto os homens plantavam o machado nos toros de madeira para fazer as fogueiras. À tardinha, a panela virava uma lagoa de caldo amarelo onde fervia o maná das comezainas juninas. A meninada ensaiava o jeito de ser homem e mulher. De chapéu de palha, bigode a carvão e camisa quadriculada, era quando podíamos chegar mais perto das meninas sem levar carão nem experimentar a sensação de pecado. O coração se alegrava quando sonhávamos com a liberdade de adultos que teríamos um dia. Batia uma gostosíssima impressão de que estávamos bem próximos de fazer o que não podíamos fazer. Os ensaios de quadrilha relembravam a tristeza do último dia. Pois um ano durava uma eternidade, as horas eram calmas, podíamos acompanhar a réstia do sol e contar estrelas. Pamonha, canjica e pé de moleque eram tarefas de dona de casa prendada, de quem o marido se gabava. Tudo era simples e barato, ninguém enricava com a festa. A novidade era a radiola portátil, e os conjuntos eram pobres de tecnologia, mas os instrumentos ricos de som e harmonia, manuseados com habilidade e gosto, na execução do repertório da festa do milho. Quando São Pedro se ia, ficava um aroma de saudade na fumaça das derradeiras fogueiras e no espocar dos últimos fogos.

Sosígenes Bittencourt

A GLAMOUROSA CHUPETA DO SATANÁS

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No tempo de eu menino, ninguém sabia que cigarro entupia os alvéolos pulmonares, provocava enfisema, dava câncer. Quanto mais, menino.

Papai comprava cigarro americano importado e colocava no guarda-roupa. Tinha Half and Half, Marlboro e Pall Mall. O cheiro era de chocolate, e papai dava belas baforadas depois do café, sentado numa cadeira de sofá pé de palito, à la Hamphfrei Bogart. Às vezes, ouvindo o jogo do Sport Club do Recife, abraçado com um rádio transistorizado. Também desconhecia que cigarro servia para aplacar ansiedade, era ansiolítico. E eu ficava ansioso para experimentar sem jamais ter inalado.

Um dia, eu entrei no seu quarto, e a porta do guarda-roupa estava entreaberta. O cheiro de chocolate incensava o cubículo. E lá estavam as carteiras de cigarro empilhadas. Meticulosamente, pé ante pé, puxei um canudinho do maço e corri para o quintal. Esfreguei um fósforo na lateral da caixa e acendi um Malboro. A cabeça ficou zonza, o mamoeiro balançou, e o vento esfriou sob o sol escaldante da tarde.

Pronto! Estava fundado um vício que durou 40 anos e me brindou com uma falta de ar, o que me fez definitivamente largar a glamourosa Chupeta do Satanás.

Enfisematoso abraço!

Sosígenes Bittencourt

PITACO ESPORTIVO – Peru 1, Brasil 0

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Aos 95 anos, o jornalista Hélio Fernandes ainda diz que “No Brasil, o dia seguinte sempre consegue ficar um pouquinho pior do que a véspera.” É assim, ultimamente, a partir da Delação Premiada; foi assim no dia em que a Seleção Brasileira saiu da Copa América, perdendo para o Peru, que nem uma ciranda de galinhas estonteadas.

No Peru, até os recém-nascidos conhecem a sua seleção, como nós sabíamos escalar a nossa, na Copa de 70, quando fomos Tricampeões do Mundo. Hoje, nem os jornalistas de beira de gramado sabem.

E o Brasil segue a sua ‘via crucis’ de derrotas. Ou seja, de repente, um país considerado bom DE bola consegue provar que não é bom DA bola. Ou seja, não tem juízo.

É claro que nossos jogadores revelam seus virtuosismos quando treinados em equipes organizadas, cientificamente calculadas no mundo europeu. Porém, uma vez convocados, às vésperas de uma contenda tática, não podem se converter em um time de futebol, revelando-se um bando de jogadores.

Também conveniente lembrar que os deuses são eternos no Olimpo. Para os gregos, os mitos ainda vivem, mas os deuses do futebol têm prazo de validade, não são eternos; suas habilidades veem-se submetidas aos limites do corpo sob o desgaste operado pelo tempo.
Dunga, o mais jovem anão de Branca de Neve, continua com a mesma idade, mas o nosso treinador já está bancando o tolo, ameninado como o do conto, mas real.

Desmiolado abraço!

Sosígenes Bittencourt