RECORDAR É VIVER – ESCONDE-ESCONDE

Eu continuo solteiro e brincando de esconde-esconde. Só que com meninas da Terceira Idade.

Só há um tempo que dura pro resto da vida: a velhice. Portanto, temos de nos tornar autoeficazes. Eu estou perfeitamente em forma para brincar de esconde-esconde, mas não com uma adolescente desesperada e sem graça.

Estamos na idade da sabedoria, fazer tudo com qualidade e sentimento. É preciso acordar a criança que há em nós, o jovem que há em nós, mas com a experiência que temos. Não fomos jovens com a cabeça que temos, mas podemos reinventar a juventude com a cabeça que temos.

Nossa CRIATIVIDADE vem das proibições de nosso tempo, quando urinar na rua era falta de educação e sexo era pecado. Mas, ninguém se privava do friozinho na barriga. Todo rebuliço no coração, a gente pensava que era a Flecha de Cupido. Depois pedia perdão. O medo deDeus produziu muitos poetas.

Sosígenes Bittencourt

OS ABUTRES DE GARANHUNS OU OS COZINHEIROS DO DIABO

Nem o Conde Drácula, que chupava sangue humano para sobreviver, deglutia papinha de carne de defunto. Drácula era mais higiênico, menos seboso, chupava gente viva, saboreava tudo fresquinho. O Vampiro da Transilvânia penteava os cabelos, andava de paletó engomado.

Certa vez, uma moradora de Olinda deglutiu um seio putrefato com xerém, que encontrara num lixão, mas não sabia. Coitada, ficou cheia de nojo depois da fuxicada.

Os abutres de Garanhuns são diferentes. Contratam babá para tomar conta de uma menina, abatem-na a cacete e faca peixeira, esquartejam, retalham, para fazer rosbife e salgadinho. A menina, considerada uma deusa, também se alimenta da suculenta carne de defunto.

Diz que a Scotland Yard, a polícia metropolitana londrina, andou dando tiro de cadaverina para repelir convulsão social, espalhar tumulto de rua. Acabou-se. Nem os policiais aguentavam a fedentina.

Os urubus de Garanhuns cortam a carne – nem sei se lavam, nem sabemos se cheiram – vão logo preparando as refeições. Três cidadãos garanhunhenses, sentados na praça, barrigudos, jogando dominó, comeram empadas e coxinhas, recheadas de carne moída de cadáver. Cadáver quer dizer “carne dada aos vermes”. Os tapurus eram eles. Que seboseira…

Como se trata de um triângulo amoroso, seu Jorge, Bruna e donaIsabel devem ser tarados. Misturam sexo com sangue coalhado, ritual de sacrifício e carne podre. Como também preparam tira-gosto, são manicacas de Belzebu, cozinheiros do Diabo. Será que tomam banho, escovam os dentes, botam desodorante nas axilas. Ou têm bafo de múmia, catinga de sovaco, intimidades fedorentas? Onde serão encarcerados? Melhor sepultá-los juntos, para uma transa sensual, essa trupe de papa-defuntos.

Sosígenes Bittencourt

BILU BILU BILU BILU

Se Dilma fica contente,
e Aécio, jururu,
bilu bilu bilu bilu

Se o dragão da inflação
incendeia a nação, gerando maior aflição.
bilu bilu bilu bilu

Se a saúde adoece, a insegurança cresce,
e a educação esmorece,
bilu bilu bilu bilu

Se há fraude no ENEM,
e ninguém nem nem,
bilu bilu bilu bilu

E se o povo arrocha Pablo,
arrochando-lhe tutu,
bilu bilu bilu bilu

Sosígenes Bittencourt

O PROBLEMA DE CADA UM

O camarada acordou, apavorado, com a mulher cutucando ele e fazendo um comunicado:

– Êi, êi, você sabia que a empregada aqui de casa está grávida?
– Problema dela!

– Mas, você sabia que ela disse que o menino era seu?

– Problema meu!

– Êi, e eu, tua mulher, como é que fico nessa história?
– Problema seu! Não vamos misturar os problemas.

Sosígenes Bittencourt

ENEM, NEM TANTO

Às vezes, eu sou acusado de meter o bedelho onde não sou convidado. Mas, matutando sobre o ENEM e outras práticas examinadoras e educativas, observo alguns aspectos que preciso desembuchar. Por exemplo, nunca entendi por que tanto assunto no crânio de um aluno de Ensino Médio. Ademais, a profundidade com que são cobradas as matérias, a exigir raciocínio em nível universitário. O adolescente não pode com tanta coisa. Obviamente, não me refiro a gênio nem excepcional, falo sobre o comum dos mortais. Nem mesmo um universitário é pressionado a armazenar tamanha salada de conhecimentos. E para dirimir qualquer dúvida sobre o que denuncio, eu pediria aos fazedores de jornadas vestibulares que se submetessem a essas sabatinas e publicassem suas notas. Já meditaram?

Aquele abraço!

Sosígenes Bittencourt

ROSÂNGELA – A MENINA DE PEDRO PEIXE

Esta fotografia de Rosângela Peixe de Moraes, a menina de seu Pedro Peixe, da Sorveteria, me rejuvenesce. Não há nada mais comparável à Rosângela que conheci do que esta fotografia, nada mais original. É desta garota em preto e branco que me lembro.

Ao contemplá-la, posso adivinhar-lhe a voz sorridente, ecoando do passado pelos refolhos da memória, na esquina entre a Rua Saldanha da Gama e a Demócrito Cavalcanti. Insuportavelmente jovem!

Sosígenes Bittencourt

O beijo

O beijo mais ensaiado de todos os tempos foi aquele dado pela atriz Grace Kelly em James Stewart no filme “Janela Indiscreta”, de Alfred Hitchcock. Foram necessárias 87 repetições da cena para satisfazer o diretor, cuja exigência por perfeição era quase tão célebre quanto seus filmes.

Comentário: Foi tanto glamour e tanto desejo exibidos, que não nasceu menino porque estavam vestidos.

Sosígenes Bittencourt

O bom tratamento

O ser humano é cativo do bom tratamento.
Há diferença entre VER e OLHAR, OUVIR e ESCUTAR.
Olhar é ver com atenção. Escutar é ouvir com atenção.
Há quem conquiste, mostrando.
Há quem conquiste, olhando.
Há quem conquiste, falando.
Há quem conquiste, escutando.
A paciência é a maior das virtudes,
porque não há virtude sem paciência.

Sosígenes Bittencourt

LUA E MÃE NINANDO MENINO

Lá fora tem uma lua no céu.
Quem viu a lua?
A mãe pega o bebê, põe no braço e começa a cantarolar: – Cadê a lua, meu filhinho? Cadê a lua?…
E o menininho balançando o cocãozinho, como se procurasse alguma coisa no céu.
– Olha a lua, meu filhinho… Cadê a lua?…
E o menininho levantando o cocãozinho, como se entendesse um pouquinho.
– Luuuuuuuuuuuua… Luuuuuuuuuuuua… Cadê a lua?…
Pão pra lua!… Pão pra lua!… Pão pra lua!…
E a lua lá no céu…

Sosígenes Bittencourt

RECORDAR É VIVER

Maria Betânia Vitoriano Pereira – A menina de dona Jucélia

Eu conheci, no curso Ginasial, as 7 Maravilhas do Mundo Antigo: A Estátua de Zeus, O Colosso de Rodhes, o Templo de Ártemis, O Mausoléu de Helicarnasso, As Pirâmides de Gizé, O Farol de Alexandria e Os Jardins Suspensos da Babilônia.

Essa menina de dona Jucelia é uma das 7 maravilhas de minha adolescência.

Essa menina de dona Jucélia não me permite ser um adulto definitivamente maduro, vez por outra me rejuvenesce, me adultesce, fazendo-me adultescente. Ela descongela, em mim, um menino que hibernava, alargando meu passado e me distanciado da morte às vésperas do crepúsculo de minha existência.

Sosígenes Bittencourt

SEIOS EM PROSA E VERSO

Numa laureada paródia, chamada “As flô de Puxinanã”, o poeta Zé da Luz descreve três mulheres que conheceu, das quais desejava morrer nos braços da mulher dos dois “cuscús”. Eis a revelação no seu linguajar folclórico e debochado.

Inscuiendo a minha cruz
prá sair desse imbaraço,
desejei, morrê nos braços,
da dona dos dois cuscús!

Certa vez, o sociólogo Gilberto Freire referiu-se a CAJUS, comparando-os a SEIOS de moça bonita. Aqui, em casa, há uma minicuscuzeira que reproduz até o bico do peito na guloseima de milho. Obviamente que o caju poderá ser chupado, numa alegórica amamentação botânica, enquanto o cuscuz só poderá ser mastigado ou sorvido ao leite.

Sosígenes Bittencourt

LEITURA DA REALIDADE

É preciso fazer boa leitura da realidade. Porque o mal que se percebe pode ser o princípio de um bem a ser percebido.

Quando o náufrago construiu sua casinha de palha para se abrigar da tempestade, a casinha pegou fogo. Ele, apavorado, queixou-se de Deus. Aí, Deus apresentou-lhe um navegador para salvar-lhe a vida o qual havia avistado a fumaça lá do oceano. Quer dizer, o náufrago percebeu um mal no fogo, porque não percebera o bem que havia na fumaça.

Sosígenes Bittencourt

Quem pode perdoar?

O grande equívoco é que quem pode perdoar é quem pode castigar, é o Juiz, o Carrasco, o Papa. Quem é castigado não pode perdoar, quem está com o pescoço sob a guilhotina não pode perdoar o carrasco, não lhe cabe o perdão. O perdão do torturado, do moribundo não tem cabimento, é subserviência, pura covardia.

Eu só posso perdoar o meu malfeitor, se eu inverter a posição, tomar-lhe a arma e apontá-la para a sua cabeça. Perdoar a quem deseja me matar é filosoficamente fora de sentido.

Sosígenes Bittencourt

PASSA O DIA DE FINADOS

Passa o Dia de Finados
tão rápido quanto fora a vida dos finados.


Ninguém desejaria que os finados voltassem
ao mundo para findar outra vez.
Já nos basta morrer uma vez.
Porque só os finados estão livres da morte.
Sobretudo, do medo da morte.


Seria suprema malvadeza do destino nos impor
mais de um fim, embora morra nossa infância,
nossa adolescência, nossa mocidade
e sigamos vivos, vivos até o fim derradeiro.


Passa o Dia de Finados.
E perpassam os finados que conhecemos.
Parece até que os vemos.
De preferência, sorrindo. O mesmo jeito,
a mesma voz, os trejeitos, o figurino.
Nós é que ficamos tão diferentes. 

Talvez, nem soubéssemos conversar com os finados,
como antigamente.

Sosígenes Bittencourt

CASO DE NÃO SE CASAR

– Por que o senhor não se casou ainda?

– Medo de ter que fazer feira e levar menino

pra parque de diversão.

– Por que o senhor não se casou ainda?

– Porque só caso por amor.

– E o senhor nunca amou?

– Amei.

– E por que não se casou?

– Amei pouco.

– Por que o senhor não se casou ainda?

– Por ouvir conselho de quem se casou.

– Por que o senhor não se casou ainda?

– Porque já estou ficando velho.

– E por que não se casou quando estava novo?

– Era muito novo naquela época.

– Por que o senhor não se casou ainda?

– Por causa das outras.

– Que outras?

– Caso com uma? E as outras?

Sosígenes Bittencourt

Recordar é Viver: No tempo de eu menino

Dentre as figuras lendárias e bizarras das quais tive notícias e algumas conheci, em Vitória de Santo Antão, espero que alguém relembre MANÉ CAPÃO, MÃO DE ONÇA, CAFINFIM, PAPA-RAMA, DIDI DA BICICLETA, BIU LAXIXA E O CORCUNDA ANÍBAL.

MANÉ CAPÃO tinha os trejeitos de um primata. Haja vista que andava de pernas arqueadas, pendendo para os lados, erguendo a cabeça e fazendo bico com a beiçola. Às vaias e insultos que recebia, respondia na pedrada. Não é preciso dizer que lascou cabeça de gente, estilhaçou vidraças e botou muito sujeito pra correr. Recordemo-lo. Penso que quem o insultava era pior que ele.

MÃO DE ONÇA nunca deu um soco num atrevido para não vê-lo estatelado no chão. PAPA-RAMA brigava com 4, na braçada. Parecia um viking. DIDI DA BICICLETA tinha o corpo fechado, porque a caixa dos peitos era rendada de tiros sem ter baixado à sepultura.CAFINFIM dava óleo queimado para os presos beberem, e BIU LAXIXA era tão doido que, quando corria na frente, ninguém corria atrás. E ainda tinha FERRO, um negão que dava beliscão em menino.

Não sei quem se lembra, mas eu conheci a figura cinematográfica doCORCUNDA ANÍBAL. Andava pelas ruas resmungando e exalando um nauseante aroma de pão e banana, como se fosse um personagem de filme de terror. Aníbal tinha o hábito de apalpar  o seio das mulheres, o que o tornava mais apavorante. Não sei do que morreu nem exatamente quando, o que lhe empresta uma feição misteriosa e hugoana, à la O Corcunda de Notre Dame.

Sosígenes Bittencourt

A FOME É INVENÇÃO DO HOMEM

No mundo não há falta de ALIMENTOS, há falta de ALIMENTAÇÃO. A fome não é uma invenção da natureza, é uma invenção do homem. A pobreza não é culpa da riqueza, é culpa do gerenciamento da riqueza.

O filósofo argelino Albert Camus disse que “Não há nenhuma vergonha em alguém ser feliz, mas seria vergonhoso ser feliz sozinho.”

Eu digo que não há nenhuma vergonha em alguém ser feliz, mas seria PERIGOSO ser feliz sozinho. Tem gente morando em apartamento por cobertura, tirando ouro do nariz, mas olhando o mundo pelo buraco da fechadura, trancafiado e assustado com a legião de miseráveis em volta, e pensando que é RICO.

Sosígenes Bittencourt

A QUESTÃO PRIMORDIAL

A questão primordial, para melhorar o Brasil, não está na pessoa, mas no procedimento. Não seria Dilma Roussef, Aécio Neves, PT, PSDB, tucano nem periquito num modelo viciado, promiscuído. Os partidos são uma pulverização incompreensível, e os políticos são os mesmos.

O poder não pode fazer o homem, o homem é que tem de fazer o poder. O poder não pode apodrecer o homem, o homem é que tem de limpar o poder. O político tem de desempenhar seu papel com dignidade. Primeiro, não tem que se imiscuir na Economia, compactuar com interesses econômicos. Porque político não tem que tirar proveito da Economia, como se pudesse estabelecer negócio com os ricos. É papel da Política fiscalizar a arrecadação de impostos e a destinação dos impostos. No Brasil, até mendigo paga imposto. Ele não tem como sonegar. Logo, é preciso taxar as riquezas, fiscalizar a arrecadação para socorrer os mendigos, cuidar daqueles que não têm poder de competitividade, fazendo chegar a arrecadação ao seu destino.

Portanto, o Brasil tem de combater a sonegação na arrecadação, e o desvio na destinação. Este é o primeiro ponto – e os poderes interdependentes têm competência para fazê-lo: o Executivo, o Legislativo e o Judiciário.

A sonegação de imposto e o seu desvio, isto sim, é o resultado do namoro, do enxerimento entre a Política e a Economia.

Depois, as questões cruciais do país são de absoluta responsabilidade do Governo, não dispensando a participação do poder econômico e a sociedade como um todo. Quais sejam: Educação, Segurança e Saúde. Porque a Educação começa na pré-escola da vida, no seio da família, cujos itens posteriores decorrem desta educação.

Sosígenes Bittencourt