O coração que ri

O sofrimento é um prolongamento da dor, ele sobrevive à dor. Sofrimento é deixar de agradecer pelo amor recebido e resmungar pelo amor que deixou de receber.

Pessoas que amam a vida são pessoas que agradecem e, por isso, são pessoas calmas. A calma promove harmonia, porque a calma organiza a vida. E um dos benefícios dessa postura diante da vida é fundar no convívio a esperança.

O coração que ri não dá asas ao sofrimento porque palpita deesperança.

Sosígenes Bittencourt

MAMÃE, EU QUERO SER NEGRA

Mamãe, eu quero ser negra

No vídeo, uma menina chora, dizendo para sua mãe que quer ser negra, porque acha uma negra linda.

Talvez, o exemplo servisse para embasar a teoria do líder rebelde e ex-presidente da África do Sul Nelson Mandela (1918-2013): Ninguém nasce odiando uma pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar.

No mundo da menina, uma negra é uma coisa linda. Duvidamos que permitam que ela conserve essa percepção de beleza. Mas, enquanto for criança, irá revelar o que sente. Criança não precisa de conceito desinceridade para ser sincera. Quer um exemplo? Queres saber o que pensa teu vizinho, olha para a fisionomia das crianças. E a criança poderá ser teu filho, ou o filho dele próprio. Se o teu filho descobrir que estás mentindo, o efeito poderá ser maior do que todo os os anos do Ensino Fundamental na vida dele. Compreende?

Sosígenes Bittencourt

DICAS VESTIBULARES

Os estudantes do Vestibular estão carecas de saber que não se passa em Vestibular sem saber.

O estudante que não souber, por exemplo, que “dicas” é palavra dissílaba, paroxítona, não estará afiado para a prova de Língua Portuguesa.

Os nutricionistas avisam que os feras não devem comer como um bicho. Também não devem jejuar como um faquir, porque o cérebro precisa de glicose. No entanto, se estiver acostumado a ingerir uma buchada no breakfast, não deve trocá-la por uma jaca para evitar indisposição.

Se aparecer um verso de Carlos Drummond de Andrade, não deve pensar que seja “uma pedra no meio do caminho”.

Nada de pressa. Depressa, não irão a nada. Só deve marcar o gabarito quando estiver gabaritado para isto.

Esqueça coisas pós-vestibulares como “habeas corpus” e “bioengenharia genética”, pois isso será visto depois.

Boa sorte e aquele abraço!

Sosígenes Bittencourt

Gostaríamos de falar de amor

O amor sempre na berlinda. E como ninguém ousa discordar, quem fica famosa é Laura Kipnis, que põe em xeque-mate essa história de que o amor é um sentimento maravilhoso, que dá felicidade e ninguém pode passar sem tamanha dádiva. Todos ficam embasbacados com seus argumentos, mas ao mesmo tempo claudicantes na altercação, porque as reflexões da professora e escritora norte-americana têm a limpidez de um cristal. Laura, inclusive, é corajosa quando denuncia que alguém tira proveito da negociação do amor. Acusa os vendilhões do amor de reduzirem-no a mercadoria barata. E, conseqüentemente, nos acusa de, infantilmente, comprá-la sem observar-lhe a posologia e as contra-indicações, sem debruçar-se sobre sua bula. Sim, gostaríamos de falar sobre o amor, mas o que mais nos chama a atenção é exatamente o ódio. O amor parece uma coisa intocável e resolvida, ou seja, o grande sentimento, o mais importante, o caminho para a felicidade, a própria felicidade. Mas o ódio não, todos pregam o seu exorcismo, todos querem aboli-lo de suas vidas na mais variada gama de manifestações. Atribuem a Érico Veríssimo haver dito que “o contrário do amor não é o ódio, mas a indiferença”. Então, na busca de uma explicação para tanto ódio, quando o lema é amar, esbarramos no entrelaçamento das emoções. Gostaríamos de falar de amor, mas impossível abordá-lo sem pensar no ódio, o lado do amor que nos incomoda tanto. Talvez, Laura tenha razão quando nos acusa de buscar no outro a satisfação de todos os nossos desejos, todos os caprichos e, ao defrontarmos com a óbvia limitação do objeto amado, esperneamos de insatisfação, passando ao sentimento limítrofe do amor, que é exatamente o ódio. Sim, como gostaríamos de falar de amor, em meio a tanto sofrimento, no sentido que sonhamos, como bálsamo para a dor, passaporte para a salvação, sinônimo de felicidade.

Sosígenes Bittencourt

Mistérios de Bordéu

De coisas bizarras que já vi, as experimentadas pelo repórter da Record, em Bordéu, foram campeãs. E olha que eu já vi índio comer formiga viva e papa de carne de macaco.

Bordéu é uma ilha asiática que fica dividida entre a Indonésia e a Malásia. Coincidentemente, ao chegar em Bordéu, o chefe da tribo havia falecido. Segue-se, portanto, um período de festividades pelo seu falecimento. O defunto fica sendo velado, enquanto apodrece, e é proibido filmar o seusepultamento. Ninguém pode vê-los chorando nessa hora.
Se você não acredita, o repórter bebeu água de embrião de bicho e vinho de arroz no fundo de umcrânio humano. Na água de embrião havia até um morcego mergulhado. O odor era insuportável, tendo o visitante que bebê-la, com os dedos em forma de pegador no nariz.

O que de melhor havia na ilha eram os Orangotangos. Dóceis e familiares, o repórter revelou que os animais mantêm uma relação sexual por ano. Tendo 12 vezes mais força do que o homem, vivem em média 35 anos, chegando a pesar 140 quilos. Millôr Fernandes disse que “Quando Deus criou o homem, os animais não caíram na gargalhada por questão de respeito.
Misterioso abraço!

Sosígenes Bittencourt

CUIDADO COM JANEIRO

Obviamente que eu não diria “cuidado com o Natal”, porque o nascimento de Jesus não tem nada a ver com isso. Porém, diria que é preciso segurar a emoção com o lado consumista da festividade, para em janeiro não estar com a mão na cabeça, por causa da farra financeira. Segundo alguns discursos evangélicos ou pastorais, Jesus é razão.

Não há riqueza maior no ser humano, força mais criativa do que a emoção, mas é preciso administrar seus excessos com a intermediação da razão. Napoleon Hill já o disse: “O entusiasmo é a maior força da alma.” Contudo, ‘entusiasmo’ deriva de “em + Teos”, ou seja, com Deus na alma, em estado de graça. Não adianta você cobrir-se do supérfluo, para depois carecer do essencial.

“Cuidado com Janeiro” significa “cuidado com as dívidas”. Outro dia, vi um economista dizendo que ninguém trabalha para pagar contas, trabalha para se manter. Quem recebe para pagar, não recebe, transfere. Ademais, é preciso confeccionar um colchão de segurança, para nas vacas magras ter como se socorrer. Não vá com tanta sede ao panetone, lembre-se do pão nosso de cada dia.

Prudente abraço!

Sosígenes Bittencourt

TABAGISMO E MEDO DE FALTA DE AR

O cigarro é um ansiolítico e, como tal, acalma e inspira. Tudo que retira você de uma ansiedade, instala uma paz, um sossego inspirador. Eu fui fumante e conheço esses efeitos e artimanhas do tabaco, cujo bem-estar que promove estipula cobrança onerosíssima. Sobretudo quando, ele próprio, produz ansiedade, num covarde efeito cíclico.

Contudo, deixei a “Chupeta do Satanás” para não morrer de falta de ar. Provavelmente, um médico me convenceu, quando o procurei para me socorrer de uma dispneia.

Morrer é melhor do que falta de ar. Morrer é uma vez, falta de ar é morrendo, é o gerúndio da morte. É como se você morresse várias vezes.

Um dia, um aluno me perguntou: – Professor, o senhor tem medo da morte?

Ao que respondi: – Não, meu filho, tenho medo de falta de ar.

Sosígenes Bittencourt

A televisão na minha visão

A televisão é uma concessão de serviço público. No Brasil, não cumpre sua finalidade primordialmente educativa, que é obrigação, busca apenas o lucro. Qualquer fiscalização no intuito de coibir baixaria é logo tachada de “CENSURA”. O Estado se omite, e a mídia fica totalmente ao bel-prazer de empresas privadas. O escritor norte-americano Roger Shattuck (1923-2005) resumiu o descaso: Evitar que a pornografia chegue às crianças pela TV não é limitar a liberdade de expressão, é cuidar da saúde pública e da educação.

A televisão sexualiza a adolescência e escandaliza com a consequência. A meninada se cria assistindo a beijos de desentupir pia, vendo gente se escanchando ao meio-dia, quando faz neném, a própria televisão deita sensacionalismo em cima. Quer dizer, ganha dos dois lados. Tanto na teleaudiência da influência quanto na teleaudiência da consequência. Manchete: Menino de 13 anos engravida menina de 12 anos que dá à luz bebê de 7 meses.

Depois da Internet, a Televisão virou um radinho de pilha para mim. Sobretudo porque a Internet disponibiliza todo acervo cultural da humanidade para todo mortal. E eu não sou nenhum abestalhado para gastar todo o meu tempo ocupado com fuleiragem. Se você resolver endoidar, a internet o ajudará, mas se você quiser virar santo, ou sábio, a internet também o ajudará. Na Internet está o Bem e o Mal, só depende de sua formação educacional.

Sosígenes Bittencourt

REMÉDIO E VENENO

Há quem beba só no final de semana e pense que não é alcoólico. Ele começa no Sábado e entra em casa no Domingo à noite, carregado numa maca.

Contudo, vale salientar, a embriaguez não é culpa do vinho, é culpa dohomem. Droga é fármaco. O álcool é um deles. A diferença entre o remédio e o veneno está na dosagem. O dependente exagera na dosagem e paga um tributo oneroso pelo exagero, arcando com os efeitos.

O filósofo Sêneca dizia: Procura a satisfação de ver morrerem os teus vícios antes de ti.

E o poeta romano Horácio advertia: É prejudicial o prazer, comparado ao preço da dor.

Sosígenes Bittencourt

FRAGMENTOS (TÚNEL DO TEMPO)

tunel-do-tempo

(Há 26 anos)
*Deus deu ao homem a água, e o homem deu ao homem a conta d’água.
*No Dia de Finados, choramos por nossos mortos e por nós mesmos um dia.
*Na orla marítima, em tempo de fio-dental, o binóculo procurava um biquíni.
*O que mais aconselharia à polícia era não botar a mão no preso com o ódio do contracheque.
*Agiota até no amor, só dá um beijo por dois.
*Só nas Provas de Recuperação é que se conhece o pai do aluno irrecuperável.
(Novembro – 1987)

(Há 25 anos)
*120 dias de licença-maternidade são mais do que o suficiente para a mulher retornar grávida ao trabalho.
*O preço do tira-gosto tira o gosto de beber.
*No dia das eleições, é proibido vender bebida alcoólica e fugir da cachaça de votar.
*Urge que se crie o Pronto Socorro do tempo, para socorrer as vítimas do Horário de Verão.
*Mais um avião cai na Cordilheira dos Andes. Impõe-se um conselho: não andes pela Cordilheira.
(Novembro – 1988)

Sosígenes Bittencourt

ENVELHECER

envelhecerCerta vez, eu perguntei a uma senhora de idade:

– Quantos anos a senhora tem?

E ela: – Meu filho, faz tanto tempo que eu nasci que já nem sei mais.

Em seguida, perguntei-lhe: – Como é o seu nome?
E ela: – Olhe, já me chamaram de tanto nome que eu já nem sei mais.

Contudo, seu ânimo parecia preservado, talvez porque sua idade e o seu nome não a incomodavam. Preocupar-se com a idade e com a morte também envelhece.
Se eu não soubesse o ano em que nasci, eu me daria menos idade.

Sosígenes Bittencourt

RECORDAR É VIVER – ESCONDE-ESCONDE

Eu continuo solteiro e brincando de esconde-esconde. Só que com meninas da Terceira Idade.

Só há um tempo que dura pro resto da vida: a velhice. Portanto, temos de nos tornar autoeficazes. Eu estou perfeitamente em forma para brincar de esconde-esconde, mas não com uma adolescente desesperada e sem graça.

Estamos na idade da sabedoria, fazer tudo com qualidade e sentimento. É preciso acordar a criança que há em nós, o jovem que há em nós, mas com a experiência que temos. Não fomos jovens com a cabeça que temos, mas podemos reinventar a juventude com a cabeça que temos.

Nossa CRIATIVIDADE vem das proibições de nosso tempo, quando urinar na rua era falta de educação e sexo era pecado. Mas, ninguém se privava do friozinho na barriga. Todo rebuliço no coração, a gente pensava que era a Flecha de Cupido. Depois pedia perdão. O medo deDeus produziu muitos poetas.

Sosígenes Bittencourt

OS ABUTRES DE GARANHUNS OU OS COZINHEIROS DO DIABO

Nem o Conde Drácula, que chupava sangue humano para sobreviver, deglutia papinha de carne de defunto. Drácula era mais higiênico, menos seboso, chupava gente viva, saboreava tudo fresquinho. O Vampiro da Transilvânia penteava os cabelos, andava de paletó engomado.

Certa vez, uma moradora de Olinda deglutiu um seio putrefato com xerém, que encontrara num lixão, mas não sabia. Coitada, ficou cheia de nojo depois da fuxicada.

Os abutres de Garanhuns são diferentes. Contratam babá para tomar conta de uma menina, abatem-na a cacete e faca peixeira, esquartejam, retalham, para fazer rosbife e salgadinho. A menina, considerada uma deusa, também se alimenta da suculenta carne de defunto.

Diz que a Scotland Yard, a polícia metropolitana londrina, andou dando tiro de cadaverina para repelir convulsão social, espalhar tumulto de rua. Acabou-se. Nem os policiais aguentavam a fedentina.

Os urubus de Garanhuns cortam a carne – nem sei se lavam, nem sabemos se cheiram – vão logo preparando as refeições. Três cidadãos garanhunhenses, sentados na praça, barrigudos, jogando dominó, comeram empadas e coxinhas, recheadas de carne moída de cadáver. Cadáver quer dizer “carne dada aos vermes”. Os tapurus eram eles. Que seboseira…

Como se trata de um triângulo amoroso, seu Jorge, Bruna e donaIsabel devem ser tarados. Misturam sexo com sangue coalhado, ritual de sacrifício e carne podre. Como também preparam tira-gosto, são manicacas de Belzebu, cozinheiros do Diabo. Será que tomam banho, escovam os dentes, botam desodorante nas axilas. Ou têm bafo de múmia, catinga de sovaco, intimidades fedorentas? Onde serão encarcerados? Melhor sepultá-los juntos, para uma transa sensual, essa trupe de papa-defuntos.

Sosígenes Bittencourt

BILU BILU BILU BILU

Se Dilma fica contente,
e Aécio, jururu,
bilu bilu bilu bilu

Se o dragão da inflação
incendeia a nação, gerando maior aflição.
bilu bilu bilu bilu

Se a saúde adoece, a insegurança cresce,
e a educação esmorece,
bilu bilu bilu bilu

Se há fraude no ENEM,
e ninguém nem nem,
bilu bilu bilu bilu

E se o povo arrocha Pablo,
arrochando-lhe tutu,
bilu bilu bilu bilu

Sosígenes Bittencourt

O PROBLEMA DE CADA UM

O camarada acordou, apavorado, com a mulher cutucando ele e fazendo um comunicado:

– Êi, êi, você sabia que a empregada aqui de casa está grávida?
– Problema dela!

– Mas, você sabia que ela disse que o menino era seu?

– Problema meu!

– Êi, e eu, tua mulher, como é que fico nessa história?
– Problema seu! Não vamos misturar os problemas.

Sosígenes Bittencourt

ENEM, NEM TANTO

Às vezes, eu sou acusado de meter o bedelho onde não sou convidado. Mas, matutando sobre o ENEM e outras práticas examinadoras e educativas, observo alguns aspectos que preciso desembuchar. Por exemplo, nunca entendi por que tanto assunto no crânio de um aluno de Ensino Médio. Ademais, a profundidade com que são cobradas as matérias, a exigir raciocínio em nível universitário. O adolescente não pode com tanta coisa. Obviamente, não me refiro a gênio nem excepcional, falo sobre o comum dos mortais. Nem mesmo um universitário é pressionado a armazenar tamanha salada de conhecimentos. E para dirimir qualquer dúvida sobre o que denuncio, eu pediria aos fazedores de jornadas vestibulares que se submetessem a essas sabatinas e publicassem suas notas. Já meditaram?

Aquele abraço!

Sosígenes Bittencourt