Recordar é Viver: No tempo de eu menino

Dentre as figuras lendárias e bizarras das quais tive notícias e algumas conheci, em Vitória de Santo Antão, espero que alguém relembre MANÉ CAPÃO, MÃO DE ONÇA, CAFINFIM, PAPA-RAMA, DIDI DA BICICLETA, BIU LAXIXA E O CORCUNDA ANÍBAL.

MANÉ CAPÃO tinha os trejeitos de um primata. Haja vista que andava de pernas arqueadas, pendendo para os lados, erguendo a cabeça e fazendo bico com a beiçola. Às vaias e insultos que recebia, respondia na pedrada. Não é preciso dizer que lascou cabeça de gente, estilhaçou vidraças e botou muito sujeito pra correr. Recordemo-lo. Penso que quem o insultava era pior que ele.

MÃO DE ONÇA nunca deu um soco num atrevido para não vê-lo estatelado no chão. PAPA-RAMA brigava com 4, na braçada. Parecia um viking. DIDI DA BICICLETA tinha o corpo fechado, porque a caixa dos peitos era rendada de tiros sem ter baixado à sepultura.CAFINFIM dava óleo queimado para os presos beberem, e BIU LAXIXA era tão doido que, quando corria na frente, ninguém corria atrás. E ainda tinha FERRO, um negão que dava beliscão em menino.

Não sei quem se lembra, mas eu conheci a figura cinematográfica doCORCUNDA ANÍBAL. Andava pelas ruas resmungando e exalando um nauseante aroma de pão e banana, como se fosse um personagem de filme de terror. Aníbal tinha o hábito de apalpar  o seio das mulheres, o que o tornava mais apavorante. Não sei do que morreu nem exatamente quando, o que lhe empresta uma feição misteriosa e hugoana, à la O Corcunda de Notre Dame.

Sosígenes Bittencourt

A FOME É INVENÇÃO DO HOMEM

No mundo não há falta de ALIMENTOS, há falta de ALIMENTAÇÃO. A fome não é uma invenção da natureza, é uma invenção do homem. A pobreza não é culpa da riqueza, é culpa do gerenciamento da riqueza.

O filósofo argelino Albert Camus disse que “Não há nenhuma vergonha em alguém ser feliz, mas seria vergonhoso ser feliz sozinho.”

Eu digo que não há nenhuma vergonha em alguém ser feliz, mas seria PERIGOSO ser feliz sozinho. Tem gente morando em apartamento por cobertura, tirando ouro do nariz, mas olhando o mundo pelo buraco da fechadura, trancafiado e assustado com a legião de miseráveis em volta, e pensando que é RICO.

Sosígenes Bittencourt

A QUESTÃO PRIMORDIAL

A questão primordial, para melhorar o Brasil, não está na pessoa, mas no procedimento. Não seria Dilma Roussef, Aécio Neves, PT, PSDB, tucano nem periquito num modelo viciado, promiscuído. Os partidos são uma pulverização incompreensível, e os políticos são os mesmos.

O poder não pode fazer o homem, o homem é que tem de fazer o poder. O poder não pode apodrecer o homem, o homem é que tem de limpar o poder. O político tem de desempenhar seu papel com dignidade. Primeiro, não tem que se imiscuir na Economia, compactuar com interesses econômicos. Porque político não tem que tirar proveito da Economia, como se pudesse estabelecer negócio com os ricos. É papel da Política fiscalizar a arrecadação de impostos e a destinação dos impostos. No Brasil, até mendigo paga imposto. Ele não tem como sonegar. Logo, é preciso taxar as riquezas, fiscalizar a arrecadação para socorrer os mendigos, cuidar daqueles que não têm poder de competitividade, fazendo chegar a arrecadação ao seu destino.

Portanto, o Brasil tem de combater a sonegação na arrecadação, e o desvio na destinação. Este é o primeiro ponto – e os poderes interdependentes têm competência para fazê-lo: o Executivo, o Legislativo e o Judiciário.

A sonegação de imposto e o seu desvio, isto sim, é o resultado do namoro, do enxerimento entre a Política e a Economia.

Depois, as questões cruciais do país são de absoluta responsabilidade do Governo, não dispensando a participação do poder econômico e a sociedade como um todo. Quais sejam: Educação, Segurança e Saúde. Porque a Educação começa na pré-escola da vida, no seio da família, cujos itens posteriores decorrem desta educação.

Sosígenes Bittencourt

Quem pode perdoar?

O grande equívoco é que quem pode perdoar é quem pode castigar, é o Juiz, o Carrasco, o Papa. Quem é castigado não pode perdoar, quem está com o pescoço sob a guilhotina não pode perdoar o carrasco, não lhe cabe o perdão. O perdão do torturado, do moribundo não tem cabimento, é subserviência, pura covardia.

Eu só posso perdoar o meu malfeitor, se eu inverter a posição, tomar-lhe a arma e apontá-la para a sua cabeça. Perdoar a quem deseja me matar é filosoficamente fora de sentido.

Sosígenes Bittencourt

Quarteto de homossexuais no tempo do ronca

Avelon, Vavá, Nildo e Brigite (da esquerda para a direita). 

Isso foi no tempo que se podia vaiar homossexual. No entanto, ninguém matava homossexual. O termo homofobia não havia nascido, e a turma que transava de costas vivia mais sossegada.

O mundo era outro mundo, pois o ódio não se traduzia necessariamente em agressão física e homicídio. As pessoas não dispunham de tanta informação quanto hoje, mas eram mais pacatas, mais tementes a Deus. O trabalho era glorificado, os ricos trabalhavam mais do que os pobres. Hoje, o pobre quer ser rico às custas do crime.

Quem mata homossexual, não é homofóbico nem heterossexual, é ASSASSINO. Quem mata homossexual, mata um idoso, mata uma criança, mata um negro, um branco. É preciso focar no aspecto substantivo do crime e não perder tempo com o rito processual, que é “a mais excelente das tragédias”, como concluía Platão (428-348 a. C.)

Brigite era o mais conhecido, o mais saliente e festejado dos homossexuais. Vi-o vaiado, nas ruas, diversas vezes. Contudo, ouvi dizer que quem o deformou, de uma surra, foi o próprio irmão.Brigite me parecia um animal sem maldade e me despertava uma certa misericórdia. Talvez, pela rígida educação que tive, orientado a respeitar as pessoas.

Sosígenes Bittencourt

NOSSO SERIAL E O COTIDIANO NACIONAL

Na verdade, nada impressiona mais no caso Tiago Henrique Gomes da Rocha, de 26 anos, do que a performance de nossa Segurança Públicano rastreamento, identificação e captura de criminoso tão fácil de ser alcançado. Primeiro, porque o acusado é considerado um spree killer, cujas vítimas não tinham perfil e ele as assassinava aleatoriamente, sem planejamento, podendo ser homem, mulher, jovem ou adulto. Segundo, porque foram cerca de 39 assassinatos, numa mesma região, onde desempenhava a função de vigilante e convivia em sociedade, lidando com as pessoas no dia a dia. Não era um criminoso enclausurado, avesso à convivência social.

Diferente dos serial killer organizados, que arquitetam seus crimes na penumbra, cujas vítimas têm perfil, e não sentem emoções quanto aos crimes cometidos, nosso killer matava desorganizadamente, surpreendendo quem estivesse no lugar e na hora errada, e revelou sentir-se arrependido, apesar de confessar não ter controle sobre o ato criminoso.

Onde estará a dificuldade em identificar, caçar e encarcerar semelhante monstro? É, ou não é aterrorizante? Não há ficcionista de película de terror que consiga criar personagem mais pavoroso do que o nosso ator no teatro do cotidiano nacional.

Sosígenes Bittencourt

TANTRA

1. Case com quem você gosta de conversar. (afinidade)
2. Não acredite em tudo que ouve. (lógica)
3. Não gaste tudo que tem. (autocontrole)
4. Não durma tanto quanto quer. (tempo)
5. Quando perder, não perca a lição. (sabedoria)

Tantra (do Sânscrito: tratado sobre ritual, meditação e disciplina),yoga tântrico ou tantrismo é uma filosofia comportamental de características matriarcais, sensoriais e desrepressoras. Essencialmente, a prática tem por objetivo o desenvolvimento integral do ser humano nos seus aspectos físico, mental e espiritual.

Por oportuno, quero registrar um conselho sanitário, de minha verve:Ódio e inveja são lixos mentais. Seja gari de suas emoções.

Sosígenes Bittencourt

LENGA-LENGA ENTRE POLÍTICA E ECONOMIA

Na realidade, é enorme a confusão que se faz, porque POLÍTICA e ECONOMIA são duas áreas distintas. A Política é uma invenção grega formidável para refletir a vontade dos homens, enquanto que aEconomia passa ao largo da vontade dos homens – já nos esclarece o sociólogo Francisco Maria de Oliveira, fundador e, hoje, crítico do Partido dos Trabalhadores. 

A Política deve corrigir as distorções da vida social. A Economia é o troço mais fluido do mundo, basta o coração balançar, o dinheiro vai pelo ralo. Senão riquezas milionárias não desabariam como um castelo de cartas. E como é que um Regime Político pode mandar em algo tão volátil? 

A Política deve cobrar os impostos e destinar aos que não têm poder de competitividade. Depois, impedir que os que têm o poder de competir se entredevorem. Ninguém pode proibir alguém de enricar às custas do seu trabalho e de suas economias. Também não pode dividir o que foi conseguido com quem não conseguiu. 

A Política pode e deve taxar as riquezas e injetar na miséria para extirpar este câncer social que não é natural, é produzido pelo homem. A função da Política é de uma importância ético-moral indiscutível e fundamental no desempenho deste papel.

Sosígenes Bittencourt

COISAS DE PROFESSOR

*Eu leio desde quando não sabia ler*e escrevo desde quando não sabia escrever.
*Escola não é lugar de distração. Escola é lugar de concentração.
*Aprender a Ler e Namorar foram as maiores alegrias que tive na vida.
*Eu sempre imaginei que a Língua Portuguesa é uma espécie de mulher.
*Se fôssemos loucos por ciência como somos por bola, 
teríamos mais juízo.
*Quando descobri que minha mãe era minha mãe
já sabia que ela era professora.
*Aprendi a andar tarde, mas quando comecei a falar,
fui convidado a ficar calado.
*O controle remoto é recente,
mas a sabedoria é remota.
*O meu dom é divino, mas o estudo é sagrado.
*Eu me sinto responsável pelo que digo,
não me sinto responsável pelo que entendem. 

Sosígenes Bittencourt

UM MORTO ANDANDO PELA CIDADE

Amanheço morto na cidade. Tomo conhecimento de que morri logo cedo. Sou um morto muito especial, porque posso negar a minha morte, abrir a porta e sair andando, respirando o ar, rever as ruas, os lugares antigos por onde passei quando criança e que o tempo foi modelando, ora para melhor, ora para pior. Posso perceber, agora, que alguns lugares é que morreram. Caminho com um ar importante pelas ruas, porque posso descrever o que desapareceu. O cheiro doCafé São Miguel, as meninas do Colégio Municipal, picolé de mangaba, disco de vinil com o retrato de Carlos Gonzaga, sessões dominicais de cinema, com sabor de ping-pong, Rock Lane a cavalo. Sou um morto que pode contemplar o nojo, a paixão e o tédio dos que me rodeiam e me julgam. Tenho direito a mais um dia, um jantar, telefonar para marcar um encontro. Principalmente, ir ao encontro e praticar, meticulosamente, a arte de dar e receber amor, como na milenar receita de Vatsyayana, o Kama Sutra de todo dia. Sinto-me vaidoso de minha morte. Sem esquife, castiçal, lampejo de vela, coro lúgubre de carpideiras e meu derradeiro desfile, horizontal, pela cidade.
Respondo a alguém que me telefona para saber a verdade: Morrer na boca do povo faz mais sucesso do que morrer de verdade. Não é todo dia que se é um morto andando pela cidade.

Sosígenes Bittencourt

CUIDADO COM RELIGIÃO

Se você não tem competência para interpretar a palavra de Deus, não se arvore em conhecedor e saia, por aí, julgando e subjugando as pessoas. Julgar e condenar é uma forma de subjugar.

Diz que o homem morre de amor; quem morreu por amor foi Jesus Cristo, Filho de Nosso Senhor. Contudo, há pessoas agarradas à Religião e morrem de rancor, porque não fizeram boa leitura das Escrituras, não rogaram entendimento, não foram humildes, e se tornaram senhor da palavra; dizem que Deus é amor e franzem a testa diante do miserável.

Cuidado com Religião. Há religiosos ocidentais empedernidos, empunhando a chibata moral, julgando e odiando o pecador. Depois, condenam o muçulmano fundamentalista que amputa a mão do ladrão e diz que foi Maomé que mandou.

Cuidado com Religião. Católicos e Protestantes que se engalfinham, que se maltratam, são cristãos que dão péssimo exemplo de ódio religioso. Paradoxalmente, não são os ateus que arengam por causa de Jesus, são os cristãos.

Cuidado com Religião. Há cristãos que pensam que sucesso e riqueza são sinônimos de bênção por pura Vaidade. E a Vaidade é um Pecado Capital. A Vaidade é sinônimo de menosprezo ao semelhante. É você esfregar a riqueza no rosto do seu irmão para menosprezá-lo e humilhá-lo.

O que diz João 14:27? “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como a dá o mundo. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize.”

Sosígenes Bittencourt

No tempo de eu menino – Fratelli Vita

No tempo de eu menino, ouvi uma história envolvendo o proprietário da Fratelli Vita que fuxico até hoje. O italiano Francesco Vitta, dado o sucesso do seu refrigerante, montou uma filial em Pernambuco.

Nesse tempo, o paraibano Francisco Pessoa de Queiroz era proprietário e fundador da Rádio Jornal do Commercio.

Pois bem… arengaram e partiram para o deboche. Francisco Pessoa de Queiroz perguntou a Francesco Vitta se ele queria vender aGARAPEIRA. E, aí, o italiano Francesco Vitta perguntou se Pessoa de Queiroz queria vender o SERVIÇO DE ALTO-FALANTE. Tem jeito?

Não tinha dinheiro que pagasse, saborear uma Fratelli Vita nesse instante. Tomávamos refrigerante com bolacha Cream Cracker e éramos felizes. Não era uma questão de variedade, mas absoluta e rigorosamente de qualidade.

Sosígenes Bittencourt

DEPRESSÃO PASSA

Assim como ALEGRIA passa, TRISTEZA também. A DEPRESSÃO é uma tristeza que dura. Dizer, com convicção e firmeza, que DEPRESSÃO PASSA é o primeiro remédio que deve ser oferecido ao DEPRIMIDO, aquele que está acometido de profunda e duradoura tristeza. Antes mesmo da consulta médica, antes do primeiro medicamento prescrito pelo médico.

Pense nisso e confiante abraço!

Sosígenes Bittencourt

REPERCUSSÃO DE UM SEIO

Um dia, eu vi um seio nuzinho pelo buraquinho da fechadura. Eu nunca tinha visto aquilo que só tinha o direito de imaginar.

Às vezes, ficava revirando um corpete, escondido por trás da porta, os olhos encatitados, com medo de levar uma surra, medo de pecado, medo de castigo, medo de Deus.

Naquela época, criança não podia ver tudo que queria. Criança era temente a Deus. Havia infância naquela época.

Foi no tempo que menino brincava com caixinha de xarope, colecionava tampinha de garrafa. Imagine um seio, um seio nuzinho. Um seio alaranjado, recebendo uma réstia de sol pela brecha do telhado. Parecia um pudim de carne.

Era uma dessas Marias criadas no meio do mato, matuta acanhada. Eu não sabia se ficava ou se corria, o medo me atrapalhava. Eu ia lá, vinha cá, o seio ali, nuzinho, servindo de vitrine à minha curiosidade.

Um dia, mainha me pegou correndo pelo quintal, ofegante, todo espantado. Gaguejei tanto que levei uns tabefes para dizer o que estava fazendo. Não era nada, não era nada, era eu querendo ver oseio nu, doido para sentir aquela emoção de novo.

Revelava-se o futuro cidadão, morto de curiosidade. Já dizia o poeta inglês William Wordsworth: A criança é pai do homem.

Sosígenes Bittencourt

ENTRE A VIDA E A MORTE

Os budistas são os únicos religiosos que não estão envolvidos em nenhuma guerra sobre a terra, nem matando nem sendo assassinados.

O filósofo latino SÊNECA, nascido 4 anos antes de Cristo, dizia: “O homem não morre, mata-se.” Quer dizer, o homem sentencia a própria morte. E não é só porque se alimenta exagerada e indevidamente, mas porque nutre-se de ódio. Por isso, minha célebre oração: Ódio e Inveja são lixos mentais, seja gari de suas emoções.

O ódio, não raro, advém dos desejos, da insatisfação, do não reconhecimento da impermanência do ser, e os budistas pregam o domínio dos apetites para evitar sofrimento.

Sosígenes Bittencourt

CELESTIAL E TERRENAL

Os israelitas passaram 40 anos caminhando pelo deserto. O seu alimento vinha do céu, era o maná. No entanto, quando tentaram armazenar o maná, ele apodreceu. O alimento celestial era para ser consumido num dia. Isto significa dizer que quem guarda para o futuro, vê a vida apodrecer na palma da mão.

Todavia, referimo-nos a um alimento enviado por Deus. Ele nunca faltou. Nosso pão de cada dia anda produzido e vendido pelo homem. Portanto, há de se ter cautela.

O poeta romano Horácio, agoniado com a brevidade da vida, recitava:CARPE DIEM, QUAM MINIMUM CREDULA POSTERO. (Aproveite o dia, não acreditando minimamente no futuro). Contudo, o mesmo Horácio admoestava sobre o desperdício, aconselhando a moderação: EST MODUS IN REBUS (Há um limite nas coisas).

Sosígenes Bittencourt