O ano era 2014.
Naquele momento, o presidente do Uruguai José “Pepe” Mujica despontava como um forte candidato ao Prêmio Nobel da Paz.
Mujica rompia padrões comportamentais do mundo ocidental, apresentando uma filosofia de vida baseada na austeridade e no sentimento de humanismo que chamava a atenção do mundo.
À época, quando indagado, respondera que se opunha ao consumo da maconha e à prática do aborto, mas que preferia legalizar ambas as coisas para que não crescessem “nas sombras” e causassem maiores danos à população.
Pois bem.
A ONG holandesa Drugs Peace Institute (Instituto da Paz e Drogas) lançou, então, uma campanha para apoiar o presidente Mujica ao Nobel da Paz.
Um fato imprevisível, contudo, irrompeu.
No livro “Una oveja negra al poder”, os jornalistas Andrés Danza e Ernesto Tulbovitz narraram o real motivo do “esquecimento” de Mujica: a icônica mordida do atacante uruguaio Luis Suárez no italiano Giorgio Chiellini, pela primeira fase da Copa do Mundo de 2014.
Como qualquer outro sul-americano, Mujica era apaixonado por futebol e nem mesmo o seu papel de chefe de Estado afastava o seu lado torcedor.
Na noite de 26 de junho de 2014, esperou o voo de Suárez de madrugada no Aeroporto Internacional de Carrasco, em Montevidéu.
Na chegada do goleador, o chefe de Estado conversou diretamente com ele, banido pela entidade máxima do futebol por quatro meses.
“Eu queria te dar energia para superar a tempestade, muchacho. (…) Você precisa manter a calma”, disse Mujica.
Dias depois, a celeste foi eliminada do mundial pela Colômbia nas oitavas de final.
Mais uma vez, Mujica foi até o aeroporto e chamou os dirigentes da Fifa de “um bando de velhos filhos da p…”, referindo-se à sanção imposta a Suárez.
Conforme relatado no livro de Danza e Tulbovitz, o desabafo do tupamaro fechou definitivamente as portas para uma indicação ao Prêmio Nobel da Paz, diante da fortíssima influência da FIFA no cenário internacional.
Uma pena e uma grande injustiça.
Poucas pessoas mereciam tanto esse prêmio.
A quem interessar, recomendo o livro “Una oveja negra al poder”, de Andrés Danza e Ernesto Tulbovitz.
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