Momento Cultural: Cego de nascença – por Célio Meira

Dr.-Célio-Meira-Escritor

A desdita desse cego,

não há, na terra, quem sonde,

pecados não cometeu,

pelos pais, não responde.

 

A alma, porém, desse irmão

verá, sempre, a Lei cumprida:

– pagará todos os crimes,

Praticados noutra vida.

 

Se esta não fosse a verdade,

se esta não fosse a lição,

crime nefando haveria,

nesta injusta punição.

 

* * *

 

É bem certa esta notícia,

que nesta quadra, repito:

– minh’alma já tem saudade

das paisagens do Infinito.

 

Na carta que me escreveste,

naquele estilo tão fino,

não escondeste de mim

o rumo de teu destino.

 

* * *

 

Praticando caridade,

não dê, somente, dinheiro,

dê, também, paz, esperança,

ao inditoso companheiro.

 

* * *

 

Fui marujo, em outras vidas,

visitei terras geladas,

em cada porto deixei,

três ou quatro namoradas…

 

* * *

 

Persegues o Nazareno?

Olhas o mundo, com asco?

Um dia, ouvirás Jesus,

Numa estrada de Damasco.

 

 

Estás aflita, intranquila,

com o peso desta cruz?

– Pede, a Jesus, paciência,

E terás sossego e luz.

 

(migalhas de poesia – Célio Meira – pág. 35 a 37).

 

Momento Cultural: Visitando o Nosso Colégio

Profª Albertina Maciel de Lagos

(confrontando Luís Guimarães Filho no seu soneto: “Visita a casa paterna”. Composto para o Colégio Nossa Senhora da Graça na fundação do dia da “ex-aluna”, em 9 de julho de 1947)

Como ao porto quando voltam as jangadas
após bem forte e cerrado temporal,
rever, quisemos, num elo fraternal,
o nosso Colégio de emoções sagradas!

Chegamos!… Ao nosso encontro maternal,
vem Madre Superiora muito amada
que, sorridente, institue, mui dedicada,
da ex-aluna o áureo dia magistral!

Entramos!… – Era esta a sala de estudo!…
Oh! a Capela!… ali, o açude!… e, de tudo,
sentimos que a Saudade a alma nos invade!

Ei-las, as boas Mestras!… as caras companheiras!…
revemo-los, hoje, alegres, prazenteiras…
e, de Gratidão, quem palpitar, não há-de?…

(SILENTE QUIETUDE – ALBERTINA MACIEL DE LAGOS – pág. 42).

Momento Cultural: Oração do Perdão – por Stephen Beltrão

Stephem Beltrão

Senhor,

Liberte-me para outro pecado

Purifique-me sem que o fogo eterno

Me queime.

Que hoje minha pena seja revogada

E ao se esvaziarem meus pecados

Minha alma seja purificada

Antes de chegar à morte.

Que indo dormir,

Me acorde vivo

Para a glória de Deus.

Que o perdão apresente

Outros dias livres do passado.

E meu futuro seja presente do Céu.

Rogo-te, por piedade,

Entenda-me!

Porque eu mesmo não me entendo.

Stephen Beltrão

Momento Cultural: Arrepios – por GUSTAVO FERRER CARNEIRO

Gustavo Ferrer Carneiro

Despercebidos

E inocentes

Lá vem os arrepios

Mexer com a alma da gente

 

Outra vez as sensações

A vontade de um carinho

Mais profundo

De um beijo guardado

De saudade do mundo

Que vivemos conscientemente

E que fica para sempre em nossas lembranças

 

Entre sussurros, recordo momentos

E não me arrependo

De atos ou fatos vividos

Mesmo que loucos ou transgredidos

 

Pois meu corpo em sintonia

Agradece ao teu em constante harmonia

E talvez por pura teimosia

Não paro de te amar

E de sentir tua falta

 

Não tenho pressa

Tenho calma

Quero conhecer não só teu corpo

Mas tua alma

 

Para isso, te imploro,

Me beija, teu beijo é um presente

Que adoro

E o teu abraço

Deixa meu corpo ardente

Te amando sem cansaço

 

Um beijo amado

Que vai subindo e vai descendo

Desliza no meio das nádegas

Sobe pelas costas

Até encontrar tua nuca

Teus cabelos afastando

Tuas orelhas volteando

Arrepiando e buscando

Teus lábios entreabertos

Com essa sede de viver

 

Aguenta, coração

Experimenta a sedução

Tenta e atenta

Nessa total imensidão

 

Abusa

Elambuza

Tiro a roupa

Te deixo louca

 

Sua

Suor salgado

Sal impregnado

Tua pele na minha

Minha carne na tua

 

Em meus lábios

Me matas a sede

Na fonte dos teus prazeres

Sede de meu tesão

Pura transgressão

Teu sexo

No meu sexo

Infringindo preconceitos

Ou regras

 

Braços e abraços

Bocas e línguas

Desejos hostis

Deixa correr

Deixa rolar

Na cama ou na lama

Na vontade de te amar

 

Vamos

Agora a sempre

Amar pensando no mundo

Um você e eu, juntos

Um gozo que seja profundo

No amor em um corpo único…

 

(MOSAICO DE REFLEXÕES – GUSTAVO FERRER CARNEIRO – pág. 19).

Momento Cultural: Admoestação Reverente – por Corina de Holanda

Corina de Holanda

(Ante um quadro da Virgem que estreitando ao colo o Divino Filho, fita, súplice, os céus.)

 

És a Mãe da eterna Aurora.

Nem precisavas Senhora,

Erguer os olhos aos céus.

Que as outras mães façam isto…

Mas, tu, Mãe de Jesus Cristo,

Que queres desses espaços

Para teu filho? – Ele é Deus.

E tu, Mãe Imaculada.

Tendo em teus braços, Jesus,

Embalas a própria Luz

Do amor envolta nos véus.

Baixa os Olhos, Mãe amada,

Sobre a terra, o pecador…

Diz a teu Filho adorado

Que nos livre do pecado!

Salve, ó Mãe do Puro Amor!

 

1971

(Entre o céu e a Terra – 1972 – Corina de Holanda – pág. 38).

Momento Cultural: Lei divina – por Célio Meira

Dr.-Célio-Meira-Escritor

 

Não há morte, Bem-Amada:

– Do corpo termina a lida,

a alma mais tarde regressa

noutra missão, noutra vida.

 

Na terra, o corpo se acaba,

assim, também, morrerás

mas, de novo, noutra carne,

neste mundo viverás.

 

* * *

 

Fuja da inveja, da gula,

da preguiça e do ateísmo,

fuja da ira, da vaidade,

da mentira e do egoísmo.

 

* * *

 

Esta somente, Querida,

nesta cova ficará

e depois de certo tempo,

numa planta viverá.

 

Nos caminhos da jornada,

sob a luz dos olhos teus,

desejo viver em paz

na graça eterna de Deus.

 

* * *

 

Não tenhas medo da morte,

nem da vida, no outro lado,

a quem amas, neste mundo,

será sempre o Bem-Amado.

 

* * *

 

Se queres viver em paz,

não guardes ressentimentos,

as pedras de teu caminho,

vêm de tristes pensamentos.

(migalhas de poesias – Célio Meira – pág. 38 e 39).

Ano Velho – Ano Novo – por ALBERTINA MACIEL DE LAGOS

Profª Albertina Maciel de Lagos

Do Ano Velho parou, enfim, o coração
para, no Ocaso cair da Eternidade!
enquanto o Novo, numa afirmação
diz-se Emissário da Felicidade!

Ah! nem sempre!… Talvez uma ilusão!
mas… de acerbo sofrer a ansiedade…
a muitos alegrando o coração
ferindo a outros com impiedade!

Velho ou Novo, ó Ano, és sempre o mesmo
nesta carreira louca, infinita, a esmo,
neste vai e vem, a prometer, sorrindo

à triste Humanidade belos dias
num misto de tristezas e alegrias,
morrendo Velho e Novo ressurgindo!

(SILENTE QUIETUDE – ALBERTINA MACIEL DE LAGOS – pág. 18)

Momento Cultural: O imortal – por João do Livramento.

garanhuns 003-1

Hoje chora triste o meu livramento
Pois ruiu o Camelo ouvi o lamento
Onde antes foi tudo grande beleza
Hoje resta somente enorme tristeza

Foram tantos anos de agremiação
Foram tantos bailes naquele salão
De muita rodolo era o cheiro no ar
Mulheres bonitas conosco a bailar

Nas alegorias a beleza era imensa
O povo gritava dizendo a sentença
Se camelo passava leão não rugia
A praça do santo inteira aplaudia

Aquele estandarte Arnaldo a girar
O frevo tocando e o povo a pular
Da minha memória jamais sairá
Eu quero Camelo eu quero frevar

És Camelo valente pra se levantar
Mais este deserto vais atravessar
A folia de momo vai ser bem maior
E Vitória gritando o Camelo é o melhor!

João do Livramento.

Momento Cultural Aprofundamento – GUSTAVO FERRER CARNEIRO

Gustavo Ferrer Carneiro

Tira-me da ignorância
Mostra-me tua palavra
O verbo inconsciente
De quem sente
Ou mente
Algum demente

Mostra-me o amor
Na despedida
Um dia encontraremos
Na falha da vida
De quem fez
A falha de Santo Andrez

Perdidos dentro de si
Em busca do alguém
Confesso que não sei
Ou sei

Quem sabe?
Bebo de suas dúvidas
E compartilho
Exploro nas próprias veias
No sabor dos gestos
Mesmo indigesto

Descubra
Me cubra, me cobra
Essa é minha obra
Em busca do meu
Do seu
Do nosso
Amor…

(MOSAICO DE REFLEXÕES – GUSTAVO FERRER CARNEIRO – pág. 16).

Momento Cultural: Visitando o Nosso Colégio – por ALBERTINA MACIEL DE LAGOS

Profª Albertina Maciel de Lagos

(confrontando Luís Guimarães Filho no seu soneto: “Visita a casa paterna”. Composto para o Colégio Nossa Senhora da Graça na fundação do dia da “ex-aluna”, em 9 de julho de 1947)

Como ao porto quando voltam as jangadas
após bem forte e cerrado temporal,
rever, quisemos, num elo fraternal,
o nosso Colégio de emoções sagradas!

Chegamos!… Ao nosso encontro maternal,
vem Madre Superiora muito amada
que, sorridente, institue, mui dedicada,
da ex-aluna o áureo dia magistral!

Entramos!… – Era esta a sala de estudo!…
Oh! a Capela!… ali, o açude!… e, de tudo,
sentimos que a Saudade a alma nos invade!

Ei-las, as boas Mestras!… as caras companheiras!…
revemo-los, hoje, alegres, prazenteiras…
e, de Gratidão, quem palpitar, não há-de?…

(SILENTE QUIETUDE – ALBERTINA MACIEL DE LAGOS – pág. 42).

Momento Cultural: ESPAÇO – por MELCHISEDEC

Melchisedec

Para nós, seres humanos, o nosso espaço no cosmos, começou a três milhões e quatro centos mil anos, porém, só a trinta mil anos, começamos a entender onde vivíamos e o que éramos.

Conquistamos o fogo, iniciamos plantio das sementes, aprendemos lidar com os animais, aplicamos nosso primitivo talento para criar os instrumentos de trabalho, usando a pedra, depois descobrimos o ferro e o bronze que permitiam um avanço significativo na nossa arte de fazer as coisas.

Com o ajuntamento das pessoas, formamos as tribos, as comunidades agrícolas que foram evoluindo até a formação das cidades.

Nesse vasto espaço cósmico, a nossa memória parece confinada no estreito lugar do planeta em que vivemos. Pouco a pouco vamos aparecendo em forma de escritos históricos para dizer à posteridade o que fomos, o que somos e o que seremos.

Hoje, todas as pessoas de quem ouvimos falar, viveram e lutaram em algum ponto deste planeta.

Todos os reis, sábios, nobres e plebeus, batalhas, guerras, migrações, invenções, tudo que há nos livros, sobre a história do homem, aconteceu aqui.

Dentro desse imenso espaço do universo de onde emergimos, somos um legado de vinte bilhões de anos de evolução cósmica.

Agora vemos nosso planeta à beira da destruição. As máquinas mortíferas inventadas pelo homem para sua própria destruição. É a inversão de valores.

A maldade tomou conta do coração do homem. Agora temos que melhorar a vida na terra e conhecermos o universo que nos criou, sem desperdiçar nossa herança de vinte bilhões de anos numa autodestruição insensata.

O que acontecer no próximo milênio, dependerá do que fazemos aqui a agora, usando a nossa inteligência e a nossa vontade para salvar o planeta.

Lembremos que: “há mais coisas entre o céu e a terra de que supõe vã filosofia”.

(VERDADES FUNDAMENTAIS – MELCHISEDEC – pág. 61).

Momento Cultural: Vitória – por João do Livramento.

garanhuns 003-1

Me diz por favor Vitória, será que fostes
tu mesma que geraste, em tuas próprias
entranhas estes filhos tão ingratos, que
não enxergam teu verdadeiro valor.
O que fizeste para merecer tal sorte?

Vitoriosa fostes “sempre”, em um passado
não tão remoto, mas que alarga-se por descaso.
A tua verdadeira vocação, sempre foi de
vanguarda, seguindo os passos da tua pátria
Pernambuco, que sendo leão aqui foi coroado.

Moribunda necessitas sem demora, que um
“Soro cultural” seja injetado em teus filhos
Caçula, Para adiante ter “Vitória” garantida,
Mas não estás de um todo esquecida, ainda
Tens guardiões de tua história que relutam
Incansáveis para manter teu nome vivo.

Ajuntem-se então os filhos teus que ainda
Reconhecem o verdadeiro sentido do teu
Nome, antes que o antônimo a ele prevaleça.

João do Livramento.

Momento Cultural: Meu pecado – por Henrique de Holanda

Henrique-de-Holanda-Cavalcanti-3

Eu não posso saber qual o pecado

que, irrefletido, cometi; suponho

seja, talvez, porque te fosse dado

meu coração, – a essência do meu sonho..

 

Se amar é crime, eu vou ser condenado

e toda culpa, em tuas  mãos, eu ponho.

– Quem já te pode ver sem ter amado?!…

Quanto é lindo o pecado a que me exponho!

 

Se tens alma e tens sangue, como eu tenho;

se acreditas em Deus, dizer-te venho,

– Que pecas, tens amor, és sonhadora…

 

Deus deu a todos coração igual.

Se eu amo, sofres desse mesmo mal.

– O teu pecado é o meu, – és pecadora!

 

(Muitas rosas sobre o chão – Henrique de Holanda – pág. 22).