
Naquele ano de 1849, de sombria memória para os homens que se bateram pela vitória das armas praieiras, nasceu José Maria de Albuquerque Melo, na cidade do Cabo. Fascinando, nos primeiros anos da vida, pela engenharia, ingressou, José Maria, na Escola Politécnica do Rio de Janeiro. Cedo, porém, abandonou o estudo da matemática, e , regressando ao Recife, bateu à porta da Faculdade de Direito. Publicou, ao tempo em que andava na convivência da álgebra e da geometria, conta Clóvis Bevilaqua, o “De galho em Galho”, livro de fantazias literárias.
Político ardoroso, espírito combativo, desde a mocidade, conquistou, quando era, ainda, quintanista, uma cadeira de deputado, na Assembleia de sua Província. Bacharelou-se, no ano em que Seabra conquistou a cadeira de mestre, em 1880, pertencendo à turma de Gil Amora, de Laurindo Leão e de Henrique Milet. Dez anos mais tarde, representou o povo, na Câmara Federal. Foi um dos deputados pernambucanos à Constituinte de 1890. Intimorato, e nobre nas atitudes, esse parlamentar ilustre para quem a “deslealdade era um dos mais frios crimes”, teve nessa época, atuação destacada. Manteve, com elevação moral, suas ideias políticas, e serviu, desinteressadamente, a nação. Quando Floriano Peixoto assumiu a presidência da República, em 1891, governava, Pernambuco, o desembargador Correia da Silva, que apoiou, ouvindo a voz de Lucena, o golpe de Estado de Deodoro da Fonseca.
Em todo país, era gravíssima a situação política. José Maria assumiu, a 27 de novembro daquele ano, o governo de Pernambuco. Floriano, num telegrama célebre, insinuou, a José Maria, para governador, o nome do barão de Contendas. O bravo jornalista da “A Província” cedeu a desejo do presidente. E a 30 de novembro de 1891, subiu, ao poder, o honrado Contendas.
Conspirava, tenazmente, porém, os vanguardeiros da “legalidade” florianista, e , a 18 de dezembro, desencadeou-se a tempestade. Deposto o barão, surgiu a Junta Governativa, o triunvirato da rebeldia. E a luta, no campo das ideias, prosseguiu, violenta e acesa.
Iniciou-se o governo de Barbosa Lima. Houve, a princípio, um armistício. Depois, os combatentes voltaram aos postos. Era, José Maria, o chefe corajoso da democracia. Perseguido pelo governo, fugiu e peregrinou, conta, Gonsalves Maia, pelos arredores do Recife. Era o apóstolo, romântico como Silva Jardim, do regime de 89. Escreveu, a esse tempo, cartas e artigos memoráveis, do “ôco do Mundo”, ferreteando os detentores do poder e da força. E quando pode regressar à trincheira, foi para morrer, tragicamente, numa secção eleitoral, defendendo o direito, pedindo justiça e clamando pela liberdade. Foi assassinado, José Maria, aos 46 anos de idade, a 4 de março de 1895, na rua dos Caldeireiros, na cidade do Recife.
Tombou, nesse dia histórico, uma árvore gigantesca da República.
Célio Meira – escritor e jornalista.
LIVRO VIDA PASSADA…, secção diária, de notas biográficas, iniciada no dia 14 de julho de 1938, na “Folha da Manhã”, do Recife, edição das 16 horas. Reúno, neste 1º volume, as notas publicadas, no período de Janeiro a Junho deste ano. Escrevi-as, usando o pseudônimo – Lio – em estilo simples, destinada ao povo. Representam, antes de tudo, trabalho modesto de divulgação histórica. Setembro de 1939 – Célio Meira.
