CASTANHA NO TEMPO DE EU MENINO – por Sosígenes Bittencourt.

A castanha é um mimo da natureza que mais se acumplicia com a nossa infância, o seu sumo, o seu aroma, o seu formato, o seu sabor, sua fumaça quando explode no fogaréu. O caju também. Caju vermelhinho, amarelinho, rechonchudo e de delicada protuberância, que nem peito de moça desabrochando.

Em meus devaneios poético-sofístico-dramáticos, quando mastigo castanha assada, é como se mastigasse quintais ou inalasse a década de 60. Assim como sinto uma sensação de funeral quando polvilho orégano e associo quiabo a seis horas da noite. Sou um fuxiqueiro de minhas sinestesias poéticas.

Fundo de quintal foi tudo na minha infância. Era o meu paraíso. A ventania, o alvoroço das árvores, o cricrilar dos grilos em sintonia com o tremeluzir das estrelas. O cheiro de perfume e cigarro que escalava a ladeira do cabaré lá embaixo. Reunião de gatos, o desfile das galinhas… Fundo de quintal foi a minha primeira aula de leitura do mundo.

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E por falar em tristeza – por Sosígenes Bittencourt.

Eu sou meio ruim de tristeza. Pelo contrário, carrego uma certa alegria n’alma que, muitas vezes, confundem com falta de seriedade. Porque o importante não é a tristeza que você sente, mas o que você pode fazer com a tristeza que sente. Tristeza longa, duradoura é depressão. É caso clínico. Eu prefiro a tristeza que é caso cínico. Dizia, o dramaturgo Nelson Rodrigues, que “não se faz literatura, política e futebol com bons sentimentos.”

Por exemplo, a tristeza, para mim, é motivo de literatura. Eu recebi um grande conselho do poeta alemão Wolfgang Goethe: Faz da tua dor um poema, e ela será suavizada.

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MULHER BEIJA RÉU QUE LHE DESFECHOU 5 TIROS EM JULGAMENTO – por Sosígenes Bittencour.

A mulher que tomou 5 balaços do namorado, em Venâncio Aires, RS, foi ao julgamento do réu, rogando ao juiz permissão para beijá-lo. Totalmente empinada e morta de saudade, anestesiada pela paixão, taca-lhe um salivado beijo na sessão. Até, aqui, não se sabe se tomou um tiro de raspão na cabeça, comprometendo-lhe a razão. A policial que aparece na fotografia, tomando conta do casal, mostra-se prostrada e sisuda de indignação.

Segundo Micheli, Lisandro sempre foi muito bom para ela e só resolveu matá-la, porque ela arengou, mostrando-se arrependida pelo transtornou que lhe causou, garantindo que ele já pagou pelo que fez, embora não haja pago um tostão por penitência. O réu, que não é besta, pediu mais uma chance ao corpo de jurados, e o “Equivocado de Defesa” disse que o maior interesse deve prevalecer, que é o da vítima, atrás de nova chance de amar e ser amada (não de ser assassinada). Aí, Lisandro, muito aperreado, disse que nunca mais voltaria para aquele inferno, desconhecendo ser, ele próprio, o Cão em figura de gente.

Um comentarista, na internet, diagnosticou como mais um caso de Síndrome de Estocolmo, um transtorno sentimental que faz a vítima, que tomou tabefe na fisionomia, ficar paquerando o seu agressor. Outro internauta, obviamente, baseado em José Luiz Datena e Cardinot, redigiu que Michele estaria “flertando com a morte”.
Talvez, Micheli se baseie no fato de Lisandro ser péssimo de pontaria, com uma arma na mão – o que não evita de mirar em sua cabeça e acertar no seu coração.  Melhor seria, serem condenados a morar no presídio, em celas separadas, com direito a visita de casal, assistida por carcereiro, de plantão, e policial.  Muitos leitores que acompanharam a publicação no Jornal Folha do Mato, já o atiraram no lixo.

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OS RISCOS DA BELEZA – por Sosígenes Bittencourt.

Gatinhos mimosos também largam pelos e podem provocar alergia. As flores mais aromáticas podem abrigar minúsculos insetos entre suas pétalas.

Lúcifer era tão vaidoso que preferiu ser Rei no Inferno do que servo no Céu.Segundo a lógica, Lúcifer é deslumbrantemente lindo. Senão não conseguiria iludir suas vítimas, seduzi-las, arrebanhar operários para suas oficinas.

Lúcifer comete o pecado da Vaidade, aquele que despreza a obra do Criador. Vaidade é Pecado Capital, porque considera a beleza, a riqueza e a inteligência como bens próprios e, sem Deus, convertidos em instrumentos para humilhar o seu semelhante.

Pecado Capital é aquele que gera pecado. Num exemplo, o homicídio é um pecado, mas a Ira é Pecado Capital porque gera o homicídio.

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A Herança do Holocausto – por Sosígenes Bittencourt.


Por ocasião da revolta mundial contra o sacrifício dos judeus em Auchwitz, importante relembrar o escritor português José Saramago: Israelenses são judeus nazistas, não aprenderam com o próprio sofrimento, porque impõem aos palestinos o mesmo holocausto que os alemães lhes impuseram. Também, oportuno relembrar o conselho da adolescente alemã Anne Frank, de origem judaica, vítima de tifo epidêmico num campo de concentração nazista: “O que é feito não pode ser desfeito, mas podemos prevenir que aconteça novamente.”

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PRIMEIRO ATO – por Sosígenes Bittencourt.

Manhã cedinho, ponho-me a lidar com as palavras. Leio desde quando não sabia ler e escrevo desde quando não sabia escrever. Ver é natural, ler é intelectual. Penso, logo escrevo. Escrevo, logo sou lido. Sou lido, logo existo. Ensinar, para mim, é uma forma de conviver, minha escola é o mundo. Eu não faço poesia de propósito, faço poesia quando a beleza passa. Eu não sou egoísta, por isso conto a poesia pra todo mundo.

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A MULHER DE DUZENTOS ORGASMOS – Sosígenes Bittencourt.


Se sua mulher é fria, desanimada pra sexo, aguada, que tal tomar conhecimento da existência da britânica Sarah Karmen?  Aos 24 aninhos, Sarah experimenta, em média, 200 orgasmos por dia. E não é gozação. Ela pode experimentar uma frescurite genital com o zumbido de um secador de cabelo, o rosto abolachado de um morto ou uma tapa no focinho. Poder-se-ia dizer que tem o “privilégio” de sofrer da Síndrome da Excitação Sexual Persistente.

Somente durante os 40 minutos de uma entrevista ao jornal News of The World, ela teve 5 orgasmos. E é porque ninguém lhe tocou com um dedo, e o microfone estava apontando para sua boca. Ela conta que, às vezes, mantém muitas relações sexuais, na tentativa de se acalmar. Como não tem um animal que consiga acompanhar tamanha garanhagem, deve referir-se a um boneco inflável.
Luxuriante abraço!

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HORA DE BRINCAR, BRINCAR – por Sosígenes Bittencourt.

REINVENTANDO VELHOS “DITADOS”

Os últimos serão os primeiros. (não)

Os últimos serão desclassificados.

É dando que se recebe. (não)

É dando que se engravida.

Antes tarde do que nunca. (não)

Antes à tarde do que nunca.

Quem espera, sempre alcança. (não)

Quem espera, sempre cansa.

Quem dá aos pobres, empresta a Deus. (não)

Quem dá aos pobres, adeus.

Quem ri por último, ri melhor. (não)

Quem ri por último é retardado.

Quem ama o feio, bonito lhe parece. (não)

Quem ama o feio tem mau gosto.

Quem tem boca, vai a Roma. (não)

Quem tem boca, vaia Roma.

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LOUCOS ONTEM, SADIOS HOJE – por Sosígenes Bittencourt.

Antigamente, o hospício estava cheio de loucos que tinham uma ideia fixa. Uns ficavam olhando para os cantos de parede, pensando que tinha alguém filmando eles; outros se agarravam com um objeto e só largavam na base do eletrochoque. Hoje, tudo isso é normal. As pessoas nem ligam estarem sendo filmadas até urinando e nem ligam estarem o dia inteiro esfregando o dedinho num smartphone.

Tem gente que bebe para dormir e acorda para beber. Sua fama é de CACHACEIRO. Por outro lado, tem gente que dá Boa Noite no Facebook para cair nos braços de Morfeu e dá Bom Dia no Facebook ao arregalar os olhos, e ninguém dá um pio.

Contam até que um cidadão ressuscitou, no caixão, na hora do seu sepultamento. As pessoas saíram correndo, e ele gritando que se esqueceu de postar o seu falecimento no Facebook.

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GALINHA DEPENADA E MICO-LEÃO-DOURADO – por Sosígenes Bittencourt.


No tempo de eu menino, criança não podia ver sangrar galinha, éramos retirados da cozinha. Muito menos, assistir ao mergulho da falecida no charco do próprio sangue. Deglutir galinha à cabidela, podia, mas nada de explicações culinárias. Só o aroma que exalava da água fervendo sobre a moribunda para depená-la. Hoje, as galinhas são criadas em cativeiro e assassinadas em série, submetidas às carnificinas frias da tecnologia. E a lei só se mete se você atirar num mico-leão-dourado.
Paradoxal abraço!

Sosígenes Bittencourt

AO PÉ DO HOSPITAL DA RESTAURAÇÃO – por Sosígenes Bittencourt.

Ao pé do Hospital da Restauração, há uma série de pequenas lanchonetes. Nelas, tem de tudo, de hambúrguer a feijão com arroz. Só não pode despachar bebida alcoólica. É proibido. Você pode ser convidado a se retirar, o que lhe tiraria a fome. Mas, pode cometer outros vícios, como comer demais, por exemplo.
– Aqui, vende bebida, madame?
– Olha, aqui não, é proibido.
Insistir para ingerir bebida alcoólica ao pé do Hospital da Restauração, não tem solução, é caso sem remédio.
Vem uma senhora gorda, balançando como um barco numa beira de cais, senta-se e pede o cardápio. Olha… olha… Daí a pouco, chama a despachante:
– Me dê uma galinha à cabidela.
– Pois não. – Responde a magrinha.


A freguesa põe a mão na Bíblia e começa a dar explicações sobre pecado, vícios e a Salvação da Alma. Entre uma explicação e outra, uma bocanhada na suculenta galinha à cabidela e uma “Aleluia!”
Era dessas criaturas falantes que dão discurso em saleta de dentista, advogado, penduradas em ônibus suburbano, fila do INSS, manicure e etc e tal.
Uma diferença entre o Tabagismo, o Alcoolismo e a Gula é que o tabagista faz fumaça, e todo mundo vê; o alcoólico cai na rua, e todo mundo vê; enquanto a Gula pode passar despercebida pelos homens, e só Deus perceber.
Pecaminoso abraço!

Há quatro anos…..

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CAPIBA NO CÉU – por Sosígenes Bittencourt.

Lourenço da Fonseca Barbosa
* Surubim: 1904
+ Recife: 1997
Capiba chega ao céu.
Sorridente e de braços abertos, penetra sem kit
no bloco de Nelson Ferreira, Irmãos Valença e Felinho.
Ao som de Vassourinhas, de Matias da Rocha e Joana Batista,
os anjos danam-se a frev(o)ar e plumas caem.
Vem um ente traquinas e seringa cloreto de etila no ar.
O folguedo, alegre e saltitante, vai circulando um salão de nuvens
e volatiliza-se sob uma neblina de papéis picados.

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Origem da palavra FREVO – por Sosígenes Bittencourt

A palavra vem de “ferver”. Por corruptela “frever”, dando, naturalmente, “frevo”, palavra já consagrada no “Dicionário dos Brasileirismos”, de Rodolfo Garcia.

Fernando Wanderley observa que nada é mais comum numa terra canavieira do que a “frevura” – fervura dos tachos de mel, nos engenhos de açúcar, fervura lenta, bem quente, etc. A primeira referência na imprensa à palavra “frevo” está registrada no dia 12 de fevereiro de 1908, no “Jornal Pequeno”, órgão que marcou época na história da imprensa de Pernambuco. Já em 1909, o dito do ano era “Olha o frevo!”, conforme se lê no mesmo jornal de 22 de fevereiro. A palavra caiu no gosto da população e daí passou aos livros mais responsáveis. Designa, ao mesmo tempo, a música típica do carnaval recifense e os esfregados da massa em plena folia.

Obs: Corruptela – modo errado de escrever ou pronunciar uma palavra ou locução.

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CARNAVAL E CONFUSÃO – por Sosígenes Bittencourt.

Cuidado para você não pensar que está brincando Carnaval e estar mergulhado numa Confusão. Há quem brinque Carnaval para se DISTRAIR, e há quem brinque Carnaval para se DESTRUIR.

Essa semana, desfilou um bloco que não parecia estar brincando Carnaval, parecia estar ensaiando uma Confusão. O som era ensurdecedor, e ninguém entendia o que o conjunto cantava. Uma récua de bêbados ladrava palavrão e gesticulava pornografia, acompanhada pela Polícia, de cassetete em punho, já na posição de aprumar o esqueleto da macacada.

Cuidado para não confundir liberdade de expressão com constrangimento moral. A liberdade termina onde começa o direito do outro.

Por exemplo:

Mulher nua, para quem quer ver, é opção;

mulher nua, para quem não quer ver, é imposição.

Mulher nua, para quem deseja, é divertimento;

mulher nua, para quem não deseja, é enxerimento.

Mulher nua, entre casal, é Carnaval;

mulher nua, no meio da rua, é bacanal.

Confuso abraço!

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Trio e Frevo – por Sosígenes Bittencourt.

Bom salientar, pessoal, que a história do TRIO ELÉTRICO começa em Salvador, em 1951, quando DODÓ e OSMAR contratam outro músico, formando um trio, e saem em cima de uma FUBICA tocando FREVO PERNAMBUCANO. Era uma homenagem ao que aconteceu no ano anterior, 1950, quando um bloco de Recife parou o Carnaval Baiano com um show de execução de FREVO. Com a palavra MORAES MOREIRA: E o frevo que é pernambucano, ui, ui, ui, ui / Sofreu ao chegar na Bahia, ai, ai, ai, ai / Um toque, um sotaque baiano, ui, ui, ui, ui / Pintou uma nova energia, ai, ai, ai, ai

Agora, se hoje nós tocamos AXÉ, e eles não tocam nosso FREVO, isso é problema nosso.

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Minha fantasia – por Sosígenes Bittencourt.

Minha fantasia é barata, porque é natural. Não precisa de patrocínio ou investimento, a natureza já se encarregou de me fantasiar. Embora, sem neto ainda, sou o avô das meninas, sobretudo das solteironas casadoras e separadas esperançosas. A música que canto nos ambientes por onde passo é a modinha de finado Capiba, MODELOS DE VERÃO.

Quanta mulher bonita
tem aqui neste salão
parece até desfile de modelos de verão
até as viuvinhas do artista James Dean
vieram incorporadas
hoje a noite está pra mim!
Eu daqui não saio,
eu não vou embora,
tanta mulher bonita
e minha mãe sem nora.

Sosígenes Bittencourt