
Na cidade da Vitória, cidade pernambucana de três séculos, plantada, sob o alto patrocínio de Santo antão, à margem esquerda do rio Tapacurá, nasceu, a 15 de fevereiro de 1850, Demócrito Cavalcanti de Albuquerque.
Matriculou-se, Demócrito, aos 19 anos de idade, na Faculdade de Direito do Recife, e aos 23, em 1873, recebeu a carta bacharel, na mesma turma de Argemiro Galvão, o futuro desembargador Galvão do Tribunal de Pernambuco, de Domingos Olímpio, que traçaria, um dia, o “Luzia Homem”, romance notável, de Venancio Neiva, de Fernando Luiz Osório, filho do Marquês do Herval, e do barão de Suassuna, uma das derradeiras e refulgentes figuras da fidalguia de Pernambuco. Doutorou-se, na aludida Faculdade, dando, na defesa de tese, o brilho de sua inteligência e de sua cultura.
Exerceu, no Recife, os cargos de delegado de polícia e de procurador fiscal do Tesouro da Província. Praticou a advocacia. Político ardoroso, pertenceu, sempre, Demócrito, ao partido conservador. Quando o partido liberal, depois de um ostracismo de 10 anos, galgou o poder, com o visconde de Sinimbú, chefe do gabinete de 5 de janeiro de 1878, Demócrito, intransigentemente, se apresentou ao quartel general de seu partido, que era o jornal O Tempo, e pediu um posto de combate. Não lhe foi negada a trincheira. E durante sete anos, ao lado de Correia de Araújo, de Gonsalves Ferreira, de Melo Rêgo e de Alves da Silva, esse brilhante jornalista vitoriense, de pena afiada, e elegante, batalhou, sem cessar, demolindo o acampamento do inimigo. Elegeu-se, a esse tempo, vereador municipal do Recife, e em seguida, deputado à Assembleia de sua Província. E em agosto de 1885, quando o partido conservador voltou a dirigir a política, com a organização do gabinete Cotogipe, deixou, Demócrito, em 86, a terra natal, para servir na secretaria de um presidente, na Província do Pará. Na terra paraense, exerceu, também, a procuradoria fiscal da Tesouraria da Fazenda, e dirigiu O Grão Pará, fortaleza política, em cujo mastro tremulou a bandeira dos conservadores.
Regressando ao Recife, teve, do governo monárquico, varias comissões, e em 1891, na República, mereceu a nomeação de Delegado do Ministro da Fazenda, no Ceará e na Baia. Fundou, no Rio, informa um biógrafo, a Associação Beneficente Pernambucana, e a Gazeta Federal, órgão do funcionalismo público.
Morreu, Demócrito Cavalcanti, em 1904, aos 54 anos de idade, no elevado posto de presidente do Tribunal de Contas, e com 30 anos de assinalado serviços à cauda pública. Político da velha tempera, funcionário honesto, jornalista e parlamentar, não perdeu, nunca, a confiança e a admiração de seus concidadãos.
A cidade da Vitória, prestou homenagens à memória de seu filho ilustre. Há, naquela terra, uma rua, que recorda às gerações de ontem e de hoje, o nome desse vitoriense, que honrou, do Pará ao Rio de Janeiro, à terra abençoada, onde ele a luz do dia.
Célio Meira – escritor e jornalista.
LIVRO VIDA PASSADA…, secção diária, de notas biográficas, iniciada no dia 14 de julho de 1938, na “Folha da Manhã”, do Recife, edição das 16 horas. Reúno, neste 1º volume, as notas publicadas, no período de Janeiro a Junho deste ano. Escrevi-as, usando o pseudônimo – Lio – em estilo simples, destinada ao povo. Representam, antes de tudo, trabalho modesto de divulgação histórica. Setembro de 1939 – Célio Meira.
