Momento Cultural: PARA MINHA NETINHA – Por Diva Holanda.

Plim Plim! Parece conto de fadas
ou mesmo boato infundado
mas, o que é fato é verdade
e não pode ser contestado:

Diva vai ser vovó
ela que parecia querer
ver em Mano um menino
de repente o viu crescer.

Cresceu deu nova vida
a quem não foi programada
mas que será com certeza
das filhas a mais amada.

Nascendo em tempo tão ruim
onde não se tem esperança,
estou apostando em você
minha doce e terna criança.

De você vou ser vovó
de fadas vou lhe falar
vou cantar mesmo sem voz
lindas canções de ninar.

E a vovó que daria
bolões de feijão e amor,
que hoje é da guarda
você vai levar uma flor.

E no seu mundo encantado
com baleias navegando,
sem guerra e sem fuzis
você vai crescendo pesando:

Que Drumond não morreu nunca
Que Deus é bom e perdoa,
Que a vida já é história
De um pensamento que voa.

Dra. Diva de Holanda Bastos

Momento Cultural: Cego de nascença – por Célio Meira.

A desdita desse cego,

não há, na terra, quem sonde,

pecados não cometeu,

pelos pais, não responde.

A alma, porém, desse irmão

verá, sempre, a Lei cumprida:

– pagará todos os crimes,

Praticados noutra vida.

Se esta não fosse a verdade,

se esta não fosse a lição,

crime nefando haveria,

nesta injusta punição.

(migalhas de poesia – Célio Meira – pág. 35 a 37).

Momento Cultural: ÁRVORE AMIGA – por José Teixeira de Albuquerque.

Ei-la aqui derrubada! Esta árvore que outrora
era o ponto melhor dos ninhos da floresta,
vivendo a proclamar a beleza da flora
altaneira, copuda e ramalhuda e erecta.

Farfalhando – acordava os pássaros na aurora
protetora – abrigava os pássaros na sesta…
Então eles cantavam uma canção sonora
uma canção de amor, de gratidão, de festa!

Mas um verme a roer-lhe as fibrosas entranhas
deu-lhe dores cruéis, estúpidas, tamanhas
fazendo-a vacilar… esmorecer e cair…

de pássaros deixando a procissão chorosa!
– José de Barros foi como esta árvore frondosa
deixou Vitória toda enlutada a carpir.

“O LIDADOR” 24.VI.1926

José Teixeira de Albuquerque, nasceu na fazenda Porteiras, Vitória de Santo Antão aos 23 de agosto de 1892. Seus pais: Luiz Antonio de Albuquerque e Dontila Teixeira de Albuquerque. Estudou medicina na Faculdade da Bahia, porém desistiu do estudo no 3º ano. Casou em segundas núpcias com a conterrânea Marta de Holanda, também poetisa e escritora. Publicou o livro de versos MINHA CASTÁLIA e colaborou em várias revistas e jornais; tanto da Vitória como do Recife. Foi funcionário do Arquivo da Diretoria das Obras Públicas do Estado,com competência e zelo. Faleceu no Recife, no dia 2 de outubro de 1948. Não deixou filhos. Sua morte foi muito sentida entre os intelectuais, que não se cansaram de elogiar sua prosa e seus versos.

Momento Cultural: Oração – Por Corina de Holanda.

(Adaptação)

Ó São João Bosco, “que da juventude
Sóis Pai e Mestre” e tanto trabalhastes,
Para levá-la à trilha da Virtude…
E que com tanto zelo batalhastes

Na luta pelo bem das almas, rude
Foi o labor a que vos entregastes,
Possuído dessa fé que não ilude,
E pela qual, montanhas derrubastes

Erguidos pelo mal… vinde ajudar-nos
A vencer as paixões, a respeitar-nos
Com o desassombro próprio de um cristão.

Ensinai-nos a amar a Eucaristia,
A merecer o auxílio de Maria
E a respeitar do papa a orientação.

1972

(Entre o céu e a Terra – Corina de Holanda – 1972 – pág. 27)

FALTA DE EDUCAÇÃO PODE LEVAR À MORTE.

A proposital degradação da família e a falta de instrução escolar de qualidade podem levar à morte.

No meu tempo, menino não usava arma de fogo, não fumava maconha nem namorava nu. Aos 10 anos, eu não podia manusear uma gilete para fazer ponta de lápis, porque poderia levar um talho no dedo; não podia chegar em casa com um limão sem dar explicação.

O que mais nos assusta: um policial atirar num menino de 10 anos, ou um menino de 10 anos roubar um automóvel e atirar num policial?

Bom salientar que bala de revólver, disparada de mão de menino, também mata. E a pergunta é a seguinte: Você daria sua vida para não matar um menino armado, que houvesse atirado em sua direção?

Ademais, como avaliar um tempo em que você tema, ao mesmo instante, um policial ou um menino de 10 anos circulando por entre a gente.

Investigativo abraço!

Sosígenes Bittencourt

MOMENTO CULTURA: América Latina – por GUSTAVO FERRER CARNEIRO.

América Latina bela

Pelas lutas e sofrimento

Por passar os mesmos tormentos

De fome e castração

Somos irmãos

De beleza e de tortura

De amor e ditadura

De hermanos e sofrimento

Em busca a cada momento

Somente de igualdade

Não queremos nos sobrepor

Mas queremos felicidade

Respeito e liberdade

Pelos países mais ricos

Queremos equilíbrio

Na riqueza e na pobreza

Para podermos acreditar

Em um mundo mais justo

Temos que pensar em unidade

Na tríade francesa

Liberdade

Igualdade

Fraternidade

Principalmente nos países emergentes

Que coisa linda

Que coisa divina

Somos únicos

Somos nós

Viva a América Latina

(MOSAICO DE REFLEXÕES – GUSTAVO FERRER CARNEIRO – pág. 15).

Momento Cultural: A ILUSÃO – por José Miranda.

Para vivermos nós contentes pela vida
sem essa mágoa que tortura tanto a gente
da culpa de Eva no Édem, um dia nascia.
O Senhor deu-nos a ilusão constantemente.

Quanto seria: a alma por tudo entristecida
e o coração ensimesmado e até doente
se a ilusão fosse deste pélago banida
se não houvesse, não o sonho doce e ingente!

De assalto sem se esperar conta do destino
a ilusão toma para nos dar prazer na dor
para nos fazer o espiamento pequenino.

Da nau de crença a vela enfuna com vigor
e fortifica quando sofre, o coração:
toda beleza está da vida na ilusão.

José Tiago de Miranda, vitoriense, nascido a 9 de junho de 1891 e faleceu a 29 de maio de 1960. Foi professor primário na Vitória, em Moreno e em Limoeiro, exercendo, em todas as cidades, o jornalismo. Foi proprietário e diretor de O LIDADOR a partir de 1932 até sua morte. Cronista, poeta e jornalista de alto valor. Seus filhos (Ceres, Péricles e Lígia) reúnem em volume muitas de suas crônicas e poesias, em livro “Antologia em Prosa e Verso”, comemorando o centenário de seu nascimento, aos 9 de junho de 1991. Do casamento, com D. Herundina Cavalcanti de Miranda, houve ainda um filho, Homero, falecido logo após a morte do Prof. Miranda.

Momento Cultural: Martha de Holanda.

Espasmo… Vertigem do sétimo sentido do sol,
nos braços da terra…
Espasmo… O silêncio desvirginizando o tempo
no leito das horas…
Espasmo… A orgia da vida, na bacanal da morte…

Meu amor! Espasmo…
O meu beijo na tua boca…
Meu amor! Espasmo…
O teu beijo na minha boca…

Espasmo… A noite estava, com as estrelas,
arrumando o céu, para receber o dia.
O luar veraneava, longe, levando a sua bagagem de luz
E as ventanias passavam, correndo, para assistir ao
parto prematuro da primeira aurora.
E eu me desfiz dentro de mim…

Espasmo… A natureza parecia enxugar o seu vestido
cor de ouro debruado de azul, hemoptise do poente.
As nuvens voltavam, cansadas do trabalho das trajectórias,
a tomavam a rua das trevas.
Os pássaros acabavam de dar o seu último concerto do dia
na ribalta dos espaços, e recolhiam-se felizes nos bastidores
das folhas.
E eu me procurei em ti…
Espasmo… As raízes entregavam-se à terra,
para a eterna renovação dela mesma.
Os elementos tocavam-se na confusão das origens,
O éter, na elasticidade, dobrava-se
volatizando-se por todo o universo.
E, eu, te senti em mim.

Martha de Holanda, vitoriense, filha de Nestor de Holanda Cavalcanti e de Matilde de Holanda Cavalcanti, nasceu a 20.III.1909 e faleceu no Recife a 24.VI.1950. Casou-se com o poeta Teixeira de Albuquerque aos 8.XII.1928.

Momento Cultural: APENAS SEU HERÓI – por Heitor Luiz Carneiro Acioli.

Minha querida, sei que não sou nenhum super herói, não possuo a força, a velocidade e a resistência do super-homem, tampouco sei usar habilidades sobrenaturais como as do professor astro. Também não posso ficar fixo em lugares impossíveis, nem lançar teias pelos meus dedos como o homem aranha. Não posso me transformar como o marciano a liga da justiça, mas espero que me permitas ser não o super-herói, mas apenas seu herói.

(Meus Jeito em Versos e Prosas –
Heitor Luiz Carneiro Acioli – pág. 04).

Fim de Semana Cultural: PUNHADO DE TERRA (poesia) – Por Inam Albuquerque.

Pequena vila, grande cidade histórica
felizarda em nascer em solo tão gentil
pequeno grão de areia em mapa à retórica
madeira de foto, matas, rios – Brasil.

Com tabocas simples em montes lutamos
três raças unidas nos auxiliando, morrendo
liberdade se formando, nos irmanando
o porvir se fez com lutas, brilhando.

Cidadãos de elite: Aragão, Peixe, Holanda, Xavier
– Taboquinhas, Cana Verde, Boi Carrasco, Camelo e Leão
troças, maracatus tradicionais, e “ferve”
quem não te ama de todo coração?

Tapacurá – recreio de muita gente, infantil
tabocas onde o sangue banhou do Norte o Leão
engenhos, cultura, Diogo Braga, céu de anil
meu punhado de terra, Vitória de Santo Antão.

Inam Albuquerque

Poesia publicada no livro Antologia da Poesia Vitoriense – 1843 – 1992,
editado por Júlio Siqueira

Momento Cultural – Jesus – por João do Livramento.

Para falar de Jesus Cristo

Nós precisamos entender

Que ele sofreu todo calvário

Pra nossa alma não perecer

Esta dívida da humanidade

Eu e você é quem produz

A cada dia nós pregamos

Jesus Cristo em nossa cruz

As cusparadas em sua face

São proferidas por rejeição

A filosofia do jesus homem

Que não adentra o coração

Gananciosos o esbofeteiam

E o açoitam todos mesquinhos

Cada aborto é o que terce

Sua coroa de espinhos

É flagelado pelos corruptos

E por mentirosos caluniado

Os violentos com suas lanças

Sempre o atingem abrindo o lado

No indigente as suas sedes

Com amargor são saciadas

Porém se a sede for de justiça

As suas pernas serão quebradas

Só cessará tal sofrimento

Se a humanidade compreender

Que quando fere seu semelhante

A Jesus Cristo faz padecer

João do Livramento.

Momento Cultural: ASAS DO CORAÇÃO – Por Egidio T. Correia

Um poeta tem FOGO no cérebro,
Tem ASAS no coração,
Um foguete espacial
Quando chega inspiração.
Trouxe consigo um destino,
Viajar no infinito
Estando alegre ou aflito,
Quando tem, ou não, razão.
Seu combustível é um verso
Estreitando o universo
Polindo imaginação.
Ou pra registrar sentimentos
Com a caneta na mão.

Egidio T. Correia é poeta.

Momento Cultural: Caveira – por Henrique de Holanda.

Da nudez em que vive na demência,
traduzes bem o desmoronamento.
lar que serviu de abrigo à inteligência
e onde hoje reside o esquecimento.

Outrora tu vivias na opulência:
carne, vaidade, amor, deslumbramento,
beijo, pecado, embriaguez, ardência,
e hoje, de tudo isso, o isolamento.

No mundo, tu viveste mascarada.
Hoje, porém, com a face descarnada,
Tens do teu rosto a máscara caída…

Retrato original da humanidade:
Ressaca para toda a eternidade
depois da grande dança desta vida!…

(Muitas rosas sobre o chão – Henrique de Holanda – pág. 12).

Momento Cultural: A Verdade – Por Stephen Beltrão

 

A verdade sempre chega
A mentira sempre é alcançada
A verdade desmascara a mentira,
desmoraliza as falsas crenças,
transforma a insana inquietude que a mentira alastra.

A verdade é a língua dos justos
que por justiça implora,
e impuros que a lastimam,
maldizendo as pertinências
das frases maldosas,
da verdade nomeada
e das conveniências da hora.

 

Uma verdade vale mais
que mil mentiras.
Derruba a fúria vã
da cobiça de um demolidor
de vidas incontidas,
escudadas na mentira
de quem se acha sã.

Stephen Beltrão

MOMENTO CULTURAL: Entre a Cruz e a Espada – por Severina Andrade de Moura.

Eu sofro porque sou balança
equilíbrio entre o cheio e o vazio.
Paredão onde acham confiança
homens de bem, mulheres de brio.

Ouço de lá e de cá os desabafos.
Fico no meio, entre a cruz e a espada.
Não quero destruir jamais, os laços
que se criaram em longas caminhadas.

Às vezes sou mal interpretada.
Que importa! Jesus também o foi
Quero ser útil em toda minha estrada

E quando eu me for, quero que digam
nela eu tive uma grande aliada
e se esquecer de mim jamais consigam.

Profª Severina Andrade de Moura

Momento Cultural: O Primeiro Poeta – Adão Barnabé

O sol nasceu, brilhou por todo o mundo,
(quarto dia feliz da Criação),
do pináculo da terra ao vale imundo,
iluminou a Santa Geração…

e Deus criou Adão no sexto dia
mas, desgraça tão grande, azar profundo…
era tarde, o sol já ia se escondia,
acordou, bocejando, o vagabundo…

e quedou aterrado, soluçando,
sabendo que o Senhor… e bem sabia
estivera sua incúria observando.

Nem por isso ficou desesperado…
tinha a Lua, a Mulher e bem podia
ser poeta… e o foi muito inspirado.

(do arquivo da família)

Adão Barnabé