Nossos deputados estaduais – lobos em pele de cordeiros…….

Na última terça-feira (07) os deputados estaduais pernambucanos, ao aprovarem um projeto de lei que segue no sentido da mudança da constituição estadual que tem, entre outras finalidades antecipar a eleição da mesa da “Casa”,  deram, de maneira eloquente, uma sonora declaração de que a “casa do povo de Pernambuco” está se apequenando.

Vale lembrar que essa mediocridade legislativa em tela contou com a aprovação da unanimidade dos deputados presentes, ou seja: 40 parlamentares. Diga-se de passagem, deputados de todas as correntes políticas. Isto é: uma verdadeira aberração do ponto de vista democrático, espelho da chamada pluralidade de ideias.

Longe das preocupações e do entendimento das massas, na prática, essa mudança, quando aprovada em definitivo, permitir-se-á que a eleição para mesa diretora da ALEPE –  que só irá assumir no biênio 2025/2026 –  poderá ser convocada já em 2023.

Será que Pernambuco não tem problemas sérios para serem enfrentados: como a violência urbana  que cresce diuturnamente? Será que as estradas pernambucanas é algum  exemplo para o Brasil? E os presídios estaduais, que se configura numa vergonha internacional?  E a saúde do Hospital da Restauração, como vai?

Pois bem, e os nossos deputados estaduais, que no ano passado estavam  todos “cordeirinhos”, pilotando o teatro da campanha eleitoral, agora, mostrando total desprezo aos legítimos interesses do povo  pernambucano,  já estão preocupados com espaços políticos e com o incremento dos seus respectivos salários, por ocasião de cargos de relevo na Mesa Diretora da Casa, a partir de 2025.

A quem interessa antecipar a eleição na ALEPE, senão ao sempre obscuro varejo reinante  nos mais “escuros” corredores da referida  instituição?

Portanto, de nossa parte, segue uma retumbante “bola-murcha” para os senhores deputados que,  não hora de defender seus interesses particulares,  se unem com uma verdadeira alcateia………

Derrubadas de árvores: ação popular questiona a prefeitura….

Como efeito das mais recentes ações da gestão municipal, no tocante ao desmatamento urbano, advogados –  membros de uma das comissões da OAB – Vitória de Santo Antão – ingressaram com uma ação popular na justiça.

Acolhida, os primeiros despachos do magistrado seguem no sentido dos esclarecimentos por parte dos gestores em questão.  Já com prazos e multas estabelecidas, a prefeitura, doravante, deverá, entre outras informações, detalhar a lista de todas as árvores e espécies que foram cortadas no município,  durante os últimos anos.

Abaixo, portanto, segue as informações completas:

Vida Passada… – Claudino dos Santos – por Célio Meira

Célio Meira

Célio Meira – escritor

No bairro recifense de São José, onde há, ainda, ruas estreitas e tortuosas, que trazem, ao espirito dos estudiosos, a recordação histórica do Recife, ao tempo da colônia, nasceu, no dia 4 de janeiro de 1862, Claudino Rogoberto Ferreira dos Santos, uma das figuras que mais elevaram, e enobreceram, no sul do país, o nome de Pernambuco. Discípulo querido de Tobias Barreto, companheiro inseparável, no dizer do ilustrado historiador Sebastião Galvão, de Arthur Orlando, de Clóvis Bevilaqua, de Afonso Olindense, de Nilo Peçanha, conquistou, aos 24 anos de idade, a carta de bacharel em direito, na companhia de Epitácio Pessoa, de Alfredo Pinto, o futuro ministro de Epitácio, do vitoriense José Rufino Bezerra Cavalcanti, de Graça Aranha, de Júlio de Melo, de Castro Pinto e de Metódio Maranhão.

Cursava o segundo ano de, na Faculdade de Direito do Recife, quando publicou o “Estatuarias”, livro dos primeiros versos, com um prefácio de Faelante da Câmara, entregando, mais tarde, às livrarias, o “Ebulições” e o “Sons e Brados”. Poeta de delicada sensibilidade, jornalista vigoroso, teve Claudino dos Santos, brilhante atuação, na imprensa pernambucana, fundando, em 89, no Recife, narra aquele historiador, o “Diário de Notícias”.

Diplomado, iniciou-se na advocacia, deixando-a, em breve, para seguir a magistratura, no Estado do Paraná, cenário grandioso de sua vida breve. E luminosa. Doutrinando a “A Federação” , aderiu, em 93, ao movimento revolucionário de Custódio, de Saldanha e de Gumercindo Saraiva, e, derrotado, conheceu o amargou do exílio, na Argentina. Anistiado, regressou à carinhosa terra adotiva, onde fundou o “Colégio Paranaense”, escrevendo, a esse tempo, os “Primeiro e Segundo Livros de Leitura”.

Restabelecida a ordem pública, e realizado o congraçamento dos partidos, surgiu Claudino, na arena política, e nos altos postos da administração. Foi secretário da Aviação, diretor da Instrução Pública e secretário da Justiça. Revelando, nesses cargos, elevação moral, e cultura rutilante, confiou-lhe o governo, com os aplausos do povo, a prefeitura da formosa Curitiba. E não perdeu, esse pernambucano ilustrado, nunca, a admiração dos seus governados. Administrou com justiça e honestidade.

Dirigia, Claudino, o barco do município curitibano quando se sentiu doente, submetendo-se a uma operação difícil. Os médicos entenderam, porém, que ele devia operar-se, de novo, no Rio de Janeiro. E ele partiu.

Não voltou a rever a terra de suas afeições. Morreu. E sete dias depois, em fevereiro de 1917, Curitiba recebeu o cadáver embalsamado do grande recifense, nascido no bairro de São José. E sepultou-o, chorando à sombra dos pinheiros. (1)

Célio Meira – escritor

(1) Transcrita no Jornal “O Dia”, de Curitiba, edição de 10 de janeiro.

LIVRO VIDA PASSADA…, secção diária, de notas biográficas, iniciada no dia 14 de julho de 1938, na “Folha da Manhã”, do Recife, edição das 16 horas. Reuno, neste 1º volume, as notas publicadas, no período de Janeiro a Junho deste ano. Escrevi-as, usando o pseudônimo – Lio – em estilo simples, destinada ao povo. Representam, antes de tudo, trabalho modesto de divulgação histórica. Setembro de 1939 – Célio Meira.

Padre Renato: exumação dos restos mortais – por Paróquia de Santo Antão.

Na manhã de hoje, 06 de novembro, foi realizada a exumação dos restos mortais de Monsenhor Renato da Cunha Cavalcanti. Os Padres Renato Matheus, André Martins e Pedro Jorge acompanharam de perto o momento que foi marcado pela emoção.
Alguns familiares e paroquianos também testemunharam o ato. Logo após a exumação, o Padre Renato Matheus, presidiu a Santa Missa em sufrágio a alma do Monsenhor Renato na Capela do cemitério de São Sebastião. Os restos mortais passarão por um processo de limpeza e conservação. O Translado para o Jazigo dos Párocos na Matriz de Santo Antão ocorrerá no dia 16 de Novembro.

Paróquia de Santo Antão.

Raimundo Fagner – por @historia_em_retalhos.

“Quando penso em você
Fecho os olhos de saudade”

Quem nunca cantou fundo esse clássico da mpb que ganhou o país na voz inconfundível de Raimundo Fagner?

O que pouca gente sabe, porém, é a polêmica por trás dele.

Fagner lançou Canteiros em 1973, como uma faixa do seu disco de estreia.

Todavia, cometeu um deslize: omitiu que a estrofe que abre o nosso retalho de hoje havia sido inspirada no poema Marcha, escrito por Cecília Meireles.

Em 1977, voltou atrás e registrou a poetisa como coautora da letra, o que, no entanto, não impediu uma ação judicial movida pelas filhas da escritora.

Dois anos depois, em 1979, Fagner admitiu, em juízo, que havia tentado fazer uma adaptação do poema Marcha.

Em 1983, as filhas de Cecília Meireles venceram a ação judicial, cabendo ao cantor, às Edições Saturno e às gravadoras Polygram, Polystar e Polifar o pagamento de uma indenização de 101 mil cruzeiros, por violação de direitos autorais.

O litígio só findou mesmo em 1999, quando a gravadora Sony Music fez um acordo com as herdeiras envolvendo a regravação da canção no primeiro álbum ao vivo de Raimundo Fagner.

Para que cada um tire as suas próprias conclusões, segue a primeira estrofe do poema Marcha:

“Quando penso no teu rosto, fecho os olhos de saudade
Tenho visto muita coisa, menos a felicidade
Soltam-se meus dedos tristes
Dos sonhos claros que invento
Nem aquilo que imagino
Já me dá contentamento”

Finalmente, foi plágio ou não?

Cada um tire as suas próprias conclusões!

Se viva estivesse, Cecília Meireles estaria completando, hoje, 7 de novembro, 122 anos. 🙏🏼
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A volta ao Mundo do doutor Silvio Amorim….

Em comitiva do nosso Instituto Histórico e Geográfico, na noite de ontem (06), prestigiamos o lançamento do livro – “UMA VIAGEM DE VOLTA AO MUNDO DA MINHA ALDEIA” -, escrito pelo bem relacionado doutor Silvio Amorim. O evento ocorreu nos jardins as APL – Academia Pernambucana de Letras.

Em rápida leitura, já “descobri” que o “cupido protagonista” do romance dos pais do doutor Silvio – João e Diva – foi o pedido de uma copo d’água, numa tarde de calor, em um  balcão de uma determinada farmácia da nossa Vitória de Santo Antão, lá, nas primeiras décadas do século próximo passado.

Em 50 crônicas das mais variadas, com títulos convidativos, o livro nos fornece uma leitura leve e agradável.

Recheadas de sentimentos, aventuras e muitas experiências vividas, tanto no campo pessoal quanto no familiar, como uma viagem de turismo à pequena cidade pernambucana de Manari, então considera a mais pobre do Brasil, as páginas da obra  também confidenciam, por ocasião da viagem de 112 dias do autor, ao redor do Mundo, “que nenhum terrestre poderia morrer sem conhecer seu Planeta”.

Para concluir, imagino que o livro do doutor Silvio Amorim, em breve, por assim dizer,  será a minha próxima viagem literária recreativa.

5 de novembro de 1993 – por @historia_em_retalhos.

Há exatos 30 anos, Ronaldo Cunha Lima, então governador da Paraíba, entrava no Restaurante Gulliver, em João Pessoa, com uma intenção: matar a tiros o ex-governador do mesmo estado e seu desafeto político Tarcísio Burity.

Ao se dirigir ao restaurante no bairro de Tambaú, a intenção de Ronaldo era vingar-se publicamente do antecessor e, depois, supostamente, cometer suicídio.

O suicídio jamais aconteceu.

Os tiros foram disparados em reação às supostas críticas que Burity teria feito ao filho de Ronaldo, Cássio Cunha Lima, então superintendente da Sudene.

Isso teria acontecido em uma entrevista, concedida ao vivo, minutos antes, em uma emissora de TV.

Burity foi atingido na boca e no tórax, à queima-roupa, mas sobreviveu ao atentado, embora tenha ficado alguns dias em coma.

O episódio e o ferimento causaram-lhe outros problemas de saúde e, dez anos depois, no dia 8 de julho de 2003, morreu de falência múltipla de órgãos.

Antes de morrer, Burity perdoou Ronaldo.

Em sua defesa, Ronaldo alegou que Burity o ameaçava e que não premeditara o crime.

Segundo testemunhas, Cunha Lima entrou no restaurante, bateu nas costas de Burity e, antes de atirar três vezes, disse-lhe:

“É você mesmo que eu quero pegar”.

Ele chegou a ser preso na noite do crime, mas foi liberado em seguida.

Ronaldo Cunha Lima morreu sem nunca ter sido julgado, porque realizou inúmeras manobras protelatórias no processo, tendo, inclusive, renunciado ao mandato de deputado federal, para que o feito retornasse à justiça paraibana.

Em 2014, o Senado Federal decidiu homenageá-lo, batizando com o seu nome o edifício do Interlegis.

A homenagem provoca polêmica até hoje.
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A NATUREZA VIVA – por Marcus Prado.

O que será visto neste conjunto de obras de grandes mestres e pintores nascidos ou radicados em Pernambuco, mais do que pode parecer à primeira vista, são desejos, traçados, espaços e cores, por caminhos diversos, de apreender o visível que se encontra na essência da Natureza e o seu universo imaginário. Desafios e reflexões estéticas, multiplicidade de leituras sobre um grande tema que esteve no centro das discussões das artes desde a antiguidade até os nossos dias.

No conjunto, esta amostra coletiva A NATUREZA VIVA, numa época em que o patrimônio natural da humanidade acha-se ameaçado, tanto terrestre quanto aquático, nos dá a impressão de que cada autor esteve em harmonia com o Universo e suas esferas gravitacionais.

Marcus Prado – Jornalista

O “Robertinho do Recife” – @historia_em_retalhos.

Este é Carlos Roberto Cavalcanti de Albuquerque, o “Robertinho do Recife”.

Se você não o conhece, Robertinho do Recife é considerado um dos melhores guitarristas do Brasil, marcando o cenário da música nacional, desde a MPB até o heavy metal, além de ser compositor, produtor e arranjador musical.

Profissional de múltiplos talentos, a veia musical do artista, que carrega a sua cidade natal no nome, começou ainda na infância.

Aos 10 anos, a caminho de uma quadrilha junina, foi atropelado por um carro.

Passou dois dias em coma, colocou platina na perna e manteve-se quase um ano deitado, sem poder andar.

Neste período, começou a tocar, sendo logo apontado como um guitarrista prodígio.

Aos 12 anos, tocava até com os pés!

Daí em diante, a sua carreira não parou: acompanhou a Jovem Guarda, fez sucesso nos EUA e interpretou música clássica e heavy metal.

O auge da sua carreira aconteceu entre os anos 70 e 80, nos quais compôs inúmeros sucessos.

Com seu nome nos créditos de mais de 300 discos, como músico, compositor, arranjador ou produtor, Robertinho cravou o seu talento em canções que tiveram a sua assinatura sonora, como os sucessos de Fagner (“Revelação”) e Marisa Monte (“Ainda lembro”).

Após esse período, dedicou-se à produção de vários artistas, entre eles, Xuxa, Geraldo Azevedo, Zé Ramalho e o próprio Fagner.

Certa feita, quando indagado sobre a origem de tanta versatilidade, respondeu:

“Eu sou um liquidificador, pego tudo e misturo com minhas frutinhas lá do Nordeste”.

Este virtuose da música completa, hoje, 70 anos!

Parabéns e saúde, @robertinhoderecife!

A quem interessar, recomendo a série “Robertinho de Recife? Robertinho do Mundo!”, de Claudia André, disponível no Music Box Brasil.

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Ação do Rotary Clube pelas lentes de uma criança de 8 anos…..

 

Em ação articulada pelo Rotary Clube da Vitória a 42º Missão Humanitária, comandada pelo renomado Doutor Rui Ferreira, efetivamente, está promovendo  25 cirurgias em crianças que nasceram com algum tipo de deformidade ou incapacidade física. Essas intervenções estão ocorrendo no Hospital SOS MÃOS RECIFE – ontem (02), hoje (03) e amanhã (04). 

Lembrando que o inicio dessa ação teve seu start,  prático,  no  processo da triagem, iniciada, há meses atrás, na sede da própria instituição (Rotary), localizada no bairro do Livramento – aqui em Vitoria.

Entre tantos outros objetivos dessa verdadeira ação pela dignidade humana, que se propõe a transformar a trajetória de famílias inteiras, podemos dizer que a troca e o compartilhamento de experiências de todos os envolvidos – equipe médica, rotarianos e familiares dos beneficiados – se configura num a espécie de “lição única”, como  bem relator uma rotariana que, ao levar seu filho de 8 anos para conhecer de perto o trabalho e, ao retornar ao lar,  pediu-lhe para registrar suas impressões no papel, o mesmo escreveu uma verdadeira pérola, que bem representa o sentimento da ação, grafado pela voz do coração e pelas lentes puras de uma criança.

Aos rotarianos, à equipe médica e a todos os envolvidos na referida 42ª Missão Humanitária, nossos parabéns por mais esse empreendimento social, no sentido da chamada responsabilidade social.  

 

Vitória tem população de animais 11 vezes maior do que a de humanos!!!

Em recente Pesquisa da Pecuária Municipal, realizada pelo IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística –  e publicado no G1,  o Brasil tem uma população, basicamente formada por bois, vacas, galinhas e frangos estimada em 1,8 bilhões de cabeças. É aproximadamente 9 vezes maior do que a sua população de habitantes humanos.

Ainda segundo a mesma fonte, a população de humanos da nossa Vitória de Santo Antão é de 134.110 pessoas. Não obstante nossa população, nas últimas décadas, paulatinamente,   haver migrado do campo à cidade, atualmente, segundo os números oferecidos pelo  IBGE 2022,  podemos afirmar que a população de animais do nosso município – morando no campo –  ainda é mais de 11 vezes maior  do que a de  seres humanos, ou seja: é de 1.489.552 (um milhão,  quatrocentos e oitenta e nove mil, quinhentos e cinquenta dois).

Para concluir, vejamos alguns números em detalhes:

Gado – 9.666

Galinha – 1.440.000

Porco – 4.997

Cabra – 2.359

ovelha – 3.317

Búfalo – 625

Cavalo – 961

Codorna – 27.607

Vida Passada… – Tito Rosas – por Célio Meira.

CÉLIO MEIRA

Nasceu, na pobreza, a 3 de janeiro de 1868, o menino Tito dos Passos, na cidade de Floresta, flor pernambucana do sertão requeimado,  debruçada à margem esquerda do rio Pajeú. E um dia, aos dezoito anos, o moço sertanejo dirigiu seus passos para o Recife, trazendo, no coração, a saudade do torrão nativo, e no espirito, cheio de idealismo,  o grande sonho de vencer, na jornada da vida. Desamparado dos ricos, desconhecido da sociedade recifense, e fazendo, da humildade christã, sua couraça, e dos sofrimentos, as armas abençoadas na refrega, começou Tito dos Passos de Almeida Rosas, conta o eminente Clovis Bevilaqua, sua batalha, dividindo o tempo entre os livros e os trabalhos penosos, que o iluminavam, e o elevavam, no conceito dos companheiros e dos mestres.

Concluiu os preparatórios no Ginásio Pernambucano, e matriculado na Faculdade de Direito, conquistou, em 1894, a carta de bacharel, e o prêmio de viagem à Europa. Pertenceu a turma de Bento Américo, o inimigo nº 1 dos verbos, e do Odilon Nestor, professor de renome, mais tarde, na mesma Escola, de Euzébio de Andrade, figura destacada na velha política de Alagoas, e de Turiano Campêlo, nobre figura de combatente, na imprensa do Recife.

Um ano depois de formado, alcançou, em concurso, uma cadeira naquela Faculdade, defendendo, ardorosamente, sua tese. E obteve, em 1904, a nomeação de professor catedrático e civil.

Advogado de cultura fulgurante, orador de linguagem polida, marchava, Tito Rosas, de vitória em vitória, quando o destino destruiu, malvadamente, numa tragédia, essa figura jovem de jurista e de filosofo.

Na manhã do domingo de carnaval, no ano de 1906, num minuto desgraçado de profunda agitação espiritual, Tito Rosas, aos trinta e oito anos de idade, cortou, com uma bala de revolver, o fio delicado da vida. Fugiu do mundo, o desventurado professor, e eminente causídico, pela porta tenebrosa do suicídio.

Floresta, a cidade sertaneja, não se deve esquecer do filho amado. Deve levantar, à sombra generosa dos tamarineiros, a herma do sertanejo eminente, ou dar, a uma rua, ou uma praça, o nome aureolado do mestre. Será essa a lição dos presentes às gerações do futuro.

Célio Meira – escritor

LIVRO VIDA PASSADA…, secção diária, de notas biográficas, iniciada no dia 14 de julho de 1938, na “Folha da Manhã”, do Recife, edição das 16 horas. Reuno, neste 1º volume, as notas publicadas, no período de Janeiro a Junho deste ano. Escrevi-as, usando o pseudônimo – Lio – em estilo simples, destinada ao povo. Representam, antes de tudo, trabalho modesto de divulgação histórica. Setembro de 1939 – Célio Meira.

Vitória e o seu “mar de sangue”………

Cenas registradas por câmera de monitoramento, dando conta do brutal crime ocorrido na noite do sábado em nossa cidade, mais precisamente em um restaurante, localizado no bairro da Bela Vista, circulou pelo Brasil inteiro. Ou seja: além das redes sociais, o referido fato também foi manchete nos mais diferentes noticiários televisivos,  com programação  nacional. Mídia gratuita da nossa cidade, mas com conteúdo macabro. Efeito imediato da nossa incômoda e vergonhosa colocação no mapa da violência urbana. No ranking nacional, somos a 27ª cidade. E no estado de Pernambuco subimos no pódio na 2ª colocação.

Cabe-nos uma pergunta: de quem é a culpa? Ou melhor: quem são os culpados?

Sabemos que não existe solução fácil para problema complexo. A violência urbana no Brasil tem raízes profundas, mas também passa pela ausência contínua de políticas públicas eficazes. Tudo isso personificado na falta de seriedade do nosso corpo político: nacional, estadual e municipal.

Jogando luz na história recente da minha cidade – Vitória de Santo Antão -,nas últimas 4 décadas, poderíamos dizer que o “bolo administrativo”  local assim ficou dividido: 10% do tempo quem governou foi Ivo Queiroz. 30% o grupo vermelho e 60% o grupo amarelo.

No meu tempo de menino, adolescente, jovem e adulto, nas dinâmicas e  agitadas campanhas políticas,  era “moeda corrente”,  em discursos  inflamados pelos seus opositores,  nas praças públicas,  que “se um dia Aglailson fosse prefeito, Vitoria virava uma mar de sangue”.  

Foto – Jornal A VOZ ESTUDANTIL – ANO 1- Nº 7

Por uma infeliz coincidência, apenas para adorna historicamente a narrativa reinante da época, uma jovem foi assassinada em um dos  comícios realizados pelo então deputado e postulante ao cargo de prefeito, José Aglailson, na vibrante campanha de 2000. Mas o destino e os votos dos antonenses, mesmo assim, lhes fizeram prefeito pela primeira vez da sua terra.

É bom que se diga, na qualidade de deputado, que quase todos esses atores administrativos locais e seus respectivos familiares também desfilaram pelos corredores do Palácio do Campo das Princesas e esquentaram os assentos na Assembleia Legislativas do estado, para quem recai, constitucionalmente, a obrigação pela segurança pública.

Ironicamente, hoje (2023), a cidade que é comandada pelo prefeito Paulo Roberto, um dos elos  da engrenagem do grupo político amarelo e que historicamente mais tempo ficou no poder  nesses últimos 40 anos e que também calibrou o discurso eleitoral  do “mar de sengue”, caso o opositor ascendesse ao poder, agora, é  obrigado a conviver com esse indigesto título que Vitória ostenta, isto é: 27ª cidade mais violenta do País e a 2ª do estado de Pernambuco!!!

Noite do dia 14 de março de 2003 – @historia_em_retalhos.

Era uma sexta-feira e o magistrado Antônio José Machado Dias tomara uma decisão: dispensar a escolta que sempre o acompanhava, porque, naquele dia, iria sair do fórum de Presidente Prudente/SP diretamente para a sua residência.

Não sabia ele, mas esta seria a pior decisão de sua vida.

A cerca de 300 metros do fórum, na Rua José Maria Armond, o seu carro foi surpreendido por outros dois veículos.

O primeiro disparo dos criminosos atingiu o juiz na cabeça, fazendo com que ele perdesse o controle do automóvel e batesse em uma árvore.

Outros três disparos certeiros atingiram o então corregedor dos presídios do oeste paulista, aos 47 anos de idade, na cabeça, no braço e no peito.

A motivação do crime foi clara: era uma ação da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) contra o trabalho do magistrado, que atuava para desarticulá-la.

Este crime é considerado o primeiro ataque direto do crime organizado contra uma autoridade do Poder Judiciário no Brasil.

Cinco pessoas, todas integrantes do PCC, foram condenadas, inclusive Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola.

Acreditem se quiserem, mas o mais surpreendente é que familiares dos integrantes do PCC condenados pelo assassinato do juiz foram premiados, recebendo imóveis após o crime, e ganhando, até hoje, uma pensão vitalícia da facção.

Após a morte de Machado Dias, vieram as execuções do crime organizado contra os juízes Alexandre Martins de Castro Filho, em Vitória/ES, e Patrícia Acioli, em Niterói/RJ.

A pergunta que nunca cala: até quando?

Até quando autoridades que lidam com a segurança pública neste país continuarão pondo as suas vidas em jogo?

Atentar contra a vida de um magistrado no exercício regular de seu cargo é atentar contra o próprio Estado Democrático de Direito.

Agradeço ao amigo @osvaldoloboj @osvaldolobojr, por nos ter trazido a sugestão do tema.
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Eunice de Vasconcelos Xavier: centenário do seu nascimento!!!

Em ação conjunta da família  “Vasconcelos Xavier” e do Instituto Histórico e Geográfico da Vitória comemorou-se, no domingo (29), a passagem do centenário do nascimento da professora Eunice de Vasconcelos Xavier – presidente do nosso  Instituto Histórico por duas décadas (1990/2010).

O auspicioso acontecimento contou com programação religiosa, solene e festiva. A partir das 9h, missa na Matriz de Santo Antão. Às 10:30h,  Sessão Solene no Teatro Silogeu e,  logo em seguida, coquetel nas dependências da “Casa do Imperador”.

Antonense da “gema”, a professora Eunice nasceu no dia 03 de outubro de 1923, na Rua Joaquim Nabuco, 207 – bairro da Matriz. Estudou no Colégio Nossa Senhora da Graça e no mesmo educandário  iniciou suas atividades no magistério.

Católica fervorosa, durante muitos anos foi integrante da Pia União das Filhas de Maria. Com o doutor Aloísio de Melo Xavier, em 06 de outubro  1946, contraiu matrimônio e teve 06 filhos: Maria Eunice, Maria de Fátima, Maria da Graça, Frederico José, Gustavo José e Aluísio José. Ela Faleceu,  no Recife, em 27 de junho de 2015, mas encontra-se sepultada no seu torrão – Cemitério São Sebastião.

Em uma determinada quadra da sua vida, em função da profissão do marido (juiz de direito) e da priorização dos estudos dos filhos, mudou-se para a capital. Mas nunca deixou órfão sua terra da sua presença nas mais diversas ocasiões, inclusive mantendo aberta as portadas da sua casa  – Em Vitória de Santo Antão – até os últimos dias de vida.

De perfil conciliador, Dona Eunice viveu guiada pela voz do coração sem nunca haver perdido a lucidez,  nas oportunidades em que esteve nas encruzilhadas da vida. Foliã das mais animadas,  era uma espécie de  embaixadora do nosso Clube de Fado Taboquinhas e também foi homenageada com música, no desfile da Agremiação Saudade, composta por Aldenisio Tavares, em 2016. 

Além da figura singular, do exemplo de matriarca e da simplicidade com que viveu,  Dona Eunice nos deixa, para os próximos séculos, a beleza do seu cativante sorriso. Parabéns aos seus familiares pelo evento, configurando-se em  mais uma prova de sintonia da Professora Eunice com sua história antenone.  

 

Lembranças vitorienses em Nuremberg – Marcus Prado.

 

UM PROJETO há muito desejado: conhecer, na histórica cidade alemã de Nuremberg, localizada ao sul do país, a Albert-Durer-Haus, casa-museu onde viveu um dos mais notáveis artistas e gravadores do Renascimento, Albrecht Durer (1471-1528). Ao chegar ali, lembrei-me de imediato da bela edição do livro do Dante: A “Divina Comédia”, que li pela primeira vez na biblioteca do Instituto Histórico da Vitória de Santo Antão. Trata-se de uma edição histórica, porque foi toda ilustrada pelo famoso pintor.

Ao chegar à casa de Durer, uma agradável surpresa me deixou maravilhado: a sala que se localiza no térreo abriga uma prensa de madeira (que pertencia ao pintor) semelhante à de ferro que existe hoje no museu do Instituto Histórico da Vitória de Santo Antão. É uma relíquia histórica, do antigo jornal O LIDADOR, que poucas cidades possuem iguais no mundo. Durante os dias que passei nessa cidade, reservei um tempo para conhecer um dos mais encantadores museus da Europa, o Spielzeugmuseum. Os soldadinhos de chumbo mais famosos do mundo estão expostos nesse museu. São a maior atração. Ao vê-los, lembrei-me de imediato dos soldadinhos que meu pai comprava na loja vitoriense de Nabi Kouri, para me dar de presente.

MUITOS ANOS SE PASSARAM, o tempo levou para longe de mim os soldadinhos de chumbo que meu pai me dera, mas eles não saíram nunca da memória. Revejo-os agora, não iguais, mas parecidos, no museu de Nurenberg. Quase iguais àqueles que perdi na Rua das Pedrinhas, perto da casa de Isolda. (Era minha namorada, só na imaginação, ela nunca soube disso…).

A FONTE GÓTICA, apontada como a maior atração da cidade (que se destaca mundialmente como grande produtora de livros de arte), é de rara beleza. Ela me fez lembrar as duas fontes luminosas que existiam no passado vitoriense: das Praças Leão Coroado e do Rosário. Ambas, quando funcionavam, à noite, no meu tempo de menino, nos davam uma imensa sensação de prazer. Em Nuremberg ninguém ousa, sequer, tirar uma só gota de água de sua fonte famosa. Na minha terra, deixam as fontes luminosas secar e as luzes que nelas existiam estão para sempre na escuridão do tempo.

Marcus Prado – jornalista. 

Vida Passada… – Marechal Seara – por Célio Meira.

Célio Meira

Aos dezoito anos de idade, enamorou-se, Antônio Correia Seara, pernambucano, nascido no Recife, da vida agitada do soldado. Trocou, então, os livros por uma arma de fogo, e pelo sabre, e se alistou, cheio de esperança, conta ilustrado Sebastião Galvão, nas forças da “divisão de voluntários d’el –rei”. O Rei era d. João VI, o devorador de frangos. O tirano Luiz do Rêgo Barreto governava Pernambuco. E foi feliz, Seara, na carreira das armas.

Em 1823, era tenente, e às ordens de Pedro Labatut, para bem servir à corôa de Pedro I, expulsou, da Bahia, os portugueses. Percorreu, combatendo, os campos de Pirajá. Mereceu, ao regressar à terra natal, o posto de capitão. E em 1824, formado ao lado dos amigos e partidários do Morgado do Cabo, enfrentou Manuel de Carvalho Pais de Andrade, perseguindo os “carvalhistas”, armas à mão, no combate de Barra Grande, na terra alagoana. Foi, fiel ao Imperador, defendendo sua ideologia, um dos coveiros da Confederação do Equador, o sonho nativista, e malogrado, do poeta Natividade Saldanha e de Caneca, o frade carmelita.

E no ano seguinte, ostentava, nos punhos, os galões de major. Ganhara-os, bravamente, na luta ardente, e armada, derramando seu sangue. Mais tarde, sei anos decorridos, no posto de tenente-coronel, pelejou na Cisplatina. Enviou-o, o Pará, em 1843, à Câmara dos Deputados. Desembainhou sua espada, na Baia, servindo à Regência de Feijó, no desbaratamento da Sabinada. E, pouco tempo depois, ao lado de Caxias, por quem foi elogiado, narra Sebastião Galvão, ajudou a destruir a revolução dos Farrapos.

Descansava, no Rio de Janeiro, dos ásperos combates, quando rebentou, nas Alagoas, a revolução de 44, que apeou, do governo, o Bernardo de Souza Franco. À frente de sua tropa, venceu os rebeldes, na Vila de Anadia, reestabelecendo a ordem pública. Foi, informam historiadores, o pacificador da província alagoana.

Deu-lhe, o governo do segundo império, em 1852, o alto posto de marechal de campo. Conferiu, Pernambuco, no ano seguinte, ao valoroso batalhador, a representação, no parlamento. E três anos depois, alcançou o recifense Antônio Correia Seara a maior distinção, no exército da pátria. Foi promovido a tenente-general. Era a Glória. E bem merecida.

Nasceu o marechal Seara, no dia 2 de janeiro de 1802, e morreu, aos 58 anos de idade. Não o esqueceu a cidade do Recife. Gravou o nome do grande soldado pernambucano, na esquina rua um (1).

Célio Meira – escritor

(1) Transcrita na “Folha do Norte”, de Belém do Pará, edição de 11 de fevereiro.

LIVRO VIDA PASSADA…, secção diária, de notas biográficas, iniciada no dia 14 de julho de 1938, na “Folha da Manhã”, do Recife, edição das 16 horas. Reuno, neste 1º volume, as notas publicadas, no período de Janeiro a Junho deste ano. Escrevi-as, usando o pseudônimo – Lio – em estilo simples, destinada ao povo. Representam, antes de tudo, trabalho modesto de divulgação histórica. Setembro de 1939 – Célio Meira.

59 anos da 1ª Vaquejada da Vitória – pelas lentes Inteligência Artificial.

Na sua mais recente crônica do “Projeto Corrida com História”, o historiador Pilako mais uma vez presenteia os leitores com uma viagem no tempo, trazendo fatos históricos contextualizados da cidade de Vitória de Santo Antão. Dessa vez, ele mergulha na memória da cidade para relembrar a primeira Vaquejada que ocorreu no espaço da Pista do Aeroclube, nos dias 24 e 25 de outubro de 1964.

A crônica de Pilako destaca a importância desse evento na história local, que reuniu amantes da vaquejada e proporcionou momentos memoráveis para a comunidade. É evidente que a Vaquejada representou um marco na cultura e nas tradições da cidade na época, e Pilako se dedica a resgatar essas lembranças para os antonenses.

No entanto, a crônica também traz uma nota de nostalgia ao mencionar que o local da primeira Vaquejada, a Pista do Aeroclube, hoje abriga uma escola estadual chamada CAIC. Isso mostra como a cidade passou por mudanças ao longo dos anos, onde um espaço antes destinado a eventos culturais e esportivos agora serve para a educação.

Ao compartilhar essas informações e lembranças, Pilako oferece aos habitantes de Vitória de Santo Antão um verdadeiro documento histórico sobre sua cidade, um registro valioso que permite que as gerações atuais conheçam e se conectem com o passado da cidade das tabocas. A crônica de Pilako é mais do que uma simples narrativa; é um mergulho no passado que ajuda a preservar a história e a identidade da comunidade.

Ismael Feitosa/ChatGPT

A bengala mágica de Francisco Brennand – por Marcus Prado.

A bengala de Jordão Emerenciano e o cachimbo de Gilberto Freyre eram apenas ornamentos de circunstância. Charme, devaneios de quem vivia exilado nos trópicos. Jordão era um Monarquista saudoso. Gilberto era “um anarquista no bom sentido”. Gênio. A bengala de Charles Chaplin (leiloada em Los Angeles, em 2012, pelo valor de US$ 90 mil), era um componente corporal da cena fílmica. O corpo e a bengala de Chaplin falavam, assim diria Pierre Weill, autor do famoso “O Corpo Fala”. Como a bengala inseparável de Winston Churchill. Era como o chapéu do Indiana Jones (não havia tiroteio que desmanchasse a sua aba irremovível); como a bengala luxuosa de Arsene Lupin; como o chapéu de Dom Quixote de La Mancha (não perdia o seu prumo, até diante dos Moinhos de Vento); como o chapéu e a bengala de Martin Heidegger (juntos até no exilio da Floresta Negra); como o chapéu de Santos Dumond, que voava com ele; como o chapéu-capacete de Safari inglês, (o Pith Helmet), de Gilberto Freyre, quando das suas pesquisas pelas colônias portuguesas na África; como o chapéu, de estilo clássico, de Luiz Delgado, até quando dava aulas na Faculdade de Direito. O chapéu de Robin Hood era inseparável dele, na lendária Floresta de Sherwood, como a bengala do famoso espião James Bond. Inesquecíveis são o chapéu e a bengala da pintora Geórgia O`Keeffe, na sua fase de encantamentos mais criativos, em Santa Fé (Novo México), hoje são peças de museu; ou como o chapéu de Augusto Lucena (ganhando ou perdendo eleições, não saia da sua cabeça). Finalmente, como o chapéu de abas largas e desalinhadas de James Joyce, e o chapéu de Plinio Pacheco, em Nova Jerusalém, montado no seu cavalo.

A bengala de Francisco Brennand tinha uma finalidade incomum, única, singular, quando as suas peças saiam do forno cheio de calor, raios e incandescências. Ouvidos atentos do criador, o toque sutil da parte extrema da bengala sobre a superfície plana da cerâmica era determinante para saber, com exatidão, sobre a qualidade final, a autonomia da peça. Se, no forno, alcançara o seu efeito plástico final. Tive a curiosidade de fotografar, em câmera lenta, esse “ritual”, um atributo visto, apenas, nas oficinas dos sábios artesões.

Francisco tinha o hábito de dar passeios diários pelas salas das esculturas, na Várzea. Ao passar por cada peça, nova ou antiga, filha do barro e do fogo, fazia o “teste de qualidade” com o uso do seu termômetro mágico. Fazia-me lembrar do Edmund Husserl citado por Gilles Deleuze (“Lógica do sentido”) quando infere um Ver e Ouvir originários transcendentais a partir da “visão” perceptiva. Nada perturbava Brennand nessas horas. Assim como ele sabia ler as cores, era íntimo na rotina dos sons e suas magias. Brennand não teria, homem da Várzea do Capibaribe (a mais bela do Recife), o mesmo prodígio de Michelangelo quando terminou a escultura do seu “Moisés”. Brennand nunca exclamaria diante de sua escultura: “Parla!” Não era a perfeição o que ele queria, muitas peças ficaram e permanecem partidas. Tudo em Brennand era magia, um conjunto de singularidades, exercício do inconsciente que exprime o que designa. A bengala era instrumento de medição acústica.

Num retorno à Oficina de Francisco Brennand, na Várzea, quando da recente reabertura do seu Museu, não vi mais essa bengala. Soube que, no dia da sua morte, a filha Neném Brennand guardou-a para a cerimônia do adeus. “Fiquei com ela em casa, por algumas horas. Só pensando no momento de entregá-la nas mãos dele de novo Se foi com ela, virou chama e no fogo suas ondas sonoras se confundiram com os cânticos de Deus”.

Marcus Prado – jornalista