
No longínquo sertão mineiro, sob o céu da pequenina vila de Paracatú, veio, ao mundo, em 1867, Afonso Arinos de Melo Franco. “Toda a sua primeira infância, até os 9 anos, escreve Tristão de Ataíde, escritor brilhante e erudito, passou-a Afonso Arinos, na vila natal”. Acompanhou o pai, em longas viagens pelos planaltos de Goiás, até que, 3m 81, ao 13 anos, veio residir em São João Del-Rei, onde fez o curso primário, no famoso colégio do cônego Machado. Era um menino triste, bondoso e inteligente. Trazia, para a cida, tão curta, e luminosa, destino de vitórias.
No Ateneu Fluminense, no Rio, concluiu, Afonso Arinos, o curso de humanidades, matriculando-se, em seguida, na Faculdade de Direito de São Paulo, onde, em 89, conquistou láurea de bacharel. Diplomado, foi vive, saudoso, em Ouro Preto, o cenário grandioso de seus triunfos. Não o fascinou a magistratura e nem o seduziu a advocacia. Enamorou-se, perdidamente, pelo magistério público, obtendo, no Liceu da antiga capital mineira, nu concurso “que deixou fama” a cadeira de História do Brasil. Foi, mais tarde, informa um biógrafo, um dos fundadores da Faculdade Livre de Direito de Minas, regendo a cadeira de direito criminal.
Na antiguíssima Ouro Preto, solteiro, vivendo como príncipe, porque, na verdade, ele o era, pelo coração boníssimo e pelo espirito fascinante, viveu, Arinos, a mais ditosa quadra de sua vida. Reuniu, no seu salão, povoado de móveis preciosos, os famosos intelectuais do tempo, e , com eles, observou, estudou e criticou a vida mental do Brasil. E Entre esses homens, poetas, prosadores e artistas, ninguém possuiu, como ele, a finura da frase, a elevação da crítica, e o gosto da ironia.
Prosador magnifico, e jornalista vigoroso, dirigiu, Arinos, por indicação, de Eduardo Prado, informa um historiador, o “Comércio de São Paulo”.
Deixando o Brasil, fundou e dirigiu, em Paris, uma agência bancaria. E numa de suas viagens, morreu, a 16 de fevereiro de 1916, aos 48 anos de idade, em Barcelona. Fechou os olhos na terra hespanhola, à orla do Mediterrâneo, o príncipe dos escritores sertanistas. Finou-se sem ouvir a canção selvagem das ventanias, e sem aspirar o perfume das flores natais, esse, esse homem de sensibilidade, que fora, por toda vida, um noivo amado, e ciumento, da terra sertaneja. Finou-se, na terra estrangeira, o bom Afonso Arinos, que amou e exaltou o homem do campo, os humildes, falando-lhes, muitas vezes, ao espirito e ao coração. Ninguém se esqueceu, ainda, da pena as paginas de “Buritir Perdido” do “Assombramento” e do “Joaquim Mironga”. E ninguém o esquecerá, relendo, agora o Notas do Dia” e o “Lendas e Tradições Brasileiras”, em cujas páginas palpita e freme, como um rio de águas rumorosas, e alma do sertão.
Célio Meira – escritor e jornalista.
LIVRO VIDA PASSADA…, secção diária, de notas biográficas, iniciada no dia 14 de julho de 1938, na “Folha da Manhã”, do Recife, edição das 16 horas. Reúno, neste 1º volume, as notas publicadas, no período de Janeiro a Junho deste ano. Escrevi-as, usando o pseudônimo – Lio – em estilo simples, destinada ao povo. Representam, antes de tudo, trabalho modesto de divulgação histórica. Setembro de 1939 – Célio Meira.
