Vida Passada… – Gervásio Fioravanti – por Célio Meira.

O recifense Gervásio Fioravanti Pires Ferreira nasceu em 1870, no dia 13 de fevereiro. E nos 15 anos, lendo Castro Alves e Fagundes Varela, Casemiro de Abreu e Gonçalves Dias, era, na Faculdade de Direito do Recife, o mais brilhante dos Calouros. Enfeitiçado pela tribuna, palavra fácil e faiscante, enamorado da poesia, nervoso, de maneiras cativantes, Gervásio conquistou, cedo, a admiração da mocidade do seu tempo. Bacharelou-se aos 19 anos de idade, em 89, no ano da  República, no ano em que a faculdade se cobriu de crepe, pela morte de Tobias Barreto, o mulato preclaro de Sergipe, pertencente a turma de Antônio Massa, de Tramaturgo de Azevedo, de  Frota e Vasconcelos, Maria Augusta Meira de Vasconcelos e de Alfredo Varela.

Abolicionista e republicano, ingressou Gervásio no ministério público, ocupando, de 1890 a 93, a promotoria da comarca, no Recife. Revelou, no exercício desse cargo, inteligência e honestidade. Não negou justiça a ninguém e não se curvou injunções políticas. Orador fulgurante, a quem Deus concedeu as galas da eloquência, obteve aplausos dos contemporâneos.

Aos 26 anos, em 1896, e na mesma arena em que se combateram Manuel Cícero Peregrino da Silva, Júlio Pires, Alcêdo Marcos, José Anísio Campelo e Antônio Joaquim de Albuquerque Melo, conquistou, Gervásio, a 30 de novembro daquele ano, na Faculdade, donde saíra bacharel,  a cadeira de direito criminal. Quatorze dias decorridos, vestiu a beca de professor substituto. Onze  ano mais tarde, a 14 de outubro de 1907, alcançou, do governo, a nomeação de lente catedrático.

Durante quarenta anos, fez, Gervásio, da cátedra, um santuário. Havia, na sua palavra arrebatada, e quente, doçura de apóstolo. Acolhedor, e jovial, Gervásio pareceu, sempre entre os discípulos, um companheiro mais idoso, e daí a simpatia, a admiração e a idolatra que lhe votava, com  justiça, a mocidade. Possuiu, esse Mestre amando, em elevado grau, o culto sereno da amizade. Recordava-se, por vezes, de discípulos de há quinze e vinte anos, e recompunha cenas e episódios acadêmicos, à luz prodigiosa de sua memória, e do calor de seus afetos.

Poeta admirável, da estirpe dos cantores líricos, escreveu o “Meses” e o “Horas Marianas” em cujas páginas, há, constantemente, perfume e rosa.

Fundou na Academia Pernambucana de Letras, a cadeira de José Natividade Saldanha, desditoso poeta, e secretario do governo Manuel de Carvalho Pais de Andrade, chefe, em 1824, da Confederação do Equador.

Morreu Gervásio Fioravanti, aos 66 anos de idade, na cidade do Recife. Desapareceu o amigo incomparável, o ídolo dos estudantes. Desapareceu, sorrindo, com o espírito tranquilo, o último boêmio das gerações fidalgas do passado.

Célio Meira – escritor e jornalista. 

LIVRO VIDA PASSADA…, secção diária, de notas biográficas, iniciada no dia 14 de julho de 1938, na “Folha da Manhã”, do Recife, edição das 16 horas. Reúno, neste 1º volume, as notas publicadas, no período de Janeiro a Junho deste ano. Escrevi-as, usando o pseudônimo – Lio – em estilo simples, destinada ao povo. Representam, antes de tudo, trabalho modesto de divulgação histórica. Setembro de 1939 – Célio Meira.

 

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