Os seios de Martha de Holanda – por Marcus Prado.

No coletivo que faz a linha suburbana de Vitória, a bela Etéocles, sem pedir licença ao motorista, entra sorrateira pela parte traseira. Ela passa pela porta, quase fechada, como quem foge do raio em ziguezague e, burlando a catraca, entra como se fosse a réstea do vento. Quando menos se espera, no meio dos passageiros, ela grita: Bom dia, pessoal. Ninguém responde.

– Bom dia, pessoal! Todos respondem: Bom dia.
– Pessoal, meu nome é Etéocles, filha de Polinices e de Jocasta. Estou aqui porque preciso mostrar os meus seios. De imediato, abre a blusa e mostra os seios abundantes, fecundos, fartos, férteis como os seios de Martha de Holanda na varanda do sobrado vitoriense, numa noite de calor.
Seios como os da Vênus no Espelho, de Ticiano, que eu fotografei na Galeria Nacional de Artes em Washigton (EUA)
Todo dia, esse era um ritual mágico de Etéocles quando entrava nos coletivos da cidade.

Nas cadeiras reservadas para passageiros especiais havia um coro de anciãos, como os de Tebas, que davam graças e louvor àquele ensejo.

Marcus Prado – jornalista. 

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